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terça-feira, 27 de março de 2018

A visão inspiradora de Stephen Hawking na última entrevista à BBC

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Stephen Hawking e Pallab GhoshDireito de imagemPALLAB GHOSH
Image captionStephen Hawking e Pallab Ghosh conversaram em outubro de 2017
Em outubro do ano passado, eu convidei o professor Stephen Hawking a comentar sobre a detecção de ondas gravitacionais a partir da colisão de duas estrelas mortas (ou estrelas de nêutrons). Acabou sendo a sua última entrevista a ser transmitida - Hawking morreu aos 76 anos em casa, na Inglaterra, no dia 14 de março.
A colisão foi um evento de grande importância por várias razões: para começar, por ter sido o primeiro registro de um evento cósmico ocorrido há 130 milhões de anos, quando dinossauros ainda habitavam a Terra, e permitir que vários telescópios pudessem tirar proveito da descoberta.
Isso significou que, além de detectar as ondas gravitacionais emitidas pela fusão no tempo-espaço, astrônomos puderam ver pela primeira vez o que acontece quando dois objetos incrivelmente massivos colidem, um processo que pode ser a única forma de criar ouro e platina no universo.
Definitivamente, era algo para o professor Hawking explicar.
Nos últimos anos, ele fez comentários sobre mudanças climáticas, viagens espaciais e inteligência artificial. Suas entrevistas sempre cativavam a audiência. Fui sortudo o suficiente de ter entrevistado-o muitas vezes e, para mim, ele se tornava especialmente instigante quando se sentia "em casa" - falando da física que tanto amava e dando nós nas nossas cabeças com as implicações de novas descobertas.
Eu também ficava muito sensibilizado e honrado quando sua equipe me contou que ele sempre gostava de nossos encontros.
No artigo em questão, só pude usar uma de suas respostas. Portanto, o resto da entrevista não foi publicado. Aqui está a sua íntegra. Ele nos deixa sua marca registrada: uma visão inspiradora sobre o cosmos que, sob seu olhar, chega a nós belo e misterioso.

BBC - Quão importante é a detecção da colisão de duas estrelas mortas?

Stephen Hawking - É um marco genuíno. É a primeira detecção de uma fonte de onda gravitacional com contrapartida eletromagnética. Confirma que com a fusão das estrelas mortas, ocorrem pequenas explosões de raios gama. Isto nos dá uma nova maneira de determinar as distâncias na cosmologia. E também nos ensina sobre o comportamento de matéria com densidade incrivelmente alta.
Simulação da fusão de estrelas mortasDireito de imagemC.W.EVANS/GEORGIA TECH
Image captionSimulação da fusão de estrelas mortas

BBC - Isto nos ajudará a entender como os buracos negros se formam?

Hawking - A teoria já nos indicava que um buraco negro pode se formar a partir da fusão de duas estrelas de nêutrons.
Mas este evento é o primeiro teste ou observação. A fusão provavelmente produz uma estrela morta supermassiva e giratória que então colapsa para criar um buraco negro.
Isto é muito diferente de outras formas de surgimento de buracos negros, como uma supernova ou quando uma estrela de nêutrons aumenta a sua massa a partir de uma estrela normal.
Com uma análise cuidadosa dos dados e de modelos teóricos em supercomputadores, há uma ampla margem para que se conheça mais sobre a dinâmica de formação dos buracos negros e das explosões de raios gama.

BBC - Medir as ondas gravitacionais nos ajudará a entender melhor como funciona a relação espaço-tempo, a gravidade e, assim, pode transformar o que sabemos sobre o universo?

Hawking - Sim, sem dúvida. Uma escada cósmica de distância (método que astrônomos usam para medir grandes distâncias de corpos celestiais) independente pode proporcionar uma confirmação independente das observações cosmológicas ou pode revelar grandes surpresas.
As observações das ondas gravitacionais nos permitem colocar à prova a relatividade geral em situações onde o campo gravitacional é forte e altamente dinâmico.
Algumas pessoas pensam que a relatividade geral precisa de modificações para evitar a introdução da energia escura ou da matéria escura.
As ondas gravitacionais são uma nova forma de buscar uma sinalização das possíveis modificações da relatividade geral.
Ouro puro sobre madeiraDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDescobertas recentes mostram que colisão das estrelas mortas leva ao surgimento do ouro
Uma nova janela de observação do universo geralmente conduz a surpresas que ainda não podem ser previstas.
Ainda estamos esfregando os olhos, ou melhor, os ouvidos, uma vez que acabamos de despertar para o som das ondas gravitacionais.

BBC - O choque das estrelas de nêutrons uma das poucas ou, possivelmente, a única maneira com que o ouro pode ser produzido no Universo? Isto poderia explicar por que ele é tão escasso na Terra?

Hawking - Sim, a colisão das estrelas de nêutrons é uma maneira de se produzir ouro. Ele também pode ser formar na rápida captura de nêutrons nas supernovas.
O ouro é escasso em todo lugar, não só na Terra. A razão para isso é que a energia para a fusão nuclear tem seu pico mais alto no ferro, o que geralmente torna mais difícil produzir elementos mais pesados.
Além disso, a força nuclear deve superar uma forte repulsão eletromagnética para formar núcleos pesados e estáveis como do ouro.

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/geral-43550448

segunda-feira, 5 de março de 2018

As razões de Bill Gates para dizer que as criptomoedas 'matam'

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Bill GatesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO empresário havia falado com entusiasmo sobre a Bitcoin no passado

As criptomoedas estão matando pessoas "diretamente", disse Bill Gates, fundador da Microsoft. Ele se referia à forma como as moedas digitais, como o bitcoin, são usadas para comprar drogas, como opioides sintéticos.
O comentário foi feito no fórum online Reddit. Segundo Gates, o anonimato em torno das transações com as criptomoedas permite que elas sejam usadas para financiar terrorismo e lavar dinheiro.
"A principal característica de criptomoedas é seu anonimato. Não acho que seja algo positivo. É bom que um governo seja capaz de identificar lavagem de dinheiro, evasão fiscal e o financiamento do terrorismo", afirmou.
"Hoje em dia, as criptomoedas estão sendo usadas para comprar fentanil e outras drogas, então é uma tecnologia que causou mortes diretamente. Acho que as ondas especulativas em torno dessas moedas são muito arriscadas para quem entra nessa."

Valorização

Criptomoedas só existem virtualmente. São arquivos digitais armazenados em "carteiras digitais", em um celular ou computador. Cada transação é registrada em uma lista pública, a blockchain, o que impede que alguém gaste uma moeda que não é sua.
Para obter essas moedas, é possível comprá-las com dinheiro de outras pessoas e empresas que fazem suas próprias moedas virtuais, recebendo pagamentos por produtos ou serviços e fazendo uma atividade conhecida como mineração, que implica em validar transações com criptomoedas e receber em troca recompensas.
O valor dessas moedas deriva da disposição das pessoas de trocá-las por bens e serviços reais. Sua valorização recente levou governos ao redor do mundo a olhar com mais atenção ao impacto disso sobre suas economias e cidadãos.
Ainda que a tecnologia na qual elas são baseadas seja alvo de elogios frequentes, há preocupações quanto a seus efeitos econômicos e ligações ao crime digital e lavagem de dinheiro. O Tesouro britânico atualmente investiga, por exemplo, as consequências do uso dessas moedas.

CriptomoedasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAlguns investidores importantes têm feito alertas quanto às criptomoedas

Críticas e roubo

Gates não é o primeiro a criticar as criptomoedas e a especulação em torno delas. O investidor Warren Buffet também já disse que esse frenesi "acabará mal".
Steve Wozniak, cofundador da Apple, revelou nesta semana que teve sete bitcoins roubadas em uma transação. "Alguém as comprou com um cartão de crédito e, depois, cancelou o pagamento. Foi simples assim", disse ele em uma conferência na Índia.
Naquele momento, aqueles sete bitcoins valiam menos de US$ 5 mil (R$ 16,3 mil). Hoje, seu valor superaria US$ 70 mil (R$ 228,2 mil).
"A blockchain identifica quem tem bitcoin, mas isso não significa que não possa haver fraudes", acrescentou Wozniak, que havia dito anteriormente, em outubro de 2017, que bitcoins são mais rentáveis que ouro ou prata.

'Melhor do que dinheiro'?

Gates nem sempre proferiu palavras duras contra o bitcoin.
Em 2014, em uma entrevista à emissora Bloomberg, ele disse que esta criptomoeda era "melhor do que dinheiro".
Desta vez, porém, o empresário avaliou que, ao contrário do dinheiro, as criptomoedas podem ser usadas de forma remota, o que dificulta o controle sobre o manejo de recursos.
Seus comentários no Reddit não foram bem recebidos por quem participava do debate no fórum. Alguns o criticaram, dizendo que está mal informado sobre a tecnologia e que precisaria estudar melhor o assunto.
Outros avaliaram que Gates estaria tentando influenciar o mercado com suas críticas.

Datacenter na IslândiaDireito de imagemEPA
Image captionDatacenters em lugares como este, na Islândia, são usados para mineração de bitcoins

Nova crise

O fundador da Microsoft também criticou duramente outras tecnologias que considera arriscadas demais.
Disse, por exemplo, que o Hyperloop, o sistema de transporte com cápsulas de passageiros ultraveloz que o empresário Elon Musk desenvolve, "não é um conceito que faça muito sentido", porque "é complexo torná-lo seguro".
Ele vê com bons olhos outras coisas, como a automatização, que "está impulsionando a indústria desde a Revolução Industrial". "Com a computação, isso continuará a se acelerar. Então, precisamos pensar sobre como vamos educar as pessoas para os novos trabalhos que surgirão."
Mas ele prevê tempos turbulentos para a economia global. Disse que, apesar de não ser possível prever quando ocorrerá, considera "certo" que haverá uma crise financeira como a de 2008.

Projetos de caridade

No bate-papo online, Gates ainda disse que seus três principais objetivos atualmente são "reduzir a mortalidade infantil e a desnutrição e erradicar o pólio".
Gates é copresidente de conselho da Fundação Bill e Melinda Gates, que gasta bilhões por ano em projetos de educação e saúde.
A fundação também patrocinou o desenvolvimento da blockchain para comerciantes no Quênia.
A Microsoft também busca integrar tecnologias baseadas em blockchain para verificar identidades digitais.

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/geral-43257362

quinta-feira, 1 de março de 2018

Por que a recuperação da economia não atenua a rejeição recorde a Temer?

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Rodrigo Maia, Temer e Henrique Meirelles
Image captionMelhora nos indicadores praticamente não surtiu sobre o desempenho de Temer e daqueles ligados ao governo nas pesquisas de intenção de voto | Foto: Ag. Brasil
Depois de dois anos em queda, o Produto Interno Bruto (PIB) voltou a crescer no ano passado, com alta de 1%, conforme os dados divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE. Quando vai bem, a economia costuma ser aliada do governo nas urnas e nas pesquisas de popularidade.
No entanto, os dados que mostram que a atividade está em recuperação no Brasil não têm praticamente surtido efeito sobre a rejeição recorde do presidente Michel Temer, apontada pelas pesquisas, ou sido suficientes para melhorar sua posição - ou daqueles ligados à sua administração - nas sondagens de intenção de voto.
Tanto Temer quanto seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), não têm mais do que 2% da preferência do eleitorado, de acordo com o último levantamento do instituto Datafolha, divulgado em 31 de janeiro.
Para economistas e cientistas políticos ouvidos pela BBC Brasil, o quadro se explica por um conjunto de razões, que vão desde o fato de Temer não ter sido eleito diretamente, passando pelas denúncias de corrupção envolvendo seu partido e levando em conta até a composição do crescimento em 2017, muito concentrado no agronegócio, e o nível ainda alto de desemprego.

A economia está melhor - mas para quem?

Grosso modo, metade do crescimento da economia do ano passado veio da agropecuária, pontua Fernando Sampaio, sócio-diretor da LCA Consultores - ou seja, praticamente 0,5 ponto percentual do crescimento de 1% veio do setor.
O agro responde por apenas 5% do PIB, diz Sampaio. Se contabilizada toda a cadeia - desde a logística de escoamento da produção até seu beneficiamento pela indústria alimentícia -, o peso sobe para 15%.
Gráfico
Image captionEntre 2015 e 2017 país perdeu mais de 3 milhões de empregos com carteira assinada
Conforme os dados do IBGE, esse componente do PIB cresceu 13% no ano passado, o maior percentual desde o início da série histórica, que começa em 1998.
Isso significa que parte importante do impacto positivo da "riqueza" gerada pela economia no período - criação de emprego, aumento de consumo - ficou mais concentrado no interior do que nas grandes capitais, por exemplo, onde a maioria da população vive.
"Foi um ano de recuperação bastante assimétrica", ele pondera.
O fator-chave para explicar a "sensação de crise" que ainda predomina para milhões de brasileiros, contudo, é o mercado de trabalho, acrescenta Marcel Balassiano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
Apesar de a taxa de desemprego ter recuado gradativamente entre março, quando atingiu 13,7%, e dezembro, quando chegou a 11,8%, seu nível continua elevado.
Foram, em média, 12,3 milhões de desempregados, 12,7% da força de trabalho, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua referente a 2017. Em janeiro, conforme divulgado ontem pelo IBGE, a taxa cresceu para 12,2% - segundo economistas, o início do ano é um período em que tradicionalmente há uma procura maior por trabalho e, por isso, o desemprego geralmente aumenta.
"A taxa de desemprego é a variável econômica que mais impacta na vida da população, mais até que a inflação", ressalta Balassiano.
A economia chegou a gerar emprego no ano passado - vagas precárias, entretanto. Foram 263 mil novos postos, ainda de acordo com a Pnad Contínua, em meio a uma média de 90,6 milhões de brasileiros empregados. Desse total, apenas 34,2 milhões tinham carteira assinada, 950 mil menos do que em 2016.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), uma outra pesquisa que acompanha o mercado de trabalho (e contabiliza apenas as contratações e demissões com carteira assinada), mostra quadro semelhante. Em 2017, foram fechados 20,3 mil postos, o terceiro ano consecutivo de saldo negativo. No biênio 2015-2016, o país cortou 3 milhões de empregos formais.
Gráfico
Image captionRendimentos têm crescido em termos reais mais por causa da queda da inflação do que pelos reajustes salariais - cenário que também influencia a "sensação térmica" do brasileiro em relação à economia
"As pessoas se esquecem do tamanho do tombo", pontua Christopher Garman, diretor para América Latina da consultoria Eurasia Group.
Quem está empregado, por sua vez, tem visto a renda aumentar, mas essa alta se deve muito mais à queda da inflação, que eleva o poder de compra, do que de fato a reajustes maiores nos salários - mais um fator que tem impacto sobre a "sensação térmica" do brasileiro em relação à economia.
Em 2017, a inflação acumulada em 12 meses recuou de 5,35% para 2,95% entre janeiro e dezembro. Quem teve correção do salário pelo IPCA no início do ano, por exemplo, viu os rendimentos crescerem cerca de 5%, enquanto, no decorrer do ano, o aumento dos preços foi perdendo ritmo, aumentando em menor velocidade.

Voto econômico x voto ideológico

"Quão boa tem que estar a situação para as pessoas reconhecerem que ela está boa de fato?", pondera o cientista político Adriano Codato, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
No ano passado, ele lembra, o salário mínimo - com "valor simbólico importante" - teve a menor correção em 24 anos, passando de R$ 937 para R$ 954, a conta de luz aumentou, com reajuste no valor das bandeiras tarifárias, e a gasolina ficou mais cara.
"A melhora da economia ainda não aparece na ponta. Os indicadores macroeconômicos não necessariamente se refletem na vida das pessoas."
Cofrinho remendadoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'As pessoas se esquecem do tamanho do tombo', diz Garman, da Eurasia
A correlação entre economia e preferências eleitorais é observada na grande maioria dos países, diz Codato, em maior ou menor grau.
No Brasil, um país de renda média, muito desigual e com parcela significativa da população vulnerável, a maioria escolhe seus candidatos em função do momento em que vive, da percepção que tem do governo, ele afirma, referindo-se ao que a ciência política batizou de teoria do voto econômico.
O chamado voto ideológico, acrescenta ele, que é coordenador do Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil, fica restrito ao topo da pirâmide - funcionários públicos e classes mais altas - e aos jovens. "São votos de extremos em vários graus."
Nas eleições presidenciais de 1998, exemplifica Codato, o PSDB venceu com folga no Nordeste e reelegeu Fernando Henrique Cardoso, que ainda colhia os frutos da implementação do Plano Real e de programas assistenciais. Quatro anos depois, contudo, após uma crise forte em 2002, o Nordeste votou no PT e elegeu Lula pela primeira vez.

Eleitores irritados

Além da recuperação lenta, o país atravessa em 2018 um momento histórico particular, diz Fiona Mackie, diretora regional para a América Latina da consultoria Economist Intelligence Unit (EIU).
"O Brasil vive um verdadeiro terremoto político", ilustra a cientista política, para justificar por que a "regra" de que o pragmatismo costuma prevalecer entre os eleitores quando a economia vai bem - levando-os a optar por candidatos governistas ou de centro - pode não funcionar neste ano.
A mistura de recessão com a multiplicação dos casos de corrupção que se tornaram públicos nos últimos anos despertaram nos brasileiros revolta contra a classe política. "Existe um grau de desencanto profundo com o establishment político", ressalta Garman, da Eurasia.
Para ele, a situação é exacerbada por um outro fator: a frustração de uma nova classe média - forjada na primeira década dos anos 2000 - que não viu suas demandas por serviços públicos de melhor qualidade serem atendidas e que assistiu à recessão diminuir seu padrão de vida.
"O que o eleitor quer não é a manutenção do status quo e nem a agenda econômica desse governo", diz o cientista político. "Temer é mal visto de forma geral, não é carismático, não foi eleito diretamente, assumiu com índice de aprovação já muito baixo. Há uma relação bem fundamentada (entre economia e eleições), mas essa recuperação não deve favorecer um candidato governista", reforça.

Sinais melhores

Gráfico
Image captionNo último trimestre do ano passado, economia cresceu 2,1%
Ainda assim, os números do PIB referentes ao último trimestre do ano passado trazem sinais melhores.
Ajudado pela queda da inflação e dos juros, o consumo das famílias ganhou fôlego e avançou 2,6% sobre o quatro trimestre de 2017 e 0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior - se firmando como potencial indutor do crescimento em 2018.
A indústria teve seu melhor desempenho no ano, com alta de 0,5% em relação aos três meses imediatamente anteriores e de 2,7% sobre o mesmo período do ano passado, e os investimentos esboçaram reação - cresceram 2% na comparação com o terceiro trimestre e 3,8% sobre outubro-dezembro de 2016.
O retrato da economia no fim do ano passado, diz Balassiano, do Ibre-FGV, reflete a composição da reação que se espera para este ano. Com um crescimento mais disseminado, a estimativa da instituição aponta crescimento de 2,9% para o PIB de 2018.
"A perspectiva para este ano é de desafogo", diz Sampaio, da LCA, que projeta alta de 2,8% para o produto. Entre os fatores que favorecerão a economia nos próximos meses estão a inflação ainda comportada, os juros baixos - que devem cada vez mais aparecer nas taxas cobradas à pessoa física e estimular o consumo - e a perspectiva de que o governo possa investir um pouco mais, ajudado pelas surpresas positivas com a arrecadação.
O desemprego, entretanto, que em geral reage de forma defasada ao crescimento, deve se manter alto. Depois de atingir 12,2% em janeiro, a taxa recuaria apenas para 10,9% no fim de 2018 e para 10,1% no fim de 2019, conforme as estimativas do Ibre-FGV.
Fonte http://www.bbc.com/portuguese/brasil-43229392