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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Crise do Brasil preocupa vizinhos da América do Sul

Marcia CarmoDe Buenos Aires

para a BBC Brasil

30 julho 2015

Encontro do Mercosul, em 17 de julho; analistas dizem que crise brasileira causa inquietude no continente
A crise política e econômica brasileira tem sido acompanhada com preocupação pelos países da América do Sul. O grau de inquietude muda de acordo com a intensidade da relação de cada país da região com o Brasil, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Três motivos justificam a apreensão: a incerteza política; o fato de a Petrobras e empreiteiras investigadas na Lava Jato terem investimentos na região; e os possíveis efeitos da recessão econômica brasileira.
Maior economia regional, o Brasil costuma ser chamado pelos vizinhos de "gigante da América do Sul" - um gigante que tanto pode influenciar sua vizinhança por sua "saúde" ou "por seus problemas".
"Parece que estamos vendo o fim do ciclo" de influência do Brasil em países como Bolívia, Argentina e Venezuela, opinou o analista político e econômico boliviano Javier Gómez, do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Trabalhista e Agrário (CEDLA, na sigla em espanhol), em La Paz.
Na Argentina, a maior preocupação atual é com a desvalorização do real, que poderia afetar a economia do país e o comércio bilateral, de acordo com economistas.
Ao mesmo tempo, analistas argentinos estão atentos aos fatos políticos, "como o risco de impeachment" e seu possível efeito nos investimentos internacionais.
Nos países com menor vinculo econômico e comercial com o Brasil, as preocupações são outras. No Chile, a expectativa é se a situação política chegará a comprometer a esperança de que o Brasil se aproximará da Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, Peru e México).
"(A presidente) Dilma enfraquecida afeta interna e externamente", disse o professor de Ciências Política Guillermo Holzmann, da Universidade de Valparaíso.
No Peru, na Colômbia e no Equador, as atenções se voltam sobretudo ao desenrolar das investigações da operação Lava Jato envolvendo as empreiteiras brasileiras com obras milionárias em seus territórios.
Confira as principais preocupações de nossos vizinhos.
Foto: Thinkstock
Na Argentina, maior preocupação é com a desvalorização do real e seus efeitos no comércio bilateral

Argentina

Em função dos fortes vínculos econômicos e comerciais com a Argentina, o Brasil tem sido citado nas conversas de políticos e empresários argentinos que temem que a crise política complique ainda mais o governo de Dilma Rousseff e que a desvalorização do real afete a economia vizinha.
Nos últimos dias, a Lava Jato e os possíveis efeitos cambiais têm sido destaque na imprensa argentina.
"O Brasil preocupa muito. Primeiro pela recessão, porque um Brasil que retrocede afeta diretamente a Argentina", disse o economista Marcelo Elizondo, da consultoria econômica DNI, de Buenos Aires. Segundo ele, 50% das exportações industriais argentinas são enviadas ao Brasil e a retração econômica brasileira significa menos compras externas.
Além disso, a desvalorização do real torna os produtos argentinos mais caros ao mercado brasileiro.
"Em relação ao âmbito político, existe inquietude entre setores empresariais daqui porque o governo brasileiro realiza reformas econômicas que perdem vigor em função da crise política", disse.
Nos bastidores de alguns setores políticos e entre analistas comenta-se em Buenos Aires que, se a crise política brasileira continuar, pode "ter eco" na política da Argentina, que elege o sucessor de Cristina Kirchner em outubro.
"O próximo governo (argentino) não terá o poder que tem o de Cristina. E se o risco de impeachment de Dilma aumentar, poderá ter eco aqui", disse um dos analistas, pedindo anonimato. "Um Brasil fraco não é bom para a Argentina. Investidores que esperam o novo governo para investir, pensando em exportar ao Brasil a partir do ano que vem, podem acabar revendo seus planos, infelizmente."

Bolívia

A Bolívia tem percebido três efeitos econômicos ligados ao Brasil, segundo o analista político e econômico Javier Gómez, da CEDLA: "Retração nos investimentos da Petrobras no país, desvalorização do real (o que facilita as importações de produtos brasileiros já realizadas pelo país andino) e a queda no preço do gás exportado para o Brasil, em função do recuo do preço internacional do petróleo".
Crise coloca em xeque a atuação da Petrobras na exploração de combustíveis na Bolívia (acima)
Porém, o que tem intrigado analistas bolivianos é a política brasileira. "Nos últimos anos, o Brasil foi um modelo (político, econômico e social) que influenciou outros países como a Bolívia, a Argentina e a Venezuela. Mas parece que estamos vendo o fim desse ciclo", disse Gómez.
Quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência, em 2003, foram intensificadas as viagens presidenciais aos países da América do Sul – o que não ocorreu na gestão Dilma. Nas viagens de Lula, principalmente, foram anunciados diferentes acordos bilaterais e regionais e obras de empreiteiras brasileiras na região.
O período coincidiu ainda com a maior presença da Petrobras na região, incluindo na Bolívia.
"As coisas estão mudando. A Petrobras tem o direito de produzir 70% da produção do gás do país, mas, com os investimentos da empresa estancados, o país já busca outros parceiros", agregou Gómez.

Chile

No Chile, analistas entendem que o quadro atual da política e da economia brasileira preocupa não somente a América do Sul, mas "ao mundo", afirmou por e-mail o professor de Ciências Política da Universidade de Valparaíso, Guillermo Holzmann.
"O impacto (no Chile) do quadro atual brasileiro parece mínimo devido ao contexto (de recuo) na China e (crise) na Grécia, mas sem dúvida é um caso de preocupação mundial", afirmou.
Segundo ele, a principal preocupação no Chile hoje é que a situação no Brasil "afete os planos de incorporação (do país) na Aliança do Pacífico e aos investimentos ligados às exportações (brasileiras) através de portos chilenos para o Pacífico".
Outro analista chileno, Ricardo Israel, da Universidade Autônoma do Chile, foi mais direto ao dizer que o quadro atual mostra novamente o "Brasil como o eterno país do futuro".
"Quando parece que vai decolar como potência e chegar ao desenvolvimento, algo acontece. Normalmente uma ferida autoprovocada que o faz retroceder."

Peru, Equador e Colômbia

Empreiteiras brasileiras investigadas na Lava Jato têm diferentes projetos nesses três países. Os empreendimentos incluem obras de infraestrutura, irrigação e mineração, entre outros.
Empreiteiras como a Odebrecht têm contratos de obras em países da região
No Peru, muitos dos acordos foram assinados nos governos de Alejandro Toledo (2001-2006) e Alan García (presidente pela última vez entre 2006 e 2011).
Os dois planejariam ser candidatos à sucessão do atual presidente Ollanta Humala, em 2016, e especula-se que, dependendo do andar das investigações da Lava Jato no Brasil, a operação poderia "atingir a campanha presidencial" e operações anticorrupção semelhantes no Peru.
Especialista em Economia, o professor da Universidade de San Marco, Carlos Aquino, disse que em termos econômicos a crise brasileira não afetaria os peruanos. Quando perguntado sobre as empreiteiras disse que "até agora são especulações".
Na Colômbia, segundo o jornal El Tiempo, o governo estaria "ativando os controles" para evitar problemas nos contratos assinados com a Odebrecht. "O vice-presidente Germán Vargas Lleras disse que o estatuto anticorrupção prevê que qualquer condenação internacional em termos de subornos inabilitará uma empresa por 20 anos para contratos com o Estado", informou.

Paraguai e Uruguai

Nos dois menores países do Mercosul, a crise brasileira também tem sido destaque diário na imprensa e tema nas conversas de autoridades locais.
No entanto, no caso do Paraguai, o analista político e econômico Fernando Masi, do Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia, disse que a percepção é que o Brasil vai sair "rápido" da crise por ter "poder político" e "instituições fortes". Ele admitiu, porém, que o Paraguai deverá crescer menos que o esperado neste ano, em função da recessão brasileira.

Venezuela

Por estar tão atolada em sua própria crise, a Venezuela tem olhado pouco para o que acontece no Brasil, segundo o analista venezuelano Luis Vicente León, da consultoria Datanalisis, de Caracas.
"São tantos problemas aqui que o Brasil tem surgido de forma muito paralela em algumas conversas, mas não é o que preocupa nesse momento", disse.
Segundo ele, além das incertezas no governo de Nicolás Maduro, existe preocupação com a queda no preço internacional do petróleo – essencial para o país.
"Lula foi muito próximo de Chávez e Dilma é muito cordial com Maduro, mas hoje Cuba tem maior influência aqui do que o Brasil", disse.
Segundo ele, porém, a oposição venezuelana poderia chegar a incluir os casos de corrupção envolvendo empreiteiras brasileiras na campanha para a eleição legislativa de dezembro.



Fonte http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150729_vizinhos_crise_brasil_pai_mc

terça-feira, 28 de julho de 2015

Dólar reduz alta, após chegar a R$3,43 por preocupação com grau de investimento

terça-feira, 28 de julho de 2015 16:48
BRT
Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar reduziu o avanço na tarde desta terça-feira, após atingir 3,43 reais depois que a Standard & Poor's sinalizou que o país pode perder o grau de investimento, com investidores ponderando que a deterioração do crédito do país já estava parcialmente embutida nos preços.

Às 15:38, o dólar avançava 0,69 por cento, a 3,3873 reais na venda. Na máxima da sessão, a moeda norte-americana avançou 2 por cento e atingiu 3,4353 reais, maior nível intradia desde 21 de março de 2003 (3,4600 reais). Nas últimas quatro sessões, o dólar acumulou valorização de 6 por cento.

"O mercado estava esperando algo semelhante. A surpresa é que veio da S&P, e não da Moody's", afirmou o economista da 4Cast Pedro Tuesta, lembrando que a Moody's está prestes a avaliar a nota do país novamente.

Tuesta argumentou ainda que a alta do dólar perdeu força à tarde após a analista da S&P Lisa Schineller dizer esperar que o cenário fiscal melhore e que o país evitará o rebaixamento. "Não sei por que pioraram a perspectiva, então", afirmou o economista.

A agência, que já tem a nota do Brasil no último degrau antes de perder o grau de investimento, argumentou que sua decisão vem da série de investigações de corrupção envolvendo empresas e políticos, que pesam cada vez mais sobre os cenários econômico e fiscal brasileiros. Informou ainda que o país enfrenta circunstâncias políticas e econômicas desafiadoras.

Investidores já vinham demonstrado preocupação com a possibilidade de o Brasil perder seu grau de investimento, após cortes nas metas fiscais do governo deste e dos próximos anos surpreenderem e decepcionarem os mercados financeiros.

O cenário político conturbado também pesa neste momento, em que o governo depende muito do Congresso --em pé de guerra com o Executivo-- para aprovar as medidas de ajustes fiscais. Nesta manhã, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, voltou a afirmar que fará todos os esforços junto ao Legislativo "para garantir a previsibilidade fiscal".

Outro fator importante para os próximos passos do dólar é a reunião do Federal Reserve, banco central norte-americano, que termina na quarta-feira. Sinalizações de que o Fed caminha para elevar os juros ainda neste ano podem servir de gatilho para a moeda norte-americana dar mais um salto, afirmaram operadores, uma vez que pode atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados no Brasil.

"A verdade é que o dólar não tem motivo para cair. Qualquer queda vai ser um alívio temporário", disse mais cedo a operadora de um banco nacional.

O atual momento do mercado de câmbio também fez investidores redobrarem a atenção sobre a intervenção do Banco Central, já que a valorização da moeda norte-americana tende a pressionar a inflação ao encarecer importados. O sinal mais imediato será o anúncio da rolagem dos swaps cambiais que vencem em setembro, equivalentes a venda futura de dólares.

Nos últimos meses, o BC tem feito rolagens parciais e caminha para repor cerca de 60 por cento do lote de agosto, equivalente a 10,675 bilhões de dólares. Operadores têm afirmado que, se mantiver essa proporção para o lote de setembro, o BC sinalizaria que está confortável com o avanço da moeda norte-americana.

Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total no leilão de rolagem de swaps cambiais. Com isso, já rolou o equivalente a 5,684 bilhões de dólares, ou cerca de 53 por cento do lote que vence no início de agosto, que corresponde a 10,675 bilhões de dólares.

© Thomson Reuters 2015 All rights reserved.

Cinco coisas que vão dar o que falar hoje

Bloomberg
Lorcan Roche Kelly
28/07/201512h22

(Bloomberg Business) - O petróleo Brent entra em um mercado baixista, o Reino Unido cresce pelo décimo trimestre consecutivo e o Twitter publicará seus lucros após o encerramento do pregão. Eis alguns assuntos que vão dar o que falar nos mercados hoje.

Petróleo entra em mercado baixista

O Brent fechou nesta segunda-feira em Londres 20 por cento abaixo do pico atingido em maio e cumpriu a definição comum de mercado baixista. Apesar da queda recente, não há sinais de ajuste da oferta e a produção dos EUA e da OPEP continuam batendo recordes.

Grandes petroleiras são afetadas

A gigante do petróleo BP Plc informou uma queda de 64 por cento nos lucros do segundo trimestre, para US$ 1,3 bilhão, bem abaixo da média estimada de US$ 1,7 bilhão de 17 analistas consultados pela Bloomberg. A BP explicou que o declínio se deve a US$ 600 milhões em baixas contábeis incorridas pelo conflito na Líbia. A Statoil da Noruega superou as estimativas com uma renda líquida excluindo itens financeiros e de outro tipo que caiu menos do que o esperado, para 7,2 bilhões de coroas norueguesas (US$ 878 milhões).

PIB do Reino Unido

O Reino Unido informou sua décima expansão consecutiva nesta manhã, com um crescimento do PIB informado em 0,7 por cento no segundo trimestre, em linha com as expectativas. O crescimento foi impulsionado pelos serviços e pelo setor de petróleo. A fabricação industrial caiu 0,3 por cento durante o trimestre.


Volatilidade na China

O Shanghai Composite Index da China fechou com uma baixa de 1,7 por cento depois de uma sessão volátil na qual o índice chegou a cair 5,1 por cento e ganhar 1 por cento. O analista Tom DeMark prevê que o índice de Xangai recuará para 3.200 pontos nas próximas três semanas, pois a atual corrida para venda se assemelha ao colapso de Wall Street em 1929.




Lucros


A temporada de lucros continua hoje com informes da Merck, da Pfizer e da Ford. O Twitter Inc. deverá informar seus ganhos após o fechamento dos mercados e os analistas esperam lucros de 4,2 centavos de dólar por ação. Este é o primeiro trimestre de Jack Dorsey como CEO de uma empresa de capital aberto e vai valer a pena prestar atenção a qualquer indício sobre se ele pretende permanecer no cargo.

Título em inglês: 'Five Things Everyone Will Be Talking About Today'

Para entrar em contato com o autor:Lorcan Roche Kelly, lrochekelly@bloomberg.net

sábado, 25 de julho de 2015

Ajuste fiscal: O remédio pode matar o doente?

Ruth Costas

Da BBC Brasil em São PauloFoto: Thinkstock


Para alguns, ajuste muito duro pode empurrar país para uma ciclo vicioso; para outros, sem ajuste contundente, país tende a perder confiança dos investidores.

O governo anunciou na quarta-feira uma revisão da sua meta para o chamado superávit primário - a economia para o pagamento dos juros da dívida pública.
Para 2015, a meta foi reduzida de 1,1% para 0,15% do PIB - o que significa que, em vez de economizar R$ 66,3 bilhões, o governo deve economizar apenas R$ 8,7 bilhões este ano.
Além disso, a equipe econômica também anunciou cortes de gastos de R$ 8,6 bilhões e já alertou que o setor público pode até ter um déficit de R$ 17,7 bilhões (0,3% do PIB) se iniciativas como o projeto para a repatriação de recursos de brasileiros no exterior não renderem os recursos esperados.
Segundo os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, a revisão teve de ser feita principalmente porque a desaceleração da economia derrubou a arrecadação do governo. Ou seja, com a economia em dificuldade, empresas e pessoas físicas acabaram pagando menos impostos.
O problema reabriu o debate sobre o ajuste fiscal no Brasil.
Para alguns, um ajuste muito duro pode empurrar o país para uma ciclo vicioso em que os cortes causam recessão, que acaba por estimular mais cortes.
Outros, acreditam que sem um ajuste contundente, o país tende a perder a confiança dos investidores.

Mas, afinal, quando o tema é ajuste fiscal, o remédio pode matar o doente? Confira duas visões opostas sobre o tema:

SIM

André Biancarelli, professor de Economia da Unicamp
"O ajuste está sendo feito para recuperar as contas e reduzir o tamanho da dívida pública. O problema é que um ajuste fiscal muito duro em uma economia em recessão costuma ter como resultado uma redução ainda maior da atividade produtiva - principalmente se houver corte no investimento do setor público, como é o caso do Brasil.
Se a economia desacelera, as empresas e contribuintes pagam menos imposto, a arrecadação cai e você não só não consegue retomar o crescimento como ainda acaba com uma dívida ainda maior do que quando começou a fazer o ajuste. Ou seja, no final acaba 'enxugando gelo', como mostra a experiência recente de países europeus.
É claro que não dá para culpar apenas o corte no orçamento pela freada recente na economia e (pela) a queda na arrecadação que contribuiu para que o governo tivesse de revisar suas metas para o superávit primário nesta quarta-feira. Há a crise política, a Lava Jato e etc. Mas também não há como negar que os cortes pioraram a situação, que são pró-cíclicos.


A revisão dessas metas, na realidade, é um reconhecimento do governo de que o ajuste precisava ser mais gradual.
A atual gestão cometeu ao menos três erros no ajuste. O primeiro, foi não ter adotado esse gradualismo desde o começo, com metas menos ambiciosas, mais realistas para um contexto de economia estagnada. O segundo, ter demorado para começar a discutir medidas para aumentar a arrecadação, como esse projeto de repatriação de recursos de brasileiros no exterior. Um imposto sobre herança ou sobre grandes fortunas também poderia ser interessante.
Por último, o governo poderia ter evitado cortar investimentos. Eles são as primeiras vítimas da tesoura porque são discricionários e boa parte das despesas são engessadas, mas era preciso ter encontrado formas de preservá-los, ou mesmo ampliá-los.
Para sair da crise o ideal seria que o governo desse sinais de que irá agir na contramão do atual ciclo econômico, que irá tomar medidas que ajudem a destravar a economia. O programa de concessões é um exemplo do que pode ser feito, mas seria preciso estudar outras medidas."

NÃO

João Luiz Mascolo, Professor de Finanças do Insper
"O que está matando o doente, na realidade, é a falta de remédio. Para manter a dívida pública estável precisávamos de um superávit de, no mínimo 2,5% do PIB. O 1,1% que o governo prometia fazer já era pouco mas o atual 0,15% é insignificante. Não é ajuste, é desajuste.
A questão é que a falta de confiança dos investidores é hoje um dos principais problemas da economia brasileira e isso só pode ser resolvido com um ajuste fiscal duro e sério.
Os cortes nos investimentos do governo de fato podem ter um efeito negativo na economia. Mas o argumento de que tal efeito é suficiente para minar o ajuste é uma falácia porque, com o tempo, ele pode ser compensado por um aumento do investimento privado, que certamente ocorrerá se o país conseguir trazer a inflação para o centro da meta (estabelecida pelo Banco Central, de 4,5%), colocar em dia as contas públicas e reconquistar a confiança dos empresários.


Sem um ajuste sério, corremos o risco de ter nossa nota rebaixada pelas agências de classificação de risco internacionais, perder acesso a mercados de crédito e investimentos - o que pode complicar ainda mais a situação da economia brasileira.
Nessa linha, acredito que o governo errou ao revisar sua meta fiscal, de 1,1% para 0,15% porque perdeu credibilidade.
Se houve uma revisão de meta dessa magnitude em questão de meses, por que os investidores vão acreditar que as atuais metas serão cumpridas? O governo agora promete 2% de superávit em 2018, por exemplo. Em ano de eleição? Acho difícil acreditar que isso será alcançado.
O ideal seria que a equipe econômica mantivesse o comprometimento com a meta antiga e fizesse um esforço fiscal maior para poder alcançá-la. Se você não tem receita, precisa cortar mais as despesas. É claro que não é fácil fazer isso, mas muitas das despesas obrigatórias poderiam ser revisadas, por exemplo. E se o problema é que a lei não permite mexer nesses gastos, precisamos mudar a lei".


Fonte http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150723_ajuste_remedio_ru

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Situação no Brasil é como 'filme de terror sem fim', diz 'FT'

ap

Jornal cita pedidos de impeachment da presidente Dilma, mas diz que saída "ainda parece improvável"
A atual situação do Brasil é comparável a um "filme de terror sem fim" devido às crises política e econômica, disse o jornal britânico Financial Times em editorial nesta quinta-feira.
No texto, intitulado "Recessão e corrupção: a podridão crescente no Brasil", o principal diário de economia e finanças da Grã-Bretanha diz que "incompetência, arrogância e corrupção quebraram a magia" do país, que poderá enfrentar "tempos mais difíceis."
Segundo o FT, "a maior razão" da crise enfrentada pela presidente Dilma Rousseff seria o escândalo de corrupção na Petrobras, desvendada pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Dezenas de políticos e empresários são investigados sob suspeita de participação no esquema de desvio na estatal.
"O Brasil hoje tem sido comparado a um filme de terror sem fim", diz.
Dilma foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras entre 2003 e 2010, quando acredita-se que parte do esquema tenha sido realizado, mas nega conhecimento das irregularidades e não foi citada por delatores que cooperam com as investigações.
"Poucos acreditam que Dilma seja corrupta, mas isso não significa que ela esteja segura", diz o jornal, citando os crescentes pedidos pelo impeachment da presidente.
Há suspeita de que parte do dinheiro desviado da Petrobras possa ter sido usado no financiamento de sua campanha eleitoral.
Além disso, diz o jornal, a presidente enfrenta suspeitas sobre contas de seu governo, em manobras que ficaram conhecidas como "pedaladas fiscais."
"Cada um (dos casos) poderia ser suficiente para impeachment", diz o texto, que diz que a saída da presidente "ainda parece improvável."

'Tempos mais difíceis'

O jornal cita, também, a investigação do Ministério Público sobre a suspeita de tráfico de influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teria ajudado a construtora Odebrecht a conseguir contratos no exterior - que também é investigada pela Lava Jato - e o rompimento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, com o governo após ter sido citado por um delator na investigação da Petrobras.
"Até agora, políticos em Brasília tem preferido que Dilma siga no poder e assuma os problemas do país. Mas este cálculo pode mudar para tentarem salvar a própria pele", diz o jornal.
Reuters
Segundo jornal, prisão de Marcelo Odebrecht, presidente da construtora, é exemplo dos resultados "bons" das investigações na Petrobras
O FT escreve, no entanto, que as investigações "demonstram a força das instituições democráticas do Brasil, "um país em que os poderosos se colocam acima da lei". Como exemplo, cita a prisão de Marcelo Odebrecht, presidente da construtora.
"Dilma enfrenta três anos solitários como presidente. Brasileiros são pragmáticos, então do pior cenário de impeachment caótico deve ser evitado. Mesmo assim, os mercados começaram a precificar o risco. Pode ser que tempos mais difíceis estejam adiante do Brasil", diz.
Além das questões políticas, o jornal menciona a situação econômica do país - cujo Banco Central estima retração de mais de 1% neste ano - e elogia Dilma por ter "revertido sua fracassada 'nova matriz econômica'" do primeiro mandato.
O diário cita o aumento dos juros para combater a inflação e os esforços para conter gastos públicos, medidas "necessárias mas dolorosas" que reduziram salários, aumentaram o desemprego, afetaram a confiança de investidores e "demoliram" a popularidade da presidente para o nível mais baixo da história.






Fonte http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150723_pressreview_ft_hb

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Estupradas, agredidas e vendidas: meninas relatam abusos nas mãos do Estado Islâmico

Três jovens yazidis que escaparam de extremistas do Estado Islâmico relatam experiências para muçulmanos em escolas britânicas.
Da BBC
Mulheres não quiseram mostrar o rosto por medo de represálias  (Foto: BBC)

Mulheres não quiseram mostrar o rosto por medo de represálias (Foto: BBC)
Três jovens mulheres da minoria religiosa yazidi que foram usadas como escravas sexuais pelo grupo militante auto denominado Estado Islâmico narraram as suas terríveis histórias em Londres.
As moças são frágeis, bonitas e continuam muito assustadas.
Elas temem mostrar os rostos, porque, segundo elas, têm amigos e família reféns dos fanáticos que poderiam sofrer represálias, caso suas identidades sejam reveladas.
É difícil imaginar o que poderia ser pior do que elas já sofreram.
"Éramos estupradas até cinco vezes por dia", diz Bushra, de 20 anos. "Uma menina foi ao banheiro e cortou os pulsos, mas não morreu. Eles cortaram o pescoço dela. Os guardas me mandaram identificá-la: 'É uma amiga sua'. Eu não consegui reconhecê-la. O rosto dela estava coberto de sangue. Os guardas a enrolaram em um lençol e jogaram o corpo no lixo."
Para minorias religiosas, o avanço das tropas do EI sobre enormes regiões da Síria e do Iraque é uma ameaça constante. Qualquer um que contrarie de alguma maneira o projeto de califado dos extremistas está sujeito a duras penas.
Para o grupo, a única lei é a sharia (o código legal islâmico), e infiéis não têm vez. Como os yazidis não são nem cristãos nem muçulmanos, mas adoram um deus pagão, aos olhos dos fanáticos muçulmanos são adoradores do demônio, e o seu extermínio é justo.
Bushra conta como aconteceu a invasão do seu povoado, há exatamente um ano.
Invasão do vilarejo
"Certa noite, fomos atacados perto de dois vilarejos. A batalha durou até às 6h. Parentes no vilarejo mais próximo nos aconselharam a fugir, porque não havia soldados peshmerga, só yazidis. Mas no nosso povoado, os peshmerga disseram que não precisávamos nos preocupar e que nos protegeriam."
Só que as forças peshmerga curdas não resistiram ao EI, e invadiram o nosso vilarejo.
 'Éramos estupradas até cinco vezes por dia', diz vítima  (Foto: BBC)'Éramos estupradas até cinco vezes por dia', diz vítima (Foto: BBC)
Noor, de 21 anos, continua a história.
"Eles separaram homens, mulheres e crianças. Os homens foram levados para ser fuzilados. Eu tinha sete irmãos, só um conseguiu escapar. Os outros seis estão desaparecidos. A minha mãe foi levada junto com umas 70 moradoras mais idosas. Vimos uma escavadeira chegar e ouvimos tiros."
Só as jovens foram poupadas, e muitas prefeririam não ter sido.
Munira, de 16 anos, disse que as moças foram reunidas numa sala de aula e começaram o processo de seleção.
"Os comandantes do EI têm entre 50 e 70 anos. Eu tinha 15 quando fui escolhida por um deles. Ele disse que meninas são melhores que as mais velhas. Normalmente, escolhem as mais bonitas e jovens."
Depois de algumas semanas, ele se cansou dela. "Abu Mohammed disse: 'Tive essa menina quando ela era virgem. Agora me cansei dela. Quero outra'."
"Fui vendida para Abu Abdullah, que também me estuprou. Ele se cansou de mim depois de uns poucos dias e me vendeu para Emad. Se eu não tivesse escapado, teria sido vendida de novo."
As moças eram espancadas e estupradas diariamente. Mesmo traumatizadas e exaustas, não pensaram duas vezes quando surgiu a oportunidade de fugirem. Noor foi flagrada ao tentar pular pela janela. O seu "dono", Salman, a puxou de volta e disse que seria punida.
"Castigo"
"Salman e seus ajudantes me bateram e me queimaram com pontas de cigarro. Salman mandou que eu tirasse a roupa e disse: 'Eu te avisei para você não tentar fugir. Agora, você vai ver o seu castigo."
"Ele deixou outros seis soldados entrarem e trancou a porta. Eles me estupraram brutalmente. Nem sei quantas vezes."
As três moças acabaram escapando e foram morar em campos de refugiados no Iraque.
 Vítimas do autoproclamado Estado Islâmico contam histórias de abuso e sofrimento  (Foto: BBC)Vítimas do autoproclamado Estado Islâmico contam histórias de abuso e sofrimento (Foto: BBC)
De lá, foram trazidas para a Inglaterra pela organização humanitária AMAR, que trabalha na divulgação da história delas para combater as campanhas que já levaram várias jovens britânicas a deixar o país e se unir ao EI.
Durante uma palestra na Bristol City Academy, Noor, Bushra e Munira ficaram sentadas ao lado de três adolescentes.
Pouco depois do ataque aos yazidis, a adolescente Yusra Hussein, de 15 anos, abandonou a escola em que terminava o ensino médio para entrar no Estado Islâmico.
Nasra Ahmed, de 18 anos, diz estar em contato com Yusra e outras jovens seduzidas pelo EI pelas redes sociais. "Elas têm uma bela casa, marido, dinheiro. Tudo o que uma menina de 15 anos pode querer."
"É tudo mentira", responde Noor, irritada. "Eles te prometem uma bela casa, empregados e um carro, mas é tudo mentira."
'Não vá!'
Outra jovem de Bristol, Ikram Hassan, de 14 anos, pergunta que conselho elas dariam a outras meninas que pensam em se juntar aos militantes islâmicos.
"O meu recado é: Não vá!" diz Munira. "Você vai ser estuprada, espancada e vendida para outros homens. Eles são criminosos."
Em outra escola, desta vez em Birmingham, na região central da Inglaterra, professores e líderes comunitários tentam passar o mesmo recado através da campanha Open Your Eyes (Abra os Olhos, em tradução livre). Eles mostram vídeos de atrocidades do EI.
A maioria muçulmana da escola assiste ao filme respeitosamente, mas só parece realmente interessada quando as três jovens yazidis entram na sala para conversar.
Nasra conta a sua história de estupros e mortes ao grupo.
"Me sinto morrendo por dentro quando ouço falar em meninas querendo ir para lá. Eu não desejo a ninguém o que eu vi e experimentei por lá."
Os alunos ficam visivelmente chocados. Um deles pede desculpas em nome da maioria dos muçulmanos, pacífica. O contato direto com moças da mesma idade causou um impacto.
Infelizmente, as três jovens yazidis têm que voltar para o Iraque no dia seguinte.



http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/07/estupradas-agredidas-e-vendidas-meninas-relatam-abusos-nas-maos-do-ei.html