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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Quatro ameaças ao crescimento constante da economia chinesa

Marcelo Justo

BBC Mundo
AP

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Image captionInvestidores, consumidores e endividados na China podem ser afetados pelos atuais problemas
A queda acentuada da bolsa de valores de Xangai, nesta semana, e o seu impacto global levantaram temores sobre a saúde da economia chinesa.
Além disso, a China desvalorizou a moeda local, o yuan, numa tentativa de tornar suas exportações mais competitivas após as vendas internacionais do país terem registrado queda. A produção interna também caiu.
Em dia menos tenso, o mercado financeiro de Xangai fechou em -1,3% nesta quarta-feira, mesmo após estímulos promovidos pelo governo, e a baixa foi acompanhada pelas bolsas europeias - mas não pelas americanas e pelo Ibovespa. Este último subiu 2,7%. Mas analistas preveem que a volatilidade continuará nos mercados internacionais.
Seria o fim do milagre chinês? Não, opina John Ross, professor do Instituto de Estudos Financeiros Chongyang da Universidade Renmin, de Pequim, em entrevista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
"A China está crescendo a 6,5% ou 7%, três vezes mais do que os Estados Unidos e quatro vezes mais que a Europa. É uma economia que tem saído de um ritmo de crescimento 'super sensacional' de 10% por ano para um 'sensacional', que é o atual", disse Ross.
Outro dado comparativo: enquanto Estados Unidos e Europa têm taxas de juros de quase zero para estimular suas economias há quase sete anos, a China reduziu sua principal taxa de juro em 0,25 ponto percentual, para 4,6%.
Mas isso não significa que não haja problemas na China. E, devido ao papel central que desempenha no comércio global, um recuo em sua economia tem consequências em todo o mundo, Brasil incluído.
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O futuro da segunda maior economia do mundo depende da solução de quatro temas-chave:

1. Queda de investimentos e mudança de modelo de crescimento

O crescimento econômico chinês nos últimos dez anos sedeve muito mais ao investimento do que à exportação de produtos 'Made in China'. Neste período, o país teve um ritmo impressionante de crescimento de dois dígitos.
O investimento aumentou durante a crise financeira de 2008 - representava 35% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2000 e ultrapassou os 50% após a queda do banco de investimentos americano Lehman Brothers.
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Image captionBanco Central chinês desvalorizou iuan numa tentativa de tornar exportações mais atraentes
Em comparação, o consumo interno como motor do crescimento mal superou os 30% neste período.
Uma economia baseada excessivamente no investimento pode estimular bolhas imobiliárias, dívidas insustentáveis e problemas financeiros.
Consciente dos limites deste modelo, o governo iniciou em 2010 uma transição a outro, mais baseado no crescimento do consumo interno.
Segundo Kamel Mellahi, especialista em mercados emergentes da britânica Warwick Business School, os problemas chineses que causam temores no mundo são fruto dos inevitáveis desajustes produzidos por essa mudança.
"Uma mudança num país das dimensões da China é mais fácil de propor que de executar. O mundo vai ter que se adaptar a esses altos e baixos porque vai levar tempo", disse.
2. Desvalorização e exportações
O sinal de alarme sobre a China soou forte com a desvalorização cambial realizada em agosto.
Em junho, as exportações caíram 8,3% devido a queda da demanda mundial e alta do custo de trabalho chinês, consequência da mudança do modelo que estipula aumentos salariais para estimular o consumo.
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Image captionDeflação pode afetar diretamente grandes e pequenos empresários endividados que deverão vender produtos com preços menores
Em 11 de agosto, o Banco Central chinês iniciou um processo de desvalorização do yuan que se prolongou por três dias. A cotação da moeda caiu 3%, e gerou-se um temor global de uma "guerra cambial" - quando países desvalorizam suas moedas para ganhar vantagem competitiva para suas exportações.
Muitos analistas avaliam que a desvalorização está mais vinculada ao desejo chinês de resposicionar o yuan como divisa internacional, incorporando-a às moedas com direitos especiais de giro do Fundo Monetário Internacional (FMI). Até agora, apenas euro, libra, iene e dólar americano têm essa classificação.
"É uma estratégia a longo prazo para situar o yuan neste cenário", disse Mellahi.
Com uma moeda atada ao valor do dólar, a China sofreu com a valorização da moeda americana nos últimos 12 meses, que encareceu sua própria moeda em cerca de 10%.
Mas desvalorizar a moeda até recuperar esse valor tornaria a dívida do país insustentável.
3. Dívida e inflação
Um dos efeitos mais perigosos do modelo baseado no investimento é a emissão de títulos de dívida necessária para sustentá-lo, algo que pode sair do controle.
Há outro perigo concreto que enfrenta a economia chinesa: deflação. Os preços médios têm caído nos últimos 40 meses.
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Image captionIncertezas sobre saúde da economia chinesa causaram pânico entre investidores
Este fenômeno pode levar a um processo deflacionário, no qual uma empresa teria que vender seus produtos por menos do que pagou por eles, o que aumentaria o montante de sua dívida e o perigo de falências.
4. Desemprego
Um fator estratégico para o governo chinês é o nível de desemprego, crucial para a paz social - e um dos debates sobre a mudança do modelo econômico chinês é o impacto que ele terá no mercado de trabalho.
Segundo dados oficiais, a taxa de desemprego variou pouco nos últimos cinco anos. Em 2014, foi de 4,09%, pouco mais alta que os 4,05% registrados em 2013.
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Image captionDesemprego tornou-se um problema após mudança no modelo do crescimento chinês
Mas o Labour China Bulletin (LCB), editado em Hong Kong e especializado em assuntos trabalhistas, diz que esse índice subestima o número real de desempregados.
"O índice oficial registra apenas o número de pessoas que buscam emprego em relação ao total de empregados urbanos. Ignora os trabalhadores rurais, os imigrantes e os que têm trabalho parcial ou casual", disse.
De acordo com o FT Confidential, serviço de investigações do jornal Financial Times, houve uma contração da demanda de trabalho em julho.
Segundo Mellahi, a "China tem uma linha vermelha: o emprego. Se a situação piorar e afetar o nível de emprego, então, vai ser irresistível a tentação de voltar a estimular a economia com um novo plano de investimento em infraestrutura".


Fonte http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150826_china_economia_razoes_hb

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Dólar a R$ 3,60 está caro ou barato?

Bloomberg Josué Leonel
26/08/201514h52

(Bloomberg) -- O dólar continua em alta após romper a barreira dos R$ 3,60. E, mesmo com a moeda americana já no maior nível desde 2003, tem sido crescente o número de analistas que consideram haver espaço para o dólar subir ainda mais com as turbulências externas atingindo o Brasil em momento de deterioração econômica acentuada e sem desfecho à vista para a crise política.

A marca de R$ 4,00, atingida pela primeira e última vez em 10 de outubro de 2002, antes da eleição de Lula, virou uma referência nas análises sobre o quanto a moeda americana ainda pode andar. Alberto Ramos, do Goldman Sachs, e Bernd Berg, do Societé Générale, estão entre os analistas que passaram a considerar o dólar a R$ 4,00, em diferentes prazos, em suas previsões recentemente.

Para Italo Abucater, chefe da mesa de câmbio da corretora Icap do Brasil, o dólar pode atingir R$ 4,00 até o fim do ano e se sustentar no novo nível, podendo até mesmo ir além. "Desta vez não vai ser como em 2002, quando o dólar bateu em R$ 4,00 e caiu". E a razão para isso é que a situação hoje seria ainda pior do que naquele que foi até agora o momento de maior estresse para o real desde sua criação, em 1994.

Em 2002, observa Abucater, o dólar disparou pelo temor de que Lula colocaria o programa do PT em prática, mudando a política econômica herdada do governo FHC. Contudo, Lula surpreendeu o mercado positivamente em seu 1º mandato. Manteve a política baseada em câmbio flutuante e metas fiscal e de inflação e ainda ganhou de presente a ajuda da China, que crescia mais de 10% ao ano e impulsionava o valor das commodities exportadas pelo Brasil.

Hoje o mercado não se preocupa apenas com o medo de mudança e sim com os efeitos de uma mudança que já ocorreu, diz o executivo da Icap. A economia vive uma crise gerada por mudanças feitas sobretudo no 1º mandato de Dilma Rousseff. "O Brasil passou passou por um retrocesso". Para piorar, a China, país que mais importa do Brasil, saiu de um crescimento de 2 dígitos para cerca de 7%. E investidores ainda têm dúvidas sobre se a potência asiática não estaria tendo um desaquecimento ainda mais profundo.

A previsão de dólar a R$ 4,00 está longe de ser consensual. O próprio Banco Central, segundo comentário feito pelo diretor Aldo Mendes no dia 6, quando a moeda ainda estava em R$ 3,50, considerava aquele patamar "muito além ou muito acima" do que seria explicado pelos fundamentos. De lá para cá, o dólar seguiu subindo, mesmo após o BC ter complementado o alerta de Mendes elevando a rolagem dos swaps cambiais.

Na pesquisa Focus do Banco Central com cerca de 100 analistas do mercado, a previsão mediana ainda é de um dólar bem mais comportado, de R$ 3,50 no final de 2015 e R$ 3,60 no final de 2016. O fato de o Brasil contar com reservas de US$ 370 bilhões é um fator importante de respaldo a estas estimavas mais moderadas. Trata-se de um arsenal cerca de 10 vezes acima do nível de 13 anos atrás.

Nem todos, porém, concordam que as reservas serão um escudo suficiente para defender o real. Abucater, por exemplo, lembra que o ministro Joaquim Levy em várias ocasiões se mostrou favorável a um câmbio mais flutuante. O BC poderia fazer alguma intervenção, talvez oferecendo linhas de crédito em dólar, para esfriar a alta quando a moeda atingir níveis maiores, mas sem reverter a tendência.

A alta do dólar, embora possa gerar turbulência quando ocorre subitamente, pode trazer mais benefícios do que malefícios para uma economia em recessão. Com juros altos para combater a inflação, o Brasil não tem como alavancar a economia com consumo doméstico, como o ex-ministro Guido Mantega tentou fazer nos anos anteriores.

Estimular as exportações parece ser a única saída no curto e médio prazo e um dólar mais alto pode ser um trunfo neste objetivo. Embora haja alguns sinais de reação nas contas externas, o déficit em conta corrente de US$ 6,2 bilhões em julho foi visto por operadores do mercado como um indício de que a melhora ainda é insuficiente.

Não há incentivo para o BC aumentar as intervenções em defesa do real porque o Brasil precisa ampliar a competitividade de suas exportações como forma de estimular o crescimento, disse em 18 de agosto o estrategista Bernd Berg, do SocGen, que espera dólar a R$ 4,00 ainda em outubro. Embora o câmbio pressionado possa prejudicar a inflação, conter a desvalorização cambial como alternativa à política monetária seria um erro, aponta Alberto Ramos, do Goldman.

A crise política segue como pano-de-fundo da escalada do dólar, mantendo os investidores pessimistas quando a uma recuperação da economia e do mercado brasileiros. O aumento de impostos e a falta de uma liderança política inconteste, capaz de solucionar a crise, são fatores preocupantes. "O mercado ligou o alerta", diz Abucater. Em meio ao imbróglio, o enfraquecimento do ministro Levy entrou no radar, juntando-se ao desconforto com a saída de Michel Temer da coordenação política do governo.

As incertezas externas, sobretudo em relação à China, foram o motivo adicional que levou ao salto mais recente do dólar, que passou de R$ 3,50 para R$ 3,60 nesta semana. Na visão do mercado, contudo, o fator original da fragilidade do real é a incapacidade do Brasil em resolver uma crise que ele próprio alimentou.


Fonte http://economia.uol.com.br/noticias/bloomberg/2015/08/26/dolar-a-r-360-esta-caro-ou-barato.htm

Quais são os obstáculos para Dilma no TSE?

Thiago Guimarães

Da BBC Brasil em Londres

Image copyrightASICS TSE
Image captionMinistros do Tribunal Superior Eleitoral durante sessão nesta terça-feira que decidiu pela reabertura de ação contra a presidente Dilma e o vice Temer
A maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) votou na noite desta terça-feira pela reabertura de uma ação proposta pela oposição que pede a cassação dos mandatos da presidente Dilma Rousseff (PT) e do vice, Michel Temer (PMDB).
Na ação, o PSDB acusa Dilma de praticar abuso de poder político, econômico e fraude na campanha de 2014. Entre as 11 supostas irregularidades apontadas, cita financiamento eleitoral por empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato e desvio de finalidade na convocação de rede nacional de TV.
O processo em curso chama-se Aime (Ação de Impugnação de Mandato Eleitoral) 761 - um instrumento jurídico previsto na Constituição para cassação de mandato obtido por meio de abuso de poder econômico, corrupção ou fraude.
Em fevereiro, a ministra do TSE Maria Thereza de Assis Moura havia negado a continuidade da ação, apontando indícios insuficientes, mas a decisão foi revertida em Plenário - quatro dos sete ministros já se manifestaram nesse sentido.
Na mesma sessão, marcada por momentos de tensão entre os ministros, Luiz Fux propôs a unificação de todas as ações contra a campanha do PT, mas nada ficou decidido.
O julgamento foi suspenso após um pedido de vista da ministra Luciana Lóssio e não tem data para ser retomado. O PT nega irregularidades e diz que as contas de campanha de Dilma foram aprovadas pelo próprio TSE.
Esse, contudo, é apenas um entre cinco processos que podem culminar, em caso de condenação, na cassação da chapa presidencial. Entenda as outras quatro ações:

Suposto uso da máquina pública (Aije 154781)

A Aije (Ação de Investigação Judicial Eleitoral) 154781 tramita no TSE desde outubro de 2014, e foi proposta pela coligação do PSDB ainda durante a campanha.
Esse tipo de ação visa impedir e apurar atos que possam afetar a igualdade dos candidatos em uma eleição.
Image copyrightTSE
Image captionO ministro do TSE Gilmar Mendes pediu novas investigações sobre as contas da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff
Se julgada antes do pleito, pode resultar na cassação do candidato acusado de irregularidades. Caso a ação seja julgada procedente após a eleição, o processo segue para o Ministério Público para eventual proposição de ação de impugnação de mandato.
O processo em questão está atualmente com o corregedor-geral eleitoral do TSE, ministro João Otávio de Noronha. Testemunhas apontadas pelo PSDB já foram ouvidas na ação.
Os tucanos apontam supostos episódios de uso da máquina pelo governo na campanha de Dilma, como participação indevida de ministros, envio de 4,8 milhões de folders pró-Dilma pelos Correios e dificuldades para distribuição de material de campanha de Aécio Neves em Minas Gerais.

Propaganda institucional e poder econômico (Aije 194358)

A Aije 194358 foi proposta pelo PSDB em dezembro de 2014, após as eleições.
Também acusa supostas irregularidades na campanha petista, como "veiculação de propaganda institucional em período vedado" e "ocultação de dados econômicos e sociais negativos" por órgãos públicos federais como Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A representação também cita a operação Lava Jato e a possibilidade de recebimento de doações de empreiteiras envolvidas em desvios de recursos da Petrobras, o que caracterizaria abuso de poder econômico.
Foi nesse processo que o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, um dos delatores da Lava Jato, foi convocado a depor. Ele seria ouvido no último dia 14 de julho, mas o depoimento foi suspenso para aguardar autorização do ministro Teori Zavaski, relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal).
O ministro João Otávio de Noronha também é relator dessa ação, que tramita sob segredo de Justiça e está mais avançada.
O PSDB pede que Aécio, segundo colocado na disputa, seja diplomado e assuma o cargo. Mas entendimento consolidado no TSE indica que cassação de registro nos dois primeiros anos de mandato exige realização de novo pleito.

Contas de campanha (PC 97613)

A PC (Prestação de Contas) da campanha de Dilma foi aprovada com ressalvas pelo TSE em dezembro de 2014, mas na última sexta-feira o ministro do TSE Gilmar Mendes apontou a existência de "vários indicativos" de que a campanha à reeleição de Dilma e o PT tenham sido beneficiados por propina desviada da Petrobras.
Mendes, que é o relator do processo, pediu novas diligências, citando dados das investigações da Lava Jato e doações registradas na Justiça Eleitoral.
Uma eventual rejeição das contas pode levar à abertura de procedimento de cassação do diploma da presidente e do vice, além da aplicação de multa e suspensão de verbas do fundo partidário para as siglas da coligação.
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Image captionMinistra Maria Thereza de Assis Moura durante sessão plenária do TSE nesta terça; ministra havia negado andamento de ação contra Dilma que agora seguirá tramitando

Despesas de campanha (RP 846)

A RP (representação) 846 foi proposta pelo PSDB em janeiro deste ano. Aponta problemas nas contas da campanha à reeleição de Dilma, como despesas acima do limite legal, financiamento irregular e "falta de comprovantes idôneos de significativa parcela das despesas efetuadas na campanha dos requeridos".
O relator da ação, que aguarda parecer da Procuradoria Geral Eleitoral, é o ministro Luiz Fux.


Fonte http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150826_tse_acoes_tg

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O mundo precisa se preocupar com o mergulho da bolsa chinesa?

Foto: EPA

Desaceleração continuada da economia chinesa pode ser má notícia para mercados ocidentais
A bolsa de Xangai caiu quase 9% nesta madrugada, enquanto ações despencavam em toda a Ásia. A semana passada foi a pior em anos para bolsas em todo o mundo e o dia já está sendo chamado de "segunda-feira negra", por ter sido o pior dia para a bolsa de Xangai desde 2007.
A queda acentuada espalhou pânico nos mercados de ações em todo o mundo e gerou temores de uma nova crise financeira de grandes proporções como a de 2008.
No Brasil, a Bovespa abriu com queda superior a 6% e chegou ao menor patamar em seis anos. Até às 15h, havia apresentado uma leve recuperação, chegando a -1,94%, e fechou o dia com queda de 3%. A cotação do dólar chegou a R$ 3,58 e está atualmente em R$ 3,55.
Entenda os possíveis efeitos do mergulho das bolsas chinesas nos mercados e na economia brasileira, segundo especialistas.

Quão grande é a queda?

O Dow Jones, um dos principais índices do mercado americano, começou o dia com uma queda de mil pontos, a maior de sua história, seguida de uma breve recuperação. Durante o dia, a queda chegou a 4% – o pior índice para a Dow desde novembro de 2011 – e estava em -2% às 15h. O mesmo aconteceu com Nasdaq.
O índice das 100 maiores empresas britânicas, FTSE 100, terminou o dia com uma queda de 4,6%. As principais bolsas europeias também registraram quedas entre 4% e 5% no fim do dia.
"Estamos em meio a um real pânico sobre o crescimento, tendo a China como epicentro", disse o comunicado de um analista da JP Morgan obtido pela BBC.
O analista americano Stephen Guilfoyle, da consultoria Deep Value, disse à BBC que os mercados americanos estavam "à beira do pânico, mas ainda não chegaram lá".
Em uma iniciativa incomum, o CEO da gigante de tecnologia Apple, Tim Cook, chegou a enviar um comunicado ao canal de TV americano CNBC para assegurar aos investidores que as ações da empresa não seriam prejudicadas pela movimentação.
No final do dia, a recuperação das bolsas americanas gerou comparações com o "flash crash" de 2010, quando bilhões de dólares foram retirados das maiores empresas do mundo em minutos, mas foram recuperados rapidamente.

Por que a queda aconteceu?

O catalisador da queda chinesa parece ser a ausência de uma resposta do governo durante o último fim de semana, segundo o analista de economia da BBC Duncan Weldon.
Investidores – tanto chineses quanto estrangeiros – acreditavam que Pequim lançaria medidas de estímulo ao mercado em resposta aos índices da última semana. Quedas anteriores receberam respostas rápidas do governo chinês.
De acordo com Weldon, o fato de o governo não ter anunciado medidas de estímulo agora pode ser interpretado tanto como um mau sinal (de que a China estaria ficando sem ferramentas para responder, o que pode prejudicar a credibilidade de um governo que apostou muitas fichas em seu mercado em crescimento) quanto como um bom sinal (de que o compromisso do governo com reformas de mercado, com menos interferência política, é verdadeiro).
Foto: Thinkstock
Em meio a pânico causado por quedas acentuadas na última semana, analistas falam em "novo 2008"

Como fica a situação do Brasil?

Para o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, a recuperação da Bovespa ao longo do dia mostra que pode ter havido um movimento exagerado de venda de ações, puxado pela tensão nas bolsas internacionais.
No entanto, o momento atual pede uma reconfiguração do comércio com o país asiático, disse à BBC Brasil.
"O que eu vejo com mais preocupação sobre a China é que todos olham para lá como se o país fosse continuar crescendo 10% ao ano. A China não vai mais crescer isso."
"No caso do Brasil, é preciso repensar nossas relações comerciais a longo prazo. Vamos continuar exportando commodities para a China? Não faz mais sentido, a China já absorveu tudo o que tinha que absorver. Agora cabe a nós vender produtos com maior valor adicionado ou diversificar a pauta", afirma.
Perfeito defende que a queda da bolsa chinesa, por si só, não provocará um efeito especial na economia brasileira, que já está em desaceleração. Ele afirma, no entanto, que a maior desvalorização do real em relação ao dólar pode forçar um aumento dos juros no país e desarticular ainda mais a economia doméstica.
"O Brasil já entrou num processo de desaceleração violento, isso (a queda na China) será apenas mais um fator. Mas, por causa de uma crise política aguda, em vez de os economistas brasileiros verem que a desaceleração econômica global vai desacelerar também a nossa economia e segurar os preços, vão enxergar apenas que o dólar está subindo, o que gera mais inflação, e querer aumentar os juros. Estão vendo do jeito errado", opina.

Há motivo para preocupação nas grandes economias ocidentais?

De acordo com Duncan Weldon, o significado econômico do colapso da bolsa chinesa não deve ser exagerado, já que os mercados financeiros chineses ainda são relativamente fechados - o que limita os impactos diretos para além das fronteiras do país.
Por trás desse colapso, no entanto, está uma economia bastante desacelerada. E o efeito disso em outros países pode ser bem mais sério.
Atualmente, os grandes motores estruturais do crescimento das economias emergentes parecem estar desacelerando ou revertendo seu curso. Por isso, seu crescimento deve ser bem mais fraco nos próximos anos.
Com as economias emergentes representando metade da economia global – e responsáveis por cerca de 80% do crescimento global recente –, isso é muito importante.
E com o aumento dos lucros de grandes empresas ocidentais impulsionado pelo crescimento das vendas nos países em desenvolvimento, essa desaceleração deve atingir suas receitas e, consequentemente, as bolsas da Europa e dos Estados Unidos.
Mas Weldon acredita que esse impacto pode ser, pelo menos em parte, amortizado por preços muito mais baixos de commodities (o crescimento mais fraco das economias emergentes pode significar um preço muito menor para o petróleo, o cobre e outras matérias-primas) – o que deve abaixar os preços da gasolina em alguns países, contribuindo para que a renda de algumas famílias seja menos comprometida e permitindo que taxas de juros fiquem baixas durante mais tempo.
Nesta segunda-feira, de fato, o preço do petróleo recuou mais de 4%, para o menor valor em seis anos.
Um 'novo 2008'?
Muitos analistas já falam em um "novo 2008" - ano em que eclodiu a crise financeira internacional -, mas, segundo Duncan Weldon, ainda não é para tanto.
"A desaceleração continuada de um país emergente teria impactos profundos na economia mundial. E terá, obviamente, um grande impacto na qualidade de vida das bilhões de pessoas que vivem nesses países", afirma.
"No resto dos países ocidentais, no entanto, a crise não parece ser um 'novo 2008', e, sim, um processo contínuo de reconfiguração da economia global."
Já André Perfeito acha que existe uma possibilidade de que o mundo entre, em breve, em uma nova grande crise – mas não necessariamente por causa da China.
"Não vejo como ruim essa queda das bolsas chinesas porque havia uma bolha nos mercados de ações lá e é desejável que essa bolha seja desinflada. Eu ficaria mais preocupado se a bolsa chinesa continuasse com esses valores exorbitantes sem nenhum tipo de correção. Faz parte do jogo, é normal", diz.
"Mas acho que a verdadeira bolha não está na China, está no Ocidente. As bolsas de Londres, Frankfurt e Nova York estão em seu ponto máximo e o mundo não está em seu ponto máximo. Há um descolamento entre a realidade econômica e o que está expresso no valor dos ativos."
De acordo com Perfeito, falta coordenação política global para garantir que o dinheiro circulando na esfera financeira tenha propósito e direção, evitando o novo estouro de uma bolha dos mercados de ações, como em 2008.
"O problema maior que temos no mundo é político, não econômico", afirma.



*Com reportagem de Camilla Costa, da BBC Brasil em São Paulo.
**Esta reportagem foi atualizada às 17h23, com o índice final da Bovespa nesta segunda-feira.



Fonte http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150824_bolsas_china_queda_dw_cc