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domingo, 31 de agosto de 2014

Recessão no Brasil deverá ter impacto regional, dizem analistas

Gerardo Lissardy

Atualizado em  30 de agosto, 2014 - 10:30 (Brasília) 13:30 GMT
Indústria (Reuters)
Queda no comércio de veículos com Argentina foi um dos motivos alegados pelo governo para recuo do PIB
A recessão do Brasil deverá ser mais um revés para a economia da América Latina, já atingida com a crise na Venezuela e o calote da Argentina.
O Produto Interno Bruto (PIB) do país, maior economia da região, recuou 0,6% no último trimestre na comparação com o trimestre anterior e 0,9% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do IBGE divulgados na sexta-feira.
O órgão revisou para baixo o resultado do primeiro trimestre - de crescimento de 0,2% para queda de 0,2%, o que colocou o país em "recessão técnica", quando há dois trimestres seguidos de crescimento negativo.
O governo culpou a realização da Copa do Mundo - responsável pela redução de dias úteis com o decreto de feriados -, e a crise internacional como motivos da desaceleração, mas analistas advertem para problemas estruturais que freiam o crescimento do país, cujos efeitos são sentidos em toda a região.
"Isto afeta muito a região porque o (Brasil) é o maior país da América Latina. Todos os países que têm relações comerciais com o Brasil vão sofrer o impacto", disse Margarida Gutierrez, professora de Macroeconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Especialistas já previam um retrocesso da economia no segundo trimestre, mas os números vieram piores do que o estimado.
Entre os fatores que puxaram o PIB para baixo estão a queda de 5,4% nos investimentos neste trimestre e a redução de 1,5% na produção da indústria. Também houve uma queda de 0,5% nos serviços e 0,7% nos gastos do governo.
O resultado já é sentido: empresas que têm negócios com parceiros no Brasil já estão com perspectivas de queda nas relações comerciais, disse Gustavo Segre, diretor do Center Group, empresa de consultoria de negócios na América Latina, em Buenos Aires.
A previsão, segundo ele, é que as grandes indústrias da região com negócios no Brasil sofram um impacto maior, mas que o país ainda é visto como atraente por muitas empresas pelo seu tamanho e mercado consumidor.

Problemas com vizinhos

O Brasil parece sentir também os problemas econômicos nas vizinhas Argentina e Venezuela, dois grandes parceiros regionais e integrantes do Mercosul.
Carros (Reuters)
Exportações de veículos entre Brasil e Argentina sustentam o comércio bilateral
As tensões parecem estar se acirrando.
"Se as economias que compram de nós não conseguirem reverter essa situação, dificilmente nossos setores exportadores poderão ser competitivos", disse o ministro de Economia argentino, Axel Kicillof, que se reuniu nesta semana com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Já Mantega queixou-se, na sexta-feira, da queda das exportações de automóveis para a Argentina como uma das razões do recuo do crescimento brasileiro.
Mantega negou que haja recessão e disse que a queda do PIB foi pequena e não afetou o desempenho nem o consumo. Ele previu uma recuperação para o segundo semestre.
No entanto, ele admitiu que deverá haver uma revisão da previsão de crescimento para este ano, atualmente de 1,8%. Economistas acreditam que a expansão do PIB deverá ser inferior a 1%.
Margarida, da UFRJ, diz que a queda dos investimentos reflete uma desconfiança na economia e incertezas sobre um possível reajuste em 2015 - há expectativa de aumento em preços de combustíveis e energia -, e que a indústria perde competitividade com um real forte e custos altos de produção.
Tal cenário tende a atingir os fluxos comerciais na região, segundo ela. "Isto vai atrasar investimentos e reduzir niveis de produção", disse.
O anúncio - a cinco semanas das eleições - é também um golpe duro para campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), e servirá de munição para seus principais rivais - Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
"Esta recessão mostra a exaustão de um modelo de crescimento centrado no consumo interno", disse Eduardo Velho, economista-chefe da empresa de investimentos INVX Global, em São Paulo.
"É um bom retrato do que a economia está sofrendo - desaceleração da indústria, queda em investimento", disse ele, argumentando que profundas reformas serão necessárias, independente de quem for eleito em outubro.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140830_brasil_recessao_americalatina_hb.shtml

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Escola é violenta com aluno, diz Cristovam Buarque

Renata Mendonça

Atualizado em  28 de agosto, 2014 - 08:04 (Brasília) 11:04 GMT
Cristovam Buarque (Marcos Oliveira/Agência Senado)
Para Buarque, para solucionar problema da violência no curto prazo 'só colocando valium na merenda'
Um dos grandes defensores da educação como instrumento de transformação do Brasil, o senador Cristovam Buarque considera que o problema da violência na rede pública de ensino do país é gerado principalmente por causa da desvalorização da escola como instituição.
Em entrevista exclusiva à BBC Brasil, Cristovam afirma que a escola no Brasil "está sem moral". "A escola desvalorizada gera violência, e a violência desmoraliza ainda mais a escola. Os jovens sabem que saindo com o curso ou sem, de tão ruim que são os cursos, não vai fazer diferença, porque o curso não agrega muito na vida dele. Os alunos não veem retorno na escola", explica.
O tema da violência em sala de aula foi destacado por internautas ouvidos pela BBC Brasil como um assunto que deveria receber mais atenção por parte dos candidatos presidenciais e vem gerando acirrados debates em posts que publicamos nos últimos dias nas nossas páginas de CliqueFacebookCliqueTwitterCliqueGoogle+.
Ministro da Educação do governo Lula entre 2003 e 2004, Cristovam Buarque chegou a se candidatar à Presidência em 2006 levantando como principal bandeira a "revolução na educação de base". Ele acredita que só ela poderia resolver de vez o problema da violência e fazer com que a escola voltasse a ser respeitada no país.
BBC Brasil - Como o senhor define o problema da violência nas escolas do Brasil? Por que ele acontece?
Cristovam Buarque - A sociedade brasileira é uma sociedade muito violenta hoje, então as pessoas se sentem no direito de agir violentamente, às vezes, até não necessariamente com agressão física, mas com palavras.
As escolas estão rodeadas de traficantes, a violência do meio influencia. O outro é o fato de que a escola não é uma instituição valorizada e, ao não ser valorizada, as crianças também entram na mesma onda da não valorização, se sentem no direito de quebrar os vidros, se sentem no direito de levar as coisas pra fora.
Aqui mesmo na UnB (Universidade de Brasília), eu vi a enciclopédia britânica sendo rasgada, porque o aluno em vez de tirar o xérox da folha que ele precisava, arrancou a página e levou. Os próprios professores são tratados como seres sem importância, que ganham salários baixos. Além disso os jovens sabem que saindo com o curso ou sem, de tão ruim que são os cursos, ele sabe que não agrega muito na vida dele. Os alunos não veem retorno da escola.
BBC Brasil - Quais as consequências da violência na escola para a educação no país?
Cristovam Buarque - A escola desvalorizada gera violência, e a violência desmoraliza ainda mais a escola. Os professores hoje estão fugindo, porque o salário é baixo e há muito desrespeito com relação à profissão deles. Quando a gente analisa o concurso para entrar na universidade, o vestibular, os últimos cursos na preferência dos vestibulandos são pedagogia e licenciatura, isso gera um clima de desvalorização.
Pelo Twitter, leitores comentaram a entrevista do senador à BBC Brasil
Para entrar em medicina são 50 por vaga, para pedagogia às vezes têm mais vagas que candidatos. Isso gera desvalorização. E aí as pessoas ficam quebrando as coisas, são violentas. Cria um ciclo vicioso. A desvalorização da escola aliada à violência do país induz à violência dentro da escola.
É preciso ter disciplina na escola, mas para o professor ser agente da disciplina, ele tem que ter moral. Só que a escola hoje está sem moral. Uma das coisas básicas da disciplina é o aluno chegar na hora. Como chegar na hora se nem o professor dele chega na hora? Se o professor dele ficou dois meses de greve?
O professor se vai um dia, não vai outro. A ausência do professor no Brasil é tão grande quanto a do aluno. Eles faltam igualmente. Então está faltando moral na escola.
BBC Brasil - Quais seriam as medidas a curto prazo para conter o problema?
Cristovam Buarque - Eu não vejo como resolver isso no curto prazo, só se for atribuindo Valium (calmante) para todo aluno, se colocar Valium na merenda. Brincadeira, mas é que é difícil ver uma solução a curto prazo. Qual o caminho a médio e longo prazo? Valorizar a escola, hoje o salário médio do professor na escola é R$ 2 mil, se você pagar menos do que paga para quem vai ser engenheiro ou médico, os melhores não vêm, eles não vão querer ser professores.
Você tem que ter um salário compensador, eu calculo R$ 9.500. Só que para merecer esse salário, tem que ter um processo muito rígido de seleção do aluno, para ver se a pessoa tem vocação, tem que quebrar a estabilidade plena de que o professor continue no cargo sem se aperfeiçoar, tem que ser uma estabilidade sujeita a avaliações.
Para professor ouvido pelo Facebook da BBC Brasil, salário almejado por Buarque seria inviável
Para a escola ser respeitada, o prédio tem que ser respeitado. As pessoas não saem quebrando shopping, porque é um prédio bonito, confortável. As crianças se sentem desconfortáveis na escola, por isso que elas são violentas. A verdade é que a escola é mais violenta com o aluno do que o aluno com ela. Ela obriga o aluno ficar sentado 6, 7 horas numa cadeira desconfortável, num prédio feio e mal cuidado.
Como fazer isso funcionar no Brasil a curto e médio prazo? Ir implantando isso por cidade. Leva 20 anos no país todo, mas precisa de um ou dois anos para fazer em uma cidade. E até lá, como faz? É o que estão fazendo, colocar polícia, bom diretor. A polícia tem que ficar longe da escola, mas no longo prazo. No curto prazo ela é uma necessidade, porque ela diminui a violência da sociedade que está na escola.
Além disso, é preciso identificar os alunos violentos. Um só jovem faz uma violência que desmoraliza a escola inteira. Então identificando os jovens que são agentes da violência você resolve o problema, levando ao psicólogo, tratando esse jovem.
BBC Brasil - O que o senhor acha do modelo de educação nas escolas de hoje?
Cristovam Buarque - Não dá para seduzir uma criança com métodos seculares como quadro negro, tem que ser computador, vídeo. O professor tem que ser capaz de cavalgar a tecnologia da informação, de se comunicar com a criança usando o computador. E finalmente a escola tem que ser 6h ou 7h por dia. O menino se comporta melhor na escola que ele fica o dia inteiro porque ela passa a ser um pouco da casa dele, a escola tem que ser a extensão da casa da criança.
BBC Brasil - Aprovou-se no ano passado a medida de destinar 10% do PIB pra educação. Esse dinheiro é suficiente? Então qual é o problema da educação hoje em dia (se não é dinheiro)?
Cristovam Buarque - O problema é dinheiro, mas não é só dinheiro. Se chover dinheiro no quintal da escola, a primeira chuva vira lama. Se aumentar muito o salário do professor agora, isso não vai mudar nada. Precisa de todas ações juntas, a revolução mesmo da educação. Para pagar os R$ 9 mil (para os professores), para construir as escolas novas, você precisa de 6,5% do PIB (na educação de base, sem contar investimentos nas universidades).
Esse negocio de 10% do PIB foi uma farsa. Por que não colocaram 10% da receita? Porque ao dizer que é do PIB, ninguém sabe de onde vai sair o dinheiro. O PIB não existe, ele é um conceito abstrato de estatística.
Para fazer a revolução a qual eu me refiro, nós precisamos para a educação de base R$ 441 bilhões em 20 anos, por isso que eu digo 6,4% do PIB. Se supõe que pré-sal vai dar R$ 225 bi, ele poderia ser uma fonte desse dinheiro. Eu peguei 15 fontes de onde a gente poderia conseguir esse dinheiro e com elas a gente pode chegar a R$ 750 bi. (Quais fontes?) São várias, não vou citar todas aqui. Mas por exemplo, quem vai querer um imposto sobre as grandes fortunas, reduzir publicidade do governo, eliminar subsídio que se dá para educação privada, porque se a pública vai ser boa, não precisa bancar a privada, ou então voltar a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), só que fazer ela ser toda destinada pra educação, pegar 50% do lucro das estatais que vão pro governo, usar rentabilidade de reservas?
Tudo isso dá o dinheiro que a gente precisa. Não precisa dos 10% do PIB. Isso não existe. Eu defendo a federalização das escolas para tornar o ensino público uma referência no Brasil. Hoje, das 196 mil escolas públicas que nós temos, pouco mais de 520 são federais e essas são boas. A seleção do professor é mais cuidadosa, as instalações são melhores o regime de trabalho é melhor. Temos que levar esse padrão para todas as outras.
BBC Brasil: Mas o senhor tinha consciência disso quando entrou no Ministério? O que o senhor fez pra mudar?
Cristovam Buarque: Eu sabia. Essa ideia de implantar escolas boas por cidade, eu comecei. Escolhi 29 cidades e comecei. Eu comecei a fazer isso nas cidades com dinheiro do MEC e não sensibilizei o governo. Para fazer isso leva tempo, quando a gente conseguiu aprovar, eu fui demitido. Mas o governo não tinha interesse em investir em educação de base, como todos os outros, ele só queria investir em universidade. Educação de base não dá voto, você fica na história, mas não fica no governo. Universidade é imediato. Eu recebi 520 parlamentares em um ano que fiquei lá no ministério, desses só um me pediu uma ajuda de investimento para educação de base, um deputado da Bahia, o resto, todos os outros queriam investimento para faculdade, ensino técnico, ou regularizar faculdade particulares..

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140819_salasocial_eleicoes_educacao_cristovam_rm.shtml

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Marina Silva é elogiada no exterior: "sacudindo a eleição e brilhando no debate"Fotografia da internet


InfoMoney 27/08/201418h24


Fotografia da internet
SÃO PAULO - "O PSB, que agora é o favorito na corrida presidencial do Brasil, teve o seu ímpeto na disputa somado à forte presença da candidata Marina Silva no debate de ontem". É o que afirma o Wall Street Journal, que destacou que a ex-senadora "brilhou" no debate transmitido pela TV Bandeirantes. 
Marina Silva, que entrou oficialmente na corrida há apenas uma semana, foi muito bem, segundo o jornal americano. O WSJ ressalta que e la atacou a atual presidente Dilma Rousseff (PT) por não responder satisfatoriamente aos protestos de rua no ano passado que exigiram melhores serviços públicos.  E ela criticou seu outro principal adversário, Aécio Neves, do PSDB, pelo seu desempenho na educação como governador do estado de Minas Gerais.
Um alvo frequente de perguntas diretas dos outros seis candidatos que participaram do debate, Marina Silva fez o máximo, afirmou o jornal, ressaltando que e la demonstrou confiança sobre o seu desejo de um governo mais inclusivo para melhorar a educação, segurança pública e a saúde.
Entrevistado pelo WSJ, o cientista político da UNB (Universidade de Brasília), David Fleischer, disse que o desempenho da candidata dissipa quaisquer dúvidas de que faltasse fôlego a Marina Silva para competir ao mais alto cargo do Brasil. "Marina foi a única candidata a apresentar propostas de seu futuro governo", disse Fleischer. "A onda veio para ficar."
O jornal destaca ainda o perfil de Marina, evangélica e filha de seringueiros pobres do Acre e que a aproxima do eleitor. Porém, afirma a publicação, ainda é cedo para que ela "cante vitória", uma vez que  não está claro se as suas visões sociais podem acabar afastando alguns dos jovens urbanos adeptos à sua candidatura e que têm reforçado a sua campanha. 
"Precisamos ver como Marina vai absorver a onda esperada de críticas de todos os outros candidatos e também como ela, que é uma pessoa conservadora e religiosa, irá responder a perguntas sobre a sua posição em questões como o aborto e a legalização das drogas", disse Mauro Paulino, diretor do instituto de pesquisas Datafolha.
Enquanto isso, o Financial Times ressaltou que Marina "sacode" a seleção brasileira, também afirmando que ela teve um bom desempenho no debate. E, para o jornal britânico, a ascensão de Marina Silva está ameaçando as esperanças de um segundo mandato para a atual presidente Dilma Rousseff.
Já o economista do Goldman Sachs, Alberto Ramos, destacou: "Marina Silva será desafiado nas próximas semanas para crescer além de um patamar de uma candidata que parece atrair uma grande parte do protesto/status quo.  .  .  E também percebe-se que ela é flexível para garantir as condições de governabilidade mínimas", disse ele.

Fonte http://economia.uol.com.br/noticias/infomoney/2014/08/27/marina-silva-e-elogiada-no-exterior-sacudindo-a-eleicao-e-brilhando-no-debate.htm

terça-feira, 26 de agosto de 2014

De onde vem o dinheiro que financia o Estado Islâmico?

Mariano Aguirre (*)

Atualizado em  26 de agosto, 2014 - 05:39 (Brasília) 08:39 GMT
Estado Islâmico | Crédito: AP
Para especialista, Estado Islâmico é "um projeto de Estado com armas sofisticadas, uma ideologia totalitária e financiamento abundante"
"Isso vai além do que vimos antes", disse há poucos dias o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Chuck Hagel, referindo-se ao Estado Islâmico (EI), anteriormente conhecido como Estado Islâmico do Iraque e da Síria (Isis, na sigla em inglês).
Segundo Hagel, o EI não seria um grupo terrorista, mas um projeto de Estado com armas sofisticadas, uma ideologia totalitária e recursos abundantes obtidos por meio de financiamento externo, o que permitiria ao grupo continuar sua ofensiva e lançar as bases de seu califado.
Até alguns meses atrás, o Isis era apenas um dos vários grupos armados sunitas radicais que se opunham ao regime de Bashar al-Assad na Síria. A organização havia ganhado notoriedade por ser uma dissidência da Al-Qaeda, a qual acusou de não ser suficientemente radical.
Mais recentemente, o Isis tornou-se EI e agora é a manifestação mais violenta da insurgência sunita que tenta impor uma versão ultraconservadora do Islã, contra o que considera uma expansão do xiismo liderado pelo Irã, com forte influência no Iraque, na região.
O cerco e a expulsão das minorias cristãs yazidis do Iraque e a decapitação do jornalista americano James Foley são os últimos exemplos da crueldade com que o EI atua.
Mas, diferentemente de outros grupos de insurgentes, o EI chama atenção por seu poderio econômico.

Fontes energéticas

EI | Crédito: AFP
Estado Islâmico tem uma grande capacidade econômica
Uma das razões origens do dinheiro que financia o grupo está na principal matéria-prima do Iraque: o petróleo.
O país é o segundo maior produtor do óleo no mundo, depois da Arábia Saudita.
Há alguns meses, o EI controla uma parte importante da indústria do petróleo iraquiano no norte do país. Mossul, uma das cidades dominadas pelo grupo, produz cerca de 2 milhões de barris de petróleo por dia.
O EI também controla a planta de gás de Shaar e Baiji, cidade onde se localiza a maior refinaria de petróleo do país.
A partir desta área, os insurgentes cortaram o fornecimento de petróleo para a Turquia enquanto tentam avançar sobre as fontes de energia abundantes do Curdistão iraquiano.
O EI não destrói as fontes energéticas que conquista militarmente. O objetivo é usar os lucros para construir o tão propalado Estado islâmico ou califado.
A estratégia é semelhante à de outros grupos armados que estabeleceram nas últimas décadas redes econômicas ilícitas para seu financiamento, compra de armas e enriquecimento de suas lideranças.
Na Libéria e em Serra Leoa, por exemplo, proliferaram na década de 90 grupos insurgentes que competiam entre si pela exploração e pelo tráfico de diamantes.
No Afeganistão, por outro lado, o cultivo da papoula é a principal fonte de renda para o Talebã e outros setores políticos. Já na Colômbia há diversos vínculos entre grupos insurgentes, paramilitares, políticos e traficantes de drogas.
No caso do Estado islâmico, o grupo ganhou experiência na Síria antes de cruzar a fronteira e se estabelecer no Iraque.
"Uma das razões pelas quais o EI tem sido capaz de crescer tão fortemente é que pode importar recursos e ativistas da Síria", diz Patrick Cockburn, em seu livro The Jihadis Return: ISIS and the New Sunni Uprising ("O Retorno dos Jihadistas: Isis e o Novo Levante Sunita", em tradução livre do inglês).
No Iraque, o EI ganhou rapidamente terreno junto à comunidade sunita após a invasão dos Estados Unidos ao Iraque em 2003.
Com a queda de Saddam Hussein, os sunitas foram marginalizados e reprimidos por governos xiitas que se revezaram no poder, especialmente o do premiê Nouri al-Maliki.
Ao mesmo tempo, comandantes militares de Saddam Hussein e funcionários do Partido Baath, expulsos de seus cargos após a invasão, se aliaram ao EI.
Usar os dividendos das fontes energéticas para financiar atividades e impor regimes autoritários não é uma exclusividade do grupo.
EI | Crédito: AP
Usar os dividendos das fontes energéticas para financiar atividades e impor regimes autoritários não é uma exclusividade do EI
Peter Custers, autor do livro Questioning Globalized Militarism ("Questionando o Militarismo Globalizado", em tradução livre do inglês), indica que muitos governos da região usam a renda proveniente do petróleo para comprar armamento pesado e armas dos Estados Unidos e Europa e poder, assim, reprimir seus povos.

Os circuitos e as ligações

Theodore Karasik, do Institute for Near East and Gulf Military Analysis (INEGMA) e Robin Mills, autor do livro The Myth of the Oil Crisis ("O Mito da Crise do Petróleo", em tradução livre do inglês), calculam que o EI ganhe U$ 1 milhão (R$ 2,3 milhões) por dia somente com a exploração do petróleo iraquiano.
Os especialistas argumentam que o valor poderia chegar, no entanto, a US$ 100 milhões (R$ 230 milhões) se somadas as rendas provenientes do comércio da matéria-prima no Iraque e na Síria.
Com visão de mercado, o EI vende o barril a US$ 30 no mercado negro – enquanto o preço internacional supera os US$ 100 – por meio de intermediários na Turquia e na Síria.
Mas o petróleo não é a única fonte de renda para EI.
No caso da Síria, um estudo do Centro de Análise do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR na sigla em Inglês) indica que o EI e outros grupos armados estão instalando um sistema de impostos em áreas conquistadas ao mesmo tempo em que promovem atividades ilegais como roubo de reservas de dinheiro de bancos locais, contrabando de carros e armas, sequestros e bloqueios de estradas.
"Uma economia de guerra está tomando conta da Síria, em particular nas zonas controladas pela oposição, criando novas redes e atividades econômicas que alimentam a violência", diz o estudo.
A pesquisa afirma que o EI também apreendeu grandes quantidades de armas do Exército iraquiano e grupos armados sírios contra os quais luta.
Na Síria, o grupo chegou, inclusive, a desmantelar fábricas inteiras e vender as estruturas na Turquia.
Segundo Jihad Yazigi, autor do relatório para o ECFR, lideranças de grupos armados também estariam interessadas em prolongar o conflito para continuar a receber remessas internacionais de países aliados.
Essa 'economia de guerra', diz ele, cria incentivos para diferentes indivíduos e atores que não teriam interesse no fim do conflito.
Segundo os especialistas, esses novos agentes econômicos, que controlam fontes de energia, contrabando, roubo e venda de armas, sequestros e impostos especiais a minorias religiosas, operariam sem conexão com autoridades do governo.
Peshmerga | Crédito: AFP
Ocidente vem financiando os peshmerga - braço armado do governo curdo - para combater o EI no Iraque
Mas alguns outros mantêm laços com o poder institucionalizado, aponta o relatório do Conselho Europeu de Relações Exteriores. O resultado é uma desintegração do Estado a partir de sua base econômica.

Estados fracos e sectarismo

O apoio da Arábia Saudita e dos países do Golfo aos sunitas para combater xiitas e seus aliados está na raiz do sucesso econômico do EI e de outros grupos jihadistas, afirma o jornalista Patrick Cockburn e outros analistas.
Segundo eles, esses países já teriam canalizado centenas de milhões de dólares para insurgentes sunitas na Síria.
Como ocorreu no Afeganistão com o apoio que os insurgentes recebiam dos países ocidentais nos anos 80, o EI tem crescido através de uma combinação de fraqueza do Estado, do sectarismo por parte do Estado, e do apoio econômico e militar externo para a insurgência.
Para o regime do presidente sírio Bashar Assad, essa fragmentação da economia levará à perda de receita de que ele precisa para prestar serviços básicos e manter o apoio popular nas áreas que controla, pagar o Exército e começar a reconstruir a Síria.
No Iraque, o novo primeiro-ministro, Haidar Abadi, tem menos território e recursos energéticos para lançar uma política mais inclusiva.
Especialistas em terrorismo questionam se o EI pode instaurar um Estado e consolidar uma estrutura econômica.
Para Yezid Sayigh, do Carnegie Middle East Center, o EI só é forte onde tem apoio, o qual poderia diminuir dado à brutalidade das ações do grupo. A resistência dos curdos iraquianos e o que restou do Estado iraquiano, que é apoiado pelos Estados Unidos, pode freá-lo, mas não fazê-lo desaparecer.
Além disso, criar e manter uma economia estatal é complicado. Em muitos casos, a infraestrutura de exploração de petróleo e gás é antiga e necessita de uma renovação tecnológica difícil de ser obtida.
O Estado Islâmico e seu modelo de economia política, bem como o papel de atores externos, têm tornado a região ainda mais complicada.
(*) Mariano Aguirre é diretor do instituto Norwegian Peacebuidling Resource Centre (NOREF) www.peacebuilding.no

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140825_financiamento_estado_islamico_lgb.shtml

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Presidenciável mais uma vez: Marina Silva em cinco transformações


Atualizado em  21 de agosto, 2014 - 04:39 (Brasília) 07:39 GMT
Marina Silva (ABr)
Depois de ficar em terceiro lugar nas eleições de 2010, Marina Silva volta à disputa neste ano
A trajetória de Marina Silva é marcada por uma série de guinadas e recomeços.
Cabem algumas vidas nos 56 anos da nova candidata à Presidência pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), no lugar do falecido Eduardo Campos.
Marina superou a infância pobre no interior do Acre. Passou de seringueira e doméstica a vereadora, deputada e senadora. Deixou o Partido dos Trabalhadores (PT) depois de se consagrar como ícone da defesa do meio ambiente enquanto ministra no governo Lula.
Desde então, vem cultivando seu espaço na política brasileira com movimentos muitas vezes surpreendentes, como quando anunciou no ano passado seu apoio a Eduardo Campos.
Conheça algumas das transições mais marcantes em sua vida.

Infância difícil

Batizada Maria Osmarina Silva e Souza, Marina nasceu em uma família de seringueiros que vivia no seringal Bagaço, a 70km da capital do Acre, Rio Branco.
Dos 11 irmãos, três sucumbiram a doenças que quase lhe vitimaram também. Ela sobreviveu a casos de malária e hepatite e guarda até hoje as consequências de ter tido o sangue contaminado por mercúrio na infância.
Os problemas de saúde incluem intolerância a carne vermelha, frutos do mar, lactose, bebidas alcoólicas, maquiagem e cosméticos em geral.
Ela e as irmãs caminhavam quilômetros todos os dias para trabalhar com o pai no seringal. Ninguém na sua família havia ido à escola.
Aos 16 anos, Marina resolveu ir para a capital em busca de educação e tratamento para a hepatite. Em uma entrevista à revista Piauí, seu pai, Pedro Augustinho da Silva, lembrou da sua reação ao saber que a filha queria "ir aprender": "E tu lá vai aprender alguma coisa?", reagiu.
Marina foi acolhida por freiras no convento das Servas de Maria e aprendeu de fato a ler e escrever. Depois, deixou o convento e trabalhou como empregada doméstica na casa de uma família em troca da moradia enquanto estudava.
Quando viu seu nome na lista dos aprovados do primeiro curso equivalente ao primário, Marina se ajoelhou e agradeceu a Deus, como lembrou em entrevista à BBC Brasil alguns anos atrás.
"Aquela lista que me aprovou como alfabetizada, apta à educação, me abriu um portal."

Início na política

Marina aproximou-se da política na época da faculdade de História, quando filiou-se ao Partido Revolucionário Comunista (PRC).
Na época, conheceu o seringueiro e líder sindical Chico Mendes e trocou o PRC pelo PT. Foi eleita vereadora em 1998, com o maior número de votos em Rio Branco.
No mesmo ano, o amigo Mendes foi assassinado por seu ativismo pela preservação da Amazônia e dos meios de subsistência dos seringueiros. Em 1990, Marina foi eleita deputada estadual, e, aos 36 anos, chegou ao Senado.
"Ela vai ganhando o plano nacional de forma lenta e bastante consistente", diz o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio.
"Se há um Estado distante do centro das atenções no Brasil, é o Acre, e ganhar destaque vindo de lá não é algo trivial. Mas ela vai ganhando espaço nacionalmente como uma pessoa que conhece bem a Amazônia, uma região até hoje discutida de maneira episódica no Brasil."

Ministra

Marina Silva (ABr)
Marina já era um ícone da defesa do meio ambiente quando entrou no governo Lula
Marina já havia se consagrado como ambientalista e defensora da Amazônia quando foi anunciada por Lula como um dos primeiros nomes a compor seu ministério, em 2003. A notícia repercutiu bem internacionalmente.
"Ela já era um ícone nacional e internacional, e Lula sabidamente aproveitou sua boa imagem e a chamou para ser ministra do Meio Ambiente", diz o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB).
"Ela deu bastante dor de cabeça para Lula e também para Dilma, então chefe da Casa Civil. Até que não aguentou mais e caiu fora."
Os cinco anos como ministra reforçaram o seu prestígio como ícone na luta ambiental – durante sua gestão, centenas de pessoas foram presas por crimes ambientais, o índice de desmatamento na Amazônia foi reduzido e uma área recorde de reserva indígena foi demarcada.
Mas Marina bateu de frente com ruralistas e amargou derrotas como a aprovação de safras de soja transgênicas e o asfaltamento da BR-163, que liga Cuiabá, no Mato Grosso, a Santarém, no Pará.
Cada vez mais isolada, decidiu deixar o Ministério em 2008, após a notícia de que o Plano Amazônia Sustentável tinha sido passado a outro ministro. Após mais de 20 anos no PT, rompeu com o partido em 2009.

Candidata à presidência

Eleições de 2010 (AFP)
Marina era um azarão nas eleições de 2010 e teve um votação surpreendente
Recém-saída do PT, Marina se filiou ao Partido Verde (PV) para as eleições de 2010 e deu trabalho à antiga sigla.
Foi lançada à Presidência e conquistou inéditos 19 milhões de votos para o partido – ficando em terceiro lugar, atrás de Dilma Rousseff e José Serra, e forçando a ida da disputa para o segundo turno. Afirmava querer ser "a primeira mulher negra e de origem pobre" a ocupar o Palácio do Planalto.
No ano passado, mostrou que continuava com disposição para concorrer ao cargo tentando lançar o partido Rede Sustentabilidade, mas não obteve assinaturas suficientes para a empreitada.
Mesmo com a forte campanha de "marineiros" indo às ruas para buscar apoio à criação da sigla, Marina não conseguiu validar as quase 500 mil necessárias para fundar o novo partido, ficando 50 mil abaixo da meta.
Ela deu, então, mais uma guinada surpreendente, declarando apoio a Eduardo Campos – e depois tornando-se sua candidata à Vice-Presidência.

Eleições 2014

Marina Silva (AFP)
Após a morte de Campos, Marina apareceu em público em uma entrevista coletiva
Foi uma Marina em choque e abatida que o Brasil viu poucas horas depois da morte de Campos, quando apareceu para fazer uma declaração sobre o acidente que matara seu parceiro de chapa e sacudiria a corrida presidencial.
Depois de passar os últimos dez meses viajando pelo país para impulsionar a campanha de Campos – a quem tinha "aprendido a respeitar" durante este período – Marina se vê agora no centro das atenções.
Apesar de um primeiro resultado promissor em uma pesquisa de opinião, só agora os brasileiros poderão começar a vê-la e ouvi-la como candidata à Presidência – e colocar na balança as diversas imagens construídas a partir de sua biografia, como a de ambientalista radical, promessa de mudanças, evangélica devota ou liderança carismática.
Para David Fleischer, da UnB, muitos ainda têm dela a imagem de alguém que defendia posições radicais e batia de frente com o agronegócio. Mas há também um entusiasmo inspirado em suas propostas de mudança.
Marina Silva e Eduardo Campos (Reuters)
A aliança com Eduardo Campos foi mais um dos movimentos inesperados de Marina
Após os protestos de junho do ano passado, ela foi a única presidenciável cuja imagem cresceu em pesquisas de opinião.
O fato de ser evangélica divide opiniões e afasta eleitores que discordam de sua posturas conservadoras contra o casamento gay e o aborto.
Por outro lado, ela tem uma vivência do país que a aproxima de eleitores mais pobres.
"Ela se credencia numa lógica parecida com a de Lula – a de quem conhece os problemas do Brasil por andar na rua e correr o país", diz Ismael, da PUC-Rio.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140820_marina_silva_perfil_jc_rb.shtml

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Novo material de camuflagem muda de cor de acordo com o ambiente

Jonathan Webb

Repórter de Ciência da BBC News

Atualizado em  20 de agosto, 2014 - 12:11 (Brasília) 15:11 GMT
Camuflagem (Cunjiang Yu)
Pesquisadores testaram o novo material com as iniciais da Universidade de Illinois
Engenheiros americanos construíram um material flexível que muda de cor de acordo com o ambiente, inspirados nas habilidades de camuflagem de polvos e sépias - moluscos semelhantes às lulas.
O novo material tem uma rede de células de 1mm, que contêm uma tinta sensível à temperatura que muda de cor quando acionada.
Até o momento, o protótipo só funciona em branco e preto, mas a equipe de engenheiros espera usar os mesmos princípios do produto para aplicações militares e comerciais.
O trabalho foi Cliquedivulgado na publicação científica PNAS.
Um dos líderes da pesquisa, o professor John Rogers, da Universidade de Illinois, disse que a lâmina do material é fruto de uma colaboração entre especialistas em biologia, materiais, computação e energia elétrica.
"Animais - especialmente os cefalópodes: polvos, lulas e sépias - têm uma capacidade espetacular de mudar de cor", disse Rogers à BBC News.

Camadas de potencial

Camuflagem (Cunjiang Yu)
Material contém células que mudam de cor
A equipe de Rogers buscava saber o que seria possível aprender com os exemplos da natureza e construir o novo material com base nesse conhecimento.
Eles copiaram particularmente o modelo de três camadas encontrado na pele destes animais: a camada superior contém as cores, a camada do meio aciona as mudanças de cor e a camada inferior percebe os padrões de cor do ambiente que serão emulados.
No entanto, cada componente da lâmina feita em laboratório participa do processo de maneira diferente das três camadas de pele em um polvo.
No sistema criado pelos engenheiros, a camada inferior contém uma rede de fotossensores, que detecta mudanças na luz e transmite este padrão aos "acionadores" na camada acima.
Estes acionadores ocupam o lugar dos músculos na pele do polvo, que controlam os órgãos responsáveis pela mudança de cor na camada superficial.
Mas a camada superior da versão artificial usa um pigmento sensível à temperatura, que muda de preto para transparente a exatamente 47 °C. Esta mudança de temperatura tem que ser produzida por uma corrente que vem dos acionadores na camada intermediária.
Este sistema é menos eficiente e tem um repertório de cores muito mais limitado do que o existente nos animais marinhos.
Polvo | Foto: SPL
Um sistema de três camadas na pele dos polvos é responsável por sua camuflagem
Mesmo assim, John Rogers diz que sua equipe está orgulhosa do resultado. "É o primeiro sistema completo e operacional deste tipo - parece uma folha fina de papel."
"Mas ainda não está nem perto de estar pronto para ser implementado em um ambiente militar ou em qualquer outro. É um ponto de partida, para focar na engenharia necessária para criar sistemas que tenham esta função."
O sistema precisa melhorar sua resolução espacial e de cor, além de sua eficiência - possivelmente, incorporando células solares ao invés de usar energia externa.
Segundo Rogers, tudo isso poderia ser feito adaptando tecnologias já existentes, como a que é usada em telas planas.
A professora Anne Neville, especialista britânica em tecnologias inspiradas na biologia, disse que o trabalho é "de um padrão muito alto" e afirmou estar impressionada com o número de disciplinas envolvidas.
"É muito inovador e muito interessante", disse Neville, que é a diretora do Departamento de Tecnologias Emergentes na Academia Real de Engenharia na Universidade de Leeds.

Moda sépia

Sépia | Foto: SPL
As sépias hipnotizam suas presas com a ondulação de suas listras
As aplicações para o produto vão além da associação com a camuflagem, na qual o professor Rogers diz haver um "potencial óbvio" - e isso fez com que o trabalho fosse financiado pela Marinha americana.
"O que me intriga é a quantidade de pessoas que nos abordou falando sobre tipos completamente diferentes de aplicações, que iniciamente não teria pensado."
Uma dessas pessoas foi um professor de arte em Chicago, que está interessado em tecidos que mudem de cor para a alta costura, capazes de responder a mudanças na iluminação do ambiente.
"Neste caso, você não necessariamente quer camuflagem. Talvez você queira sua roupa feita para que você se diferencie da multidão", explica Rogers.
Esta "anticamuflagem" seria mais inspirada em criaturas do fundo do mar que usam sua pele para atrair, e não para evitar, atenção - como sépias que hipnotizam suas presas com listras que ondulam.
Rogers também conversou com a escola de arquitetura de sua própria universidade sobre a possibilidade de muros e espaços interiores dinâmicos, que mudem de cor.
Estes grandes projetos ainda estão distantes, no entanto, e o professor afirma que eles não são prioridade.
"Nosso objetivo como pesquisadores não é desenvolver um papel de parede que mude de cor. Isso é a visão que alguém teve para uma aplicação - e até é legal. Mas nossa ênfase é mais no básico, na engenharia inspirada na biologia", garante.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140819_material_camuflagem_jw_cc.shtml