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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

'As famílias deveriam aceitar as pessoas como elas são': a casa que abriga LGBTs que não têm onde morar

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Casa 1Direito de imagemGUI CHRIST/GRINGO
Image captionProjeta visa acolher gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transsexuais (LGBTs) que, por algum tipo de conflito com a família, não têm onde morar
"Eu apanhei muito durante a infância por conta do meu jeito de ser. Quando fiz 18 anos, assumi para os meus pais que era gay e eles me mandaram embora. Ainda insisti em ficar, mas em 2013 decidi vir embora para São Paulo", conta a travesti Maria Leticia Ohana Costa, de 24 anos, a Manauara.
Exemplo do tipo de violência e intimidação que lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros muitas vezes sofrem por parte das suas próprias famílias, Manauara foi uma das cinco pessoas que conseguiram encontrar abrigo e acolhimento em uma iniciativa pioneira no bairro Bela Vista em São Paulo: a Casa 1, uma mistura de centro cultural com república LGBT.
Inaugurado no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo, e localizada na rua Condessa de São Joaquim, na zona central da capital, o espaço tem como objetivo acolher pessoas que, por algum tipo de conflito com a família, não têm onde morar.
Idealizada pelo jornalista e relações públicas Iran Giusti, de 27 anos, a Casa 1 pode ser considerada um refúgio num país onde, segundo o Grupo Gay da Bahia - ONG que coleta e divulga dados sobre o tema -, a cada 25 horas um LGBT é assassinado, o que dá ao Brasil o título de campeão mundial em números absolutos de violência contra minorias de gênero.
Segundo dados de ONGs internacionais, mais da metade dos homicídios de trans do mundo ocorrem no Brasil.
Em um relatório divulgado semana passada, a ONG destaca que aqui mata-se mais homossexuais do que nos 13 países do Oriente e África onde há pena de morte para gays e lésbicas. Luiz Mott, de 70 anos, antropólogo e fundador da ONG, destaca que São Paulo é o Estado campeão em assassinatos nos últimos dez anos.
Iran GiustiDireito de imagemGUI CHRIST / GRINGO
Image captionIran Giusti, criador do projeto, diz que casa é refúgio em meio à violência motivada pela intolerância
"Infelizmente, apesar das algumas politicas públicas, isso não tem sido suficiente para reverter o quadro de tantas mortes", afirma.
A ONG diz que os casos são subnotificados porque não há números oficiais de crime de ódio. "Eu coleto dados há 37 anos por meio da mídia e de relatos pessoais que me passam, mas isso é prova da incompetência dos órgãos de segurança pública e direitos humanos", diz o antropólogo.
Os números têm crescido de forma preocupante. Foram 130 homicídios em 2000, com um salto para 260 em 2010 e para 343 em 2016.
A experiência do antropólogo se alinha com a de Giusti, que também considera que a falta de dados dificulta um retrato mais exato da situação das intimidações ou agressões sofridas pela comunidade. "É muito difícil saber o que está acontecendo exatamente - não temos classe social, nem idade, não há como traçar um perfil do LGBT expulso de casa", conta Giusti.
A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo afirmou estar implementando um sistema de informações para a coleta de dados sobre violações de direitos reportadas por usuários em dos Centros de Cidadania LGBT. "Hoje, nossos quatro centros contemplam cerca de 1.400 pessoas, com atendimento nas áreas jurídica, psicológica e de assistência social", afirmou a pasta por meio de nota.
Entre os dados empíricos que Giusti coleta, ele diz ter notado um forte aumento nos casos de "exorcismo" organizados por familiares e de automutilação - quando a pessoa agride o próprio corpo.
Também há casos de isolamento social, como, por exemplo, quando a família impede acesso a internet e telefone. "(Isso) Acontece muito mais com as lésbicas", conta ele. "A família as isola, ficam de casa para a escola da escola para casa", conta.
Ele destaca a história de uma menina cuja família, após descobrir que ela era lésbica, a obrigava a comer somente o que sobrava após a refeição, e com talheres e pratos descartáveis. "Não vou dizer que isso me assustou, mas é inacreditável que ainda passamos por isso."

Os primeiros moradores

Cindy Tobias da SilvaDireito de imagemGUI CHRIST/GRINGO
Image captionCindy saiu e voltou para casa diversas vezes
Companheira de quarto de Manauara, a travesti Cindy Tobias da Silva, de 19 anos, chegou à casa com a roupa do corpo.
Cindy assumiu a transexualidade aos 14 anos e começou a se vestir de mulher. "Quando minha mãe descobriu que eu estava usando hormônios femininos, me disse que, se era para fazer isso, era melhor eu ir embora", conta.
Ela saiu e voltou para casa diversas vezes, morou com uma tia e depois em uma casa na zona norte de São Paulo, onde fazia programas. A dificuldade de conseguir um emprego é um segundo obstáculo crucial. "Só por eu ser trans eu já sou 'deletada'", diz.
A falta de aceitação pela família também levou Marcel Borges, de 26 anos, a ocupar uma das camas da Casa 1. O estudante nasceu mulher, mas nunca se identificou como uma. Os pais não souberam como lidar com a transformação física do filho.
"É como se fosse um luto, a pessoa que eu era está deixando de existir para dar voz ao Marcel", conta.
MarcelDireito de imagemGUI CHRIST/GRINGO
Image caption'Quando raspei o cabelo, vi que não tinha mais jeito e assumi o Marcel'
Borges buscou ajuda do Sistema Único de Saúde (SUS) e vai começar a tomar hormônios. "Quando raspei o cabelo, vi que não tinha mais jeito. Assumi o Marcel, também quero fazer a mastectomia (cirurgia de retirada dos seios)."
Ele relata os problemas que teve com a identidade social. "Já tive colegas de trabalho que se recusam a me chamar de 'ele'", conta.
Hoje, o jovem também é ativista da causa LGBT: "Nunca imaginei que fosse precisar desse tipo de ajuda, na real isso não deveria nem existir. As famílias deveriam aceitar as pessoas como elas são", fala.

Vaquinha online

Moradores da Casa 1Direito de imagemGUI CHRIST/GRINGO
Image captionAutores do projeto conseguiram arrecadar R$ 112 mil em vaquinha na internet
Foi com apoio de amigos e do namorado que Iran Giusti tornou a Casa 1 realidade, após uma campanha na internet que, em 42 dias, conseguiu arrecadar R$ 112 mil.
Toda a verba tem sido utilizada para pagar o aluguel e custos de alimentação dos moradores. "Eles vão cuidar da limpeza e da comida, mas vamos fornecer tudo e dar acesso total às atividades culturais", fala.
A Casa 1 costumava ser um ponto de venda de drogas, mas agora chama atenção no bairro pelas cores na fachada e na calçada. O espaço tem dois andares com oito camas, cozinha e dois banheiros no segundo piso - e espaço para exposições e cursos no primeiro.
A ideia do projeto é unir os moradores à comunidade do bairro.
A iniciativa surgiu depois que Giusti ofereceu o sofá de seu apartamento para viajantes. "Um dos hóspedes que apareceu era um menino gay super-retraído. Para ele foi importante ver a gente confortável com a nossa sexualidade, conversamos muito com ele."
O papo rendeu uma carta de agradecimento meses depois. "Com a história dele percebemos que a gente pressiona muito os órgãos públicos, mas esquecemos das pessoas, o importante é a convivência mesmo", afirma.
Casa 1Direito de imagemGUI CHRIST / GRINGO
Image captionCasa tem oito camas e espaço para convivência
Quando o orçamento melhorou, Giusti decidiu abrir a casa exclusivamente para LGBTs que necessitavam de um teto. "Eu coloquei uma foto bem tosca e ainda expliquei que não podia dar muita privacidade, mas eu garantia um teto, e a demanda foi enorme", conta.
A ideia avançou sem qualquer apoio oficial - ele diz ter ouvido de grandes organizações que a iniciativa deveria estar ligada a políticas públicas.
"Se eles esperam há 30 anos por coisas como essa, eu não vou esperar. Estamos colocando a mão na massa e se tá com medo vai com medo mesmo, porque as pessoas enquanto isso estão sofrendo, estão apanhando, estão morrendo", diz ele.
Calçada da Casa 1Direito de imagemGUI CHRIST/GRINGO
Image captionProjeto para dar teto a jovens LGBT não teve apoio de organizações
Fonte http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38726964

A incrível história de como os cavaleiros templários 'inventaram' os bancos

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Temple ChurchDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionTemple Church, em um pátio meio escondido no coração de Londres, foi o primeiro banco da cidade
Na Fleet Street, uma das mais movimentadas do centro de Londres, a dez minutos à pé da Trafalgar Square, existe um arco de pedra pelo qual muita gente pode passar e viajar no tempo.
Um pátio tranquilo leva a uma capela estranha, circular, e a uma estátua de dois cavaleiros em cima de um único cavalo. A capela é a Temple Church, construída pela Ordem Dos Templários em 1185, quando ficou conhecida como a "casa londrina dos cavaleiros do Templário".
Mas a Temple Church não tem apenas uma importância arquitetônica, histórica e religiosa. Ela também foi o primeiro banco de Londres.
Os cavaleiros templários eram monges guerreiros. Era uma ordem religiosa, com uma hierarquia inspirada na teologia e uma missão declarada - além de um código de ética -, mas também um exército armado e dedicado à "guerra santa".
Mas então como eles chegaram ao negócio dos bancos?
Os templários dedicaram-se inteiramente à defesa de peregrinos cristãos a caminho de Jerusalém. A cidade havia sido capturada na primeira Cruzada em 1099, e ondas de peregrinos começaram a chegar, viajando milhares de quilômetros pela Europa.
Esses peregrinos precisavam, de alguma forma, bancar meses de comida, transporte e acomodação para todos eles, sem precisarem carregar grandes somas de dinheiro consigo - já que isso os tornaria alvo fácil para ladrões.
Ordem dos TempláriosDireito de imagemALAMY
Image captionPapa garantiu a oficialização dos Cavaleiros Templários em 1128
Afortunadamente, os Templários tinham uma solução. Um peregrino poderia deixar seu dinheiro na Temple Church em Londres, depois pegá-lo de volta em Jerusalém. Em vez de carregar o dinheiro até lá, ele só precisaria levar uma carta com o crédito. Os Cavaleiros do Templário eram a Western Union (conhecida empresa que faz transferência de dinheiro entre países) das Cruzadas.
Nós não sabemos direito como os Templários faziam esse sistema funcionar, nem como se protegiam contra fraudes. Havia um código secreto para verificar o documento e a identidade do viajante?

Banco privado

Os Templários não foram a primeira organização no mundo a oferecer esse tipo de serviço. Diversos outros países haviam feito isso antes, como a dinastia Tang na China, que usava o "feiquan" - "dinheiro voador", um documento de duas vias que permitia a comerciantes depositarem seus lucros em um escritório regional e depois pegarem o dinheiro de novo na capital.
Mas esse sistema era operado pelo governo. O sistema bancário oferecido pelos Templários funcionava muito mais como um banco privado - embora pertencesse ao papa - aliado a reis e príncipes ao redor da Europa e gerenciado por uma parceria de monges que tinham feito voto de pobreza.
E os Cavaleiros do Templário fizeram muito mais do que apenas transferir dinheiro por longas distâncias. nforme Em seu livro Money Changes Everything ("Dinheiro muda tudo", em tradução livre), William Goetzmann diz que eles ofereciam uma série de serviços financeiros reconhecidamente avançados para a época.
Se você quisesse comprar uma ilha na costa oeste da França - como o rei Henrique 3º da Inglaterra fez nos anos 1200 com a ilha de Oleron, a noroeste de Bordeaux -, os Templários poderiam ajudar a fechar o negócio.
Henrique TerceiroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionRei Henrique 3º comprou uma ilha na França usando os serviços financeiros oferecidos pelos templários
Henrique 3º pagou 200 libras por ano por cinco anos para os Templários em Londres, e quando seus homens tomaram posse da ilha, os Templários zelaram para que o vendedor tivesse recebido todo o dinheiro.
Ainda nos anos 1200, as Jóias da Coroa foram mantidas no Templo como uma forma de segurança para um empréstimo - com os Templários atuando como uma espécie de casa de penhor.
Os Cavaleiros do Templário não foram o banco da Europa para sempre, claro. A Ordem perdeu sua razão de existir depois que os cristãos europeus perderam completamente o controle de Jerusalém em 1244, e os Templários foram dissolvidos por completo em 1312.
Então quem assumiu essa função bancária que eles deixaram?
Se você tivesse presenciado a grande feira de Lyon em 1555, poderia conhecer a resposta. Ela foi o maior mercado para comércio internacional de toda a Europa.

Troca sofisticada

Mas nessa edição da feira, começaram a circular rumores sobre a presença de um comerciante italiano que estava fazendo fortuna no local.
Ele não estava comprando, nem vendendo nada. Tudo o que ele tinha à frente era uma mesa e um tinteiro.
GettyDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'Contas de troca' permitiam que comerciantes pudessem fazer negócios em outros países
Dia após dia, ele recebia comerciantes e assinava pedaços de papel - e, de certa forma, ficava rico.
Os moradores locais olhavam para ele com suspeita.
Mas para uma nova elite internacional das grandes casas de mercadoria da Europa, suas atividades eram perfeitamente legítimas.
Ele estava comprando e vendendo dívidas - e, ao fazer isso, estava gerando um considerável valor econômico.
Um comerciante de Lyon que quisesse comprar, digamos, lã de Florença, poderia ir a esse banqueiro e pedir um tipo de empréstimo chamado de "conta de troca". Era um documento de crédito, que não especificava a moeda de transação.
Seu valor era expressado em "ecu de marc", uma moeda privada usada para essa rede internacional de banqueiros.
E se os comerciantes de Lyon ou seus agentes viajassem a Florença, a "conta de troca" do banqueiro de Lyon seria aceita pelos banqueiros de Florença, que trocariam sem problemas o documento pela moeda local.
Por essa rede de banqueiros, um comerciante local podia não só trocar moedas, mas também "traduzir" seu valor de compra em Lyon para valor de compra em Florença, uma cidade onde ninguém havia ouvido falar sobre ele. Era um serviço valioso, que valia a pena.
De meses em meses, agentes dessa rede de banqueiros se encontravam em grandes feiras como a de Lyon, conferiam suas anotações e acertavam as contas entre si.
Nosso sistema financeiro de hoje tem muito a ver com esse modelo.
Um australiano com um cartão de crédito pode fazer compras em um supermercado de Lyon. O supermercado checa com um banco francês, que fala com um banco australiano, que aprova o pagamento ao comprovar que ele tem o dinheiro em conta.

Contrapontos

Mas essa rede de serviços bancários sempre teve também seu lado obscuro.
Transformando obrigações pessoais em dívidas negociáveis internacionalmente, esses banqueiros medievais passaram a criar seu próprio dinheiro privado, fora do controle dos reis da Europa.
Lehman BrothersDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO colapso do banco Lehman Brothers em 2008 levou a uma instabilidade financeira global
Ricos e poderosos, eles não precisavam mais se submeter às moedas soberanas de seus países.
O que de certa forma ainda é feito hoje em dia. Os bancos internacionais estão fechados em uma rede de obrigações mútuas difícil de entender ou controlar.
Eles podem usar seu alcance internacional para tentar contornar impostos e regulamentações.
E considerando que as dívidas entre eles são um tipo claro de dinheiro privado, quando bancos estão fragilizados ou com problemas, o sistema monetário do mundo todo também fica vulnerável.
Nós ainda estamos tentando entender o que fazer com esses bancos.
Nós não podemos viver sem eles, ao que parece, mas também não temos certeza de que queremos viver com eles. Governantes há muito tempo procuram formas de controlá-los.
Às vezes, essa abordagem tem sido no esquema "laissez-faire" ("deixai fazer"), outras vezes não.
Poucos governantes tem sido mais duros com os bancos do que o rei Felipe 4º, da França. Ele devia dinheiro para os Templários, e eles se recusaram a perdoar seu débito.
Então, em 1307, no local onde hoje fica a estação Temple do metrô de Paris, Felipe lançou um ataque ao Templo de Paris - o primeiro de uma série de ataques ao redor da Europa.
Os templários foram torturados e forçados a confessar todos os pecados que a Inquisição pudesse imaginar. A ordem acabou sendo dissolvida pelo papa.
O Templo de Londres foi alugado para advogados.
E o último grande mestre dos Templários, Jacques de Molay, foi trazido ao centro de Paris e queimado publicamente até a morte.
*Tim Harford escreve uma coluna de economia no Financial Times. "As 50 coisas que fizeram a Economia Moderna" é um programa transmitido no Serviço Mundial de rádio da BBC.

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/geral-38804987

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Cientistas afirmam ter encontrado ancestral mais antigo do ser humano

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Direito de imagem UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE - Image caption - Uma reconstrução do que seria o Saccorhytus a partir dos fósseis encontrados

Pesquisadores de três países afirmam ter descoberto na China o ancestral mais antigo dos humanos, que viveu há 540 milhões de anos e cujos fósseis estão "estranhamente bem preservados".

Segundo o estudo, realizado por um grupo de cientistas do Reino Unido, China e Alemanha e publicado na revista científica Nature, o animal aquático é microscópico e representa a fase mais primitiva da evolução que levou aos peixes e, eventualmente, aos humanos.

O Saccorhytus é um exemplar primitivo de uma categoria animal conhecida como deuterostômios, que são ancestrais comuns para várias espécies, entre elas as incluídas entre os animais vertebrados.

Os fósseis encontrados na província chinesa de Shaanxi são de um animal de cerca de um milímetro de tamanho e que vivia entre grãos de areia no fundo do mar.

Os cientistas não encontraram indícios de que o Saccorhytus tinha ânus, o que sugere que o consumo de comida e as excreções eram feitos pelo mesmo orifício.

"A olho nu, os fósseis que estudamos possuíam pequenos pontos pretos, mas no microscópio o nível de detalhe se revelou surpreendente", disse Simon Conway Morris, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, um dos responsáveis pela pesquisa.

"Acreditamos que, por se tratar de um deuterostômio primata, ele pode representar a fase primitiva de diversas espécies, inclusive de nós, humanos. Todos os deuterostômios tinham um ancestral comum, e provavelmente seja desse animal que se trata."

Para o pesquisador da Universidade de Northwest, na China, Degan Shu, "o Saccorhytus nos permite um olhar significativo sobre as primeiras fases da evolução de um grupo que levou aos peixes e até nós, humanos".

Estrutura




SaccorhytusDireito de imagemJIAN HAN/UNIVERSIDADE NORTHWEST, CHINA
Image captionO Saccorhytus era coberto de uma camada fina de pele e possuía músculos



Até a descoberta recente, os grupos de deuterostômios já conhecidos eram de 510 a 520 milhões de anos atrás. Eles já haviam se diversificado e transformado em vertebrados - um grupo a que nós e nossos ancestrais pertencemos, e animais como estrelas e ouriços do mar.

Os deuterostômios são muito diferentes entre si, o que dificulta a identificação, pelos cientistas, de como seria a aparência de um ancestral da espécie.

Segundo o estudo, o corpo é simétrico - uma característica herdada por muitos descendentes evolucionários, inclusive humanos.

O Saccorhytus também era coberto por uma pele final, relativamente flexível, e possuía músculos, o que levou cientistas a concluírem que ele se movimentava ao contraí-los, se retorcendo.

Para os pesquisadores, a característica mais marcante do animal é a boca grande em relação ao resto do corpo. Segundo o estudo, ele se alimentava engolindo partículas de alimentos e até de outras criaturas.

Outra característica são as estruturas cônicas do corpo, que poderiam permitir que a água engolida escapasse, o que poderia representar uma versão muito precoce das guelras, presentes hoje em peixes e outros animais aquáticos.
Fonte http://www.bbc.com/portuguese/geral-38803810

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Cientistas criam embriões híbridos de porcos e humanos

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Criação é passo importante em direção ao desenvolvimento de órgãos para transplante. Ideia alimenta controvérsias e levanta questões éticas.

Foto divulgada pelo Instituto Salk mostra um embrião de porco com 4 semanas que teve células-tronco humanas injetadas. (Foto: Salk Institute via AP)

Cientistas criaram pela primeira vez embriões que contém uma combinação de células-tronco de duas espécies grandes e muito diferentes - humanos e porcos -, um passo importante em direção ao desenvolvimento de órgãos para transplante, revela um estudo nesta quinta-feira.

No entanto, a pesquisa ainda está em uma fase muito precoce e mostrou ser mais difícil do que o esperado, relataram os pesquisadores na revista científica Cell.

"Este é um primeiro passo importante", disse o autor principal, Juan Carlos Izpisua Belmonte, professor do Laboratório de expressão genética do Instituto Salk para Pesquisas Biológicas, na Califórnia.

"O objetivo final é desenvolver tecidos e órgãos funcionais e transplantáveis, mas estamos longe disso", acrescentou.

Cientistas implantaram células-tronco adultas humanas - conhecidas como células-tronco pluripotentes induzidas - em embriões de suínos e permitiram que elas crescessem por quatro semanas.

Mais de 150 embriões se desenvolveram em "quimeras" - como a mistura humano-animal é conhecida, em referência à figura híbrida da mitologia grega - que eram principalmente suínos, mas com um pequena contribuição humana.

O trabalho envolveu cerca de 1.500 embriões de porcos e levou quatro anos, muito mais tempo do que inicialmente estimado, devido à natureza complicada das experiências.

A ideia de criar misturas entre humanos e animais alimenta controvérsias e levanta questões éticas, particularmente porque os experimentos poderiam teoricamente levar à criação de animais com qualidades humanas, e possivelmente inteligência.

Mas segundo Jun Wu, cientista do Instituto Salk, o nível de contribuição humana para os embriões de porcos foi "baixo" e não incluiu precursores de células cerebrais.

'Emocionante'

Bruce Whitelaw, professor de biotecnologia animal da Universidade de Edimburgo, que não participou do estudo, descreveu-o como "emocionante" porque este "abre caminho para avanços significativos".

De acordo com Darren Griffin, professor de genética na Universidade de Kent, o "trabalho também nos ajudará a entender melhor a evolução, o desenvolvimento e as doenças" e pode eventualmente levar a uma solução para a escassez de órgãos.

"Neste estudo, os autores seguiram as diretrizes legais e éticas existentes, permitindo que os embriões se desenvolvessem pelo tempo máximo permitido", acrescentou.

"É importante que qualquer pesquisa futura seja conduzida com total transparência, de modo a permitir o escrutínio público e o debate", disse Griffin.

Fonte http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/cientistas-criam-embrioes-hibridos-de-porcos-e-humanos.ghtml