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sábado, 31 de janeiro de 2015

Rússia prevê PIB negativo de 3% de 2015

sábado, 31 de janeiro de 2015 12:27 BRST
MOSCOU (Reuters)

O ministro da economia da Rússia, Alexei Ulyukayev, disse que o ministério prevê queda de três por cento na economia do país em 2015 e uma inflação de 12 por cento até o final do ano, afirmou a agência de notícias Interfax neste sábado.

Mais cedo, o ministro disse que estava baseando sua previsão macroeconômica no preço médio de 50 dólares por barril de petróleo, principal produto de exportação da Rússia.

Ulyukayev também disse que é provável que a Rússia tenha uma saída líquida de capital de cerca de 115 bilhões de dólares.

O investimento de capital –dinheiro investido em itens como construção e infraestrutura – deve cair cerca de 13 por cento esse ano e as vendas no varejo em oito por cento, disse ele.

(Reportagem de Polina Devitt)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Petrobras ainda corre risco de default apesar da divulgação de resultado, diz fundo

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015 21:12 BRST
Por Jeb Blount

RIO DE JANEIRO (Reuters)

A Petrobras ainda corre o risco de ser declarada inadimplente em bilhões de dólares em dívida, mesmo tendo divulgado os resultados atrasados do terceiro trimestre dentro de um prazo autoimposto, disse à Reuters um hedge fund com sede em Nova York.

A divulgação dos resultados sem as baixas contábeis relacionadas às denúncias de corrupção da Operação Lava Jato da Polícia Federal pode até elevar o número de obrigações em contratos de dívida (covenants) e promessas a investidores que foram quebradas pela estatal, disse um executivo sênior do fundo Aurelius Capital Management.

Em particular, o comentário da Petrobras na nota explicativa dizendo que os seus resultados do terceiro trimestre não auditados não atenderam plenamente às normas internacionais de contabilidade do International Accounting Standards Board (IASB) demonstra o descumprimento, disse o presidente do conselho do Aurelius Capital Management, Mark Brodsky.

A Petrobras ressaltou na nota que as demonstrações estão de acordo com o IAS 34, "exceto pelos erros" nos valores de determinados ativos, cujos valores podem ter sido sobrevalorizados pela corrupção.

    "Apesar das garantias recentes, a Petrobras permanece inadimplente pela lei dos bônus em Nova York", disse Brodsky em comunicado enviado à Reuters. "Esses títulos exigem que a Petrobras divulgue suas demonstrações financeiras de acordo com as regras do IASB, mas a nota explicativa das novas demonstrações financeiras admite que não foram cumpridas."

    A Petrobras não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre as declarações do Aurelius.

    O Aurelius, um fundo de investimento com foco em "dívidas de risco", pediu em dezembro que investidores declarassem a Petrobras em default como "medida de precaução", segundo uma carta de 29 de dezembro.

Se investidores detentores de 25 por cento dos títulos da Petrobras que têm essa regra concordarem com o Aurelius, isso pode levar a uma declaração de default, elevando o risco de a estatal ter de pagar antecipadamente 54 bilhões de dólares em bônus regidos pela legislação de Nova York. Se um título for declarado em default, outros podem seguir.

O custo de proteção contra calote de um título de 10 anos da Petrobras em dólar, por meio de credit default swaps, subiu 18 pontos básicos nesta quarta-feira para 459,3 pontos.

Aurelius é um dos principais membros do grupo de investidores que não aceitou a reestruturação da dívida da Argentina e levou o país latino-americano à Justiça.

    Atrasos nas baixas contábeis no terceiro trimestre também podem tornar difícil determinar se a Petrobras, a petroleira mais endividada do mundo, cumpriu as obrigações estabelecidas nos bônus lançados em 2011 de manter os seus níveis de dívida abaixo dos limites em seu plano estratégico, disse a analista da Concórdia Corretora Karina Freitas, em São Paulo.

Os resultados do terceiro trimestre deveriam ter sido divulgados em novembro, mas foram adiados após a PricewaterhouseCoopers se recusar aprovar as contas da Petrobras em meio a crescentes denúncias de fixação de preços em contratos e subornos.

    De acordo com uma fonte com conhecimento do assunto, o fundo Aurelius ainda está buscando outros investidores para declarar um default.

A Petrobras também pode continuar desrespeitando a obrigação que assumiu de fornecer os resultados não auditados do terceiro trimestre no prazo de 90 dias contando a partir do fim do trimestre, um prazo que acabou em 29 de dezembro, de acordo com uma fonte da indústria com conhecimento dos planos dos credores.

A Petrobras disse em dezembro que recebeu permissão para divulgar os resultados atrasados de um credor de um empréstimo bilateral, mas se recusou a detalhar qualquer dispensa do prazo de 90 dias.

Fonte http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKBN0L12QI20150128?pageNumber=2&virtualBrandChannel=0&sp=true

(Reportagem adicional de Marta Nogueira)

© Thomson Reuters 2015 All rights reserved.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Boko Haram: como os militantes nigerianos ficaram tão poderosos?

Farouk Chothia

Da BBC Africa

Militantes do Boko Haram posam para foto (foto: AFP)

Militantes islâmicos têm laços com traficantes de armas do Sahel
O grupo militante islâmico Boko Haram está travando hoje uma das campanhas mais mortíferas de insurgência na África.

Eles capturaram uma grande porção de território na Nigéria e também realizaram ataques no vizinho Camarões.

Autoridades estimam que cerca de três milhões de pessoas são afetadas pela crise humanitária causada pela insurgência na região nordeste da Nigéria.

A força do grupo rebelde em um dos países mais populosos do continente, sua capacidade de ação e influência na região levantam várias dúvidas - que a BBC responde abaixo no formato perguntas e respostas:

Por que os militantes são tão letais?

O grupo seria dividido em várias facções que operam de forma autônoma pelas regiões norte e central da Nigéria.

O centro de estudos Grupo de Crise Internacional (IGC na sigla em inglês) estima que sejam seis facções ao todo. A mais organizada e impiedosa opera no Estado de Borno, onde o Boko Haram capturou grandes faixas de território.

A estratégia usada pela milícia é enviar centenas de combatentes comuns para uma cidade ou vilarejo. Eles com frequência conseguem superar numericamente as mal supridas forças do Exército nigeriano, que acabam se retirando.

Em seguida, combatentes mais experientes do Boko Haram conquistam o território.

A ofensiva atual dos militantes islâmicos marca uma mudança radical no cenário do país. Logo depois do Boko Haram lançar sua revolta em 2009, as forças de segurança nigerianas declararam ter vencido o grupo após matar milhares de seus membros – incluindo seu fundador – em uma operação na cidade de Maiduguri.

Alguns sobreviventes escaparam para a Argélia, para o Sudão e possivelmente para o Afeganistão, onde receberam treinamento militar.

Atualmente, a brutalidade na forma de operar do grupo está crescendo. Com isso, eles perderem apoio, segundo analistas, de muitos muçulmanos do país – que os viam como uma alternativa à elite corrupta.
Como eles recrutam seus militantes?

Cada vez mais por conscrição – os moradores das vilas são forçados a aderir em massa ao grupo sob ameaça de serem assassinados. Eles também contratam criminosos "pagando-os por ataques, às vezes com uma parte das riquezas pilhadas", segundo o IGC.

Os laços étnicos são muito fortes na Nigéria. A maioria dos combatentes do Boko Haram são kanuri – a etnia do líder do grupo, Abubuakar Shekau. Isso sugere que ele goza de influência sobre líderes tradicionais do nordeste do país.

A quantidade total de combatentes do Boko Haram não é clara. O analista de segurança e finanças britânico Tom Keatinge estima que sejam mais de 9 mil.
De onde vem o dinheiro que financia o Boko Haram?

Quando o grupo invade cidades normalmente saqueia seus bancos. Em 2012, autoridades militares da Nigéria acusaram o Boko Haram de extorquir dinheiro de empresários, políticos e figuras do governo. Eles os ameaçavam de sequestro se não pagassem as quantias exigidas.

Autoridades americanas estimam que os militantes recebem até US$ 1 milhão (cerca de R$ 2,6 milhões) pela libertação de um milionário nigeriano, segundo Keatinge.

Mas quando a vítima é estrangeira, a quantia obtida pode ser muito maior: o Boko Haram recebeu US$ 3 milhões (R$ 7,7 milhões) de resgate para libertar uma família francesa de sete pessoas capturadas no norte de Camarões em fevereiro de 2013, de acordo com um documento da Nigéria obtido na época pela agência de notícias Reuters.

Com essas fontes de financiamento, Keatinge estima que os rendimentos anuais da rede do Boko Haram cheguem a US$ 10 milhões. O pesquisador nigeriano Kyari Mohammed diz acreditar que o grupo esteja realizando uma rebelião de baixo custo por usar principalmente jovens de áreas rurais.
Como o grupo obtém armamentos?

O Boko Haram invadiu muitas delegacias de polícia e bases militares na Nigéria, obtendo assim um bom arsenal – incluindo blindados de transporte de tropas, caminhonetes, lança-rojões e fuzis de assalto.

Além disso, o grupo mantém fortes laços com contrabandistas de armamentos que operam na vasta região do Sahel (faixa de aproximadamente 600 quilômetros de largura e 5,5 mil quilômetros de extensão, que corta o norte da África, logo abaixo do deserto do Saara e acima da savana do Sudão), segundo o ICG.

Muitas dessas armas teriam sido contrabandeadas da Líbia, onde arsenais foram saqueados durante a revolta que levou à queda do coronel Muamar Khadafi em 2011.

Porém, boa parte das bombas usadas pelos militantes islâmicos são improvisadas, construídas com materiais baratos e de acesso relativamente fácil, segundo o IGC.

Seus especialistas em explosivos, segundo o analista de segurança nigeriano Bawa Abdullahi Wase, são universitários recém-formados que não conseguiram empregos.

Além disso, recentemente o grupo saqueou fábricas de cimento em busca de dinamite e artefatos explosivos.

O governo declarou estado de emergência em 2013 em três Estados nortistas mais afetados pela campanha insurgente. As forças do governo também armaram grupos de vigilantes, que operam em regiões remotas onde a presença militar é mínima.

O Boko Haram foi empurrado de Maidaguri e vilarejos vizinhos para a vasta região das florestas de Sambisa, ao longo da fronteira com Camarões. Mas os militantes responderam com uma nova ofensiva que deu a eles o controle de um território de dimensões equivalentes à da Bélgica.

Se o Boko Haram tiver sucesso em suas ambições territoriais – conquistando cidades no Níger, no Chad e em Camarões, como ameaçou seu líder – o conflito pode tomar uma dimensão internacional.

A França pode por exemplo se envolver mais diretamente no conflito para proteger suas ex-colônias.

Até agora Camarões tem tido relativo sucesso em repelir os ataques do Boko Haram, apesar de ter um Exército muito menor que o da Nigéria, que vem sendo criticada por não usar bem sua vantagem numérica.
O Boko Haram é ligado ao 'Estado Islâmico'?

Shekau, o líder do Boko Haram, se referiu ao líder do autodeclarado "Estado Islâmico", Abu Bakr al-Baghdadi, em um vídeo no ano passado como "califa". Ele também elogiou Ayman al-Zawahiri, liderança da rede extremista Al-Qaeda - que disputa com o "Estado Islâmico" a lealdade dos jihadistas ao redor do mundo.

Porém, Shekau não jurou aliança a nenhum dos dois grupos.

Ele costuma elaborar suas mensagens nas línguas hausa, árabe e kanuri, mas em seu mais recente vídeo – no qual elogia os ataques contra a revista satíricaCharlie Hebdo em Paris – o discurso foi feito totalmente em árabe, o que leva analistas a acreditar que o grupo nigeriano esteja buscando ter um apelo mais internacional.

Laços fortes com grupos jihadistas globais dariam um ímpeto maior à campanha do Boko Haram.


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150126_boko_analise_lk

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Temas da sucessão saudita que interessam ao mundo

Cúpula do governo (acima) foi rapidamente anunciada para evitar vácuo de poder


Poucas horas após ascender ao trono da Arábia Saudita, nesta sexta-feira, o novo rei do país, Salman, prometeu continuidade e mandou uma mensagem pelo Twitter pedindo a Deus que o ajude a "manter a segurança e estabilidade" e "proteja o reino de todos os males".

Ele sucede seu meio-irmão, o rei Abdullah, que morreu na véspera, aos 90 anos, de infecção pulmonar. Seguindo a tradição do wahabismo ─ forma ultraconservadora do islã sunita praticada no reino ─, ele foi sepultado em um túmulo simples após as preces de sexta-feira.

Salman, de 78 anos, rapidamente nomeou ocupantes de cargos de alto escalão, em aparente tentativa de evitar vácuos de poder num momento em que a Arábia Saudita está cercada de desafios internos e externos. Eis alguns deles, e os motivos pelos quais eles interessam ao resto do mundo:

Estabilidade

E o primeiro desses desafios é garantir que a sucessão ocorra sem turbulências ou rachas na família real.

"Com o Oriente Médio em um estado de turbulência sem precedentes, a necessidade de uma transferência de poder ordeira na Arábia Saudita se torna mais crucial do que nunca - mas quem herdará o trono nos próximos anos é uma questão espinhosa", explica Gerard Butt, analista de Oriente Médio da Oxford Analytica e da Petroleum Policy Intelligence, em artigo à BBC News.

"A Arábia Saudita é um país grande e influente. Guardiã dos dois lugares mais sagrados do islã (Meca e Medina), se enxerga como líder da comunidade sunita no mundo. E é uma peça-chave nas tentativas sunitas de bloquear a influência xiita vinda do Irã na região. Além disso, é o maior produtor de petróleo do mundo."

Por tudo isso, explica Butt, o processo de sucessão é arranjado entre os príncipes mais velhos da família real Al Saud.

Abdullah, Salman e Muqrin (o próximo na linha sucessória) são filhos do fundador da Arábia Saudita, rei Abdulaziz (conhecido como Ibn Saud), que morreu em 1953. Mas teme-se que as futuras sucessões ao trono não ocorram em clima de concordância e consenso, o que pode levar à instabilidade regional.

Segurança

A segurança do reino deve ser a prioridade número um de Salman, explica Butt.

"Centenas de jovens sauditas foram lutar ao lado do (grupo autodenominado) 'Estado Islâmico' e estão voltando para casa inspirados pela ideologia jihadista", relata o analista.

Butt acredita que o rei estará menos inclinado que seu antecessor em intervir nos assuntos mais polêmicos da região.

"Ainda que o reino vá continuar a apoiar a oposição síria, por exemplo, deverá olhar mais favoravelmente para soluções (que incluam governos) de transição que mantenham no poder alguns membros do regime (do presidente sírio) Bashar al-Assad. Da mesma forma, no Iraque o rei deve continuar comprometido com a coalizão anti-Estado Islâmico (liderada pelos EUA), mas manterá a recusa em enviar tropas."
Enterro do rei Abdullah; Arábia Saudita tem população extremamente conservadora e reativa a mudanças, diz analista


É possível, porém, que o país envie tropas a sua fronteira com o Iêmen, outro país que enfrenta turbulências internas. A recente (e rápida) expansão de grupos rebeldes que supostamente contam com o apoio do Irã são uma crescente preocupação ao reino saudita. Além disso, o Iêmen abriga um ativo braço da Al-Qaeda, fonte de temor ao Ocidente.

"Continua havendo (na Arábia Saudita) a ameaça provocada por jihadistas, tanto internamente quanto nas fronteiras", explica o analista de segurança da BBC, Frank Gardner.

"O país está no meio do agressivo 'Estado Islâmico', ao norte, e a Al-Qaeda no Iêmen, ao sul. Aviões sauditas ajudaram a coalizão comandada pelos EUA em ataques aéreos contra o EI, mas isso é altamente impopular entre muitos sauditas."

Petróleo

O processo sucessório desperta uma questão crucial ao mundo: haverá mudanças na política petrolífera do reino?

O maior produtor mundial de petróleo tem sido, até o momento, resistente em cortar a produção do combustível (o que ajudaria a aumentar os preços, que caíram pela metade desde junho). Acredita-se que essa política se manterá no reinado de Salman, relata Andrew Walker, repórter de economia do Serviço Mundial da BBC.


Ainda assim, houve leve alta no preço do barril nos mercados internacionais nesta sexta.

Alguns membros da Opep (grupo que reúne os principais países exportadores do petróleo), em especial Irã e Venezuela, queriam um freio coordenado na produção mundial, com a esperança de elevar os preços.

Mas acredita-se que a Arábia Saudita tema perder sua fatia de mercado para países não membros da Opep e tenha reservas monetárias suficientes para suportar por mais algum tempo a baixa nos preços.
Isso não muda, porém, o fato de que o petróleo barato tem um forte impacto nas contas do país.

Reformas e direitos civis

O país enfrenta muitos desafios internos, como o aumento do desemprego entre jovens, o regresso de jihadistas no Iraque e na Síria e crescentes críticas à família real nas redes sociais.

Em meio a isso, os governantes evitarão demonstrar qualquer racha na cúpula de poder e devem manter a linha dura contra manifestantes e opositores.

Gardner lembra que a Arábia Saudita é o país menos democrático no Oriente Médio e extremamente resistente a avanços em direitos civis, em especial os femininos.

"Muitos pensam que os governantes atrasam o país em termos de reformas, mas Abdullah pressionou por avanços no papel das mulheres. Só que os conservadores religiosos não querem ver mulheres dirigindo (carros, o que são proibidas de fazer) ou tendo papéis políticos. Eles temem mudanças drásticas", explica o analista.

O temor a mudanças se refletiu também no rigor contra manifestações ocorridas na época da Primavera Árabe.

Para Gerard Butt, essas políticas devem mudar pouco sob o novo rei. "Acredita-se que Salman seja ainda menos favorável que seu antecessor a reformas políticas e sociais. Seria uma grande surpresa se as mulheres obtivessem o direito de dirigir durante o reinado."

Fortemente criticada por organizações de direitos humanos, a Arábia Saudita tampouco deve avançar nesse aspecto.

"O rei não vai estar interessado em arriscar disputas com o poderoso establishment religioso ou tentar persuadi-lo a amenizar a lei islâmica", diz o analista.


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150123_analise_arabia_saudita_pai

Via Láctea 'pode ser buraco de minhoca para viagens no tempo'


Buraco de minhoca na Via Láctea (Imagem: Paolo Salucci)

Cientista diz que, em teoria, túnel galático seria 'navegável'


Nossa galáxia pode ser, em teoria, um grande túnel semelhante a um buraco de minhoca (ou túnel de viagens no espaço e no tempo), possivelmente "estável e navegável" e, portanto, "um sistema de transporte galático". É o que sugere um artigo publicado no periódicoAnnals of Physics.

O estudo - que, ressaltam os cientistas, ainda é uma hipótese - é resultado de uma colaboração entre pesquisadores italianos, americanos e indianos.

Para chegar a essas conclusões, os estudiosos combinaram equações da teoria da relatividade geral, desenvolvida por Albert Einstein, com um mapa detalhado da distribuição de matéria escura (que representa a maior parte da matéria existente no Universo) na Via Láctea.

"Se unirmos o mapa da matéria escura na Via Láctea com o modelo mais recente do Big Bang para explicar o Universo e teorizarmos a existência de túneis de espaço-tempo, o que obtemos é (a teoria) de que nossa galáxia pode realmente conter um desses túneis e ele pode ser do mesmo tamanho da própria galáxia", disse Paolo Salucci, um dos autores do estudo e astrofísico da Escola Internacional de Estudos Avançados de Trieste (Sissa, na sigla em italiano).

"Poderíamos até viajar por esse túnel, já que, com base em cálculos, ele seria navegável. Assim como o visto recentemente no filme Interestelar."

Ainda que túneis desse tipo tenham ganhado popularidade recentemente com o filme de ficção científica, eles já chamam a atenção de astrofísicos há muito tempo, explica comunicado do Sissa.

Salucci afirmou não ser possível dizer com absoluta certeza que a Via Láctea é igual a um buraco de minhoca, "mas simplesmente que, segundo modelos teóricos, essa hipótese é possível".

O cientista explicou que, em teoria, seria possível comprovar essa hipótese fazendo uma comparação entre duas galáxias - aquela à qual pertencemos e outra parecida. "Mas ainda estamos muito longe de qualquer possibilidade real de fazer tal comparação."
Matéria escura

Estudos prévios já haviam demonstrado a possível existência desses buracos de minhoca em outras regiões galáticas. Segundo o estudo do Sissa, os resultados obtidos agora "são um importante complemento aos resultados prévios, confirmando a possível existência dos buracos de minhoca na maioria das galáxias espirais".

O estudo também reflete sobre a matéria escura, um dos grandes mistérios da astrofísica moderna. Essa matéria não pode ser vista diretamente com telescópios; tampouco emite ou absorve luz ou radiação eletromagnética em níveis significativos. Mas a misteriosa substância compõe 85% do universo.

Salucci lembra que há tempos os cientistas tentam explicar a matéria escura por meio de hipóteses sobre a existência de uma partícula específica, o neutralino - o qual, porém, nunca foi identificado pelo CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, que pesquisa o Bóson de Higgs, a chamada "partícula de Deus") ou observado no Universo. Mas há teorias alternativas que não se baseiam nessa partícula.

"Talvez a matéria escura seja uma 'outra dimensão', talvez um grande sistema de transporte galático. Em todo o caso, realmente precisamos começar a nos perguntar o que ela é."


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150122_vialactea_viagens_tempo_pai

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Riqueza de 1% deve ultrapassar a dos outros 99% até 2016, alerta ONG

Manifestante protesta contra desigualdade (Foto: Thinkstock)

Renda anual individual de parcela mais rica da sociedade pode chegar a R$ 7 milhões


A partir do ano que vem, os recursos acumulados pelo 1% mais rico do planeta ultrapassarão a riqueza do resto da população, segundo um estudo da organização não-governamental britânica Oxfam.

A riqueza desse 1% da população subiu de 44% do total de recursos mundiais em 2009 para 48% no ano passado, segundo o grupo. Em 2016, esse patamar pode superar 50% se o ritmo atual de crescimento for mantido.

Leia mais: Fortuna de super-ricos é 'incontrolável', diz pesquisador

O relatório, divulgado às vésperas da edição de 2015 do Forum Econômico Mundial de Davos, sustenta que a "explosão da desigualdade" está dificultando a luta contra a pobreza global.

"A escala da desigualdade global é chocante", disse a diretora executiva da Oxfam Internacional, Winnie Byanyima.

"Apesar de o assunto ser tratado de forma cada vez mais frequente na agenda mundial, a lacuna entre os mais ricos e o resto da população continua crescendo a ritmo acelerado."
Desigualdade

A concentração de riqueza também se observa entre os 99% restantes da população mundial, disse a Oxfam. Essa parcela detém hoje 52% dos recursos mundiais.

Porém, destes, 46% estão nas mãos de cerca de um quinto da população.

Isso significa que a maior parte da população é dona de apenas 5,5% das riquezas mundiais. Em média, os membros desse segmento tiveram uma renda anual individual de US$ 3.851 (cerca de (R$ 10.000) em 2014.

Já entre aqueles que integram o segmento 1% mais rico, a renda média anual é de US$ 2,7 milhões (R$ 7 milhões).

A Oxfam afirmou que é necessário tomar medidas urgentes para frear o "crescimento da desigualdade". A primeira delas deve ter como alvo a evasão fiscal praticada por grandes companhias.

O estudo foi divulgado um dia antes do aguardado discurso sobre o estado da União a ser proferido pelo presidente americano Barack Obama.

Espera-se que o mandatário da nação mais rica - e uma das mais desiguais - do planeta defenda aumento de impostos para os ricos com o objetivo de ajudar a classe média.


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150119_riquezas_mundo_lk

Três iniciativas que enriqueceram a Coreia do Sul

Samsung talvez seja a marca sul-coreana mais famosa do mundo


A Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, deixou a península coreana dividida e profundamente empobrecida. O Sul tinha um PIB per capita menor que o de muitos países africanos.

Hoje, o país é uma das maiores economias do mundo e um gigante de manufatura.

E mais: a Coreia do Sul conseguiu isso tendo poucos recursos naturais, tanto que é o quarto maior importador de petróleo do mundo.

Mas como o país conseguiu promover essa mudança?

A BBC fez essa pergunta ao professor Jasper Kim, da Universidade Ewha de Estudos Internacionais, em Seul. A seguir, eis o que ele vê como a estratégia sul-coreana - que inclui medidas polêmicas, autoritárias ou mesmo incomuns no Ocidente - para seu milagre econômico:

1. Aposte em si mesmo

A Coreia do Sul criou algo a partir do nada ao apostar no único recurso que tinha: seu povo.

Tanto o governo quanto as famílias perceberam o valor da educação e investiram nela em níveis extraordinários.

Essa aposta resultou na formação de engenheiros e operários necessários para desenvolver uma base manufatureira sobre a qual a economia pudesse florescer.

2. Os fins justificam os meios

O presidente Park Chung-Hee assumiu o poder em um golpe militar em 1961. Durante seu mandato de 18 anos, comandou um grande programa de desenvolvimento industrial, que alçou a economia sul-coreana a seu patamar atual.
Autoritário, o governo de Park Chung-Hee foi marcado por um forte programa de desenvolvimento


Ele foi também uma figura controversa e autoritária, que implementou a lei marcial no país e mudou a Constituição para aumentar seus próprios poderes.

Park usou seu poder para forçar coreanos ricos que ele considerava corruptos a investir na indústria do próprio país, criar um setor de construção naval, etc.

Ainda que o professor Kim duvide que tais medidas funcionassem na Coreia do Sul atual, ele diz que as iniciativas foram importantes num momento em que o país ainda estava devastado pela guerra, nos anos 1960 e 70.

A ditadura de Park acabou com seu assassinato, em 1979, mas sua filha, Park Geun-Hye, hoje preside o país.

3. Tudo em família

O sucesso econômico sul-coreano é baseado no modelo "Chaebol": conglomerados de negócios que costumam ser associados com uma única família.
Professor Kim explica "receita" sul-coreana para o sucesso econômico


A Samsung, possivelmente a mais famosa marca do país, está nas mãos da família Lee desde sua fundação, em 1938.

Lee Kun Hee, 72, recebeu o controle da gigante manufatureira das mãos de seu pai em 1987 e seu provável sucessor é seu filho, Lee Jae Yong, 46.

No Ocidente, a ideia de que o melhor CEO ou presidente para a sua empresa é automaticamente o filho do dono seria considerada antiquada e, provavelmente, uma má ideia.

Mas o professor Kim argumenta que, na Coreia, a transferência de comando dentro da própria família tem dado resultados melhores, e a estabilidade derivada dela pode ter contribuído para o sucesso sul-coreano.

Ele diz também que os filhos de famílias poderosa 
são cuidadosamente preparados desde cedo para tais tarefas.

Mas o princípio hereditário está prestes a enfrentar um obstáculo, que pode afastar empresas como a Samsung de seu tradicional modelo de controle familiar.

Lee Kun Hee foi hospitalizado em maio do ano passado após sofrer um ataque cardíaco. No caso de sua morte, impostos sobre sua herança podem chegar a US$ 5 bilhões, segundo a Bloomberg - quantia capaz de pôr fim ao controle da família.


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150116_gch_coreia_sul_riqueza_pai

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

EUA flexibilizam a partir de sexta viagens e comércio com Cuba

France Presse


15/01/2015 12h55 - Atualizado em 15/01/2015 13h44

Novo marco normativo reduz os requisitos para viajar à ilha.
Turistas americanos poderão usar cartões de débito ou crédito na ilha.

Do G1, em São Paulo
Barack Obama e Raúl Castro dão aperto de mão na cerimônia em memória a Nelson Mandela no estádio Soccer City, em Johanesburgo, África do Sul. (Foto: Chip Somodevilla/Getty Images)
Barack Obama e Raúl Castro dão aperto de mão na cerimônia em memória a Nelson Mandela no estádio Soccer City, em Johanesburgo, África do Sul, em 2013 (Foto: Chip Somodevilla/Getty Images)


Os Estados Unidos implementarão a partir de sexta-feira novas regulações que facilitarão as viagens e o comércio de americanos comCuba, no âmbito da histórica aproximação diplomática entre os dois países, anunciou nesta quinta-feira (15) o Departamento do Tesouro.

"O anúncio nos deixa um passo mais próximos de substituir políticas obsoletas que não funcionavam e estabelece uma política de ajuda para promover as liberdades econômicas e políticas para o povo cubano", disse o secretário do Tesouro, Jacob Lew.

As novas medidas estão incluídas nas mudanças econômicas anunciadas em novembro pelo presidente Barack Obama. Os Estados Unidos e Cuba surpreenderam o mundo no dia 17 de dezembro ao anunciar que deixavam para trás meio século de confrontos para iniciar negociações para a normalização plena das relações diplomáticas. O acordo foi selado definitivamente com uma histórica conversa telefônica de quase uma hora entre Obama e o líder cubano Raúl Castro.

A primeira rodada de negociações para iniciar o processo de normalização das relações diplomáticas ocorrerá em Havana nos dias 21 e 22 de janeiro. A delegação americana estará liderada pela vice-secretária de Estado para o Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson.

Veja abaixo as principais mudanças:

Sem aprovação
Os americanos já não terão necessidade de obter a aprovação do governo antes de viajar para Cuba. Eles poderão ir livremente à ilha se se enquadrarem em uma de 12 categorias aprovadas -- que incluem viagens educacionais, religiosas e humanitárias.

Sem restrição de gastos
Outra medida é o fim da restrição de gastos de US$ 188 por dia em Cuba para hotel, refeições e outras necessidades eventuais.

Compras
Pela primeira vez, os americanos também podem voltar para os EUA com até US $ 100 em rum e charutos cubanos e um total de US$ 400 em mercadorias.

Remessas
O montante das remessas que os cubanos podem receber de seus familiares nos Estados Unidos aumenta de US$ 500 para US$ 2.000 por trimestre.

Cartão de crédito
Além disso, os residentes dos EUA poderão usar seus cartões de crédito e débito na ilha, o que atualmente é proibido e obriga os americanos a pagar por toda as suas viagens em dinheiro.

Empresas
Companhias dos EUA também poderão vender mais produtos diretamente ao setor de pequenas empresas de Cuba. Mais de 500 mil cubanos agora trabalham fora do sistema estatal, e as novas regras permitem que os americanos ofereçam micro financiamento para as empresas e vendam para elas uma grande variedade de materiais, equipamentos e ferramentas.

Telecomunicações
Os regulamentos também abrem as portas para as empresas americanas para ajudar a recuperar a indústria de telecomunicações da ilha. Empresas norte-americanas terão permissão para vender dispositivos de comunicação, software, hardware e serviços para melhorar a infraestrutura de comunicações de Cuba, incluindo serviços baseados na internet.


Fonte http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/01/eua-flexibilizam-a-partir-de-sexta-viagens-e-comercio-com-cuba.html

domingo, 11 de janeiro de 2015

Ajuste fiscal x 'pátria educadora': entenda os cortes anunciados pelo governo

Mariana Schreiber

Da BBC Brasil em Brasília

Crédito: Thinkstock


A dura realidade se impôs ao governo nesta quarta-feira: o desafio de conciliar o compromisso com a redução dos gastos públicos e expansão da sua atuação em áreas consideradas prioritárias, como a educação.

O Ministério do Planejamento anunciou nesta manhã um corte provisório de R$ 1,9 bilhão por mês o que significaria uma economia anual de R$ 22,7 bilhões. Esses valores podem mudar após o Congresso aprovar o orçamento deste ano.

O contingenciamento anunciado hoje é resultado de um corte linear nas despesas de custeio consideradas não obrigatórias de todos os ministérios. Ou seja, a previsão inicial para esses gastos foi reduzida em um terço em todas as pastas. Como o Ministério da Educação é o que tinha o maior valor previsto, sofreu o maior corte R$ 7,042 bilhões.

Vale destacar que há três categorias de gastos no orçamento da União: as despesas obrigatórias (em sua maioria salários de servidores e aposentadorias), as despesas de custeio para manutenção da máquina pública (luz, água, equipamentos, passagens aéreas, etc) e os investimentos.

Além disso, a Lei de Responsabilidade Fiscal também prevê alguns tipos de gastos que não podem sob hipótese alguma ser contingenciado, como merenda escolar, procedimentos médicos de alta complexidade e o pagamento da dívida pública.

O secretário executivo do Movimento de Educação de Base, padre Gabrielle Cipriani, questiona a necessidade dos cortes.

"Isso é um problema grave. Temos a impressão de que estão sendo feitos cortes como se a situação do Brasil fosse tão emergencial que o país estivesse indo água abaixo", disse.

"A gente gostaria que esses cortes fossem feitos com cuidado, considerando o que é mais importante. A educação hoje é básica para que o país possa retomar o desenvolvimento", defendeu.

'Pátria educadora'
Crédito: Reuters
Governo terá desafio de expandir atuação em áreas consideradas prioritárias com menos dinheiro


Mesmo se concretizado o corte de R$ 7 bilhões no custeio do Ministério da Educação, a pasta continuará com o terceiro maior orçamento dos 39 ministérios (R$ 101,3 bilhões), atrás de Saúde (R$ 109,3 bilhões) e Previdência (R$ 450,7 bilhões).

Proporcionalmente ao total do orçamento previsto para cada pasta (somadas despesas obrigatórias, custeio e investimento), o decreto publicado hoje prevê que 16 ministérios terão contingenciamentos maiores que o da Educação. Os maiores cortes proporcionais estão previstos para as secretarias da Micro e Pequena Empresa (24%) e da Igualdade Racial (23%) e os ministérios da Pesca (21,5%) e Turismo (19%).

No caso da Educação, o corte de R$ 7 bilhões equivaleria a 7% do gasto total previsto.

Questionado pela BBC Brasil sobre o impacto dos cortes na pasta, o Ministério da Educação respondeu que isso ainda está sendo avaliado.

Em seu discurso de posse, a presidente Dilma Rousseff indicou que vai priorizar a área em seu segundo mandato ao adotar o lema "Brasil, pátria educadora" em complemento ao atual slogan do governo federal "Brasil, país sem miséria".

"As intenções da presidente são uma coisa e o contexto em que a presidente se encontra nesse segundo mandato é outro, como se vê especialmente pela nomeação de pessoas ligadas ao setor financeiro (na equipe econômica)", observou Cipriani.

"Eu não digo que eles querem fazer um desastre, mas eles olham o país a partir de outro ponto de vista que é o ponto de vista dos bancos e das grandes empresas", disse.
Ceticismo

Os cortes anunciados hoje, porém, podem sofrer modificação. O contingenciamento definitivo só será anunciado após o orçamento proposto pelo governo para este ano ser aprovado pelo Congresso. Até lá o governo é autorizado a gastar por mês até 1/12 do que está previsto como despesa de custeio. Foi esse limite que foi reduzido em um terço no decreto publicado nesta quinta-feira.

O especialista em contas públicas Mansueto Almeida é cético sobre o cumprimento desses cortes. Economista licenciado do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ele escreveu hoje em seu blog que o o reequilíbrio das contas públicas terá que vir de mais impostos, cortes nos investimentos e redução de despesas permanentes, como as mudanças anunciadas recentemente no pagamento de pensões e seguro-desemprego.

Relembrando o que ocorreu em anos passados, Mansueto observa que a forma mais rápida com que o governo consegue cortar gastos é reduzindo os investimentos. Já os contingenciamentos de gastos de custeio não costumam ser cumpridos "porque mais cedo ou mais tarde os órgãos públicos precisam pagar as contas." Assim, o contingenciamento "é muito mais atraso de pagamentos", ressaltou.

O economista manifestou "grande confiança na equipe econômica atual", mas disse que "contingenciamento não é ajuste fiscal".

"Infelizmente, não vejo como Dilma 2 pode pagar a conta dos excessos de Dilma 1 sem aumentar carga tributária e voltar atrás de desonerações dadas ao setor produtivo", acrescentou.

Os contingenciamentos de despesas visam o cumprimento da meta de economizar o equivalente a 1,2% do PIB deste ano ─ o chamado superávit primário ─ para pagamento de juros da dívida pública. Em 2014, o governo não conseguiu alcançar o objetivo.



Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150108_corte_contas_ms_lgb

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Sete estratégias para se proteger da inflação em alta

Ruth Costas

Da BBC Brasil em São Paulo

Feira (Reuters)

Para consultor, pechinchar os preços sempre que possível pode ajudar a reduzir impacto da alta no orçamento


O índice de inflação divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira mostrou o que muitos brasileiros já estão há algum tempo sentido no bolso - uma aceleração da alta de preços.

Em 2014, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 6,41%, uma alta de 0,5 ponto percentual em relação à inflação de 2013 (de 5,91%). Foi a maior alta anual de preços desde 2011, quando a inflação ficou em 6,5%.

O resultado ficou abaixo do teto da meta definido pelo Banco Central (de 4,5% com margem de dois pontos percentuais para cima e para baixo), mas o ano já começa com economistas e analistas de mercado prevendo uma inflação acima da meta em 2015 (6,56%).

"A inflação de dezembro (de 0,78%), ainda que maior que a de novembro (0,51%), acabou levando o índice para baixo por uma questão estatística: em 2013 os preços haviam subido muito no mesmo período (0,92%). Foi isso que segurou o índice de 2014 nesse final de 2014. Mas em 2015 haverá uma pressão muito grande dos preços administrados, então será ainda mais complicado cumprir a meta", diz o economista Paulo Picchetti, especialista em índices de inflação da Fundação Getúlio Vargas.

Quer saber como proteger seu dinheiro da alta de preços e fazer o salário voltar a sobrar no fim do mês? A BBC Consultou analistas financeiros e economistas que sugerem sete estratégias:
1) Invista

Quanto maior a inflação, mais se perde ao deixar o dinheiro poupado parado e maior deve ser a remuneração de um investimento para que se consiga obter ganhos reais com ele.

Diante da atual volatilidade do cenário econômico, muitos analistas financeiros têm recomendado investimentos em renda fixa, como títulos do tesouro ou fundos de investimento e outros produtos financeiros atrelados a esses títulos (LCI, LCA e CDB).

"E como a expectativa é que os juros parem de subir entre abril e meados do ano, a preferência seria pelos pré-fixados", diz Michael Viriato, professor do Insper.

A poupança, apesar da vantagem de ser isenta de Imposto de Renda e taxas de administração, perde cada vez mais atratividade com a alta dos juros. "No ano passado, por exemplo, quem investiu em poupança teve um ganho real de cerca de 0,6%, quase nada", diz Viriato.

Para o economista e consultor financeiro William Eid, uma opção para quem tem mais recursos (mais de US$ 100 mil) é investir em títulos brasileiros no exterior. "Diversas empresas emitem títulos no exterior", diz ele. "Além da proteção contra inflação, ainda temos a proteção cambial."

No passado os imóveis já foram considerados uma boa proteção contra a inflação. Para Eid, porém, as perspectivas ruins para o crescimento da economia, que devem frear o mercado imobiliário, tornam a opção menos atrativa.

"Os imóveis foram um bom investimento há alguns anos porque se valorizaram bastante, mas isso foi algo pontual. Hoje não recomendo como investimento", concorda Viriato.
2) Negocie aumentos

Para que o dinheiro continue (ou comece) a sobrar no final do mês, mesmo com a alta dos preços, especialistas recomendam que, sempre que possível, se negocie os aumentos de produtos e serviços consumidos.

"É claro que você não pode pechinchar o preço da carne em um supermercado, mas talvez possa fazê-lo em um mercado de bairro em que compra com frequência", diz Mauro Calil, consultor financeiro e fundador da Academia do Dinheiro.

“Se os aumentos da escola de seu filho não são razoáveis – se são de 10%, 20% muito mais altos que a inflação oficial (de 6,41%), vale a pena se juntar com outros pais para questionar o porquê desse aumento e pedir uma redução”, diz o economista Samy Dana, da FGV.

“Afinal, seu salário não vai subir tudo isso.”
3) Pesquise preços

Nos tempos de hiperinflação, nos anos 80 e 90, era preciso correr de uma loja a outra para pesquisar preços. E muitas vezes ao concluir qual o local mais barato, o consumidor era surpreendido por um reajuste de preços no local.

Hoje, não só a inflação em patamares mais baixos facilita a comparação, como a internet é um grande aliado de quem quer se proteger da alta de preços.

"Pesquisar preços é uma tarefa que todo consumidor deve fazer antes de ir as compras - e hoje, com a internet, isso está muito mais fácil ", diz Dana.

Ele diz que hoje as pessoas podem não só entrar no site das empresas para conferir preços, como também há uma série de apps e sites em que as pessoas podem comparar diversos lugares (como o Buscapé, Zoom e Dica de Preços, para mencionar alguns exemplos).
4) Adie compras

Muitos comércios fazem promoções depois de datas festivas. Por isso, comprar o que você precisa em janeiro, em vez de dezembro, pode significar preços bem mais baixos.

Segundo os analistas, quanto mais um consumidor adiar a compra melhor - e não só por causa da possibilidade de conseguir promoções.

"Muitas vezes as pessoas não compram por necessidade, mas por impulso", diz Viriato, do Insper.

"Ao esperar um tempo antes de comprar elas têm a chance de perceber se realmente precisam - ou querem - fazer a aquisição. Além disso, com mais tempo para pesquisar podem descobrir que a compra não era um bom negócio."
Mercado (Thinkstock)
Substituir marcas ou produtos pode ser uma opção para quem quer reduzir impacto da alta de preços no orçamento

5) Substitua itens de consumo

Uma forma de reduzir o impacto da inflação sobre o seu orçamento é cortar os produtos que você percebe que estão ficando mais caros e substituí-los por outros produtos ou similares de outras marcas.

É claro que ninguém é obrigado a substituir carne por frango ou ovo - sugestão feita pelo ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda Márcio Holland, que causou grande polêmica no ano passado.

"Mas cada um pode fazer uma análise de seu perfil de gastos para entender quais produtos e serviços são de fato importantes em sua vida e quais são o que eu chamo de 'gastos tolos', ou seja, aquelas coisas em que as pessoas acabam gastando muito, mas que não lhes trazem um bem-estar duradouro", diz Calil.

"São esses gastos que devem ser cortados ou substituídos."

Viriato, do Insper, dá o exemplo do item "alimentação fora de casa" um dos que mais subiu no ano passado, segundo o IBGE.

"Pode ser difícil para o trabalhador levar almoço para o trabalho - ele vai ter de cozinhar, transportar e guardar o almoço em algum lugar. Mas se ele conseguir levar ao menos o lanche, provavelmente terá mais dinheiro no fim do mês", diz.
6) Compras coletivas

Segundo Dana, outro recurso que pode ajudar os consumidores a driblar a alta de preços são as compras coletivas nos clubes de compras e 'atacarejos' - lojas que vendem no atacado para pessoas físicas.

Tais lojas oferecem um preço bem mais vantajoso para compras de grande quantidade. "Muitas famílias estão se juntando para poder comprar nesses lugares sem ter de ficar com um estoque gigantesco em casa", diz ele.

De acordo com a consultoria Nielsen, no primeiro semestre do ano passado, as vendas nos atacarejos cresceram 9% em relação a 2013.

Os preços seriam menores que os do varejo em 69% dos itens pesquisados pela Nielsen. E, segundo Calil, podem chegar a ser 30% mais baixos.

Um dos cuidados que devem ser tomados por quem adota por essa opção, porém, é checar o prazo de validade dos produtos. Também é preciso considerar que alguns clubes de compras cobram uma anuidade de seus associados.
7) Estoque produtos baratos

Para alguns consultores, vale a pena comprar em grande quantidade um produto que a família consome com frequência se ele for encontrado em promoção.

"Se você tem um bebê, numa promoção cada fralda de um pacote pode sair por menos de R$ 1, por exemplo, metade do que você pode chegar a pagar se tiver de comprar o produto na urgência, em uma farmácia de bairro. Então vale a pena estocar", diz Calil.

É claro que não é todo produto que pode ser estocado. E também é preciso medir bem as quantidades, para evitar o desperdício.

"A inflação que temos hoje ainda está muito longe da inflação que vivemos nos anos 80, então não podemos exagerar ao fazer estoque", diz Viriato.

"No caso da carne, por exemplo, provavelmente os custos de se ter um freezer para manter o alimento seriam altos. Além disso, às vezes a família consome ou desperdiça mais porque sabe que a dispensa está cheia."

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Analistas evitam projetar fundo do poço após petróleo cair para menos de US$ 50


Bloomberg
Grant Smith e Mark Shenk
08/01/201513h22
8 de janeiro (Bloomberg)

A queda do petróleo tem sido tão rápida e tão impulsionada pelo humor do mercado que analistas de instituições como Bank of America Corp. e UBS AG dizem que não há sinais claros a respeito de quando o preço deixará de cair.

Ontem o petróleo Brent ficou abaixo dos US$ 50 por barril, 57 por cento menos que o pico de US$ 115,71 atingido em junho. Analistas do UBS dizem que os investidores devem evitar o petróleo até que a "queda livre" tenha fim. Os traders estão ignorando distúrbios no abastecimento que normalmente elevariam os preços, disseram analistas do ABN Amro Bank NV.

A queda do petróleo sofreu uma aceleração depois que a Arábia Saudita e outros membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo decidiram, no dia 27 de novembro, manter seu teto de produção. O grupo formado por 12 países está buscando proteger sua participação de mercado em vez dos preços do óleo, desafiando as perfuradoras da camada de xisto dos EUA e outras rivais com o objetivo de reduzir a produção delas em vez da sua.

"Não está claro que alguém possa dizer o nível mínimo ao qual o preço poderá chegar", disse Ed Morse, chefe global de pesquisa de commodities do Citigroup Inc. em Nova York, ontem por telefone. "É sempre difícil apontar qual será o fundo. Os sauditas levaram a revolução do xisto a sério e estão agindo em relação a ela. Eles estão testando quanto do crescimento da produção pode ser reduzido pela queda dos preços".

O petróleo caiu 48 por cento no ano passado, maior porcentual desde a crise financeira de 2008, depois que os EUA começaram a bombear petróleo no ritmo mais rápido em mais de três décadas. A produção americana subiu para 9,132 milhões de barris por dia na semana passada, mostraram dados da Administração de Informações Energéticas do país divulgados ontem. O montante está próximo do total de 9,137 milhões de barris do período de sete dias até 12 de dezembro, nível mais alto registrado nos dados semanais, cuja série histórica começa em janeiro de 1983.

"O fundo do poço para o preço do petróleo é uma miragem", disse Eugen Weinberg, chefe de pesquisa de commodities do Commerzbank AG em Frankfurt, ontem por e-mail. "É mais importante, assim como durante a queda para US$ 30 por barril de cinco anos atrás, reconhecer que a queda é de uma opulência irracional e que os preços irão se recuperar".

Obcecado pelo excesso

O mercado está "obcecado" pela percepção de um excesso de oferta e os traders estão ignorando distúrbios como os causados pelos combates na Líbia, disse Hans van Cleef, economista para o setor de energia do ABN Amro em Amsterdã, por telefone no dia 6 de janeiro. Um navio petroleiro foi bombardeado na Líbia no dia 4 de janeiro, enquanto tanques de armazenamento em seu principal terminal portuário petroleiro foram explodidos no mês passado. A Líbia tem as maiores reservas de petróleo da África.

"Os preços continuam em queda livre", escreveu Giovanni Staunovo, analista do UBS em Zurique, ontem em um relatório. "Nós pensamos que é cedo demais para apontar um piso sólido de preços no curto prazo".

Existe um "risco crescente" de que o Brent caia para US$ 40 e o West Texas Intermediate, a referência nos EUA, para menos de US$ 35, disse Francisco Blanch, chefe de pesquisa de commodities do Bank of America em Nova York, ontem em um relatório.

Movimentos de mercado

O Brent subiu 30 centavos para US$51,45 por barril ás 11:48 hora de Cingapura na ICE Futures Europe, com sede em Londres. Ontem tocou os US$ 49,66, valor mais baixo registrado desde abril de 2009.

O petróleo West Texas Intermediate subiu 46 centavos para US$ 49,1 por barril na negociação electrónica da New York Mercantile Exchange.

"A queda do preço foi muito rápida e foi longe demais para a situação-base", disse van Cleef, do ABN Amro. "O mercado está se concentrando apenas no negativo. É muito difícil ver uma alavanca que possa mudar o sentimento".


Fonte http://economia.uol.com.br/noticias/bloomberg/2015/01/08/analistas-evitam-projetar-fundo-do-poco-apos-petroleo-cair-para-menos-de-us-50.htm

Título em inglês: Oil Analysts Avoid Projecting Floor as Crude Dips Below $50

Para entrar em contato com os repórteres: Grant Smith, em Londres, gsmith52@bloomberg.net; Mark Shenk, em Nova York, mshenk1@bloomberg.net.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Cinco pontos do que pode mudar na política econômica

Ruth Costas
Da BBC Brasil em São Paulo
Crédito: Reuters
Discurso de Joaquim Levy como novo ministro da Fazenda foi interpretado como confirmação de que ele quer mudar política econômica


O discurso do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ao assumir o cargo nesta segunda-feira foi interpretado por analistas como uma confirmação de que ele pretende dar uma guinada de 180 graus na política econômica, perseguindo uma agenda mais "liberal".

Além de apresentar sua equipe ─ formada principalmente por economistas ortodoxos ─ Levy defendeu a austeridade fiscal, cortes de subsídios do BNDES e o fim das desonerações para setores específicos. Por um lado, abraçou medidas de simplificação tributária. Por outro, falou da possibilidade de um aumento de impostos.

Mas se há consenso de que a posse de Levy deve ser o início de um novo ciclo na política econômica, também há dúvidas tanto sobre o grau de autonomia que o novo ministro terá para liderar essa guinada quanto sobre a capacidade de essas políticas impulsionarem o crescimento da economia.

Para Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências, por exemplo, as mudanças propostas por Levy vão na direção certa, ao priorizar a responsabilidade fiscal e dar seriedade à gestão das contas públicas. "Mas ainda não sabemos como o Planalto vai reagir se essas medidas começarem a afetar o emprego e renda das famílias", diz ele.

Já para o economista heterodoxo Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, a estratégia é equivocada.

"Com Levy, (a presidente) Dilma Rousseff está tentando repetir o que foi feito no primeiro governo Lula, quando o ministro Antônio Palocci implementou uma série de políticas de austeridade para recuperar a confiança dos mercados. O problema é que em 2003 o crescimento só foi retomado em função do crescimento da China e valorização das commodities e o contexto em que vivemos é outro", opina.

Abaixo confira o que, segundo indicações do discurso de Levy e medidas já anunciadas pelo governo, pode mudar na condução da política econômica:
1) Ajuste fiscal
Crédito: Thinkstock
Para alcançar 'primário', governo deverá cortar gastar e aumentar impostos


Em 2014, o governo havia se comprometido a economizar 1,9% do PIB para pagar os juros da dívida pública ─ no que é chamado por economistas de "superávit primário".

A meta, porém, não foi cumprida e uma lei teve de ser aprovada às pressas no Congresso para alterar a forma como essa economia é calculada.

Levy se comprometeu a fazer um superávit de 1,2% neste ano e de 2% em 2016 e 2017 ─ e isso pode ser feito por meio de duas estratégias: corte de gastos e aumento de impostos.

Na semana passada, a equipe econômica começou a dar sinais em quais áreas pretende cortar quando anunciou regras mais rígidas para o acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários, como seguro-desemprego, abono salarial e pensão por morte. E no discurso de posse Levy deu indicações de que também pode elevar alguns impostos.

Para alguns analistas, o ajuste fiscal precisa ser duro, para que o governo consiga recuperar a confiança dos mercados.

Belluzzo e André Perfeito, da Gradual Investimentos, discordam. "Já estamos em um cenário de estagnação, com retração do consumo e da geração de postos de trabalho. O risco é que um ajuste muito forte aprofunde um cenário recessivo", diz o economista-chefe da Gradual.

Ou seja, na avaliação desses especialistas, mais impostos significariam menos dinheiro sendo gasto para consumir e contratar, impedindo, assim, a retomada da economia.
2) Impostos

Em seu discurso de posse, Levy defendeu uma simplificação tributária, com unificação das alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), mas admitiu que o governo avalia a possibilidade aumentar alguns tributos para colocar as contas públicas em dia.

"Possíveis ajustes em alguns tributos também serão considerados", disse.

Há rumores de que entre os projetos que estariam sobre a mesa está a reativação da CIDE (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) sobre os combustíveis, que foi zerada em 2012.

No discurso, o novo ministro também criticou as desonerações de setores específicos.

"Não podemos procurar atalhos e benefícios que impliquem redução acentuada da tributação para alguns segmentos, por mais atraentes que elas possam ser, sem considerar seus efeitos na solvência do Estado (...) Essa seria a fórmula para o baixo crescimento endêmico", disse.

Neste início de ano já houve uma recomposição da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos carros, estratégia usada desde 2012 pelo governo Dilma para estimular o setor automobilístico.
3) Papel do Estado

Fazendo menção a um discurso feito por Dilma no mês passado, Levy defendeu, em sua posse, o fim do "patrimonialismo" e sua "herança nefasta".

A diferença é que Dilma referia-se ao problema da corrupção. No caso do ministro, a maioria dos analistas interpretou a crítica como uma defesa da redução da interferência do Estado na economia e do fim das proteções e subsídios a setores específicos.

"A antítese do sistema patrimonialista é a impessoalidade nos negócios do Estado nas relações econômicas e na provisão de bens públicos", afirmou Levy.

Para André Perfeito, da Gradual, o ministro procurou "marcar sua autonomia e mostrar que há uma mudança de mentalidade na Fazenda."

Mas ele faz a ressalva de que Levy tem um poder limitado dentro do governo ─ e em áreas como política industrial. "Aparentemente, o BNDES pode continuar a ser presidido por Luciano Coutinho, por exemplo", diz Perfeito.
4) BNDES

Os empréstimos do BNDES cresceram substancialmente durante os governos Lula e Dilma turbinados por aportes do Tesouro, o que ajudou a aumentar a taxa de investimento na economia.

A questão é que o Tesouro se endivida pela taxa Selic ─ hoje a 11,75% ao ano ─ enquanto os empréstimos do BNDES são remunerados pela chamada Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), mais baixa. A diferença, ou subsídio, acaba sendo bancada pelo contribuinte.

Para se ter uma ideia, esse subsídio custa cerca de R$ 28 bilhões por ano, ou o valor aproximado do custo total da Copa do Mundo no Brasil.

Em dezembro, o governo resolveu aumentar a TJLP pela primeira vez em 11 anos, de 5% para 5,5%, reduzindo o valor desse subsídio.

E em seu discurso, Levy ressaltou que uma mudança de estratégia nessa área pode gerar uma economia de "bilhões de reais nos próximos anos".

O governo também já vem dando indicações que pretende diminuir os repasses ao BNDES a partir deste ano, embora, na avaliação de Campos, da Tendências, isso deve ser feito de maneira gradual para permitir a adaptação e a "correção de distorções" do mercado.

Para Belluzzo a estratégia arriscada. "Não acho que o setor privado brasileiro tenha disposição ou condições de assumir o financiamento de projetos importantes para o país, como faz o BNDES", diz ele.
5) Combate a inflação
Crédito: Thinkstock
Trazer a inflação de volta ao centro da meta é desafio do novo ministro da Fazenda


Com a inflação muito próxima do teto da meta definida pelo Banco Central (6,5%) o esperado é que este ano seja marcado por uma política monetária mais dura, com alta dos juros.

Durante o primeiro mandato de Dilma, o governo tentou reduzir o nível dos juros, como parte de uma política que ficou conhecida como "nova matriz econômica". Para economistas ortodoxos, o fato de o BC ter sido obrigado a voltar a elevar os juros seria uma prova do fracasso dessa política.

Entre os grandes desafios a serem enfrentados no combate a inflação está o impacto que a alta dos chamados preços administrados ─ como energia e combustíveis ─ deve ter no índice de 2015.

Segundo analistas, no ano passado esses aumentos foram represados para segurar a inflação, o que acabou gerando perdas para o Tesouro e os cofres da Petrobras (no caso dos combustíveis).

O governo tem dado indicações de que isso deve mudar ─ e o consumidor deve preparar o bolso para lidar com as altas de tarifas.

"É uma prioridade o realinhamento dos preços relativos e daqueles administrados, pois essencial para o bom funcionamento da economia e exigido apra manutenção da solidez do Tesouro", defendeu Levy.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150106_nova_politica_ru