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terça-feira, 29 de novembro de 2016

'Dama de Ferro' do Brasil reduz tamanho do BNDES

Bloomberg
Blake Schmidt e David Biller
29/11/201615h35

O último andar da sede do Rio de Janeiro do gigante de crédito do Estado brasileiro já foi ocupada por seu presidente e seus assessores, e contava com uma sala reservada para as ocasiões em que o chefe de Estado chegava de Brasília.

O escritório foi uma das primeiras coisas que a presidente Maria Silvia Bastos reformou ao chegar em junho depois que Dilma Rousseff foi afastada durante o processo de impeachment. Bastos, 59, derrubou paredes e abriu espaço para o conselho da companhia. Ela e seus companheiros de equipe se mudaram para o local no mês passado.

Ela também se desfez de oito andares de espaço de aluguel e economizou R$ 490 milhões (US$ 144 milhões) ao eliminar um segundo edifício que teria acomodado o crescente número de burocratas do banco.

"A mudança gera estresse, mas espero que seja para melhor", disse Bastos, que trabalha em um laptop em um escritório com vista para o centro da cidade, reformado com o financiamento do banco para a Olimpíada do Rio. "Infelizmente, muitas vezes os países só se movimentam em crises, e as crises são boas para chacoalhar as coisas."

Bastos, apelidada de "Dama de Ferro" pela imprensa local quando administrou a Companhia Siderúrgica Nacional entre 1999 e 2002, é uma das principais adeptas da austeridade em um país que enfrenta uma grave crise fiscal com um deficit orçamentário quase recorde. O plano radical do presidente Michel Temer de congelar o gasto público durante 20 anos está passando pelo Congresso atualmente.

Bastos vem reduzindo a enorme instituição estatal de crédito que deu impulso a muitos dos gigantes industriais do país com empréstimos subsidiados durante a gestão de seu antecessor, Luciano Coutinho. O dinheiro ajudou essas empresas a se expandir no país e até mesmo no exterior. Uma das primeiras medidas tomadas por ela foi fechar os escritórios internacionais do banco.

Ela mudou o foco para privatizações, concessões de infraestrutura e investimentos no estilo de private equity com o objetivo de recuperar empresas em problemas, mas que são viáveis, ou financiar aquelas que não conseguem crédito em outro lugar. Bastos disse que o BNDES criou uma linha de crédito para comprar ativos de empresas em recuperação judicial.

Durante a administração de seu antecessor, o BNDES se transformou na ferramenta de empréstimo mais agressiva para a intervenção estatal em uma democracia em desenvolvimento. Suas práticas há muito eram secretas e seus livros só foram abertos quando uma investigação sobre corrupção na Petrobras e outros inquéritos criaram pressão para aumentar a transparência.

Em seu novo escritório com vista para o centro do Rio, Bastos estava sentada em sua mesa enquanto seus diretores conversavam a alguns passos de distância, em uma área que antes era dividida por paredes para dar privacidade. Elas foram demolidas a pedido de Bastos.

"Vou lhe dizer uma coisa: não trabalho com restrições", disse Bastos. "Quando o presidente da República me convidou, a única coisa que eu perguntei a ele, eu tenho independência para formar minha equipe para trabalhar? A resposta dele foi sim. Por isso que eu aceitei esse convite. Nós somos gestores profissionais."

Fonte http://economia.uol.com.br/noticias/bloomberg/2016/11/29/dama-de-ferro-do-brasil-reduz-tamanho-do-bndes.htm

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Fidel: o delinquente que virou herói por perseguir e matar adversários e socializar a miséria


Por Ucho Haddad
26 de Novembro de 2016
(*) Ucho Haddad

ucho_24“Toda unanimidade é burra”, assim disse o polêmico dramaturgo Nelson Rodrigues. Em suma, é impossível agradar gregos e troianos, algo que no totalitarismo inexiste de forma covarde e violenta. Mesmo assim, quando alguém comemora a morte de uma pessoa, há algo errado na história de um ou de outro. Talvez nas histórias de ambos.




Fidel Castro Ruz, o comandante da Revolução Cubana, que derrubou o também ditador Fulgencio Batista, despediu-se da vida na madrugada deste sábado (horário de Brasília) e sua morte foi anunciada pelo irmão e presidente do país, o igualmente totalitarista Raúl Castro.




A lavagem cerebral a que foi submetida a extensa maioria da população cubana, em especial a porção mais idosa da sociedade local, faz com que o futuro seja incerto em termos políticos na ilha caribenha, que durante quase cindo décadas viveu no isolamento. Sempre financiada pela extinta União Soviética, que fazia da nação comandada pelo facinoroso Castro uma ameaça constante aos Estados Unidos, Cuba é o símbolo do atraso e da violação à liberdade. A partir de agora, Cuba é uma porção de terra rodeada pela incerteza, já que os comunistas que estão no poder dificilmente manterão a unanimidade à sombra da burrice.




Como todo comunista que se preza, Fidel foi um homem de frases feitas, muitas delas polêmicas e mentirosas. Mandou ao “paredón” mais de quatro mil adversários políticos, aos quais impôs a truculência de um regime utópico e criminoso. Fora isso, milhares de cubanos que tentaram fugir do regime castrista acabaram morrendo no pedaço de mar que separa Cuba do estado norte-americano da Florida, onde neste sábado (26) as comemorações foram intensas desde as primeiras horas.




Apesar disso, em 1979, antes de rumar para Nova York, onde participaria da Assembleia Geral da ONU, Fidel Castro foi questionado por um jornalista sobre o boato de que “sempre estava protegido pela roupa”. O tirano não demorou a destilar arrogância e bazófia: “Tenho um colete moral que é forte. Este tem me protegido sempre”.







Para quem eliminou aqueles que divergiram de sua ideologia sanguinária, Fidel foi um delinquente moral e intelectual festejado ao redor do planeta, como se tivesse a solução derradeira para os problemas da humanidade. Morreu como um ideólogo détraqué.




Petulante até o último suspiro, Fidel jamais se arrependeu das barbáries que cometeu ao lado dos seus “camaradas”, como Ernesto “Che” Guevara, Camilo Cienfuegos e outros bandidos mais.




“Cometi erros, mas nenhum estratégico, simplesmente tático. Não tenho nem um átomo de

arrependimento pelo que fizemos em nosso país”, declarou o ditador ao jornalista espanhol Ignacio Ramonet, conforme relata o livro “Cem Horas com Fidel” (2006).





Tendo confinado o povo cubano, a quem concedia o direito de escolher entre a ditadura comunista e a perseguição seguida de morte, Fidel Castro viveu como um nababo, repetindo a receita de outros ditadores, mesmo que publicamente se apresentasse com seu enfadonho uniforme, como se sua revolução fosse um tremendo sucesso.




Não obstante, seguindo a cartilha comunista, conseguiu a proeza uníssona de socializar a miséria. Essa

receita é velha e largamente conhecida no universo esquerdista, onde líderes prometem o céu à maioria, mas diante da incapacidade de entregar o prometido acabam por nivelar todos por baixo. Afinal, o ideário comunista começa com a cantilena de fazer tudo comum a todos.




Fidel manteve-se no poder durante décadas a reboque de um discurso contra o capitalismo, principalmente contra os Estados Unidos, a quem sempre acusou de querer arruinar os cubanos. Se por um lado “El Comandante” foi um embusteiro profissional e bem sucedido – pelo menos em termos de retórica –, por outro foi um péssimo mestre, para a sorte da humanidade. Até porque, seus discípulos são pífios, como mostram os tiranetes espalhados pela América Latina.

O regime castrista só aceitou retomar as relações com os EUA, acenando na direção de Washington o lenço do desespero, por questões estratégicas: dar sobrevida ao país e não sepultar a ideologia comunista, que hoje conta com algumas reles pílulas depositadas aqui e acolá.




Completando a frase de Nelson Rodrigues, “quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Como penso, sinto-me confortável ao existir na condição de ponto fora da curva. Mas há outra frase que me traduz: “Penso, logo existo”. Por pensar, e muito, não consigo desejar o mal a outrem, até mesmo ao pior dos inimigos, a quem sempre terei uma mão estendida.

Contudo, de igual modo, não posso desejar a Fidel que descanse em paz. Afinal, com o currículo manchado de sangue, o ditador cubano há de experimentar por muito tempo as altas temperaturas dos domínios luciferianos.







(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.













Fonte http://ucho.info/fidel-o-delinquente-que-virou-heroi-por-perseguir-e-matar-adversarios-e-socializar-a-miseria

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O brasileiro que descobriu como o Universo pode acabar

Leonardo Pujol
De Porto Alegre para a BBC Brasil
Marcelo DisconziImage copyrightARQUIVO PESSOAL
Image captionMuitos físicos e matemáticos tentam entender como o universo foi criado, mas alguns - como o brasileiro Marcelo Disconzi - buscam respostas para outra pergunta: como ele irá acabar?

O matemático brasileiro Marcelo Disconzi havia encerrado um seminário na Universidade de Vanderbilt, no Tennessee (EUA), quando foi abordado por dois professores de Física da instituição.


Thomas Kephart e Robert Scherrer elogiaram o trabalho apresentado - a solução parcial de uma antiga equação -, mas a dupla tinha em mente um novo propósito para as teorias do brasileiro.

"Você já pensou em aplicar isso à cosmologia (estudo da origem e estrutura do Universo)?", questionaram.
A pergunta pegou Disconzi de surpresa. A apresentação, realizada em abril de 2014, jogava luz em um problema criado nos anos 1950 por Andre Lichnerowicz (1915-1998), um famoso matemático francês. Trazia uma solução, uma lógica, e só.

A equação de Lichnerowicz havia sido criada para tentar descrever o comportamento de fluidos viscosos viajando a velocidades relativísticas - comparáveis à velocidade da luz.

Quando encontrou a solução, Disconzi não pensou num efeito prático. Kephart e Scherrer propuseram uma questão: será que a viscosidade poderia impactar o Universo de alguma forma?

"Achei a ideia interessante, e passamos a nos encontrar com regularidade", conta o brasileiro. Nas primeiras reuniões, ele explicou os detalhes da solução. Depois, o trio aplicou a equação a alguns cenários. O resultado veio no ano seguinte, num estudo que rodou o mundo.

A novidade trouxe à tona a possibilidade natural do Big Rip - ou "grande ruptura" -, uma das principais teorias sobre o fim do mundo.

Trata-se de um Big Bang - teoria que aponta que o Universo começou com uma grande explosão - ao contrário.

A ideia propõe que, daqui a exatos 22,8 bilhões de anos, o Universo estará tão acelerado e disperso que os átomos que formam planetas e galáxias começarão a se desintegrar.
Gráfico ilustra teoria do Big RipImage copyrightJEREMY TEAFORD/LUIZA GUERIM


A teoria do Big Rip surgiu em 2003, mas todas as tentativas de determinar quando o Universo seria rasgado eram inconsistentes.

Cientistas que se aventuravam a estudar a propagação de fluidos viscosos, ou de energia escura (forma de energia que acelera a expansão do Universo), chegavam a um ponto em que, para que o rasgo acontecesse, essas matérias precisariam viajar a uma velocidade superior a da luz.

Só que nada viaja mais rápido do que a velocidade da luz.
Faltava algo mais consistente para corroborar a teoria. O estudo de Disconzi, publicado originalmente na revista Physical Review D, sugeriu um modo natural, e verossímil, desse fenômeno.

"O que era uma ideia puramente teórica agora é muito mais provável que corresponda à realidade física", explica Kephart, que pesquisou o tema com o brasileiro.
Paixão por equações

Disconzi, de 37 anos, é um sujeito afável de estatura baixa, cabeça raspada e olhos cor de mel. Casou-se com a porto-riquenha Alexandra Valdés, de 35 anos, uma professora de Ciências e Biologia. Os dois moram em Nashville (EUA), cidade onde, desde 2014, ele ocupa o cargo de professor assistente de Matemática da Universidade de Vanderblit.

O professor nasceu em Porto Alegre, mas ainda criança foi morar com a família em Montenegro, no interior do Rio Grande do Sul. Voltou à capital gaúcha em 1998 para ingressar na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

"Sempre gostei de questões profundas, que envolvessem pensamento crítico", relembra. A escolha, porém, não lhe agradou. No semestre seguinte, Disconzi pediu transferência para o curso de Física.

A faculdade despertou nele uma paixão por pensamentos abstratos, cálculos e equações. Quando se formou, aproveitou para emendar dois mestrados na UFRGS: um em Física e outro em Matemática, ambos concluídos em 2005.

Ao retirar os títulos, Disconzi percebeu que se considerava mais matemático do que físico.
Marcelo Disconzi em estudoImage copyrightARQUIVO PESSOAL
Image captionDisconzi se dedica às equações diferenciais parciais, que servem para descrever comportamentos (ou processos geométricos) por meio de diferentes taxas de variação física


Ele já estava com o doutorado engatilhado na Universidade da Pensilvânia quando conheceu Dennis Sullivan, professor do Institute for Mathematical Sciences, centro de excelência em pesquisa matemática da Universidade de Stony Brook, em Nova York. De lá, saíram três medalhistas do Fields, popularmente considerado o "Nobel da Matemática".

"Ele (Sullivan) me contou sobre a tradição de Stony Brook, especialmente em equações diferenciais parciais, área que estudo. Daí topei trocar de instituição", sintetiza Disconzi. Após virar PhD, ele conseguiu lugar no pós-doutorado em Vanderbilt e, posteriormente, uma vaga como professor assistente.

Sempre vestido com jeans e camisa, ele chega à faculdade por volta de 7h30. A cafeteira é a primeira coisa que liga quando entra em sua sala - às vezes até mesmo antes das lâmpadas.

Com 14 metros quadrados, o ambiente é retangular, com paredes cor de creme, quadro negro, mesa e uma estante em L com cerca de 400 livros. Também há computador, cadeiras e uma confortável poltrona ocre. Tudo é milimetricamente organizado e limpo.

Como as aulas só ocorrem no primeiro horário das segundas, quartas e sextas-feiras, Disconzi passa praticamente o dia todo ali. Revisa lições, atualiza o próprio site, organiza eventos (seminários e congressos) e, claro, faz pesquisa. Várias, por sinal. O Big Rip é apenas a ponta do seu iceberg de seus estudos.

Singularidade matemática

Desde o doutorado, Disconzi se dedica às equações diferenciais parciais. Elas servem para descrever comportamentos (ou processos geométricos) por meio de diferentes taxas de variação física.

Por exemplo: numa previsão meteorológica, é necessário equacionar no mesmo problema diferentes taxas de variação física - pressão atmosférica, velocidade do vento, temperatura, umidade e assim por diante.

Contudo, nem toda a equação desperta interesse ou possui um objetivo claro.

Quando matemáticos falam em resolver uma equação, geralmente querem "provar" que existem soluções, e não que haja uma fórmula específica para tal. Não raramente, os resultados ficam limitados a cenários muito específicos.
Thomas Kephart e Robert ScherrerImage copyrightDIVULGAÇÃO/UNIV. VANDEBILT
Image captionThomas Kephart e Robert Scherrer sugeriram a aplicação dos estudos de Disconzi e assinam pesquisa juntamente com brasileiro


Imagine o seguinte: os cientistas encontram evidências de que existiu vida em Marte. A descoberta seria o equivalente a provar a existência de uma solução - é uma afirmação ampla, geral, que não descreve detalhes do objeto. Referendar o organismo vivo que teria vivido por lá, com descrições particulares - se uni ou pluricelular, aquático ou não, inteligente ou não - seria como escrever a fórmula da solução.

A lógica ocorreu com a teoria da relatividade geral de Albert Einstein, cujas equações foram criadas pelo físico em 1915 sob critérios gerais. Nos anos seguintes, a equação foi solucionada de forma fracionada, por partes, em condições particulares. A união dos resultados em um teorema geral - ou seja, a fórmula da solução - só apareceu na década de 1950.

Na mesma época, o francês Andre Lichnerowicz montou equações diferenciais parciais para descrever fluidos viscosos no contexto da relatividade geral. Foi esse problema que Disconzi solucionou parcialmente, dois anos atrás, e apresentou como um recém-contratado professor assistente da Universidade de Vanderbilt.

"O que descobri pode ser considerado intermediário. Está entre o particular e o geral", explica.

A fórmula era mais valiosa do que ele imaginava.

Fluidos viscosos

Pensar em um contêiner cheio d'água ajuda a compreender a conexão entre a solução das equações de Lichnerowicz, descoberta por Disconzi, e a cosmologia.

A água é feita de moléculas. Nela, existem regiões com mais matéria (as moléculas) e regiões mais vazias (o espaço entre as moléculas). Do ponto de vista macroscópico, a água não é vista como um agregado de moléculas, mas como um fluido distribuído de forma homogênea (sem espaços entre uma parte e outra).

Do ponto de vista cosmológico, o contêiner representa o Universo e a água, a energia contida nele. As galáxias são as moléculas de água. Assim, em vez de pensar o Universo como um aglomerado de galáxias, os astrônomos passaram a entendê-lo como uma distribuição homogênea de matéria e energia.

"O ponto crucial é que essa distribuição se comporta como se fosse um fluido enchendo o Universo", explica Disconzi. "Isso nos dá a certeza de que o Universo está em expansão - e de forma acelerada."
Marcelo DisconziImage copyrightARQUIVO PESSOAL
Image captionDisconzi em ação: trabalho, diz ele, visa construir argumentações lógicas para equações, tendo uma "pergunta perfeita" como ponto de partida


Essa expansão, segundo ele, tende a ficar cada vez mais veloz com o passar do tempo, em virtude da energia emitida por corpos celestes - que aumentam, assim, a viscosidade do Universo.

A combinação de distribuição de energia e aumento da viscosidade produzirá uma pressão negativa. Na relatividade geral, o efeito de uma pressão negativa é gerar uma força que se opõe à força gravitacional. Dessa forma, as galáxias tendem a se separar, e os planetas ficarão mais e mais distantes uns dos outros.

No final, projetado para daqui a 22,8 bilhões de anos, tudo será rasgado em pedaços.

"Esse comportamento incomum é o Big Rip, produzido por uma taxa de expansão infinita em um tempo finito", diz Robert Scherrer, coautor do estudo.

Ainda há muito a responder sobre a tese - um novo estudo do trio já está em análise para publicação em uma revista científica. Pesquisadores de uma universidade italiana também estão debruçados sobre o objeto desde a primeira descoberta.

Futuro em Vanderbilt

Quando não lê na escrivaninha ou rabisca o quadro, é na poltrona ao lado da estante que Disconzi desenvolve seus estudos.

"As pessoas tendem a achar que meu trabalho, por ser um matemático, é só fazer cálculos", ele diz, demonstrando um leve ressentimento.

"Na verdade, meu trabalho é construir argumentações lógicas para as equações, tendo uma pergunta perfeita como ponto de partida. 'Sobre quais hipóteses a equação pode ter solução?'", ilustra.

Disconzi visita pouco o Brasil. Em média, vai a cada dois anos - embora já tenham se completado três anos desde a última vez em que pôs os pés no país. Geralmente a incursão começa pelo Rio de Janeiro, onde mora uma irmã. Depois, vai a Porto Alegre e a Montenegro para visitar o restante da família.

No Tennessee, o professor de Vanderbilt mora com a esposa e uma gata, Kaya - diminutivo que homenageia a russa Sofia Kovalevskaya, uma das primeiras matemáticas de renome, falecida em 1891.

Em casa, Disconzi mantém alguns hábitos típicos dos gaúchos. Toma chimarrão com frequência, com erva mate comprada na internet. Churrasco? Só em restaurante brasileiro. "Em casa faço o americano", ri, reconhecendo em seguida que assar hambúrguer na grelha está longe de um churrasco legítimo.
Marcelo DisconziImage copyrightARQUIVO PESSOAL
Image captionO matemático gaúcho com a gata Kaya, batizada em homenagem à matemática russa Sofia Kovalevskaya (1850-1891)


Para o futuro, Disconzi formula maneiras de escrever um livro em parceria com outros autores - David Sullivan, o professor de Stony Brook, é um deles. "Não existe um bom livro introdutório sobre equações diferenciais parciais. Tudo o que há foi escrito para especialistas, e os alunos ficam perdidos", justifica.

A obra só virá caso seja admitido como professor titular, o que pode ocorrer em até cinco anos. Se efetivado, também gostaria de propor um programa de diversidade no Departamento de Matemática, semelhante ao que existe no de Física.

"Infelizmente, negros, latinos e mulheres ainda encontram muita desvantagem no meio educacional", lamenta. Ele é único latino entre os 32 professores de Matemática em Vanderbilt.

O desfecho do mundo, afirma ele, seguirá em seu horizonte de pesquisas. "O nosso estudo sobre o Big Rip mostra o quanto ainda falta a gente entender sobre o Universo", suspira. "Vamos seguir investigando."

O prazo final, assim como o de todo o Universo, deve expirar em 22,8 bilhões de anos.




Fonte http://www.bbc.com/portuguese/geral-38058979

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Pleno emprego, recorde de deportações e mortes em guerras: as cifras de Obama

Gerardo Lissardy
BBC Mundo
No fim do segundo mandato de Obama, a pergunta que fica é: como ele será lembrado?Image copyrightGETTY IMAGES
Image captionNo fim do segundo mandato de Obama, a pergunta que fica é: como ele será lembrado?

Ao fim de oito anos de Barack Obama na Presidência dos Estados Unidos, uma pergunta sobre seu governo começa a ganhar força: como ele entrará na história?

A vitória de Donald Trump nas eleições deste mês coloca o primeiro presidente americano negro da história na posição incômoda de passar o cargo a um sucessor que ameaça acabar com seu legado.

Mas o próprio balanço dos dois mandatos de Obama possui zonas cinzentas em temas como economia, direitos humanos, imigração e saúde, inclusive contrastando com promessas feitas por ele antes de assumir o cargo, em janeiro de 2009.

Abaixo, conheça cifras que dão pistas sobre a marca que Obama deixará em seu país e no mundo.

4,9%

Foi a taxa de desemprego nos EUA em outubro, de acordo com o Escritório de Estatísticas de Trabalho, órgão do governo americano.

O número é menor do que a média mensal de 5,5% que vigora desde 1948 no país.

A taxa também ficou 2,9 pontos percentuais abaixo do nível de janeiro de 2009, quando Obama assumiu, e foi 5,1 pontos menor do que o grau máximo de desemprego em seu governo, alcançado há sete anos.

O número de outubro foi registrado após 73 meses de crescimento contínuo no mercado de trabalho e depois de uma recessão feroz que Obama herdou de George W. Bush.

"Estamos saindo de um poço profundo e, vendo os próprios números, empregos foram criados", disse Sam Bullard, principal economista do banco de investimentos Wells Fargo Securities em Charlotte, na Carolina do Norte.

"Dito isso, o calibre dos trabalhos agregados não têm o impacto de períodos expansionistas anteriores, já que muitas das vagas criadas são em serviços e de meio período", disse Bullard à BBC.
Durante a administração Obama, quase 11 milhões de empregos foram criados nos EUAImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionDurante a administração Obama, quase 11 milhões de empregos foram criados nos EUA

10,9 milhões


É o número de postos de trabalho criados nos EUA desde que Obama assumiu o cargo, de acordo com o Escritório de Estatísticas de Trabalho do governo americano.

Antes da eleição de novembro, Obama apresentou o dado como uma conquista de sua administração.

Mas o presidente aumentou a cifra, dizendo que 15 milhões de empregos haviam sido criados. Ele fez isso ao comparar o patamar atual com o ponto mais baixo em relação a trabalho de sua gestão, em fevereiro de 2010, em vez de relacioná-lo com os números de janeiro de 2009, quando os EUA tinham 134 milhões de empregos.

Em outubro, o número cresceu para 144,9 milhões, segundo um levantamento parcial.

43,1 milhões

É o número de pessoas pobres que havia nos EUA até o ano passado, das quais 14 milhões eram menores de idade, segundo informou o órgão do censo americano em setembro.
Habitante de MichiganImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionEm 2015, a taxa de desemprego foi ligeiramente superior a de 2008


O valor total representa uma melhoria ante 2014, quando havia 3,5 milhões de pobres a mais no país. No entanto, é pior do que o de 2008, quando a quantidade de pessoas nessa situação era 3,3 milhões menor.

No ano anterior ao início do governo Obama, 13,2% da população dos EUA viviam abaixo da linha da pobreza. Em 2015, essa taxa foi ligeiramente maior: 13,5%.

16,5 milhões

É quanto diminuiu a quantidade de pessoas sem seguro de saúde nos Estados Unidos entre 2008 e o primeiro trimestre deste ano, de acordo com pesquisas do Centro Nacional para Estatísticas de Saúde.
O Image copyrightGETTY IMAGES
Image captionO "Obamacare", que pretendia ampliar o atendimento de saúde, recebeu críticas dos conservadores


Essa mudança é largamente atribuída ao programa de saúde conhecido como Obamacare, que impulsionou a popularidade do presidente e entrou em vigor em 2013, em meio a críticas de conservadores.

Apesar do aumento da cobertura, estima-se que 27,3 milhões de pessoas nos EUA ainda não tinham seguro de saúde no início deste ano, o que representa 8,6% da população.

2,5 milhões

É o número de imigrantes deportados pelo governo Obama entre 2009 e 2015 com base em ordens de remoção, de acordo com o Departamento de Segurança Nacional.

Dados oficiais mostram que nenhum outro presidente na história dos Estados Unidos expulsou tanta gente como Obama, que foi chamado de "Deportador chefe" por líderes da comunidade latina.
Obama reduziu o número de imigrantes indocumentados entre 5% e 10%Image copyrightGETTY IMAGES
Image captionObama reduziu o número de imigrantes indocumentados entre 5% e 10%


A estratégia, no início de seu governo, era se concentrar em imigrantes com antecedentes criminais, disse Randy Capps, um perito do Instituto de Política de Migração, um centro de análise independente em Washington.

"Mas, no meio de sua administração, ele começou a estreitar essas prioridades", disse Capps à BBC. "E depois de 2012 esses números começaram a cair novamente."

Calcula-se em entre 5% a 10% a redução no número de imigrantes indocumentados durante o governo Obama; hoje, são cerca de 11 milhões no país.

Entre 64 e 116

É o número de civis mortos por ataques aéreos autorizados pelo governo Obama fora de zonas de guerra entre 2009 e 2015, de acordo com dados oficiais divulgados em julho.
As ações militares em países que não estão em guerra com os Estados Unidos tem sido criticadas por organizações de defesa dos direitos humanos.Image copyrightGETTY IMAGES
Image captionAs ações militares em países que não estão em guerra com os Estados Unidos tem sido criticadas por organizações de defesa dos direitos humanos.


No entanto, analistas e grupos independentes estimam que o número de mortos - boa parte deles vítima de ataques de aviões não tripulados ou drones - é muito maior, aproximando-se de 500.

Os números oficiais indicam também que entre 2.372 e 2.581 "combatentes" foram mortos pelos 473 ataques realizados pela CIA e pelos militares americanos em países onde os Estados Unidos não estão em guerra, como Paquistão e Somália.

Obama aumentou consideravelmente o uso secreto de drones em relação à administração Bush, inquietando organizações defensoras dos direitos humanos.

"Estamos preocupados não só com os drones, (que) não são ilegais por si. A questão é quais são as regras para seu uso", disse Hina Shamsi, diretora do programa de segurança nacional da União Americana das Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês).

Em entrevista à BBC, Shamsi argumenta que "é difícil dar crédito" a números de mortes geridos pelo governo Obama devido à falta de detalhes com que foram divulgados.

60

É a quantidade de detidos que permanecem na prisão militar norte-americana de Guantánamo, em Cuba.

Isto acontece apesar de Obama ter anunciado que, no primeiro ano de seu governo, iria fechar a controversa prisão - ela chegou a ter cerca de 780 detentos no governo Bush, por suspeitas de extremismo islâmico - e de diferentes agências terem recomendado a transferência de pelo menos 20 dos prisioneiros restantes.
Militares conduzem preso em Guantánamo.Image copyrightSHANE MCCOY/MAI
Image captionUma das promessas eleitorais de Barack Obama foi o fechamento da prisão norte-americana localizada na Baía de Guantánamo, em Cuba.


O presidente conseguiu reduzir em três quartos o número de prisioneiros, mas encontrou obstáculos dentro dos Estados Unidos para alcançar o fechamento de Guantánamo e opções muito limitadas de países dispostos a receber os presos.

Hina Shamsi, da ACLU, acredita que Obama "ainda tem tempo" para mudar a situação, mas ressalta que é preocupante que prisioneiros permaneçam nessa situação questionável.

"Preocupa que a administração Obama continue declarando sua autoridade para deter pessoas indefinidamente, em situações que não acreditamos que sejam consistentes com o Direito nacional e internacional", adverte.

28%

É quanto cresceram as exportações de bens e serviços dos EUA desde que Obama assumiu o cargo até o segundo trimestre deste ano, de acordo com o Escritório Nacional de Análise Econômica dos Estados Unidos.

Essa é uma recuperação significativa, que reduziu o déficit comercial quase na mesma proporção.

Mas o que foi alcançado está longe de promessa de Obama de dobrar as exportações durante seu governo.

19,9 trilhões

É o valor em dólares da dívida pública dos Estados Unidos, que aumentou 87% sob a administração Obama, segundo dados oficiais.

Isso significa que a dívida pública dos EUA supera 100% do PIB, com a população e as instituições domésticos como principais credores e China como o maior credor estrangeiro.
A dívida pública tem sido a questão central nos EUA desde antes de Barack Obama começar seu governo.Image copyrightGETTY IMAGES
Image captionA dívida pública tem sido uma questão central nos EUA desde antes de Barack Obama começar seu governo.


Por sua vez, o deficit orçamentário dos EUA chegou a US$ 587 bilhões ou 3,2% do PIB do ano fiscal de 2016 encerrado no final de setembro.

Isso acabou com a tendência de baixa do deficit registrada durante o governo Obama, que chegou a reduzir em três quartos o nível herdado da administração Bush.

"A dívida e o deficit têm sido um problema por um tempo, não só durante a administração Obama", disse Sam Bullard, da Wells Fargo Securities.

"E vai continuar a ser uma prioridade", diz ele, "uma vez que não estamos crescendo tão fortemente como fazíamos no passado."




Fonte http://www.bbc.com/portuguese/internacional-38021925

domingo, 13 de novembro de 2016

De adolescente rebelde a presidente dos EUA: a trajetória de Donald Trump


Donald Trump durante seu comício em Nova YorkImage copyrightEVAN VUCCI
Image captionDonald Trump durante seu comício em Nova York

Em uma noite cheia de surpresas e reviravoltas, o bilionário Donald Trump, que concorreu pela primeira vez na vida um cargo público, elegeu-se presidente dos Estados Unidos.


O republicano foi vencedor da batalha nos principais Estados pêndulo - aqueles cujo resultado era imprevisível, como Carolina do Norte, Ohio, Flórida e Pensilvânia.

Ao longo da apuração, enquanto Trump e sua família postavam fotos e mensagens eufóricas em seus perfis em redes sociais, o planeta assistia a pesquisas eleitorais que previam vitória da rival democrata Hillary Clinton caírem por terra, uma a uma.

O presidente eleito dos Estados Unidos é parte da elite, mas ainda visto como um "outsider". Ele tem bilhões de dólares, é dono de imóveis por toda Nova York e financiou a própria campanha, mas ainda assim é popular entre os trabalhadores de baixa renda. Seu apelo com essa camada da população foi fundamental para a vitória.
Muitos americanos veem Donald Trump como um sopro de ar fresco; outros, como uma perigosa ameaça à segurança global. Mas como um jovem vindo dos subúrbios de Nova York se transformou em um magnata do ramo imobiliário e depois em presidente da maior potência do planeta?

Confira alguns dos pontos marcantes da trajetória de Trump - da infância à conquista da presidência dos Estados Unidos.

14 de junho de 1946 - Mercado imobiliário na veia
A casa onde Trump passou sua infância, no bairro do Queens, em Nova YorkImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionA casa onde Trump passou sua infância, no bairro do Queens, em Nova York


Trump nasceu em uma casa no Queens, em Nova York, no pico do chamado "baby boom" do pós-guerra.

O mercado imobiliário estava 'no sangue'. Seu pai, Fred Trump, era um corretor que cresceu no negócio e chegou a ter duas limusines com motoristas.

Sua mãe, Mary, era uma imigrante escocesa cujo pai era pescador.

As regras na casa da família eram rígidas - palavrões, por exemplo, eram proibidos.

Apesar de serem ricos, os filhos do casal tinham de arrumar o próprio dinheiro, com trabalhos temporários nas férias, por exemplo.

Donald foi uma criança rebelde. Na escola, ele chegou a dar um soco em um professor "porque achava que ele não sabia nada sobre música".

1959 - Trump adolescente
Trump (segundo à esquerda) em no Bar Mitzvah em um amigo, em 1959,Image copyrightPAUL ONISH
Image captionTrump (segundo à esquerda) em no Bar Mitzvah em um amigo, em 1959, ano em que ele foi mandado para um colégio militar


Quando seu pai descobriu um canivete no quarto de seu filho de 13 anos, decidiu enviar Donald ao colégio militar para dar-lhe retidão.

A New York Military Academy era um internato rígido, com muita ênfase em disciplina e forma física.

Donald se destacou como capitão do time de beisebol e ganhou uma medalha por sua "ordem e limpeza", mas acabou não fazendo muitos amigos.

Ele se formou em 1964 e, já atraído pelos holofotes, flertou com a ideia de ir para a faculdade de cinema.
Mas, em vez disso, foi para a Universidade Fordham e, depois de dois anos, transferiu sua matrícula para a Wharton Business School, na Universidade de Pennsylvania, onde estudou economia.
Donald TrumpImage copyrightEMPICS
Image captionTrump no seu aparmento, em 1976, depois de receber a notícia sobre a aprovação da reforma do The Commodore Hotel.


Três anos após se formar, Donald se mudou para um apartamento em Manhattan, na região do Upper East Side.

Para um garoto do subúrbio, mais especificamente do Queens, ele era um "outsider", uma pessoa de fora da região, mas sua audácia impressionou muitos empreendedores locais.

Em um negócio complicado que envolveu um empréstimo de seu pai, ele comprou o decadente Hotel Commodore por US$ 70 milhões - e reformou o prédio.

Trump relançou o empreendimento como Grand Hyatt em 1980. Foi um sucesso arrebatador. Trump, o magnata, havia chegado.

1982 - Trump Tower
Trump Tower
Image captionA construção tem 28 andares e ainda é local de trabalho de Trump


Uma das construções icônicas de Nova York, a Trump Tower foi erguida em meio a muita polêmica.

Uma delas girou em torno dos pedreiros, que seriam poloneses sem documentação legal. Na época, o jornal New York Times também acusou Trump de ter demolido peças históricas em estilo art déco que estavam no local.

Mas nada disso atrapalhou a construção do prédio de 28 andares, onde até hoje Trump mora e trabalha. O prédio, literalmente, cimentou o nome de Trump em Manhattan.

1987 - A arte da negociação
Donald Trump
Image captionTrump a bordo de seu avião particular


O primeiro livro de Trump, A Arte da Negociação (The Art of the Deal, do original em inglês), foi publicado em 1987, como a proposta de compartilhar com os leitores os segredos de seu sucesso.

O livro ficou 48 semanas na lista de mais vendidos do New York Times e espalhou a fama do hoje candidato para além das fronteiras de Nova York como um autêntico "self-made man" - um homem que se fez sozinho. Essa ideia é frequentemente questionada pelo fato de Trump ter seguido justamente a área de atuação do pai - o mercado imobiliário - e por ter contado com ajuda financeira em sua primeira empreitada.

Os lucros das Organizações Trump foram às alturas, com investimentos nos anos seguintes em companhias aéreas, mercado imobiliário e tanto dinheiro que lhe permitiu comprar seu próprio iate, o Trump Princess.

1990 - Divórcio e falência
Ivana TrumpImage copyrightAP
Image captionIvana Trump se divorciou do magnata após traição


A década de 90 começou com um divórcio custoso para Trump, após sua então esposa Ivana descobrir que o marido a traía.

A recessão daquela época também minou o mercado imobiliário e os negócios de Trump começaram a ruir - um deles, o cassino Taj Mahal, em Atlantic City pediu falência. O mesmo aconteceu em 1992 com o Trump Plaza, derrubando sua reputação de gênio dos negócios.

1997 - Miss Universo
Donald Trump e Denise QuinonesImage copyrightAP PHOTO/MISS UNIVERSE ORGANIZATION
Image captionDonald Trump com a Miss Universo Denise Quinones, em 2001


Apesar dos problemas no início da década, Trump tomou medidas drásticas para voltar a equilibrar suas contas. Vendeu seu iate e sua companhia aérea e, num movimento inesperado, comprou a franquia do Miss Universo.

Ele conseguiu inclusive lucrar com seus problemas financeiros ao lançar seu segundo livro, The Art of the Comeback (A Arte do Retorno, em tradução livre).

1999 - A morte do pai de Trump e primeira tentativa para Casa Branca
Donald e o pai, Fred Trump no Plaza Hotel em 1988.Image copyrightGETTY IMAGES
Image captionO pai de Trump deixou uma herança milionária para o filho


Fred Trump morreu aos 93 anos, deixando uma herança de mais de US$ 250 milhões. Seu funeral foi acompanhado por 650 pessoas.

Neste mesmo ano, Trump fez sua primeira tentativa de entrar na Casa Branca. Em sua campanha para ser candidato pelo Partido Reformista, ele disse que gostaria de ter Oprah Winfrey como vice.

Suas propostas incluíam um imposto de 14,25% sobre os super ricos para reduzir o déficit federal, banir a discriminação contra homossexuais e criar um sistema de saúde universal. Mas ele desistiu da empreitada por conta disputas internas no partido, que classificou como "uma bagunça total".

2004 - O Aprendiz
Trump TowerImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionA entrada da Trump Tower com o cartaz do programa do reality show 'O Aprendiz' protagonizado por Trump


No programa apresentado pelo republicano, os participantes disputavam uma série de provas com o objetivo final de trabalhar na Trump Organization.

O capítulo final da primeira temporada foi o programa mais visto na televisão americana aquele ano, depois apenas do Superbowl, a final do campeonato nacional de futebol americano.

2015 - Disputa republicana
Donald TrumpImage copyright/ AFP PHOTO / KENA BETANCURKENA BETANCUR/AFP/GETTY
Image captionTrump anunciou em 16 de junho de 2015 que iria tentar a presidência dos EUA


Em uma entrevista coletiva na Trump Tower, Donald desceu as escadas rolantes ao lado da atual esposa, Melania, e anunciou que iria entrar na corrida para ser o candidato republicano à Casa Branca.

Ele também revelou que ia financiar a própria campanha e fez algumas declarações polêmicas: referiu-se a imigrantes mexicanos como estupradores e traficantes e refutou o chamado Obamacare - projeto de política pública defendido pelo atual presidente, Barack Obama. Após esse discurso, algumas empresas, como a Macy's e a Univision, se distanciaram da campanha.

Mesmo assim, Trump continuou dando declarações controversas ao longo da disputa e chegou a defender o veto total da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos - mais uma bomba no cenário político do país.

O desafio ao chamado Politicamente Correto é outra marca de Trump e uma das bandeiras da chamada 'alt-right' nos Estados Unidos. Conhecido como 'direita alternativa' ou mesmo direita populista, esse movimento ganhou força nos últimos anos principalmente com ajuda das redes sociais, que deu voz à parte da população normalmente excluída de debates políticos e intelectuais. Trump é um prolífico usuário do Twitter.

2016 - Divisão republicana
Donald TrumpImage copyrightGETTY IMAGES


A tentativa ousada de Trump de se tornar o candidato republicano dividiu o partido.

Sarah Palin, por exemplo, que concorreu como vice em 2008, o apoiou com empolgação - o maior rival de Trump era Ted Cruz. Mas nem todos estavam satisfeitos. Mitt Romney, o candidato republicano nas eleições de 2012, criticou Trump em um discurso.

Em julho, Trump conseguiu garantir a nomeação como candidato oficial do Partido Republicano após bater outros 16 concorrentes à vaga.

Durante seu discurso, ele foi saudado por uma multidão que gritava "Hillary na prisão" e carregava placas com dizeres favoráveis à promessa de Trump de se construir um muro na fronteira com o México.

Novembro de 2016 - Presidente eleito
dImage copyrightAP
Image captionTrump contrariou quase todas as pesquisas de opinião, que indicavam vitória de Hillary Clinton


Nesta terça-feira, milhões de americanos foram às urnas para escolher entre Hillary Clinton e Donald Trump para presidir o país.

Ambas as campanhas foram marcadas por polêmicas. Trump ganhou inimigos no Partido Republicano, mas recebeu 13 milhões de votos nas primárias - eram muitos americanos que queriam ver o magnata no poder.

A pergunta que todos então se faziam era se o menino do Queens conseguirá fechar mais um negócio imobiliário e ganhar a Casa Branca.

Contrariando a grande maioria das previsões, ele conseguiu.

Participe

A vitória do candidato republicano, Donald Trump, tem dividido opiniões nas redes sociais, inflamando ainda mais as polêmicas que marcaram a campanha presidencial.

Você tem alguma dúvida sobre por que Trump foi eleito? Quer entender melhor quem é o presidente eleito dos EUA? Envie-nos sua pergunta!

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37924487