Perceived Value Marketing - Notícias colhidas na internet que podem transformar valores.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Otimistas com dólar podem enfrentar mais problemas e ambiguidade do Fed põe rali à prova

Bloomberg
Lananh Nguyen e Netty Ismail
30/04/201517h04

(Bloomberg) -- Os altistas do dólar estão ficando mais preocupados com a possibilidade de que seus problemas estejam apenas começando.

A moeda americana perdeu valor pelo sétimo dia consecutivo nesta quinta-feira, a mais longa sequência de depreciação desde abril de 2011, depois que os estrategistas de política monetária do Federal Reserve indicaram que não há pressa para elevar as taxas de juros devido à desaceleração do crescimento. Os prejuízos fecham o primeiro declínio mensal do dólar desde junho.

A queda surpreendeu os especuladores, que apresentavam o maior otimismo em relação à moeda americana em pelo menos seis anos, o que levou os investidores a questionar a maior negociação unidirecional do mercado de câmbio, que movimenta US$ 5,3 trilhões. A divergência entre o Fed, que está tentando normalizar as taxas, e os mais de 20 bancos centrais de todo o mundo, que reduziram os juros neste ano, tinha feito com que as apostas no dólar parecessem quase infalíveis.

"A correção pode ser bem-sucedida, certamente muito mais do que vimos até aqui", disse Robert Tipp, estrategista-chefe de investimentos da divisão de renda fixa da Prudential Financial Inc. em Newark, Nova Jersey, por telefone, na quarta-feira. "Temos visto uma grande oscilação na confiança", disse Tipp, cuja empresa administra US$ 533 bilhões em bonds e moedas. No início do ano, ele tinha dito que a perspectiva de aumento nas taxas dos EUA apoiaria o dólar.

Correlação com dólar

Na semana passada, os investidores especulativos reduziram as apostas altistas líquidas no dólar ao nível mais baixo dos últimos seis meses, de 324.940 contratos, segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities.

O desempenho dos hedge funds de câmbio tem sofrido durante a queda. O indicador da Parker Global Strategies LLC, formado pelos 14 principais fundos cambiais, caiu 0,2 por cento em abril, seu pior mês desde que o dólar começou a subir em meados do ano passado.

O Bloomberg Dollar Spot Index -- que monitora o dólar em relação aos seus 10 principais pares, incluindo o euro, o iene e a libra -- ampliou sua queda na quinta-feira, um dia depois de o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) publicar um comunicado e dados que mostraram que, no primeiro trimestre, a economia dos EUA cresceu menos do que o previsto pelos analistas.

O dólar caiu 4,1 por cento neste mês, para US$ 1,1192 por euro, interrompendo um rali de 28 por cento observado no período de nove meses até março. Em relação à moeda do Japão, o dólar acumulou um avanço de dois meses antes de cair 1 por cento, em abril, para 118,91 ienes.

O Fed "continua esperando que, com uma acomodação adequada da política, a atividade econômica se expandirá a um ritmo moderado", disse o painel, no comunicado de quarta-feira. A taxa de referência para fundos federais vem sendo mantida perto de zero desde dezembro de 2008.

Apesar de que os analistas continuam esperando que o dólar suba neste ano, os especuladores agora estão mais altistas quanto ao iene em relação ao posicionamento médio de três anos das moedas, segundo cálculos do JPMorgan Chase Co.

"Embora a expectativa seja de que o dólar americano subirá quando o Fed começar a mexer nas taxas de juros e a endurecer a política monetária, essa subida não será fácil", disse Scott Smith, analista sênior de mercados da Cambridge Global Payments, provedora global de câmbio e pagamentos, de Calgary, no Canadá, na quarta-feira. "A ascensão do dólar americano foi rápida demais".

Título em inglês: Dollar Bulls Seen Facing More Pain as Fed Ambiguity Tests Rally

Para entrar em contato com os repórteres: Lananh Nguyen, em Nova York, lnguyen35@bloomberg.net; Netty Ismail, em Cingapura, nismail3@bloomberg.net
Fonte http://economia.uol.com.br/noticias/bloomberg/2015/04/30/otimistas-com-dolar-podem-enfrentar-mais-problemas-e-ambiguidade-do-fed-poe-rali-a-prova.htm

segunda-feira, 27 de abril de 2015

O mistério da homossexualidade em animais

Melissa Hogenboom
Da BBC Earth
Fêmeas de macaco-japonês
Cientistas notaram que fêmeas do macaco-japonês buscam prazer com outras fêmeas
Durante a temporada de acasalamento de inverno, a competição por uma fêmea de macaco-japonês é acirrada. Os machos não têm de disputar apenas com outros machos, mas também com outras fêmeas.


Entre esses animais, objetos de estudo do psicólogo Paul Vasey, da Universidade de Lethbridge, no Canadá, uma fêmea sobe na outra e estimula seus genitais esfregando-os na parceira. As duas se olham nos olhos durante a relação e tendem a permanecer semanas juntas, inclusive para dormir e se defender de possíveis rivais.

Já se sabe que o comportamento homossexual é bastante comum no reino animal, envolvendo de insetos a mamíferos. Mas será que é possível chamar esses bichos de homossexuais?

O primeiro livro que trouxe o assunto para o centro das discussões foi Biological Exuberance, de Bruce Bagemihl, publicado em 1999. O texto citava inúmeros exemplos de relações homossexuais em uma grande variedade de espécies, que logo viraram objeto de estudo sistemático por parte dos cientistas.

Evolução

Besouros-castanhos
Besouros machos depositam esperma em outros e acabam por fertilizar mais fêmeas


Segundo Vasey, apesar de centenas de espécies terem sido observadas em relações sexuais com parceiros do mesmo sexo em ocasiões isoladas, poucas delas fazem disso uma parte rotineira de suas vidas.

No caso dos macacos-japoneses, Vasey e sua equipe observaram que mesmo participando de relações sexuais com outras fêmeas, elas continuavam interessadas nos machos. Entre esses animais, as fêmeas frequentemente montam no macho, aparentemente para incentivá-los a acasalar.

Em alguns casos, existem razões evolucionárias para explicar o comportamento homossexual dos animais.

Por exemplo: em seus primeiros 30 minutos de vida, machos das moscas-das-frutas tentam copular com qualquer outra mosca, macho ou fêmea. Só depois eles aprendem a reconhecer o odor das fêmeas virgens e se concentram nelas.

Essa abordagem de tentativa e erro pode parecer ineficaz. Mas para o biólogo David Featherstone, da Universidade de Illinois, trata-se de uma boa estratégia. Na natureza, moscas de diferentes habitats podem apresentar misturas de feromônios ligeiramente diferentes.

"Um macho poderia perder a oportunidade de ter filhotes viáveis se fossem programados para reconhecer apenas um tipo de odor", afirma.

Os besouros-castanhos machos usam um truque diferente. Eles copulam entre si e até depositam esperma no parceiro. Se o macho que estiver carregando esse esperma acasalar depois com uma fêmea, esse esperma poderá ser transferido – assim, o macho que produziu o esperma fertiliza uma fêmea sem ter que cortejá-la.

Em ambos os casos, os machos estão usando um comportamento homossexual como uma maneira de fertilizar mais fêmeas.

Por isso, fica claro por que esses comportamentos podem ter sido favorecidos durante a evolução das espécies. Mas também se nota que essas duas espécies estão longe de serem estritamente homossexuais.

'Homo' ou 'bi'?

Entre aves, algumas fêmeas se unem a outras para cuidar de seus filhotes


Outros animais, no entanto, realmente parecem ser totalmente gays. Um deles é o albatroz-de-laysan, que vive no arquipélago americano do Havaí.

Entre esses enormes pássaros, os casais normalmente permanecem 'casados' por toda a vida e participam ativamente dos cuidados com os filhotes.

Mas em uma população da ilha de Oahu, 31% dos casais são formados por duas fêmeas sem parentesco entre si. E mais: elas cuidam de filhotes cujos pais são machos que já estão em um 'casamento estável' com outra fêmea, mas 'pulam a cerca' para acasalar com uma ou ambas as fêmeas do casal de mesmo sexo.

Segundo a bióloga Marlene Zuk, da Universidade de Minnesota, se as fêmeas de albatrozes não criassem seus filhotes com outra fêmea, teriam mais dificuldades para chocar seus ovos e buscar comida.

Mas, novamente, não se trata de animais inerentemente homossexuais. Estudos dessa e de outas espécies de pássaros sugerem que a união homossexual ocorre como uma resposta à falta de machos e é mais rara quando uma população tem uma proporção mais equilibrada entre os dois sexos.
Bonobos
Bonobos podem usar o sexo para ganhar influência em um grupo


E se olharmos para nossos parentes mais próximos, os primatas hominoides? Os bonobos, por exemplo, são uma espécie de chimpanzé extremamente ativa sexualmente. Tanto machos quanto fêmeas apresentam comportamentos homossexuais.

Mas o sexo entre esses animais também tem a função de consolidar as relações sociais. Bonobos podem usar o sexo para se aproximar de membros dominantes do grupo e assim ganhar mais status. Até mesmo os mais jovens costumam confortar outros com abraços e atos sexuais.

Algumas espécies de golfinhos também apresentam comportamentos homossexuais que os ajudam dentro do grupo. Mas, no fim, todos acasalam com membros do outro sexo para se reproduzirem.

Todas essas espécies seriam melhor descritas como 'bissexuais', pois transitam facilmente entre os dois comportamentos e não mostram uma orientação sexual consistente.

Homossexuais 'puros'

Carneiros e ovelhas
Segundo cientistas, 8% dos carneiros domesticados permanecem com sua opção pelo mesmo sexo


Apenas duas espécies reconhecidamente exibem preferência pelo mesmo sexo pelo resto da vida, mesmo quando há parceiros suficientes do outro sexo. Uma delas, claro, é a espécie humana. A outra é o carneiro domesticado.

Em rebanhos ovinos, até 8% dos machos preferem outros machos mesmo quando há fêmeas férteis no grupo.

Em 1994, neurocientistas descobriram que esses machos tinham o cérebro ligeiramente diferente do resto, com um hipotálamo menor – a parte que controla a liberação de hormônios sexuais.

Isso endossaria o polêmico estudo do neurocientista Simon LeVay, que em 1991 descreveu uma diferença entre a estrutura cerebral de homens gays e heterossexuais.

Mas LeVay acredita que carneiros selvagens não apresentam o mesmo comportamento. Segundo ele, o animal domesticado foi aos poucos sendo 'manipulado' por criadores para produzir fêmeas que se reproduzem o mais frequentemente possível, o que pode ter permitido o aumento do número de machos homossexuais.

Por isso, tanto LeVay quanto Vasey afirmam que os humanos são o único caso documentado de 'verdadeira' homossexualidade entre animais selvagens.

Talvez nunca encontremos um animal selvagem que seja estritamente homossexual como muitos humanos. Mas podemos estar certos de que vamos descobrir cada vez mais animais que não se encaixam nas categorias tradicionais de orientação sexual.

Eles usam o sexo para satisfazer todo tipo de necessidade, do simples prazer à afirmação social. E isso exige flexibilidade.


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/02/150211_vert_earth_animais_homossexuais_ml

domingo, 26 de abril de 2015

Robôs assassinos, uma arma ainda de ficção que já desperta temores

EFE26/04/201510h43
Cristina García Casado.

Washington, 26 abr (EFE).- Os robôs assassinos, máquinas capazes de matar sem a intervenção humana, só existem por enquanto na ficção científica, mas o desenvolvimento da tecnologia para construí-los alarma os defensores de direitos humanos.

"A tecnologia avança muito rápido nessa direção. Estados Unidos, Reino Unido, Israel, Rússia, China e Coreia do Sul desenvolveram ou planejaram precursores destas armas", declarou à Agência Efe Bonnie Docherty, especialista em armamento da Human Rights Watch (HRW).

Docherty é a autora principal de um relatório recente da organização com a Universidade de Harvard que pede a proibição do desenvolvimento, da produção e do uso de armas letais autônomas, conhecidas como robôs assassinos.

"Embora os especialistas não estejam de acordo em prever quando estas armas podem se materializar, todos concordam que seu desenvolvimento é factível e provável se não forem dados os passos necessários para detê-lo", comentou Docherty.

A tese por trás desta urgência é que a proibição deve chegar antes de os governos investirem tanto em tecnologia para desenvolver estas armas que não queiram retroceder depois.

"Se o desenvolvimento não for detido o mais rápido possível, existe o risco que versões preliminares sejam usadas de maneira prematura ou caiam nas mãos de grupos armados sem respeito à lei", argumentou Docherty.

"A comunidade internacional já considerou importante no passado proibir certos tipos de armas de maneira preventiva. Em 1995 a ONU proibiu as armas que produzem cegueira antes de começarem a ser usadas", acrescentou.

Ao contrário dos polêmicos "drones" - aviões não tripulados, os robôs assassinos não precisam da intervenção humana: podem selecionar e atacar alvos de maneira autônoma.

"Estes dois tipos de armas despertam diferentes temores. Mas o uso dos 'drones' demonstra que os exércitos cada vez confiam mais na tecnologia autônoma", destacou Docherty.

Um dos aspectos mais controvertidos das armas autônomas é o debate sobre a moralidade de permitir que uma máquina tome a decisão de matar uma pessoa.

Nesse caso, mesmo se o militar souberque um dos robôs assassinos está a ponto de matar um civil, não poderia fazer nada para impedi-lo.

Do mesmo modo, no caso de um corte nas comunicações, o militar não saberia o que a máquina está fazendo nem poderia evitar algum tipo de atuação indevida.

"Na maioria dos casos, nem o programador, nem o fabricante, nem o comandante, nem o operador poderiam ter responsabilidade legal pelos atos indevidos da máquina", ressaltou Docherty.

"Seria injusto e legalmente impossível responsabilizar um comandante se uma arma completamente autônoma cometesse um ato ilegal e imprevisto que ele não teve como impedir ou prever", acrescentou.

Em 2013 a ONU pediu aos Estados que aplicassem moratórias nacionais para parar os testes, a produção, a montagem, a transferência, a aquisição e o uso de robôs assassinos.

Na semana passada especialistas e representantes de 60 países-membros da ONU se reuniram em Genebra para debater os limites legais e éticos das armas autônomas.

"Buscamos simplesmente um pouco mais de clareza sobre o que são estas máquinas e como devemos emoldurá-las e/ou delimitá-las", explicou o diplomata alemão Michael Biontino, presidente da reunião.

"Por enquanto estamos muito longe de inclusive saber como são estas máquinas, que forma têm, como serão. De fato, acho que estamos distantes que existam porque é muito difícil programar uma máquina que tome tantas decisões por si só", concluiu. 



Fonte http://economia.uol.com.br/noticias/efe/2015/04/26/robos-assassinos-uma-arma-ainda-de-ficcao-que-ja-desperta-temores.htm

sexta-feira, 24 de abril de 2015

ANÁLISE-Petrobras precisa muito mais do que uma limpeza da corrupção

sexta-feira, 24 de abril de 2015 18:36 BRT
Por Jeb Blount

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A decisão da Petrobras de realizar uma enorme baixa contábil de 50,8 bilhões de reais para contabilizar ativos supervalorizados e custos relacionados à corrupção é apenas o início de uma reforma ampla e necessária para reavivar a conturbada estatal de petróleo brasileira.

Enquanto muitos estão focando nos 6,2 bilhões de reais, ou 12 por cento da baixa contábil, relacionados com valores desviados em um esquema de fixação de preços, suborno e propina --o maior de escândalo de corrupção da história do Brasil--, são os 44 bilhões de reais restantes que merecem maior atenção.

Essas baixas refletem decisões ruins de investimento, execução imperfeita, interferência política e a queda dos preços do petróleo, conforme a petroleira reconheceu em seus resultados auditados de 2014, publicados na quarta-feira.

"As baixas contábeis mostram que a Petrobras sofre mais com a incompetência do que com a corrupção", disse John Forman, ex-membro da diretoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

A gestão controlada por políticos e as leis de petróleo nacionalistas, que deixam a Petrobras sobrecarregada, com uma dívida líquida que já soma 282,1 bilhões de reais, e não a corrupção, continuam a ser as maiores ameaças para a empresa e para a economia do Brasil, que depende muito da gigante estatal para investimentos.

Depois de anos de aumento dos gastos e atrasos de projetos, a Petrobras é a petroleira mais endividada do mundo, um fardo que limita a sua capacidade de realizar investimentos necessários para aumentar a produção de petróleo e gás.

A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira que a petroleira mostrou que "superou todos seus problemas de gestão" ao divulgar nesta semana seu balanço anual que apontou prejuízo de 21,6 bilhões de reais em 2014.

"A empresa está muito alavancada", disse Frederico Mesnik, sócio da gestora de ativos Humaitá, em São Paulo. "Precisamos de grandes mudanças, começando com a substituição da equipe de gestão em favor de nomes não nomeados politicamente."

Mais de dois terços da baixa contábil que não está relacionada com a corrupção estavam nas refinarias Rnest e Comperj, que estavam entre os maiores projetos de infraestrutura do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), um dos carros-chefe da presidente Dilma Rousseff. Elas já custaram mais de 15 bilhões de dólares cada, bem acima do orçado inicialmente, mas permanecem incompletos, após anos de atrasos.

Ambos foram em frente, sem planejamento adequado, diz o Tribunal de Contas da União (TCU), em parte porque a administração enfrentou a pressão política para investir nos projetos.

Economistas estimam que os problemas relacionados com a Petrobras podem provocar um corte de até 1,5 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deste ano, acrescentando mais problemas para uma economia que já deverá entrar em sua pior recessão em duas décadas.

CUSTOSO CONTEÚDO NACIONAL

Enquanto a Petrobras tenta virar a página, deixando para trás o escândalo de corrupção, também enfrenta estritas regras de conteúdo nacional que impõem altos custos e resultam em qualidade questionável.

Por exemplo, a Sete Brasil, contratada para construir 28 navios-sonda de águas profundas no valor de cerca de 1 bilhão de dólares cada, está com problemas financeiros. Elas devem ser alugadas à Petrobras por mais de 500 mil dólares por dia, após construídas no Brasil.

Por causa dos preços mais baixos do petróleo, plataformas de perfuração estão agora disponíveis no mercado mundial a 400 mil dólares por dia ou menos. Mas a luta do governo para salvar a Sete Brasil deve prender a Petrobras à opção mais cara.

Enquanto se compromete com disciplina financeira, o novo presidente Aldemir Bendine tem procurado minimizar as restrições de investimento, enfatizando a importância da Petrobras para a economia do Brasil, levando alguns a questionar seu compromisso com reformas na empresa.

"Isso nos deixa com a impressão de que a Petrobras vai continuar a ser 'mais do mesmo'", disse o analista de petróleo Vinicius Canheu, do Credit Suisse, em São Paulo.

Gustavo Gattass, do Banco BTG Pactual, afirmou que há 80 por cento de chance da Petrobras ser obrigada a aumentar o seu capital. A diluição resultante seria um duro golpe para os investidores, que já sofreram com quedas das ações da Petrobras de mais de 50 por cento em sete meses.

PREOCUPAÇÕES COM A PRODUÇÃO

Durante anos, o governo forçou a Petrobras a subsidiar os preços domésticos dos combustíveis, causando bilhões de dólares em perdas de refino. Isso também impediu que a Petrobras atraísse parceiros de refino.

Há muito tempo os investidores gostariam de ver a Petrobras anunciar uma clara política de preços de combustíveis, mas Bendine, até agora, recusou-se a fazê-lo.

O petróleo mais barato também obrigou a Petrobras a realizar uma baixa contábil de 9,8 bilhões de reais de ativos de exploração e produção, área em que a empresa está sobrecarregada.

Devido a uma lei de 2010, que aumentou o papel do Estado no setor de petróleo, a Petrobras deve deter pelo menos 30 por cento de todos os novos projetos de exploração na região marítima mais promissora do país, o pré-sal, querendo ou não.

Como a Petrobras também deve desenvolver as áreas, o Brasil pode enfrentar a escolha de forçar a empresa a fazer investimentos que dificilmente suportaria ou renunciar a novas explorações para proteger as finanças da Petrobras. Os pedidos para acabar com as exigências da Petrobras e abrir as áreas para outras empresas têm caído em ouvidos surdos em Brasília.

No comando da Petrobras, Bendine reduziu investimentos da petroleira programados para 2015 para 29 bilhões de dólares, um terço abaixo da média anual projetada para 2014-2018, e cortou para 25 bilhões de dólares em 2016.

No entanto, é pouco provável que o crescimento da produção média anual de 4,5 por cento esperado para este ano e 3 por cento para 2016 gere caixa suficiente para reduzir a dívida. E os cortes de investimentos não significam necessariamente que a empresa vai parar de gastar em projetos deficitários.

"A Petrobras tem muito potencial", disse Forman, ex-diretor da ANP. "Mas é difícil ser otimista sobre uma empresa que tem tantos maus hábitos e é gerida por um governo que não vai admitir o custo pesado de suas políticas."

(Reportagem adicional de Silvio Cascione em Brasília e Asher Levine, em São Paulo)

© Thomson Reuters 2015 All rights reserved.

Fonte http://br.reuters.com/article/domesticNews/idBRKBN0NF2B120150424?sp=true

terça-feira, 21 de abril de 2015

Entenda o que está em jogo na publicação do balanço da Petrobras


Ruth Costas
Da BBC Brasil em São Paulo
Petrobras (AFP)
Petrobras está em crise desde que veio à tona esquema de corrupção de funcionários da empresa
Há uma grande expectativa em torno da divulgação do balanço da Petrobras de 2014, prometido para esta quarta-feira. Para economistas e analistas do setor, se tudo correr bem, esse pode ser o primeiro passo para uma solução da crise em que a empresa está mergulhada desde que a Operação Lava Jato revelou um extenso esquema de corrupção envolvendo seus funcionários.


Muitos opinam que um balanço auditado é essencial para evitar um aprofundamento dos problemas financeiros da empresa, já que, sem ele, os credores podem pedir o pagamento antecipado de dívidas da estatal.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometeu nesta segunda-feira, em Nova York, que a publicação dos resultados "marcará mais uma etapa na reconstrução da companhia".

As BBC entrevistou especialistas do setor para entender a importância dessa divulgação e os possíveis cenários que ela pode criar. Confira:

Por que os resultados de 2014 ainda não foram publicados?



A empresa de auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC) se recusou a assinar o balanço da Petrobras do segundo semestre do ano passado, depois que a Operação Lava Jato revelou a escala do esquema de corrupção que envolvia o superfaturamento de projetos da empresa.

Um dos principais problemas é que a Petrobras ainda não conseguiu calcular como esse esquema afetou seu patrimônio.

A metodologia para fazer esse cálculo precisa atender às exigências de órgãos reguladores não só do Brasil (CVM), mas também dos Estados Unidos (SEC), onde papéis da empresa são negociados.

Em janeiro, após adiar a publicação do balanço duas vezes, a Petrobras divulgou um resultado não auditado para o terceiro trimestre e uma estimativa preliminar de que seus ativos estariam superestimados em R$ 88 bilhões.

A conta, porém, não distinguia quanto desses recursos teriam sido desviados e quanto diriam respeito a problemas na execução de projetos e mudanças no câmbio.

Para alguns analistas, o valor muito alto e a forma como a estimativa foi divulgada teriam tornado insustentável a posição da então presidente da empresa, Maria das Graças Foster, que foi substituída pelo ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine.
Plataforma (AFP)
Petrobras terá de vender ativos para sair do aperto financeiro

Por que a divulgação é importante?



Sem resultados auditados, fica difícil para a empresa captar recursos e atrair investidores.

Parte dos seus credores também pode pedir o vencimento antecipado de suas dívidas se a publicação do balanço for novamente adiada, o que, segundo analistas, poderia levar a empresa à insolvência e exigir uma operação de injeção de capital pelo governo.

Wilber Colmerauer, diretor da consultoria Emerging Markets Funding, com sede em Londres, explica que esses demonstrativos financeiros servem de base para que investidores analisem a saúde financeira e as perspectivas da empresa. Sem eles, investir na Petrobras seria dar um tiro no escuro.

"O balanço vai permitir que o mercado e a própria Petrobras estimem o desafio que a empresa tem pela frente", diz Colmerauer.

"Fazer o cálculo do estrago o mais rápido possível é essencial para que a companhia deixe esse escândalo de corrupção de lado e se concentre nos seus projetos de exploração. A Lava Jato é assunto da polícia."

Para Paulo Paiva, professor da Fundação Dom Cabral, o balanço de 2014 pode ser "um marco" para a Petrobras.

"Ele pode começar a virar a página dessa situação de falta de transparência e má gestão na empresa. Por isso, as ações da Petrobras estão subindo na expectativa de sua divulgação."

O que deve ser incluído no balanço?



Além dos resultados contábeis referentes ao terceiro trimestre do ano passado e todo o ano de 2014, uma reavaliação dos ativos da empresa que considere os desvios do esquema revelado pela Lava Jato, problemas de planejamento e execução de projetos e a nova realidade do câmbio e dos preços do petróleo. Também será divulgado se os acionistas deverão - ou não - receber dividendos.

As previsões sobre o ajuste nos ativos da empresa variam muito. Há quem fale em uma redução de até R$ 30 bilhões, dos quais mais de R$ 5 bilhões seriam relativos ao superfaturamento de obras e desvios.

Há risco da divulgação ser novamente adiada?



Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), "o risco sempre existe". "Afinal, isso já aconteceu no passado. Mas hoje não saberia dizer se esse risco é pequeno, médio ou grande", diz ele.

"Vamos supor que na última hora a PwC se recuse a assinar o balanço... Não teremos certeza sobre o que vai acontecer até quarta-feira."

Já Paiva acha que essa possibilidade é muito pequena em função de todo o trabalho que tem sido feito para se conseguir chegar a um consenso sobre as demonstrações financeiras da empresa e dos custos que isso representaria para os atores envolvidos nesse processo.

"A essa altura já teríamos algum indício de problemas", diz ele.

Quais seriam as consequências de um novo adiamento?



Como já foi dito anteriormente, alguns credores poderiam pedir o vencimento de parte das dívidas da empresa - que ultrapassam os US$ 100 bilhões - o que poderia levar a estatal a uma situação de insolvência.

Muitos analistas acreditam que, neste cenário, o governo, como principal acionista da Petrobras, teria de fazer uma injeção de capital na empresa.

"Essa seria uma péssima notícia para acionistas minoritários, que teriam sua participação diminuída", diz Colmerauer.

"E o problema, para a empresa e para o Brasil, é que confiança é algo que se leva tempo para conquistar, mas que se perde muito rapidamente. A Petrobras já foi a maior empresa brasileira e é hoje a mais endividada. Um agravamento da sua crise financeira poderia causar um estrago grande na imagem da empresa e do país frente a investidores e fundos de pensão, que estão preocupados também com o destino dos seus fornecedores."

Pires concorda que, neste caso, a possibilidade de que o governo tenha de montar uma operação de salvamento da empresa seria considerável.

"E isso não só abalaria a confiança na empresa mas poderia até contribuir para que o Brasil perca seu grau de investimento. Esse é o cenário-tragédia", acredita Pires.

Qual seria o cenário ideal para a Petrobras?



O ideal para a empresa é que a reavaliação de ativos não surpreenda os mercados e que o balanço seja endossado por todos os 9 membros do seu conselho de administração, segundo Pires.

"Se alguém achar que tem algo errado e não quiser assinar o balanço, isso não vai ser bem visto", diz o diretor do CBIE.

Para Colmerauer, "ninguém espera que o balanço traga notícias muito boas". "Mas, se houver a percepção de que a empresa está virando uma página, começando a equacionar seus problemas financeiros e de transparência, isso será positivo."

Quais os próximos passos na solução da crise na Petrobras?



Os problemas da empresa não se resolvem com a publicação do balanço. "Esse é apenas o primeiro degrau de uma longa escada que a Petrobras precisa encarar para sair da crise", diz Pires.

Entre os desafios que a estatal tem pela frente estão a adoção de medidas para reforçar sua governança e os processos judiciais abertos contra ela nos Estados Unidos. A Petrobras também terá de revisar seus planos de investimentos e já anunciou que colocará bilhões à venda em ativos para conseguir uma folga em sua situação financeira.

Paiva lembra que há grande expectativa sobre qual será a composição do novo conselho de administração da empresa. Uma assembleia geral de acionistas deverá escolher novos integrantes para o colegiado no dia 29.

"O ideal é que o novo conselho tenha total autonomia e independência. A presença de ministros, por exemplo, pode gerar potenciais conflitos de interesses e não seria bom para a gestão da empresa", opina.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/04/150413_petrobras_balanco_entenda_ru

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Como a China está redefinindo a arquitetura financeira global



João Fellet
Da BBC Brasil em Washington

Crédito: AFP
No fim de 2014, 21 nações asiáticas aceitaram entrar no Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura (BAII) liderado pela China
No mesmo instante em que, na última sexta-feira, os líderes do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de outras agências multilaterais discutiam em seu tradicional encontro de primavera como revigorar suas operações, a poucas quadras dali, num prestigiado centro de pesquisas de Washington, o ministro chinês das Finanças, Zhu Guangyao, tentava tranquilizar a plateia afirmando que Pequim não pretende substituir a ordem econômica global.


Não parecia coincidência. Na véspera do encontro das duas organizações, fundadas sob a liderança dos Estados Unidos na metade do século passado e que desde então ditam as regras das transações econômicas globais, a China festejou a adesão de 56 países - entre as quais o Brasil - ao seu novo banco de desenvolvimento.

O Banco Asiático de Infraestrutura e Investimento (BAII), que deverá ser lançado ainda neste ano e financiará obras no mundo todo, tem sido considerado a última tacada de Pequim para se contrapor à influência americana no FMI e no Banco Mundial.

Em outra frente, os chineses se aliaram a seus parceiros nos Brics (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul) para criar o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que terá sede em Xangai e deverá ser inaugurado em 2016. Os Brics também preparam o lançamento do Arranjo Contingente de Reservas, um fundo nos moldes do FMI para socorrer membros do bloco em dificuldades.

Qual o futuro?



As ações chinesas levaram muitos a questionar na reunião de primavera do Banco Mundial e do FMI o que ocorrerá com essas organizações e outros bancos multilaterais quando as novas instituições amparadas por Pequim começarem a operar.

Em público, tanto o Banco Mundial, quanto o FMI deram as boas vindas às iniciativas chinesas. Mas os gestos de Pequim também reforçaram os apelos por reformas nessas instituições, para que se tornem menos burocráticas e cedam mais espaço para nações emergentes em seus círculos de decisão.

"É uma ótima notícia que um país como a China, sentada em mais de US$ 4 trilhões (R$ 12,1 trilhões) de reservas, ponha esses recursos a serviço do financiamento de infraestrutura e desenvolvimento em vez de investir em fundos de países ricos", diz à BBC Brasil Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), outra organização multilateral sediada em Washington.

Moreno afirma, porém, que a entrada da China nessa arena "força uma conversa sobre como nossas instituições, que têm muita experiência, podem ser mais ágeis e eficientes, e como podemos corrigir nossos processos".

Nos últimos anos, muitos países emergentes têm deixado de procurar bancos multilaterais para financiar obras de infraestrutura por causa das rígidas regras dessas organizações e de sua aversão a riscos.
Crédito: Stephen Jaffe
Tanto o FMI, quanto o Banco Mundial em Washington deram boas vindas às iniciativas chinesas


Paralelamente, bancos estatais da China passaram a conceder empréstimos bilionários a operações chinesas no exterior. A estratégia é mais visível na África, onde chineses têm financiado e realizado uma série de obras - entre as quais estradas, ferrovias e conjuntos habitacionais - em troca de matérias-primas.

Para os governos africanos, a parceria com os chineses se mostrou uma alternativa às lentas e complexas negociações com bancos multilaterais e países desenvolvidos, que costumam fazer uma série de exigências para liberar seus recursos.

Já críticos ao modelo chinês dizem que os empréstimos de Pequim são mais sujeitos a desvios e ignoram boas práticas trabalhistas e ambientais.

'Dos bilhões aos trilhões'



Sob a presidência do coreano-americano Jim Yong Kim, o Banco Mundial parece disposto a ampliar seu quinhão no financiamento de grandes obras mundo afora. A organização aprovou em 2014 um financiamento para que a República Democrática do Congo conduza os estudos para erguer oito hidrelétricas no país.

Estima-se que a obra custará ao menos US$ 50 bilhões (R$ 152 bilhões), o que a tornaria um dos maiores projetos já financiados pelo Banco Mundial.

Aumentar o volume dos empréstimos é um dos maiores desafios da instituição. O Banco Mundial calcula que em 2014 os financiamentos do órgão e de outras agências multilaterais somaram US$ 135 bilhões, enquanto todas as formas de investimentos entre países - como as que a China realiza na África - atingiram US$ 1 trilhão.

O presidente do banco tem dito que é preciso passar "dos bilhões aos trilhões", e para isso defende que as organizações multilaterais se aproximem de bancos privados.

Reforma atrasada



O avanço chinês também tem reforçado as cobranças para que o FMI conclua a reforma do seu sistema de cotas para dar mais poder a Pequim e outras potências emergentes.

O processo se iniciou em 2010, mas para ser posto em prática ainda precisa ser ratificado pelo Congresso dos Estados Unidos, maior acionista do fundo e onde muitos legisladores temem que a reforma enfraqueça Washington perante os rivais russos e chineses.

Em entrevista durante o encontro em Washington, a diretora-gerente do fundo, Christine Lagarde, cobrou os legisladores americanos a acelerar a aprovação para que "a instituição possa continuar a representar a comunidade inteira à medida que ela evolui".

O Brasil é um dos principais interessados na reforma. Em discurso à plenária do FMI no sábado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que a demora em concluir o processo não só frustra os membros do fundo, como ameaça sua a capacidade de operar.
Ministro da Fazenda, Joaquim Levy participou das reuniões do Banco Mundial e do FMI em Washington e é favorável à reforma do fundo

Apagando o fogo



O surgimento do BAII, o novo banco chinês de desenvolvimento, foi um dos principais temas discutidos nos corredores do evento da última semana em Washington.

Os Estados Unidos tentaram até a última hora enfraquecer a adesão de outros países ao banco, levantando dúvidas sobre a disposição chinesa em seguir padrões internacionais sobre a concessão de crédito.

Mesmo assim, até mesmo aliados próximos dos americanos - como Grã Bretanha, Coreia do Sul e Alemanha - decidiram integrar a organização, que deverá começar a operar até o fim deste ano.

Em Washington, o ministro das Finanças da China, Zhu Guangyao, tratou de acalmar os ânimos americanos.

Em evento no Atlantic Council, ele afirmou que o BAII não substituirá o Banco Mundial, mas sim o complementará.

Ele disse ainda que a China está empenhada em fortalecer o FMI e o Banco Mundial, mas que os órgãos precisam de reformas para melhor assistir países em desenvolvimento.

Entre os bancos multilaterais em Washington, o discurso também é conciliatório. Os líderes do BID, do FMI e do Banco Mundial já disseram querer cooperar com as novas instituições chinesas.

O governo chinês também deverá buscar a aproximação. Observadores avaliam que Pequim está interessada na vasta expertise dessas instituições, o que tornaria a relação vantajosa para os dois lados.


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/04/150418_bancos_desenvolvimento_china_jf_rm

sábado, 18 de abril de 2015

HSBC PODE DEIXAR O BRASIL, DIZ FINANCIAL TIMES

DESINVESTIMENTO NO PAÍS, CONFORME O JORNAL, FAZ PARTE DO PLANO DO BANCO DE SAIR DE MERCADOS EMERGENTES EM UM ESFORÇO PARA SER "SIMPLES E MENOR"
ESTRATÉGIA ESTÁ ACELERADA E INCLUI
NÃO SÓ VENDA DE ATIVOS NO BRASIL,
MAS TAMBÉM NA TURQUIA, CONFORME PUBLICOU O FT


Envolvido em uma série de escândalos e diante de fracos resultados financeiros em vários países, o banco britânico HSBC considera vender a operação de varejo e uma parte do seu banco de investimento no Brasil como parte do seu novo plano estratégico, segundo a edição online do jornal Financial Times. O desinvestimento no Brasil, conforme a publicação, faz parte do plano do banco de sair de mercados emergentes em um esforço para ser "simples e menor".

Essa estratégia está acelerada e inclui não só venda de ativos no Brasil, mas também na Turquia, conforme publicou o FT, citando fontes que pediram anonimato. A saída de mercado emergentes vai, de acordo com a publicação, de encontro com o direcionamento anterior, que durante anos foi seguido pelo HSBC, de ser um banco global com atuação local.

Considerado o maior banco europeu em valor de mercado e com presença em mais de 80 países, a instituição tem adotado uma postura mais defensiva após o envolvimento em uma série de escândalos e ter apresentado o lucro anual mais baixo dos últimos cinco anos. A filial do HSBC na Suíça é personagem central de um escândalo tributário que está sendo investigado em vários países. A subsidiária teria colaborado com algumas dezenas de milhares de clientes para evitar o pagamento de impostos. No Brasil, o HSBC também está sendo investigado por suposta relação entre contas da filial suíça com o escândalo de corrupção na Petrobras.

A Agência Estado entrou em contato com a área de comunicação do HSBC em Londres, mas nenhum porta-voz estava disponível para comentar o tema. Em fevereiro, o HSBC anunciou que a filial brasileira registrou prejuízo de US$ 247 milhões em 2014. Esse foi o pior resultado entre todas as filiais latino-americanas. A direção do banco explicou que o prejuízo foi gerado pelo ambiente econômico desfavorável e a continuidade dos ajustes gerados pelo reposicionamento do banco no país.

Em meio ao fraco resultado no Brasil, a instituição financeira fez uma grande provisão de US$ 640 milhões durante o 4º trimestre na América Latina, sem detalhar em qual país. Vale lembrar, porém, que várias instituições financeiras fizeram provisão ante o risco de eventual problema em empréstimos corporativos, especialmente ligados ao setor de petróleo e gás e construção.

Sem a provisão, o conjunto das unidades da América Latina do HSBC teria tido lucro ao invés do prejuízo reportado. Na região, as filiais mais importantes são do Brasil, Argentina e México. O HSBC detalha anualmente o resultado financeiro de 21 filiais. Entre todas as subsidiárias, Brasil e Turquia têm reportado prejuízos consecutivos no segmento de varejo. Na filial brasileira, as perdas acontecem desde 2013. Na Turquia, a o resultado não é positivo desde 2012. Junto, o varejo das duas unidades gerou perdas de US$ 549 milhões nos últimos anos à sede. Entre as demais filiais, não há persistência de prejuízos como nos dois países emergentes.

No ano passado, a unidade de varejo da França também teve perda de US$ 181 milhões. O resultado negativo, porém, parece um ponto fora da curva, já que a unidade francesa apresenta normalmente o segundo melhor resultado da Europa - atrás apenas da sede no Reino Unido. No início do mês, a imprensa mexicana também publicou que o banco inglês estuda vender os ativos no país e no Brasil. Segundo o jornal El Financiero os bancos Scotiabank e Ve por Más estariam negociando a compra. Procurado, o HSBC disse que não comentaria especulações de mercado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
Fonte http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Dilemas/noticia/2015/04/hsbc-pode-deixar-o-brasil-diz-financial-times.html

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O que significa para Cuba sair da 'lista negra' dos EUA?

Foto: AP

Em dezembro, EUA e Cuba anunciaram um acordo para reestabelecer as relações diplomáticas
A retirada de Cuba da lista americana de países patrocinadores do terrorismo simboliza o fim de um dos maiores entraves à normalização da relação entre os dois países, mas o fim do embargo econômico ainda é incerto.


Na terça-feira, o presidente americano Barack Obama enviou ao Congresso um documento em que garante que o governo de Cuba não apoiou o terrorismo internacional nos últimos seis meses e não o fará no futuro.

O anúncio é a decisão concreta mais importante do Executivo americano, dentro de seus poderes, sobre a intenção de desmontar as estruturas que durante tanto tempo impediram um vínculo entre as duas nações, segundo o correspondente da BBC Mundo em Washington, Thomas Sparrow.

No entanto, o embargo econômico é uma lei independente da presença do país na "lista negra", e sua revogação está nas mãos do Congresso – onde encontrará uma série de opositores de peso como os senadores republicanos Marco Rubio e Robert Menéndez.

Washington está proibida de exportar ou de vender armas aos quatro países que considera como patrocinadores do terrorismo. Além disso, controla certas exportações que poderiam melhorar suas capacidades militares e restringe a ajuda econômica a estes países.

No caso particular de Cuba, estas sanções aprofundavam as que já haviam sido impostas pelo embargo econômico, que segue vigente e continua definindo a relação entre ambos.


Por isso, Cuba seguirá afetada por restrições históricas mesmo após sair da lista de patrocinadores do terrorismo. No entanto, o anúncio deve deixar o país em uma posição mais distante na ordem de "prioridade na implementação de sanções", diz Arturo López Levy, pesquisador de temas cubanos na faculdade de Estudos Internacionais da Universidade de Denver, no Colorado, à BBC Mundo.

Leia mais: Casa Branca anuncia retirada de Cuba da lista de 'patrocinadores do terror'
Como os EUA veem Cuba

Mas talvez o efeito mais importante da decisão seja a mudança que ela pode operar na maneira como a administração americana enxerga a ilha.

"De um país que tem sido, por hábito, considerado uma ameaça, Cuba vai parecer cada vez mais um país em transição", diz López Levy.

"Isso representa um diagnóstico que requer um tipo de política diferente e, nesse sentido, ganha tração a ideia de uma política de intercâmbio e comércio com Cuba como a maneira mais apropriada de lidar com a nova situação."

Foto: Reuters
Mesmo que saia da lista de patrocinadores do terrorismo, Cuba ainda sofrerá os efeitos do embargo econômico


Desde 1982, Cuba fazia parte da lista de países patrocinadores do terrorismo, elaborada anualmente pelo Departamento de Estado, que também inclui o Irã, o Sudão e a Síria.

Washington argumentava que a ilha supostamente oferecera refúgio a membros do grupo separatista basco ETA e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), além de abrigar fugitivos americanos.

Para López Levy, o novo momento também facilita os negócios de outros países com Cuba, porque elimina a dramaticidade associada à ideia de ter uma relação com um país classificado como terrorista pelos Estados Unidos.

'Injusta e infundada'

Foto: AFP
O governo Obama quer avançar na reaproximação com Cuba, mas encontra a resistência do Congresso


Por outro lado, a decisão de Washington também responde às demandas de Cuba, apresentadas volta e meia nos últimos meses, de que o país fosse retirado da lista, que considera "injusta" e "infundada".

Ao anunciar sua decisão, o governo Obama confirmou que, em sua visão, o governo de Raúl Castro não apoiou o terrorismo internacional no passado imediato e oferece garantias de que não o fará novamente.

Estes foram os dois elementos chave que o Departamento de Estado americano precisou revisar antes de apresentar a recomendação da retirada de Cuba à Casa Branca.

Sobre o primeiro ponto, o mesmo Departamento de Estado já havia reconhecido que Cuba se distanciou do ETA e está mediando as negociações de paz entre o governo da Colômbia e as Farc. O Departamento de Estado também diz não ter indicação de que Havana tenha "oferecido treinamento paramilitar a grupos terroristas".

No entanto, Cuba provavelmente permaneceu na lista por questões políticas e entraves como a detenção, até o mês de dezembro passado, do ex-funcionário do governo americano Alan Gross.

Era justamente o segundo ponto – as garantias de não repetição – que parecia mais difícil de comprovar. Por isso, o anúncio de Washington também pode ser entendido como um gesto de confiança na reaproximação entre os dois países.

Agora, o Congresso terá pouco menos de 45 dias para revisar e dar sua opinião sobre a retirada de Cuba da lista. A decisão final, no entanto, continuará sendo do poder Executivo.


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/04/150415_cuba_eua_lista_cc