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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Dilma 'estreia' em Davos em meio a pessimismo sobre o Brasil

Atualizado em  22 de janeiro, 2014 - 13:50 (Brasília) 15:50 GMT
Fórum de Davos. Foto: AP
Fórum de Davos começa com otimismo sobre recuperação das economias avançadas
Pela primeira vez em seis anos, o encontro anual da elite política e econômica mundial na estação de esqui suíça Davos, que começa nesta quarta-feira, acontece em meio a um certo otimismo, com boas previsões de recuperação das economias avançadas.
Países desenvolvidos como Grã-Bretanha e Estados Unidos, que passaram mais de meia década patinando em recessões e com baixos índices, têm perspectiva de crescer 2,8% e 2,4% em 2014, respectivamente, segundo previsões divulgadas esta semana pelo FMI.
Já o Brasil chega ao encontro nadando contra essa maré de otimismo – em um momento de pouca confiança dos investidores internacionais com o futuro de diversos países emergentes, cujo crescimento está desacelerando. Pela primeira vez desde 2003 um presidente brasileiro vai ao Fórum Econômico Mundial.
Analistas ouvidos pela BBC Brasil dizem que a presidente Dilma Rousseff vai para Davos com a missão de desfazer um pouco do pessimismo que tomou conta de grande parte de empresários e banqueiros estrangeiros nos últimos anos. Muitos teriam perdido crença na capacidade do governo de gerir a economia e voltar a crescer acima de 3%.
Acompanhada da equipe econômica e do ministro Guido Mantega, Dilma passará parte da quinta-feira em Davos, quando haverá um debate intitulado "A crise de meia-idade dos BRICS".

Dois públicos

"Não há dúvidas de que existe hoje uma completa falta de confiança no Brasil no mercado financeiro internacional", diz Richard Lapper, diretor do serviço FT Confidential, de pesquisa em mercados emergentes.
Ele faz a ressalva de que existem dois públicos distintos em Davos, e que o pessimismo por ora só se manifesta em um deles: os investidores do mercado financeiro, que há três anos amargam mais prejuízos que ganhos comprando e vendendo títulos do governo e ações em bolsa.
"Não tenho dúvida de que algumas dessas pessoas não querem mais saber do Brasil. É como se tivesse havido um grande caso de amor, e agora o clima é de fim de namoro."
Segundo Lapper, outro púbico de Dilma são os diretores de multinacionais que promovem investimentos externos diretos no Brasil, como instalação e ampliação de fábricas. Este grupo tende a olhar "o copo meio cheio" da economia brasileira, já que a renda média das classes mais baixas continua subindo e o desemprego é baixo.
"Se você olhar os investimentos externos diretos (IED) nos últimos anos, eles se mantêm fortes. O Brasil atraiu quase US$ 60 bilhões em IED em 2013. O boletim Focus do Banco Central prevê que em 2014 não será um valor muito menor que esse."
Para o diretor do FT Confidential, o perigo para o futuro Brasil é que o pessimismo do mercado financeiro afete as decisões das pessoas responsáveis por investimentos diretos no Brasil. Por ora, o pessimismo ainda está concentrado no mercado financeiro.
"Mas isso poderia mudar se empresas como Proctor & Gamble, Unilever, L'Oreal, Toyota e Ford pararem de acreditar na história do Brasil, e passem a acreditar que o país vai parar de crescer."

Diálogo com setor privado

Para Stephen Rose, diretor da LatinCo, empresa britânica que auxilia instituições europeias a investir no Brasil, o pessimismo com o Brasil é um pouco exagerado, mas investidores estão certos em questionar a capacidade do governo de trabalhar com a iniciativa privada.
"O problema maior é que todo mundo fala em pessimismo o tempo todo. Para as pessoas que estão interessadas em investir, que é o meu negócio, isso é o que fica", diz Rose.
Para ele, os investidores acham que o Estado ainda tem um papel grande demais na economia, intervindo em diversos mercados – desde o preço da gasolina e eletricidade à margem de lucro de concessionárias públicas e de bancos privados.
"Existe um setor privado que precisa lucrar. Existe um elemento capitalista na nossa economia. Dilma precisa conversar, ouvir e trabalhar com esse setor. É isso que ela precisa dizer (em Davos), se quiser chegar a qualquer lugar. Não faz sentido ela tentar impor ao setor privado o que ela acha que está certo para a economia."
Para Irene Mia, diretora de América Latina e Caribe da consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), há limites no que Dilma pode falar em Davos em relação à crítica de que há excesso de intervenção estatal. Uma das reivindicações de vários analistas - de pôr fim aos subsídios estatais à gasolina - ameaçaria outra ponto que também está na mira do mercado, que é a inflação.
"No caso da Petrobras, se o governo quer controlar a inflação, ele precisa manter um limite nos preços da gasolina. Eles conseguem manter o preço baixo, que é bom para a economia, mas isso gera um problema fiscal e outro problema para a Petrobras, que fica sem dinheiro para investir na sua produção."

Macroeconomia e crescimento

Para a diretora da EIU, os investidores não acreditam que o governo está comprometido o suficiente com o tripé macroeconômico: superávit das contas públicas, inflação próxima ao centro da meta e câmbio flutuante.
A percepção é de que a dívida pública, os preços gerais da economia e a cotação do dólar não estão em níveis satisfatórios para aumentar e sustentar o crescimento do PIB.
"O que os investidores querem ouvir é que o governo está controlando a economia e sabe administrá-la. E também eles querem ser assegurados de que o Brasil ainda está aberto para negócios."
"Nós não devemos esperar que ela chegue em Davos e reconheça 'desculpe, nós sabemos que não temos sido muito consistentes em macroeconomia'. Isso não é nem da personalidade de Dilma. Ela provavelmente vai se concentrar nos aspectos positivos do seu governo, de redução de pobreza, de desemprego, entre outros temas."
Os três analistas acreditam que há sinais recentes de que os investidores estariam dispostos a acreditar mais no Brasil e no governo Dilma. Eles citam o leilão do campo de Libra em outubro passado com uma das conquistas do governo, que atraiu um compromisso grande de investimentos de gigantes como Shell e Total.
"O fato de Dilma ir a Davos é bastante importante. É um sinal de um certo desespero do Brasil de dizer ao mundo que o país está aberto para negócios e que há bom potencial para investimentos. E sendo sincero, ainda há muitas oportunidades", diz Mia.
Rose acredita que os investidores internacionais estão abertos a mudar de opinião.
"Eu acho que há o começo do sinal de mudanças. Há o começo de um pequeno otimismo no Brasil", diz ele. "Há pessoas indo a Davos que pensam: 'será que o pessimismo atual não é exagerado?'"

Para ministra, violência só cairá com fim das megaprisões

Atualizado em  22 de janeiro, 2014 - 09:47 (Brasília) 11:47 GMT

Polícia do Rio de Janeiro prende manifestante | Crédito: AFP
Em entrevista à BBC Brasil, Maria do Rosário defendeu fim de megapresídios
Diante da divulgação de um relatório que acusa o Brasil de violações de direitos humanos, especialmente em matéria de segurança, a ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, reconheceu os maus tratos ocorridos no país e afirmou ser preciso acabar com os megapresídios, como o de Pedrinhas.
"Para lidar com a questão da segurança no Brasil é preciso trabalharmos em uma outra lógica, pois já ficou claro que o encarceramento massivo não tem provocado a diminuição dos crimes no Brasil", disse a ministra, em entrevista à BBC Brasil, horas após a ONG Human Rights Watch ter divulgado seu balanço anual sobre a situação dos direitos humanos em cada país.
No relatório, a Human Rights Watch diz que a impunidade impede avanços do Brasil como uma democracia "influente". Além disso, também critica duramente a ação da polícia e a situação das penitenciárias.

Pedrinhas

Segundo ela, casos como o do Complexo de Pedrinhas, no Maranhão - onde foram registradas mais de 60 mortes em 2013 – revelam a inviabilidade das grandes unidades prisionais.
"Esses complexos amplos não são aceitáveis. Reverter a existência [desses complexos] é uma meta importante do país. Já temos diretrizes para investir na descentralização e na construção de unidades menores, afirmou Maria do Rosário, dizendo que tais presídios podem fortalecer grupos criminosos, além de impedir a ressocialização.
"A lei prevê que os apenados cumpram suas penas próximos à família, o que é fundamental para a recuperação de alguém que cometeu um crime. Portanto, as grandes unidades afastam os apenados e penalizam suas próprias famílias."

Presos provisórios

Caso Kaique

No dia 11 de janeiro, o adolescente Kaique Augusto Batista dos Santos, de 17 anos, foi encontrado morto sob um viaduto no Centro de São Paulo.
Familiares e
amigos disseram, primeiramente, que ele havia sido morto porque era homossexual. Rapidamente, o caso gerou repercussão uma vez que a Polícia Civil de São Paulo, responsável pelas investigações, afirmou se tratar de suicídio.
Após a divulgação do boletim de ocorrência com a hipótese de suicídio, a Secretaria de Direitos Humanos soltou um comunicado em que demonstrava solidariedade à família da vítima e condenava o "assassinato brutal" de Kaique.
Na nota, o órgão também afirmou que havia designado um servidor para acompanhar pessoalmente o caso.
Na última terça-feira, no entanto, a mãe do adolescente reconheceu que o filho havia se suicidado.
Questionada pela reportagem da BBC Brasil sobre o posicionamento inicial da Secretaria, a ministra Maria do Rosário afirmou que "lançamos uma nota dura e firme porque é nossa missão enfrentar toda violência, mas especialmente os crimes de ódio e intolerância".
"Agora, houve uma mudança...Nossa nota foi baseada no posicionamento da família, que pediu apoio à Secretaria. Mas hoje [terça-feira] a família mudou os aspectos da sua percepção. É uma família que também é vítima".
"E a Secretaria pede às autoridades de São Palo que esgotem todas as possibilidades sobre o caso", finalizou.
Para lidar com a superlotação nos presídios como o de Pedrinhas, a ministra destacou a aprovação pelo governo de um regime diferenciado para a construção de novas prisões.
"Diante do rigor da legislação brasileira na contratação de serviços de construção, estamos constituindo procedimentos mais ágeis para que os Estados possam fazer as construções necessárias para lidar com a superpopulação", afirmou ela à BBC Brasil.
No entanto, para Maria do Rosário, pouco adianta a criação de novos presídios se não for assegurado aos presos o cumprimento das regras de direito à defesa e a um julgamento justo.
"Mais de 200 mil presos no Brasil estão em situação provisória. Não bastam mutirões carcerários. É preciso rever o processo de encarceramento maciço sem que garantias processuais fossem fornecidas a esses presos."
A ministra também cobrou posições mais efetivas do Judiciário e do Legislativo. "Esses órgãos lidam com leis que buscam endurecer a responsabilidade penal e que não buscam fazer cumprir as diretrizes de execução da pena baseado em direitos humanos.
No caso específico da situação carcerária do Maranhão, Maria do Rosário não quis comentar possíveis atritos entre a sua pasta e a governadora Roseana Sarney, ressaltando a importância da formação de um comitê conjunto - entre Ministério da Justiça e governo maranhense - para lidar com a crise no Estado.

Avanços

Ministra Maria do Rosário | Crédito: Agência Brasil
Maria do Rosário reconheceu violações de direitos humanos
O relatório destaca diversos avanços entre os temas de direitos humanos no Brasil. Um deles é indiciamento dos policiais envolvidos na morte do pedreiro Amarildo, no Rio de Janeiro.
Para a ministra, esse é um bom exemplo de como o Brasil está começando a reverter o quadro de impunidade entre as forças de segurança - um dos pontos mais criticados pela ONG.
"Há outros muitos indicativos positivos na política brasileira, como o enfrentamento ao trabalho escravo, à violência, inclusão social para a econômica."
Maria do Rosário rebateu ainda a crítica feita pela ONG dizendo que seria contraditório o Brasil querer assumir um papel de liderança nos debates internacionais de direitos humanos, enquanto não consegue resolver problemas sistemáticos.
Além dos aspectos positivos que citados no documento, a ministra destacou um outro trunfo do Brasil: "Mesmo nos aspectos que ainda há violações dos direitos humanos, não vamos negá-los nem deixar de enfrentá-los."

Brasil leva pito das maiores entidades do mundo


ter, 21/01/14
por Thais Herédia

Na última semana, o Brasil foi citado em pelo menos cinco relatórios das maiores entidades internacionais do planeta. O Fundo Monetário Internacional, a Organização das Nações Unidas, a Organização Internacional do Trabalho, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e o Banco Mundial falaram sobre a economia brasileira e tiveram em comum uma análise mais negativa sobre o país, com alertas sobre a condução da política econômica em diferentes aspectos.
Uma similaridade entre algumas das análises foi a revisão – para baixo – da previsão para do crescimento do PIB brasileiro para este ano. O relatório do FMI, divulgado nesta terça-feira (21), ainda faz um contraponto desconfortável para o Brasil. O fundo elevou sua estimativa para o PIB mundial de 2014 – para uma expansão de 3,7% e baixou a do Brasil para 2,3% – antes era de 2,5%.
Para a ONU, a diferença entre o que previam seus economistas e o que esperam agora é a maior de todas as avaliações feitas nos países analisados pela entidade. Eles estavam na ponta dos mais otimistas com economia brasileira em 2014, até então. A revisão foi de 4,5% para 3% para nosso PIB.
Ainda sobre o crescimento econômico, o Banco Mundial também fazia parte da turma mais otimista, acreditando que teríamos um PIB de 4,1% este ano. Em seu último relatório, divulgado esta semana, a instituição baixou suas esperanças para 3%. E segue na fila dos mais otimistas.
Aqui no Brasil, temos a posição oficial do Banco Central com um cálculo um pouco esquisito para os não-economistas. O BC prevê alta de 2,3% do PIB até setembro deste ano. Para analistas e consultores do mercado financeiro ouvidos pelo BC, segundo última pesquisa Focus, vamos fechar o ano todo com crescimento de 1,99%.
As justificativas para as revisões sobre o Brasil coincidem: consumo mais fraco, contas externas negativas, gasto público desequilibrado e ineficiente e inflação acima da meta. A boa nova é que os analistas dessas instituições internacionais contam com uma recuperação maior da economia mundial, o que beneficiaria as exportações brasileiras.
Faltou citar dois relatórios publicados esta semana. A OIT apontou para a baixa produtividade da trabalhador brasileiro como um fator de risco para a competitividade e ganhos de crescimento no longo prazo. A OCDE imprimiu o nome do Brasil no segundo lugar entre as maiores cargas tributárias da América Latina e alertou: “a questão não é arrecadar mais, é ser mais eficiente nos gastos”.
Concordando ou não com os números, questionando ou não as metodologias aplicadas para fazer previsões sobre o Brasil, essas cinco instituições tem um peso importante na tomada de decisões e escolhas do melhor destino para os investimentos. São questões estruturais da economia, que dependem das escolhas feitas pelos governantes brasileiros. O pito das organizações é só para o Brasil. Não adianta mais culpar o estrangeiro sentado ao lado. Ele já passou da “segunda época” e segue na recuperação.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Opinião: Problema é a qualidade do emprego, não o número

Sílvio Guedes Crespo
A economia brasileira sofreu uma forte desaceleração nos últimos anos e tem vários problemas a serem enfrentados. O número de empregos não é um deles.
Cada vez que são divulgados os dados do Ministério do Trabalho sobre empregos formais, temos a notícia de queda na geração de postos de trabalho. Nesta terça-feira, por exemplo, ficamos sabendo que a criação de empregos em 2013 foi a menor dos últimos dez anos.
Um desavisado poderia entender que o mercado de trabalho do país vive o seu pior momento desde 2003. Mas não é isso que os dados dizem.
Os números mostram uma queda no ritmo de aumento do emprego, e não uma redução da quantidade de pessoas empregadas. Em 2013, havia 1,1 milhão de trabalhadores com carteira assinada a mais do que em 2012. É isso o que diz o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), recém atualizado.
empregos formais serie historica caged ministerio trabalho achados economicos
Se contarmos desde 2002, data em que se iniciou a série de levantamentos feitos pelo Ministério do Trabalho, o mercado de trabalho nacional aumentou em 19 milhões de empregos formais (gráfico acima).
Não é surpreendente que a criação de postos de trabalho cresça em ritmo cada vez mais lento, uma vez que a população ativa do país está em desaceleração.
Se as empresas abrissem vagas a um ritmo superior ao do crescimento do número de pessoas que querem trabalhar, chegaríamos um dia a uma situação em que todos os brasileiros estariam empregados. Não sobrando mais ninguém para ser contratado, teríamos a notícia de que o mercado de trabalho estaria em crise, pois naquele momento não eram gerados mais empregos.
Emprego
Um recuo no ritmo de aumento dos empregos formais só representa uma deterioração do mercado de trabalho se a taxa de desemprego e o grau de informalidade estiverem altos ou em ascensão.
No caso da taxa de desemprego, as pesquisas divulgadas até agora indicam que ela caiu na década passada e depois se manteve no patamar mais baixo já registrado. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que a desocupação ficou em 4,6% em novembro passado, menor número da série de dados, iniciada em 2002.
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) calcula que a taxa de desemprego no Brasil caiu de 8,1%, em 2007, para 6,7% em 2013. O Dieese estima que o número tenha passado de 14%, em 2009, para 10,5%, em 2012, atingindo 9,5% em novembro do ano passado (número mais recente).
Uma pesquisa mais abrangente do IBGE, lançada na semana passada, apontou que existem hoje 61 milhões de pessoas fora da força de trabalho – outro dado que pode levar desavisados a uma interpretação errada.
Pelos novos conceitos do IBGE (que são os mesmo da OIT), “força de trabalho” é o grupo dos que estão trabalhando ou estão disponíveis para trabalhar. Ou seja, esses 61 milhões são pessoas que não estão disponíveis e, por isso, não são chamadas de desempregadas. Tirando os menores de 18 anos e os maiores de 60, há 30 milhões de brasileiros fora da força de trabalho por decisão própria.
Em relação à informalidade, dados do IBGE mostram que, apesar de alta, ela vem caindo continuamente desde pelo menos 2002.
Renda
Outro sinal de que o mercado de trabalho não está encolhendo é o fato de que a renda da população, em média, está acompanhando a inflação, o que é confirmado por diversos institutos de pesquisa.
O IBGE constatou que o rendimento médio das pessoas ocupadas era de R$ 1.608 em outubro de 2011, ou R$ 1.805 em valores atualizados pela inflação. Passou para R$ 1.801 no mesmo mês de 2012 (R$ 1.907 em valores atuais) e R$ 1.954 no penúltimo mês do ano passado (R$ 1.964, em número atualizado). Ou seja, houve uma alta de 6% acima da inflação em 2012 e de 3% em 2013.
O Dieese também constatou um aumento da renda média, mas em ritmo menor: 2,6% acima da inflação em 2012 e 1,3% nos 12 meses encerrados em outubro de 2013 (número mais atual).
A classe média não percebe o aumento da renda porque ele se concentra entre as camadas mais baixas e também entre mais ricos.
Uma pesquisa da consultoria Mercer constatou que, em 2013, os funcionários de cargos operacionais (os mais baixos da hierarquia) conseguiram um aumento salarial médio de 12,5% (nesse caso, sem descontar a inflação). Os presidentes de empresas tiveram reajuste médio de 5,2%. Todos os demais grupos, no entanto, ficaram com reajuste de 3,3% ou menos – ou seja, perderam dinheiro, já que a inflação chegou perto de 6%.
Uma dica para os que não acreditam em pesquisas é observar a experiência própria. Tente se lembrar de quanto você pagava para sua empregada doméstica há cinco anos e quanto paga hoje. Compare essa evolução com o seu próprio salário. Note como ficou difícil encontrar, em São Paulo, uma faxineira que cobre menos de R$ 90 por dia.
Qualidade
O problema do mercado de trabalho, hoje, não está relacionado ao número de pessoas empregadas ou desempregadas, mas sim ao fato de que a renda média não está mais crescendo no mesmo compasso dos anos 2000. Hoje, ela não sobe muito mais do que a inflação – e, considerando a desaceleração recente, é possível que logo o rendimento médio passe a cair, em comparação com o aumento dos preços de bens e serviços.
Uma vez que a taxa de desemprego está baixa, o desafio não é tanto gerar novos empregos, mas melhorar a qualidade dos que já existem. A renda média, na década de 2000, aumentou porque muita gente estava desempregada e foi absorvida pelo mercado de trabalho. Esse ganhou foi puxado por uma economia crescia com a expansão do crédito, com o aumento das exportações para a China e com a chegada de investimentos estrangeiros no país.
Agora que caiu muito a quantidade de pessoas à disposição dos empregadores, a saída é aumentar a produtividade dos empregos que já existem. O problema é que isso exige soluções de longo prazo, como a melhora da educação e da infraestrutura, além da diminuição da burocracia.
No curto prazo, no entanto também há o que ser feito. O mais urgente talvez seja o governo recuperar a credibilidade junto a investidores. Por exemplo, cumprindo rigorosamente as metas de inflação e de economia para pagamento de juros. Ainda, é necessário permitir que a concorrência, não uma canetada do governo, defina os resultados do processo de privatização da infraestrutura.

FMI eleva projeções para crescimento mundial, mas reduz para Brasil

Pablo Uchoa

Atualizado em  21 de janeiro, 2014 - 14:20 (Brasília) 16:20 GMT
Economia brasileira. ABr
FMI revisou para baixo previsão para 2014, para 2,3%; em 2015, Brasil deve crescer 2,8%
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê o fortalecimento da economia global em 2014, com um crescimento médio de 3,7%, maior que os 3% de 2013. Já para o Brasil, o fundo revisou para baixo mais uma vez as previsões de crescimento.
O Fundo prevê que o Brasil crescerá 2,3% este ano e 2,8% em 2015, segundo as projeções do relatório Panorama Econômico Mundial, divulgadas nesta terça-feira.
Estes números se aproximam das expectativas de analistas de mercado, que apostam em taxas de 2% neste ano e 2,5% no próximo, segundo o último boletim Focus, do Banco Central, divulgado na semana passada.
A boa notícia do relatório é que a economia mundial está se fortalecendo: para o Fundo, a economia mundial crescerá 3,7% neste ano, contra 3% em 2013. Entre os emergentes, o crescimento deve chegar a 5,1% neste ano, comparado a 4,7% em 2013.
O diretor de Pesquisa do Fundo, Olivier Blanchard, disse em entrevista coletiva em Washington que este fenômeno já era esperado: a economia americana está voltando a crescer (deve avançar 2,8% este ano e 3% no próximo), outros países avançados se recuperam das medidas de austeridade adotadas no passado e o sistema financeiro internacional se recupera da crise iniciada em 2007.
Porém, disse Blanchard, ainda se trata de uma recuperação “frágil e desigual”: mais robusta nos EUA que na Europa, pior no sul da Europa, e díspar nos países emergentes.
Nestes últimos, o Fundo revisou para cima as projeções para a China e a Índia, por conta de aumentos no investimento no primeiro e reformas estruturais para apoiar os investimentos no segundo.

Brasil

Entretanto, para o Brasil o Fundo continuou reduzindo as previsões, trazendo-a para patamares mais próximos das expectativas do mercado.
Blanchard disse crer que o principal problema da economia brasileira seja o baixo investimento – portanto a importância de medidas para elevar estes patamares, como as parcerias público-privadas.
O país enfrenta gargalos de oferta para substituir o modelo econômico baseado no consumo doméstico – modelo adotado, acertadamente na visão do Fundo, para combater os efeitos da crise econômica.
No campo financeiro, a inflação, que continua próxima do teto da meta, restringe as ferramentas do país para lidar com os possíveis efeitos da redução dos estímulos monetários anunciada nos EUA.
Embora esse processo deva ocorrer gradativamente, há temores de que as medidas tornem a economia americana mais atraente para os capitais internacionais, levando os investidores a retirar seus recursos das economias emergentes.
Para conter esses efeitos, o país tem sido elogiado por manter o câmbio flexível.
No setor externo, a balança comercial brasileira deve ser apenas parcialmente beneficiada pela recuperação global, pois os preços das commodities exportadas pelo Brasil, como petróleo e minérios, devem continuar mais baixos que na década passada.

Brasil continuará com desemprego acima de média global até 2016, diz OIT

Daniela Fernandes
Atualizado em  20 de janeiro, 2014 - 19:04 (Brasília) 21:04 GMT
Carteira de trabalho (Wikimedia Commons)
Previsão da OIT contrasta com feita pelo FMI e consultorias
O desemprego no Brasil deverá continuar acima da média mundial pelo menos até 2016, segundo previsões da Organização Mundial do Trabalho (OIT) divulgadas nesta segunda-feira.
As estimativas preliminares da organização, incluídas no relatório Tendências Mundiais do Emprego 2014, indicam que a taxa de desemprego global atingiu 6% da população economicamente ativa mundial no ano passado, se mantendo estável em relação a 2012.
No Brasil, a OIT acredita que a taxa de desemprego atingiu 6,7% em 2013, cairá levemente neste ano para 6,6%, e chegará a 6,5% em 2015 e também em 2016. Já o índice global de desemprego deverá ser em média de 6,1% entre 2014 e 2016, nas previsões da organização.
Caso a projeção da OIT se confirme, o Brasil será o único país entre os integrantes do Bric (grupo formado por Brasil China, Índia e Rússia) a ter taxas de desemprego acima da média mundial pelos próximos dois anos.
Na China, o índice deve totalizar 4,6% em 2013 (e 4,7% neste ano). Na Índia, a taxa preliminar estimada é de 3,7% no ano passado (e de 3,8% em 2014), e, na Rússia, segundo os cálculos da OIT, o desemprego afetou 5,8% da população ativa em 2013.

Jovens

Segundo os últimos números oficiais disponíveis, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 7,4% no segundo trimestre de 2013. Até novembro, o desemprego acumulava alta de 4,6%.
Para este ano e o próximo, o FMI já havia divulgado estimativas mais otimistas do que as da OIT. Para o Fundo Monetário Internacional, o índice deve fechar este ano em 5,8% (portanto, abaixo da média global da OIT) e, em 2014, em 6% (exatamente a média de 2013).
Por sua vez, consultorias como a LCA e a Tendências prevêem uma taxa de desemprego neste ano de no máximo 5,7% neste ano.
O estudo da OIT afirma que o Brasil possui um alto índice de jovens entre 15 e 29 anos que não estudam ou fazem cursos profissionalizantes e, ao mesmo tempo, também não estão empregados: 18,4% das pessoas nessa faixa etária.
Em todo o mundo, 74,5 milhões de jovens com menos de 25 estariam desempregados. A taxa mundial nessa faixa etária atingiu 13% no ano passado, mais do que o dobro da média global de 6%, que inclui todas as idades.
Segundo a OIT, o número de novos desempregados aumentou em 5 milhões no mundo no ano passado, totalizando 202 milhões de pessoas sem emprego.
O leste e o sul da Ásia representam mais de 45% dos novos desempregados no mundo em 2013, seguidos pelo África subsaariana e pela Europa.
Na América Latina, o número de novos desempregados em 2013 ficou pouco abaixo de 50 mil, o que representa apenas cerca de 1% da alta mundial.

Déficit mundial

“A fraca retomada econômica mundial não suscitou a melhora dos mercados de trabalho. O crescimento do emprego permanece fraco e o desemprego continua aumentando, sobretudo entre os jovens”, diz o relatório.
“Vários setores registraram lucros, mas eles foram investidos nas bolsas e não na economia real, prejudicando as perspectivas de emprego no longo prazo”, afirma a OIT.
Outro aspecto importante destacado pelo relatório é o número de quase 23 milhões de pessoas que “abandonaram” o mercado de trabalho desde o início da crise financeira mundial, em 2008, “desencorajados” pela falta de propostas.
A OIT afirma que o “déficit mundial” de empregos ligado à crise continua aumentando desde 2008 e já totalizava, no ano passado, 62 milhões (32 milhões de novos desempregados, 23 milhões de “desencorajados” que desistiram de procurar um emprego e 7 milhões de inativos - que nem chegaram a procurar um trabalho.
“Segundo as tendências atuais, o desemprego mundial deverá se agravar, ainda que progressivamente, e ultrapassar 215 milhões de desempregados em 2018”, diz o estudo. Ou seja, 13 milhões de novos desempregados nos próximos quatro anos.
“Nesse período, cerca de 40 milhões de novos empregos vão ser criados a cada ano, o que é inferior aos 42,6 milhões de pessoas que deveriam ingressar, anualmente, no mercado de trabalho”, afirma a OIT.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os 85 mais ricos do mundo têm o mesmo patrimônio de metade da população

Atualizado em  20 de janeiro, 2014 - 15:32 (Brasília) 17:32 GMT

Favela do complexo de Lins e estádio olímpico João Havelange ao fundo, no Rio de Janeiro (Reuters)
Apesar da diminuição na última década, Oxfam afirma que desigualdade no Brasil e na América Latina ainda é grande
Um relatório da ONG britânica Oxfam divulgado nesta segunda-feira mostra que o patrimônio das 85 pessoas mais ricas do mundo equivale às posses de metade da população mundial.
Segundo o documento chamado Working for the Few ("Trabalhando Para Poucos", em tradução livre), as 85 pessoas mais ricas do mundo têm um patrimônio de US$ 1,7 trilhão, o que equivale ao patrimônio de 3,5 bilhões de pessoas, as mais pobres do mundo.
O relatório ainda afirma que a riqueza do 1% das pessoas mais ricas do mundo equivale a um total de US$ 110 trilhões, 65 vezes a riqueza total da metade mais pobre da população mundial.
A Oxfam observou em seu relatório que, nos últimos 25 anos, a riqueza ficou cada vez mais concentrada nas mãos de poucos.
"Este fenômeno global levou a uma situação na qual 1% das famílias do mundo são donas de quase metade (46%) da riqueza do mundo", afirmou o documento.
"No último ano, 210 pessoas se tornaram bilionárias, juntando-se a um seleto grupo de 1.426 indivíduos com um valor líquido combinado de US$ 5,4 trilhões", destaca o relatório.
"É chocante que no século 21 metade da população do mundo - 3,5 bilhões de pessoas - não tenham mais do que a minúscula elite cujos números podem caber confortavelmente em um ônibus de dois andares", afirmou Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam.
Para Byanyima, "em países desenvolvidos e em desenvolvimento estão cada vez mais vivendo em um mundo em que as taxas de juros mais baixas, a melhor saúde e educação e a oportunidade de influenciar estão sendo dadas não apenas para os ricos mas para os filhos deles também".
"Sem um esforço concentrado para enfrentar a desigualdade, a cascata de privilégios e de desvantagens vai continuar pelas gerações. Em breve vamos viver em um mundo onde a igualdade de oportunidades é apenas um sonho", acrescentou.
Publicado dias antes do Fórum Econômico Mundial em Davos, o relatório detalha o impacto da crescente desigualdade em países desenvolvidos e outros em desenvolvimento.

América Latina e Brasil

O relatório da Oxfam apontou que alguns países, especialmente na América Latina, estão conseguindo ir contra esta tendência, diminuindo a desigualdade na última década.
"Entre os países do G20, as economias emergentes geralmente eram aquelas com maiores níveis de desigualdade (incluindo África do Sul, Brasil, México, Rússia, Argentina, China e Turquia) enquanto que os países desenvolvidos tendiam a ter níveis menores de desigualdade (França, Alemanha, Canadá, Itália e Austrália)", afirmou o documento.
"Mas até isto está mudando, e agora todos os países de alta renda do G20 (exceto a Coreia do Sul) estão vivendo o crescimento da desigualdade, enquanto o Brasil, México e Argentina estão vendo um declínio nos níveis de desigualdade."
A Oxfam destaca o caso brasileiro, apontando que o país teve "sucesso significativo na redução da desigualdade desde o início do novo século".
"Em parte devido ao crescente gasto público social, uma ênfase no gasto com saúde pública e educação, um programa de transferência de renda de larga escala que impõe condições para o recebimento (Bolsa Família) e um aumento no salário mínimo que subiu mais de 50% em termos reais desde 2003", afirmou o relatório.
A Oxfam alerta que a "democracia ainda é frágil e a desigualdade ainda é muito alta na região, mas a tendência mostra que problemas que eram insolúveis, as enormes disparidades de renda, podem na verdade ser enfrentados com intervenções políticas".

Leis e paraísos fiscais

A Oxfam também fez uma pesquisa em seis países (Brasil, Espanha, Índia, África do Sul, Grã-Bretanha e Estados Unidos) e mostrou que a maioria dos entrevistados acredita que as leis são distorcidas para favorecer os ricos.
Entre os países pesquisados, a Oxfam destaca a Espanha, onde oito em cada dez pessoas concorda com essa afirmação sobre as leis.
A ONG também destaca outro grande problema relacionado ao dinheiro que não paga impostos, ficando em paraísos fiscais.
"Globalmente, os indivíduos e companhias mais ricos escondem trilhões de dólares dos impostos em uma rede de paraísos fiscais no mundo todo - estima-se que US$ 21 trilhões estão escondidos sem registros", informou a ONG em seu relatório.
Segundo a ONG, que vai enviar representantes a Davos, os participantes do Fórum Econômico Mundial têm o poder de reverter o aumento da desigualdade.
A Oxfam pede que os participantes do fórum se comprometam a não sonegar impostos em seus países ou em países onde têm investimento, não usar a riqueza econômica para conseguir favores políticos que prejudiquem a democracia, apoiar os impostos progressivos sobre patrimônio e renda, enfrentar o sigilo financeiro e sonegação de impostos entre outras recomendações.
Além disso, a ONG também recomenda o estabelecimento de uma meta global para acabar com a desigualdade econômica extrema em todos os países, uma regulamentação maior dos mercados para promover crescimento sustentável e igualitário e a diminuição dos poderes dos ricos de influenciar os processos políticos.