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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Seis pontos polêmicos do discurso de Dilma em Paris – e as reações de ambientalistas

Luiza BandeiraEnviada especial da BBC Brasil a Paris

Image copyrightAFP
Image captionPresidente brasileira faz discurso genérico na conferência mundial do clima
Sob o impacto de duas más notícias na área ambiental, o desastre de Mariana (MG) e o aumento nos índices de desmatamento, a presidente Dilma Rousseff fez na Conferência do Clima da ONU um discurso correto – mas generalista e até um pouco acanhado, na avaliação de especialistas.
"A ação irresponsável de uma empresa provocou recentemente o maior desastre ambiental da história do Brasil, na grande bacia hidrográfica do rio Doce. Estamos reagindo ao desastre com medidas de redução de danos, apoio às populações atingidas, prevenção de novas ocorrências e também punindo severamente os responsáveis por essa tragédia", disse a presidente na COP21, que a partir desta segunda reúne 150 chefes de Estado em Paris.
No discurso, Dilma também citou o avanço no combate ao desmatamento no Brasil, mas não mencionou os dados divulgados na última sexta-feira – que mostraram justamente um aumento nos índices.
"É uma postura acanhada, quase constrangida, que fala do desastre de Mariana e fala de combate ao desmatamento quando os dados recentes mostram ampliação", diz Adriana Ramos, do ISA (Instituto Socioambiental).
Mas também houve acertos, dizem os ambientalistas. Entre eles, o pedido para que o acordo global do clima, a ser firmado no evento, tenha força de lei – Dilma fez a defesa de um documento "legalmente vinculante", quer dizer, de cumprimento obrigatório, com revisão a cada cinco anos.
Confira cinco pontos do discurso da presidente brasileira em que vale a pena prestar atenção:

1) Desmatamento

"As taxas de desmatamento na Amazônia caíram cerca de 80% na última década", disse Dilma em Paris.
Isso é verdade, mas a presidente não mencionou que, entre 2014 e 2015, houve um aumento de 16% no índice – a área desmatada corresponde a cinco vezes à da cidade de São Paulo.
"O Brasil não consegue mais falar de algo que vai fazer de bom, fica só evidenciando o que aconteceu nos últimos dez anos. A previsão para os próximos 15 anos, que é o período de que trata o plano, não traz nada de bom para a área florestal. A lei é fraca, permite muito desmatamento", afirma Marcio Astrini, do Greenpeace Brasil.
O plano apresentado pelo país para colaborar com a mudança no ritmo do aquecimento global promete acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030, o que Astrini e outros especialistas criticam. Para eles, se há práticas ilegais, já é uma obrigação do governo combatê-las.
"Ela nem deveria falar de desmatamento ilegal, ainda mais só em 2030. O Brasil tem condições de fazer isso muito mais rapidamente", avalia Paulo Barreto, do Imazon.
Foto: ReutersImage copyrightReuters
Image captionTaxa de desmatamento na Amazônia cresceu 16% entre 2014 e 2015

2) Energia

"Todas as fontes de energias renováveis terão sua participação em nossa matriz energética ampliada, até alcançar, em 2030, 45%", afirmou Dilma, falando sobre o plano apresentado pelo Brasil.
Mas, para os ambientalistas, a fala não condiz com a realidade.
"Não acontece na prática, 70% dos investimentos do plano decenal (para dez anos) de energia do Brasil são para combustíveis fósseis. Pelo plano, a gente chega em 2030 com participação de energias renováveis muito parecida com o que temos hoje", diz Astrini.
"Não tem nenhuma grande revolução, isso segue a tendência atual", completa Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.

3) Acordo, revisão e metas

A presidente Dilma pediu que o acordo de Paris seja legalmente vinculante, ou seja, que tenha força de lei.
Além disso, defendeu uma "revisão quinquenal" nos planos dos países e destacou que o brasileiro fala em termos absolutos.
"Nunca ouvi isso (legalmente vinculante) tão explicitamente na boca da presidente. É muito importante falar isso aqui. E pedir a revisão a cada cinco anos também", diz Astrini, do Greenpeace.
A questão da obrigatoriedade do acordo encontra resistência nos Estados Unidos, já que um tratado teria de ser aprovado pelo Senado norte-americano, de maioria republicana (oposição ao governo do democrata Barack Obama).
Já a revisão das metas a cada cinco anos é importante porque, até o momento, os planos nacionais não conseguem limitar o aquecimento global a 2°C acima dos níveis pré-industriais. A expectativa é que, com essas revisões, surjam metas mais ambiciosas e esse problema seja corrigido.
"Ela também fez um chamado para que países entreguem metas absolutas, não vinculadas ao crescimento de PIB ou outros fatores econômicos, como está no plano do Brasil", completou Astrini.

4) Redd+

Image copyrightReuters
Image captionDilma Rousselff se referiu de forma acanhada a desastre ambiental em Mariana (MG)
Durante o discurso, Dilma também falou sobre o Redd+, mecanismo que permite a remuneração daqueles que combatem o desmatamento.
"Nosso esforços de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia ganham agora um novo patamar de ação com a adoção da estratégia nacional da Redd+. O Brasil já preenche todos os mecanismos da convenção do clima para tornar-se beneficiário desse mecanismo", disse Dilma.
Mas os ambientalistas dizem que a estratégia não está pronta.
"O governo publicou na sexta-feira a criação de uma comissão para analisar isso", diz Adriana, do ISA.
"Esta estratégia, em discussão há mais de cinco anos em Brasília, existe apenas nas intenções do governo. Ainda nem sequer foi colocada em consulta pública", complementa Rittl.

5) Responsabilidade

A presidente afirmou em sua fala que o plano do Brasil tem como meta reduzir as emissões em 43% no período entre 2005 e 2030.
"Ela é, sem dúvida, muito ambiciosa e vai além da nossa responsabilidade pelo aumento da temperatura média global", afirmou Dilma.
Mas, para Rittl, isso não é verdade. Ele diz que, apesar de o Brasil ter uma meta ambiciosa em relação a outras economias em desenvolvimento, nem o país nem nenhum outro está fazendo o suficiente.
"Se todo mundo fizesse um esforço proporcional ao do Brasil, o aquecimento ainda ficaria acima de 2ºC. Pensar assim é péssimo para o resultado da negociação, os países não podem achar que estão fazendo o suficiente se a meta não foi atingida", diz Rittl.

6) Medidas de implementação

No discurso, Dilma citou também a forma como as medidas para impedir o aumento da temperatura global serão implementadas.
Trata-se de um grande tema das discussões sobre clima: os países em desenvolvimento lutam para que os desenvolvidos – que já poluíram muito para chegar onde estão agora – ajudem a financiá-los na transição para uma economia menos poluente, para evitar que isso prejudique seu avanço.
"Os meios de implementação do novo acordo, financiamento, transferência de tecnologia e capacitação devem assegurar que todos os países tenham as condições necessárias para alcançar o objetivo", disse a presidente.
Essas formas de implementação, segundo Astrini, devem ser uma questão-chave da conferência, já que o que está em jogo não são as metas – pois cada país já apresentou as suas, voluntariamente.
"Significa que o Brasil vai se juntar fortemente a países como China e Índia para que eles cobrem dos desenvolvidos colocar mais dinheiro na mesa", diz o especialista.


Fonte http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151127_discurso_dilma_cop_lab

Para os bancos centrais, o jogo é o xadrez, e não de damas

Bloomberg
Simon Kennedy
30/11/201515h03

(Bloomberg) -- Para os observadores dos bancos centrais, o jogo já não é o de damas, e sim o de xadrez.

Entre os economistas que acompanham cada movimento dos comitês de política monetária do mundo, a questão deixou de ser se as taxas básicas de juros estão subindo ou descendo.

As variáveis do mundo pós-crise agora incluem as taxas de depósito, os balanços e o regulamento do setor financeiro. Um banco central moderno pode elevar o custo do crédito sem jamais tocar sua taxa básica.

"O mercado ainda está fixado na política monetária como um bom resultado binário, as taxas sobem ou descem", disse Paul Donovan, economista global do UBS Group AG. "Mas o resultado não é binário. A política monetária agora é mais multifacetada".

O risco é que o próximo ciclo de aperto monetário, que deverá ser iniciado pelo Federal Reserve no mês que vem, possa criar mercados financeiros mais voláteis dependendo simplesmente da forma como ele for feito.

O UBS já está tentando ajudar seus clientes publicando projeções para os balanços dos bancos centrais juntamente com suas previsões para as taxas. Por isso, assim como seus economistas veem a taxa de referência do Fed próxima a 2,5 por cento no final de 2017, eles também estimam que seu balanço -- carregado de bonds comprados para fornecer estímulos econômicos nos últimos sete anos -- cairá para quase 20 por cento do produto interno bruto, contra cerca de 25 por cento.

De volta aos anos 1980

Isso indica uma certa regressão aos anos 1980, quando bancos centrais como o Fed e o Bundesbank estavam tão focados na política quantitativa e em sua influência sobre a oferta de dinheiro quanto nas taxas. A base monetária já é a meta oficial das operações de política monetária do Banco do Japão.

"Já não basta publicar projeções sobre a taxa de política monetária como um indicador da postura em relação à política geral do banco central", disse Donovan. "A política quantitativa e a política regulatória também incidem".

Independentemente da ferramenta usada, o objetivo de reduzir a ampla oferta de dinheiro é o mesmo. Um aumento à taxa determina o preço do dinheiro, mudar a regulação altera sua velocidade e a postura quantitativa molda sua oferta, segundo Donovan.

O resultado, de todos modos, varia dependendo da alavanca puxada. Elevar as taxas, por exemplo, pode prejudicar quem tem um financiamento imobiliário, mas em contrapartida anima aqueles que contam com algum tipo de poupança. Uma inversão na flexibilização quantitativa pode afetar aqueles que mantêm bonds devido ao aumento da oferta desses títulos. As regulações destinadas a desinflar bolhas de ativos prejudicarão aqueles que se encontram nos mercados visados, como o imobiliário.

Um caso prático é o Banco da Inglaterra, no qual os investidores agora acreditam que o presidente Mark Carney esperará até 2017 para aumentar sua taxa básica de 0,5 por cento.

Ajustes por omissão

Donovan sinaliza, em contrapartida, um certo ajuste por omissão, pois o Banco da Inglaterra permitiu que seu balanço encolhesse enquanto porcentagem da economia ao simplesmente deixar de comprar mais ativos. O UBS considera que a fatia será de 19 por cento do PIB em dois anos, contra cerca de 21 por cento atualmente.

Além disso, o Banco da Inglaterra conta com o Comitê de Política Financeira, que tem a tarefa de monitorar e conter o risco sistêmico na economia britânica. Crescem as especulações de que a instituição poderá decidir nesta semana aumentar as exigências de capital aplicadas aos bancos para evitar o excesso de empréstimos, algo que Carney reconheceu que "seria similar a algum tipo de ajuste monetário".

"O gênio saiu da lâmpada", disse Donovan. "Os bancos centrais agora dependem das políticas monetária, quantitativa e regulatória".

Título em inglês: In New World of Central Banks, the Game Is Chess, Not Checkers

Para entrar em contato com o repórter: skennedy4@bloomberg.net

Simon Kennedy, em Londres, skennedy4@bloomberg.net.


Fonte http://economia.uol.com.br/noticias/bloomberg/2015/11/30/para-os-bancos-centrais-o-jogo-e-o-xadrez-e-nao-de-damas.htm

Endividamento de empresas brasileiras deve piorar em 2016, diz Fitch


SÃO PAULO (Reuters) - A combinação de fraca atividade econômica brasileira e aumento das taxas de juros dos empréstimos deve pressionar as métricas de endividamento da maioria das empresas do país em 2016, disse nesta segunda-feira a agência de classificação de risco Fitch.

Em relatório, a agência citou nominalmente empresas como as siderúrgicas CSN e Usiminas, que poderiam se tornar inviáveis diante desse cenário. Além disso, a Fitch considerou que companhias como o grupo Camargo Corrêa, a Eletrobras e Oi podem ter seus ratings de crédito rebaixados.

"O aumento das taxas de juros brasileiras têm impedido a geração de fluxo de caixa livre (FCF), ameaçando a viabilidade de empresas como CSN e Usiminas e contribuindo para os downgrades da Camargo Corrêa, Eletrobras e Oi ", disse Cristina Madero,

A Fitch ressaltou que a taxa Selic subiu de 7,25 para 14,25 por cento ao ano desde 2013. Além disso, a linha de crédito mais barata do BNDES, a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), passou de 5 para 7 por cento ao ano.

A Fitch calculou que 32 por cento das companhias avaliadas por ela no país hoje gastam mais de metade do resultado operacional medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) com serviço da dívida, ante 24 por cento no fim de 2013.

"A maioria dos emissores não é capaz de evitar um aumento do custo da dívida local. Os mercados de capitais internacionais permanecem fechados para a maioria das empresas, devido a preocupações ligadas à deterioração do ambiente político e econômico do Brasil e incertezas relacionadas a várias investigações de corrupção", comentou a Fitch.

A agência lembrou ainda que apenas seis empresas brasileiras conseguiram acessar o mercado em 2015: Petrobras, Votorantim Cimentos, Oi, Embraer, Globo e BRF. Em 2014, 36 companhias haviam conseguido emitir papéis no mercado.

(Por Aluisio Alves)


Fonte http://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2015/11/30/endividamento-de-empresas-brasileiras-deve-piorar-em-2016-diz-fitch.htm

Mulheres que tiveram dentes quebrados por companheiros relatam como voltaram a sorrir

Violentadas por namorados e maridos, vítimas perderam dentes e tiveram ossos da boca quebrados. Com ajuda de ONG, reconstruíram o sorriso e a vontade de viver; veja antes e depois

A recepcionista Regiane Oliveira: "Agora, quero ajudar outras vítimas" (Foto: Fernanda Rodrigues e Paola Vianna)
Na manhã do último dia 25 de outubro, a recepcionista Regiane Oliveira, 40 anos, quebrou o silêncio de uma sala cheia de adolescentes numa escola da região central de São Paulo. “Todo mundo virou pra me olhar”, conta. É que, assim que abriu sua apostila do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, a paulista, que no dia usava cabelo curto estilo Joãozinho e batom cor de café, deu uma risada alta. Pudera. Este ano, o Ministério da Educação propôs para a redação um assunto de seu inteiro conhecimento: a violência contra a mulher.
Outro silêncio, bem mais pesado, Regiane rompera três anos antes, quando contou a uma psicóloga de um centro social o que sofria nas mãos do irmão, viciado em drogas. De tanto receber chutes e socos, perdera osdentes da frente e mergulhara num ostracismo cruel: sem trabalho e sem amigos, quase não saía de casa. “Me penteava pela sombra, para não olhar no espelho. Minhas filhas pediam que eu ficasse calada nas reuniões da escola.”
Foi com um “hum hum” que ela disse a uma assistente social querer, sim, participar de uma seleção para tratamento dentário. Os custos seriam pagos pela Turma do Bem (TdB), ONG que reúne 16 mil dentistas no país e que foca no atendimento gratuito a jovens de 11 a 18 anos.

Em 2012, a entidade passou a beneficiar também mulheres vítimas de violência doméstica por meio do projeto Apolônias do Bem, e foi assim que a vida de Regiane mudou. Com a arcada reconstruída, ela se tornou recepcionista da ONG e retomou os estudos – quer fazer faculdade de serviço social e poder, assim, ajudar outras vítimas.
Os dados mostram que, enquanto o crime organizado mata rapazes nas ruas como numa guerra civil, o massacre feminino ocorre em casa. Segundo o Mapa da Violência, levantamento feito pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e divulgado no mês passado, o país é o quinto mais perigoso para as mulheres. Só não somos piores que El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. Das 4.762 mulheres assassinadas no Brasil em 2013, mais da metade morreu pelas mãos de um familiar direto. Nos hospitais e postos de saúde, no ano passado, outras 127 mil feridas tiveram a coragem de dizer quem as machucou: homens que deveriam amá-las.
Em seu terceiro ano, o Apolônias já reconstruiu a dentição de 650 mulheres. Seu fundador, o dentista Fábio Bibancos (que conta com amigos como Luciano Huck, Ana Paula Arósio e Fábio Assunção para catapultar a popularidade de sua ação), diz que ainda é pouco para a realidade brasileira.

“O Estado deveria fazer isso. Não há trabalho psicológico que resolva a marca de uma porrada na boca.” Os resultados são contundentes como as imagens destas páginas, que mostram diferentes momentos de seis contempladas pelo projeto. A seguir, um pouco de suas histórias.
A faxineira Marilene Moreira: "Voltei a me sentir bonita, casei e fiz a festa dos meus sonhos" (Foto: Fernanda Rodrigues e Paola Vianna)
Marilene Moreira dos Santos
45 anos, faxineira
“Meu namorado tinha 21 anos e eu, 14. Na primeira vez que avançou em mim foi de supetão, na volta do trabalho, e não parou mais. Ele me batia e me deixava trancada em casa por semanas. Na rua, me puxava pela mão como se eu fosse uma coisa – eu só podia caminhar ao seu lado. Aos 17, num ato de desespero, me joguei de um ônibus em movimento para me suicidar. Lembro do olhar fulminante que ele me deu quando, no hospital, o médico perguntou o que havia ocorrido.
"Aos 17, num ato de desespero, me joguei de um ônibus em movimento para me suicidar"
Sempre gostei de bolos e, numa noite de São João, fui com a prima dele a uma quermesse comer um pedaço. Ele sabia, mas ficou irritado. Quando voltei, me esperava com um doce de chocolate sobre a mesa e um pau para me bater. A cada golpe, esfregava na minha boca um naco do bolo, que ia se misturando com sangue. Só consegui fugir cinco anos depois, aos 19, quando ele esqueceu a porta aberta e eu corri para a casa da minha mãe. Brigamos pela guarda dos nossos filhos [Fernando, hoje com 25, e Fernanda, 23] na Justiça. Ele acabou criando meu menino.

Conheci meu atual marido há dois anos e, às vezes, não sei lidar com tanto carinho que recebo. Nunca tive isso na vida! Quando me pediu em casamento, respondi que só aceitaria se um dia tivesse meus dentes de volta. Isso aconteceu em setembro, graças ao trabalho da ONG. No último dia 22, meu aniversário, nos casamos.”
A babá Claudiane Rosa Ângelo: "Chega de currículos sem resposta. Quero voltar a trabalhar" (Foto: Fernanda Rodrigues e Paola Vianna)
Claudiane Rosa Ângelo
37 anos, babá
“Não gosto de falar das agressões que sofri. Fiquei deprimida por muito tempo e, ainda hoje, uma grande tristeza me invade. Tive um casamento bom até que, depois de muitos anos juntos, meu ex começou a beber. As brigas se tornaram frequentes e evoluíram para o físico. Meus dentes foram ficando frouxos e precisei arrancálos, um por um. É ruim demais não ter vontade de levantar da cama e passar o dia em casa, sem forças. Já fui chamada de preguiçosa por isso.

"Hoje estou vivendo do meu jeito, com alegria", diz a costureira Ruth Orozco (Foto: Fernanda Rodrigues e Paola Vianna)Só acreditei que teria meu sorriso de volta quando, três meses atrás, sentei na cadeira da dentista voluntária. Não foi fácil. O molde inicial não encaixou, pois o osso do meu céu da boca estava todo quebrado e foi preciso reconstruí-lo por inteiro. Passei por uma cirurgia, me alimentei de sopas e tive muita, muita dor. Mas tudo valeu a pena. Ainda estou desempregada e não vejo a hora de voltar a ser babá.”
Ruth Orozco
36 anos, costureira
“Saí da Bolívia com meu marido aos 21 anos rumo ao Brasil. A proposta parecia boa: trabalhar numa oficina de costura em São Paulo, terminar os estudos e ter moradia garantida. Era tudo mentira. Quando chegamos, o casal de bolivianos que nos ‘contratou’ confiscou nossos documentos, me colocou na cozinha e nunca nos pagou.
‘Você se maquia demais’, disse a dona do local quando reclamei dos abusos. Passei a andar suja, desarrumada. Ganhei algumas cáries e, assim, vi meu sorriso se esburacar. Fiquei sete anos trabalhando como escrava. Conseguimos sair depois de uma pequena greve, quando a oficina já se desmantelava, após várias revoltas.As jornadas de trabalho duravam mais de 16 horas. Quando saía do fogão, me unia ao pessoal das máquinas de costura. Engravidei da nossa primeira filha nesse ambiente e não tinha permissão para ir ao médico nem telefonar para minha família. Tentaram me estuprar mais de uma vez, quando meu marido estava longe. Me defendia aos gritos e, uma vez, até com um cabo de vassoura.

Em 2015, ganhei minha nova dentição. Por causa da violência, nunca mais quis ter um patrão. Hoje trabalho sozinha, costurando e desenhando roupas com meu estilo.”
A revendedora Lauriete Martins: "Ficar muda não era da minha personalidade. Voltei a falar" (Foto: Fernanda Rodrigues e Paola Vianna)
Lauriete Martins
62 anos, aposentada
“Quando nos conhecemos, meu atual marido pensou ter causado uma péssima impressão em mim. É que eu estava monossilábica, sem olhar nos olhos dele nem sorrir. Era o meu jeito, eu dizia. Mas não era. Depois de muitas tentativas, ele matou a charada. ‘Você não fala comigo porque não tem dentes.’ Era isso mesmo. Recuperá­­­­­­­­­­‑los este ano foi essencial para minha autoestima, mas não só. Passei também a mastigar a comida e, em menos de dois meses, emagreci 6 quilos. Isso ameniza minhas dores nos quadris.
"A pior surra foi planejada, com tapumes pregados nas janelas para que ninguém pudesse me socorrer"
A falha que eu tinha na arcada era só uma das marcas que meu primeiro marido deixou. Foram 26 anos de abusos constantes, seguidos de ameaças de morte caso eu o denunciasse. Ele tinha um ciúme doentio, capaz de destruir a casa (e a mim) por um batom. Quando desenvolvi um câncer no útero, prestes a completar 40 anos, passei a recusá-lo na cama, o que o enfureceu. Ele dizia que eu estava dormindo com outros homens.

A pior surra foi planejada, com tapumes pregados nas janelas para que ninguém pudesse me socorrer. Quando voltei do trabalho sem perceber a armadilha, me atacou. Ele bateu na minha cabeça com um martelo e tomou remédios para se suicidar. Depois disso, consegui dar um basta final. Ele passou os nove anos seguintes pedindo para voltar. Não quero nunca mais vê-lo.”
A revendedora Maria do Carmo: "Em 2015, nasci de novo. Chorei ao me ver no espelho" (Foto: Fernanda Rodrigues e Paola Vianna)
Maria do Carmo Ferreira
66 anos, revendedora
“Meu pai era mau. Quando nasci, em Quipapá, no interior de Pernambuco, impediu minha mãe de me alimentar. De tanto berrar de fome, chamei a atenção da vizinha, que implorou para cuidar de mim. ‘Joga num poço’, disse ele. Sobrevivi e, aos 5 anos, mudei com toda a família para São Paulo. Aos 14, meu pai me obrigou a casar com um homem muito mais velho.

Tive seis filhos com esse carrasco, sob pancadas e ameaças de morte. Ele me jogava na parede e eu rezava para não cair no chão, pois seria o meu fim. A irmã dele morava ao lado e o incitava: ‘Mata ela, mata ela!’. Eu me defendia com pedaços de madeira que usava no fogão a lenha. Saía de casa com meus filhos e caminhava quilômetros para fugir. Ele nos achava e mandava voltar, com o revólver na cintura.

No início de 2015, consegui provar as agressões e um oficial de Justiça o expulsou da minha casa. Me senti um bebê, nascendo de novo. Pulava de alegria. Quando fiz o tratamento, em setembro, chorei ao ver meus dentes no espelho. Pensava: ‘Meu Deus, será que morri ou estou sonhando?’.”


Fonte http://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2015/11/mulheres-que-tiveram-dentes-quebrados-por-companheiros-relatam-como-voltaram-sorrir.html

domingo, 29 de novembro de 2015

Como encontrar clientes leais para seu negócio

P: Eu abri uma escritório de design de interiores aqui no Canadá e apesar de ter concluído alguns trabalhos muito pequenos, o boca a boca não parece estar gerando muitos clientes potenciais. Ultimamente os trabalhos são poucos e espaçados. Clientes potenciais parecem hesitantes em pagar pelos serviços que eu e meus concorrentes prestam, e com frequência escolhem a opção mais barata (o que limita o melhor resultado possível para eles).

Como devo tentar encontrar aqueles primeiros clientes "reais"? Eu já anunciei nas redes sociais e em outras plataformas que posso arcar. Não quero ficar apenas aguardando e torcendo pelo sucesso, mas os trabalhos potenciais estão desaparecendo mais depressa do que consigo encontrar novos.

–Ben Schindel, Canadá

R: Ben, parabéns pelo seu sucesso até o momento no lançamento de seu negócio. O setor que você escolheu parece ser difícil de ingressar, de modo que este pode ser um bom momento para você dar um passo para trás e planejar como conduzirá sua empresa para o próximo nível.

A primeira coisa a fazer é se colocar no lugar de seus clientes. Com frequência, quando as empresas estão correndo atrás do lucro, as necessidades dos clientes são ignoradas. Se você se concentrar naquilo que mais importa para seus clientes potenciais, será muito mais fácil encontrar uma vantagem: talvez trabalhar com você possa fazer com que os clientes percam menos tempo do que se comprassem ideias prontas para casa, ou se você incluir paisagismo e outros serviços que seus concorrentes não ofereçam.

Nos anos 80, quando as pessoas se perguntavam se nossa companhia aérea, a Virgin Atlantic, sobreviveria, os críticos costumavam declarar que as pessoas nunca voariam sobre o Atlântico em uma empresa área chamada "Virgin". Nossa resposta: como tínhamos apenas um Boeing 747, um pequeno número de passageiros já bastaria! E então pudemos fornecer a esses passageiros um grau de atenção ao qual nossos concorrentes nem se davam ao trabalho –serviço de limusine para translado e entretenimento a bordo, que tornavam as viagens mais relaxantes e agradáveis. Nosso pequeno grupo de clientes era bastante leal e logo nos vimos competindo com as grandes companhias aéreas.

A chave é estabelecer expectativas realistas, depois superá-las, de preferência de formas úteis e inesperadas. Muitas empresas que conduzem pesquisas de satisfação com o cliente após uma venda perguntam: "Nós atendemos sua expectativa?" Se a resposta é "sim", a empresa conclui que fez um bom trabalho. Mas isso não necessariamente é verdade: um cliente pode ter tido uma experiência anterior desagradável, de modo que esperava um serviço ruim.

O fato de seus clientes potenciais estarem escolhendo a opção mais barata pode mostrar que não estão cientes dos benefícios de contratar um escritório de design de interiores. Esse é um dos obstáculos que você enfrenta? Se for o caso, é importante mostrar a eles por que sua solução é a melhor. Empregar as redes sociais é sábio nessa situação –criar conexões pessoais individuais online pode ser tão valioso quanto publicidade, ou até mais, lhe permitindo oportunidades adicionais de expor seu argumento.

Mas quando se está fazendo uma proposta, nada supera conversar com as pessoas pessoalmente. Os clientes potenciais que mencionou? Se não retornarem suas ligações ou não entrarem em contato, vá até o escritório deles e não aceite não como resposta. Assim que estiver face a face com alguém, elas provavelmente lhe concederão alguns minutos para apresentar sua ideia. Se demorar mais que isso, sua proposta provavelmente não está pronta. Apenas assegure que seja sob medida para seu cliente e assegure que ela se relacione com eles pessoalmente. Não meça esforços em prol deles.

Também é importante divulgar seu nome para atrair clientes potenciais. Nós empregamos promoções inteligentes para colocar o nome da Virgin no noticiário: eu explorava toda oportunidade, de tentar quebrar o recorde de dar a volta ao mundo em um balão de ar quente no menor tempo a estrelar um comercial da American Express, onde usava meu cartão de crédito para abastecer meu veículo –nosso 747! A propaganda fazia as pessoas sorrirem e ajudou a nos colocar no mapa.

Quando lançamos recentemente nossa nova rota da Virgin America de San Francisco ao Havaí, eu chamei atenção para ela ao perambular pelo terminal do aeroporto (acompanhado de alguns brilhantes cantores e dançarinas havaianas) à procura de passageiros a caminho de alguns destinos não tão exóticos em viagens a negócios. Eu lhes surpreendi ao lhes dar passagens gratuitas para Honolulu. Isso gerou muita boa vontade e fez algumas pessoas ganharem o dia –talvez o ano. (Foi ótimo ver um dos ganhadores compartilhar suas experiências em seu blog e recomendar aos seus seguidores que também voassem conosco.)

Atrair clientes é o maior desafio que qualquer novo negócio enfrentará, mas assim que você estabelecer uma base de clientes leais, seu negócio prosperará.
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Confira 8 dicas para conquistar clientes nas redes sociais8 fotos

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Tradutor: George El Khouri Andolfato

RICHARD BRANSON

O megaempresário inglês é criador do grupo Virgin, que tem 200 companhias em mais de 30 países, incluindo a empresa aérea de baixo custo de mesmo nome.