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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Quatro desafios da oposição venezuelana após vitória nas eleições

Daniel PardoDa BBC Mundo em Caracas - @pardodaniel

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Image captionUm dos desafios da oposição será manter a unidade, pois a Mesa de Unidade Democrática não é um partido, mas uma aliança de diferentes forças
A surpresa não foi apenas para os chavistas: muitos opositores na Venezuela não esperavam que tantos eleitores estivessem dispostos a votar por mudança.
Mas quase dois milhões de pessoas trocaram o partido governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) pela aliança opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática), comparando as eleições parlamentares do último domingo com o pleito de cinco anos atrás.
O resultado deu à oposição um apoio contundente, que terá que administrar com habilidade em meio a um cenário econômico complicado, caso não queria acabar castigada, como ocorreu com o chavismo.
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A oposição obteve dois terços da Assembleia Nacional, o Parlamento unicameral do país. Com essa maioria, pode rearranjar o jogo político.
Mas terá pela frente um governo que controla, ou ao menos influencia fortemente, os outros Poderes do Estado – eleitoral, judicial, cidadão e, claro, executivo. E que não parece querer dar o braço a torcer.
Na última terça-feira, por exemplo, o governo anunciou que o Parlamento, que o governismo controla até 15 de dezembro, espera empossar uma nova cúpula no TSJ (Tribunal Superior de Justiça), com a qual poderia bombardear várias iniciativas da nova maioria de oposição.

Esse não é o único tipo de obstáculo que pode atrapalhar a festa da oposição, mas esta tem agora mais poder para evitar ou até aproveitar essas situações.
Confira quatro dos desafios mais importantes que a oposição tem pela frente na Venezuela.

1. Entender o resultado

Analistas concordam que a oposição venceu menos por suas propostas e mais pelo "voto castigo" de milhões de venezuelanos contra o governo.
Nesse sentido, o desafio da oposição é converter essa base eleitoral – que de certa maneira não é sua – em força política própria. Ou ao menos não afastá-la.
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Image captionA oposição terá ainda que lidar com a sombra de Hugo Chávez e sua grande atração entre setores populares
Pesquisas mostram que a maioria dos venezuelanos votou assim porque está cansada da situação econômica, que a cada dia consome salários e economias, e impõe filas diárias para comprar produtos básicos.
Mas a solução da crise, dizem economistas, passa por medidas impopulares – como uma desvalorização da moeda ou o fim dos subsídios à gasolina ou aos produtos da cesta básica – que podem cobrar a conta da oposição.
Por isso, um desafio é conseguir que o governo assuma – ou ao menos divida – os custos do ajuste.

2. Negociar com Maduro

Outro desafio para a oposição, imposto também pelos problemas econômicos, é negociar com o governo de Nicolás Maduro.
Se todas as propostas que a oposição defende no Orçamento forem vetadas por Maduro ou pelo TSJ, pode haver uma situação de paralisia institucional que impediria a adoção de soluções rápidas para problemas mais urgentes.
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Image captionA última vez que governo e oposição conversaram em público na Venezuela foi há quase dois anos; na imagem, o opositor Henrique Capriles
Esse cenário não convém a ninguém, sobretudo à oposição, que não quer perder a maioria.
Com poucas exceções, as declarações de opositores e chavistas desde a eleição já mostram sinais de choque. A desconfiança entre os setores é profunda e histórica.
E ainda que o desafio de negociar se imponha a ambos, a oposição não pode esperar sentada por um convite de Maduro: terá que convencê-lo da necessidade de diálogo.

3. Não se dividir

O caráter variado e heterogêneo da oposição venezuelana não é segredo para ninguém.
"Sempre há a possibilidade de divisão, é algo inerente à condição de aliança da MUD", diz Pedro Pablo Peñaloza, experiente jornalista político, ao lembrar que a MUD não é um partido, mas uma reunião de várias forças.
Internamente, os resultados de domingo foram vistos como uma derrota para a ala da oposição que buscava mudança por meio de protestos. Esse setor terá agora que se reinventar, se retratar ou se submeter à ala majoritária que aposta na via eleitoral.
A oposição terá que negociar entre suas várias frentes, que não possuem as mesmas prioridades nem ideologias.
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Image captionMaría Corina Machado foi inabilitada para ser candidata e agora terá que se reinventar para se manter no jogo político
Por exemplo: há um setor da oposição, como o partido Vontade Popular, que prioriza a liberação de políticos presos, como o seu líder, Leopoldo López.
Mas outros partidos da aliança já disseram que o voto que receberam foi principalmente para resolver a crise, mais do que liberar políticos, e por isso a prioridade, dizem, é impulsionar novas leis econômicas.
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Image captionA libertação de Leopoldo López é prioridade para setores da oposição, mas não para a maioria do eleitorado
O partido do governo fará de tudo para aprofundar as divisões da oposição, que terá saber se esquivar para se manter ativa e funcional.

4. Buscar um líder

Com dois terços da Assembleia, a oposição pode propor um referendo em 2016 que pode revogar o mandato de Maduro.
Tomar tal decisão seria apostar tudo em uma cartada. Mas a oposição também poderia promover uma reforma que reduza o mandato ou limite a reeleição.
Para os dois casos, que precisariam ser submetidos às urnas, a oposição precisa de um líder.
Essa figura teria que representar a mudança e, ao mesmo tempo, não gerar desconfiança na maioria dos venezuelanos, que desejam manter conquistas sociais que atribuem a Hugo Chávez.
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Image captionO governador Henrique Capriles, que perdeu a eleição para Maduro em 2013, já disse que mantém a aspiração presidencial
Os líderes mais populares da oposição não estarão agora na Assembleia: Leopoldo López está preso, María Corina Machado foi inabilitada para concorrer, Henri Falcón e Henrique Capriles são governadores das Províncias de Lara e Miranda, respectivamente.
Os venezuelanos costumam buscar um herói, um messias que resolva seus problemas. E a oposição, se quiser produzir mudança, terá que oferecer esse líder.


Fonte http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151210_venezuela_desafios_tg

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