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quarta-feira, 20 de maio de 2015

A polêmica ferrovia que a China quer construir na América do Sul

Gerardo Lissardy
Da BBC Mundo
(AFP/PA/Reuters)
Ferrovia Transoceânica deve ganhar novo impulso com visita de premiê chinês, Li Keqiang, à América do Sul

Uma ferrovia que começa no Rio de Janeiro banhada pelo Oceano Atlântico, atravessa a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes e termina na costa peruana em pleno Oceano Pacífico: este é o ambicioso plano que a China quer consolidar na América do Sul.


O projeto ganhou novo impulso com a visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, à região, que começou na noite da última segunda-feira no Brasil e ainda inclui escalas na Colômbia, no Peru e no Chile.

Nesta terça-feira, Li Keqiang se encontrou com a presidente Dilma Rousseff em Brasília. Na ocasião, foram assinados 35 acordos de cooperação entre os dois países, englobando áreas como planejamento estratégico, transportes, infraestrutura, energia e agricultura.

Durante o encontro, a presidente Dilma declarou que Brasil, China e Peru iniciaram os estudos de viabilidade da conexão ferroviária entre o Atlântico e o Pacífico. "Trata-se da ferrovia transcontinental que vai cruzar o nosso país no sentido leste oeste cortando o continente sul-americano", disse a presidente que, logo depois, em conversa com repórteres, classificou a ferrovia como "estratégica para o Brasil".

De Brasília, Li Keqiang segue para o Rio de Janeiro, onde deve participar da inauguração de uma exposição de marcas chinesas e de um passeio de barco pela baía de Guanabara. A agenda do premiê chinês no Brasil termina na próxima quinta-feira.

Ferrovia

Com o projeto da ferrovia, Pequim pretende aumentar sua presença econômica no continente e facilitar o acesso a matérias-primas, o que também gera interesse do Brasil e do Peru.

Em declaração no início da tarde desta terça-feira durante o encontro com Li Keqiang, a presidente Dilma Rousseff afirmou que, com a ferrovia, "um novo caminho para a Ásia se abrirá para o Brasil, reduzindo distâncias e custos".

Especialistas acreditam que a construção da estrada de ferro marcaria uma nova fase na relação da China com a região. No entanto, para que o projeto saia do papel, será necessário superar grandes desafios de engenharia, ambientais e políticos, dizem analistas ouvidos pela BBC.

"Seria uma grande conquista e uma peça-chave da relação da China com a América do Sul, se esse projeto realmente sair do papel", diz Kevin Gallagher, professor da Universidade de Boston e autor de estudos sobre a relação China-América Latina.

"Todo o projeto é uma grande promessa, mas deve ser bem feito ou pode se tornar um pesadelo", ressalva.

Intercâmbio

Keqiang começa sua visita ao Brasil em meio a um momento de desaceleração da economia chinesa e das sul-americanas.

A região deve crescer menos de 1% neste ano, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), em parte por causa de uma atividade econômica mais fraca no Brasil. E a falta de infraestrutura continua a ser um dos principais problemas do país.

A China, por sua vez, necessita de recursos naturais para sustentar sua expansão econômica e tem interesse primordial na construção de projetos ferroviários em outras regiões do globo.

(BBC)
Ferrovia liga litoral do Rio de Janeiro ao do Peru

Neste contexto, a Ferrovia Transoceânica, cujo custo é estimado em até US$ 10 bilhões (R$ 30 bilhões), poderia cobrir as necessidades dos vários países envolvidos.

"Próximo passo"

Com a popularidade em baixa e abalada por escândalos de corrupção, Dilma prepara um programa de concessões de infraestrutura previsto para ser lançado em junho.

Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, trechos da ferrovia até a fronteira com o Peru estariam contemplados na segunda etapa das licitações.

Estudos técnicos já foram iniciados em solo brasileiro para ligar o porto de Açu, no Rio de Janeiro, a Porto Velho, na bacia amazônica.

A ligação da capital de Rondônia ao Pacífico daria a produtores brasileiros uma alternativa sobre o Atlântico e o Canal do Panamá para enviar matérias-primas para a China.

"Há uma lógica econômica por trás do projeto", disse João Augusto Castro Neves, analista para América Latina da consultoria Eurasia Group.

(Reuters)
Apetite chinês por matérias-primas da América do Sul está por trás de projeto


Nos últimos anos, a relação entre a China e o Brasil é muito focada no aspecto comercial, com o aumento das exportações de produtos como soja e ferro para o gigante asiático.

Mas, segundo Castro Neves, obras como a da Ferrovia Transoceânica poderiam agregar valor a esse vínculo. "É o próximo passo no relacionamento", diz ele à BBC.

Protestos

O projeto exacerbou as já tensas relações entre o Peru e a Bolívia, cujo presidente, Evo Morales, protestou ao saber que a estrada de ferro passaria por fora do território boliviano.

"Não sei se o Peru está jogando sujo", disse Morales em outubro. Segundo ele, a ferrovia seria "mais curta, mais barata" se passasse pela Bolívia.

No entanto, o presidente peruano Ollanta Humala descartou essa possibilidade em novembro, comentando sobre um acordo com a China para iniciar os estudos do projeto.

O trem vai passar "pelo norte do Peru, por razões de interesse nacional", disse Humala.

Juan Carlos Zevallos, economista que presidiu a agência reguladora de transportes peruana OSITRAN argumenta que a região apresenta "desenvolvimento consolidado" de infraestrutura para explorar a estrada de ferro, incluindo o porto de Paita, ponto de chegada da ferrovia.

Na opinião de Zevallos, o projeto facilitaria a entrada de produtos peruanos no Brasil, o maior mercado regional. "Esse é o interesse", disse ele à BBC.

'Problemas'
(Reuters)
Construção de ferrovia pode gerar problemas com grupos indígenas, apontam especialistas


Especialistas antecipam possíveis problemas com grupos indígenas e defensores do meio ambiente, dada a possibilidade de que o trem passe por áreas consideradas sensíveis.

"Uma estrada no meio da Amazônia para atender ao mercado chinês (...) seria uma ilusão acreditar que não vai haver impacto", critica Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace.

Adario observou, contudo, que "a ferrovia tem menor impacto do que a rodovia para o escoamento da produção" e defendeu que sejam feitos estudos para medir o impacto socioambiental da obra.

Também há desafios de engenharia e custos para a construção de um trem que cruze a Cordilheira dos Andes e desemboque no Pacífico.

Castro Neves alertou que, se não houver planejamento adequado, o projeto pode terminar paralisado, como outras grandes promessas de investimentos na infraestrutura da região.

"A questão não é apenas injetar dinheiro", diz ele.

Gallagher disse que o projeto vai representar "um verdadeiro teste para a relação" entre Pequim e da região.

"Se conseguir construir um trem de alta velocidade que funcione e facilite o comércio com a América Latina, de modo inclusivo e sem prejudicar o meio ambiente, a China tem tudo para se tornar a nova 'queridinha' da América Latina", conclui.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150518_ferrovia_transoceanica_construcao_lgb

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Após Lava Jato, é preciso mudar regras de exploração do pré-sal?

Petrobras (EPA)

Petrobras precisa responder por 30% de todos os projetos do pré-sal

A crise desatada pela Operação Lava Jato na Petrobras reabriu o debate sobre as regras de exploração da maior reserva petrolífera do país - o pré-sal.


Para alguns, as atuais dificuldades financeiras da estatal lançam dúvidas sobre sua capacidade de realizar os investimentos necessários para explorar essas reservas em um prazo razoável.

E essa percepção pode ser reforçada se o balanço da empresa do primeiro trimestre de 2015 - que deve ser divulgado nesta sexta-feira - registrar uma queda no seu lucro operacional, como esperam analistas de mercado.

Por outro lado, também há quem defenda as regras atuais para exploração do pré-sal e veja no debate certo "oportunismo" de quem sempre foi a favor de mudá-las.

Pelo atual marco regulatório, essas reservas devem ser exploradas sob o regime de partilha compartilhada (em vez do regime de concessão, usado na exploração de outras áreas).

A Petrobras precisa não só ter um mínimo de 30% de participação em todos os projetos como também é a sua operadora – decidindo desde o ritmo de produção até a tecnologia usada na exploração dos poços.

Também há regras relativas ao conteúdo local dos projetos - ou seja, o percentual mínimo de componentes nacionais a serem usados na operação.

O atual debate sobre a necessidade de mudar essas regras parece dividir até o governo.

Na quinta-feira, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff defendeu o atual modelo e as regras de conteúdo local. Já o Ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse na segunda-feira ser pessoalmente a favor de revisar a norma que obriga a Petrobras a responder por 30% dos projetos.

Para organizar esse debate, a BBC listou abaixo os argumentos de um e outro lado:

A favor da mudança

Ao defender a mudança do atual marco regulatório, o ministro Eduardo Braga alegou que seria interessante dar à estatal o direito de recusar a participação de 30% em alguns projetos de exploração.

Para o ministro, essa decisão caso a caso evitaria que o desenvolvimento de uma "área vital" para o Brasil ficasse muito dependente de uma única empresa.

Um projeto de lei revogando a obrigatoriedade dos 30% já havia sido apresentada pelo senador opositor José Serra (PSDB), para quem a estatal foi vítima de uma programação "absurda" de superinvestimentos.

João Augusto de Castro Neves, da consultoria Eurasia Group, acredita que se essa regra dos 30% não for flexibilizada de fato pode haver atrasos na exploração do pré-sal.

"Já havia indícios (de) que nesse modelo haveria exigências financeiras e operacionais muito grandes em cima da Petrobras, mas com a atual crise na empresa a situação se complicou", opina.
Petroleo (BBC)
Também há quem seja contra as regras de conteúdo local para exploração do pré-sal

Um ponto frequentemente levantado por quem defende a mudança das regras diz respeito à dívida da Petrobras, estimada em US$ 135 bilhões.

"Diante da nova realidade financeira da empresa, vai ser difícil garantir os investimentos necessários para a exploração dessas reservas em um prazo razoável", diz o professor Sérgio Lazzarini, do Insper.

Também há quem defenda mudanças nas regras de conteúdo nacional, ressaltando que o fato de os fornecedores da estatal também terem sido atingidos pelas paralisações provocadas pela Lava Jato pode dificultaria o cumprimento dessas metas.

Para Lazzarini, as regras de conteúdo local são contraproducentes porque "há produtos e insumos que não são produzidos no Brasil ou que aqui são mais caros", o que pode atrasar e encarecer a exploração do pré-sal.

"Essa ideia de criar cadeias produtivas locais é coisa do passado. O ideal seria que a Petrobras se inserisse nas cadeias globais de produção para se tornar mais competitiva", opina o professor do Insper.

Contra a mudança

O objetivo do atual modelo de partilha e das regras de conteúdo local é garantir que haja um impulso a alguns segmentos da indústria e do setor de serviços de alto valor agregado, contribuindo para uma "mudança estrutural da economia brasileira", como costuma defender a diretora da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Magna Chambriard.

No caso do Campo de Libra, por exemplo, o percentual mínimo de componentes brasileiros usados na operação tem de ser de 37% na fase de exploração, 55% na fase de desenvolvimento até 2021 e 59% depois desse ano.

Ao defender essas disposições na quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff argumentou que elas seriam necessárias para evitar que o Brasil seja vítima do que é conhecido como "maldição do petróleo" - processo que faz com que os ganhos derivados da exploração do petróleo fiquem concentrados no setor e desestabilizem o resto da economia.

Segundo seus defensores, a participação de 30% da Petrobras nos projetos garantiria que os ganhos provenientes do pré-sal ajudem a fortalecer a estatal e daria ao poder público algum controle sobre o ritmo de exploração dessas reservas "estratégicas".

Para Fernando Sarti, professor da Unicamp, o atual modelo regulatório é vantajoso "para a sociedade como um todo" e as propostas de mudança são "oportunistas".

"Em geral quem defende uma revisão nunca apoiou essas regras e está se aproveitando da crise na Petrobras para tentar mudá-las", opina Sarti.

Ele ressalta que a Petrobras tem expandido sua produção nessas reservas a um ritmo razoável. Segundo um comunicado da empresa divulgado na quarta-feira, a produção de petróleo nos campos do pré-sal nas bacias de Santos e Campos atingiu, em abril, 800 mil barris de petróleo por dia (bpd), configurando novo recorde de produção diária.

Para o professor da Unicamp, dados como esse seriam evidência de que a estatal teria conduções técnicas e operacionais de alcançar as exigências do atual modelo regulatório, passado o choque da Lava Jato.

"Também há algumas medidas que podem ser tomadas para garantir os investimentos no pré-sal", diz ele

"O tesouro pode fazer um aporte (na estatal) ou poderíamos simplesmente desacelerar um pouco o ritmo de exploração, focando em áreas prioritárias. Não vejo problema nenhum na Petrobras ser usada como instrumento de política econômica e industrial. Uma empresa desse porte e que atua em um ramo tão estratégico não pode ter como objetivo apenas maximizar o lucro de seus acionistas", opina Sarti.


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150512_marco_regulatorio_ru

quarta-feira, 13 de maio de 2015

FMI: Retomada do Brasil depende de ajuste fiscal, mas mais reformas são necessárias

(Getty)

O FMI (Fundo Monetário Internacional) alertou nesta terça-feira que a retomada da economia brasileira vai depender da execução do ajuste fiscal proposto pelo governo, mas sugeriu que mais medidas, entre elas reformas estruturais, seriam necessárias para assegurar a sustentabilidade econômica do país no futuro.

As considerações constam do relatório do artigo IV sobre o Brasil — análise anual que o Fundo faz sobre as economias de diversos países.

"A implementação bem-sucedida da estratégia de ajuste fiscal e outras ações de política econômica devem contribuir para fortalecer a confiança e ajudar a recuperar o investimento na última parte de 2015, criando a base para que o crescimento positivo volte a ocorrer em 2016", diz o texto.

"É preciso favorecer um ajuste que reduza a pressão fiscal de longo prazo. Realizar reformas estruturais que reduzam a complexa estrutura de destinação dos recursos e determinar limites para o crescimento de gastos de áreas ─ como saúde e educação ─, teriam benefícios de longo prazo".

Entre as reformas propostas pelo Fundo estão a redução dos gargalos de infraestrutura, a simplificação dos tributos, a abertura da economia, a melhoria da alocação de recursos, a reforma previdenciária e a revisão da fórmula de indexação do salário mínimo.

"Reformas estruturais amplas são fundamentais para melhorar a capacidade produtiva do país, especialmente ao reduzir o custo de fazer negócios e fomentar os investimentos, e ancorar um crescimento equilibrado, sustentado e forte", afirma o texto.

PIB

A previsão do FMI é de que o PIB (Produto Interno Bruto, ou a soma de todos os bens e serviços produzidos por um país) do Brasil registre queda de 1% neste ano.

No relatório, o órgão traça um raio-X do momento econômico do país em 2014 e faz recomendações para o futuro. Também dá especial atenção às medidas de ajuste fiscal propostas e parcialmente executadas pelo atual ministro da Fazenda, Joaquim Levy, à luz de uma atividade mais enfraquecida.

O Fundo acrescenta ainda que a perspectiva para a economia brasileira está sujeita a "riscos descendentes significativos", incluindo "o racionamento de energia e água por causa da seca, os possíveis desdobramentos do caso Petrobras e um ambiente internacional mais adverso".

Concluído no início de março deste ano, o relatório não leva em consideração o impacto de alguns anúncios recentes, como as MPs (Medidas Provisórias) 664 e 665, que mudam as regras dos benefícios sociais.

Cenário pessimista
(Thinkstock)
Em relatório, FMI destacou escalada da inflação que, segundo IBGE, acumulou alta de 8,17% nos últimos 12 meses encerrados em abril


No relatório, o FMI confirmou o cenário negativo da economia brasileira nos últimos anos.

"O crescimento por meio de reformas feitas há décadas ─ que ampliaram o rendimento do trabalhador - e de condições externas favoráveis - que permitiram o consumo e o crescimento baseado no crédito e redução sustentável da pobreza ─ perdeu vigor", disse o FMI.

"O investimento tem sido lento, refletindo a redução da competitividade, a piora do ambiente de negócios, e a queda no preço internacional das commodities. O consumo também se moderou apesar do forte incremento da renda, à medida que a criação de empregos se interrompeu e as condições financeiras se comprimiram, afetando a renda das famílias e a confiança do consumidor".

O Fundo também destacou a escalada da inflação ─ que, segundo o IBGE, acumulou alta de 8,17% nos últimos 12 meses encerrados em abril.

"Nos últimos anos, a inflação tem ficado próximo do teto da meta (de 6,5%), em parte devido a pressões dos salários, à indexação e, mais recentemente, à seca".

Apesar do contexto econômico negativo, o relatório do FMI indicou que as reservas internacionais do Brasil, em torno de US$ 360 bilhões, estão "altas" e fluxos de capitais permanecem "estáveis".

O órgão lembra que o Investimento Estrangeiro Direto (IED) financiou mais de 60% do déficit de conta corrente (transações de um país com o exterior, excluindo investimentos e serviços financeiros) em 2014 e os fluxos de investimento em carteira têm estado "flutuantes".

O FMI lembrou, contudo, que o menor crescimento e o desempenho fiscal mais fraco, com o aumento da dívida pública do governo central, afetaram a nota de crédito soberano (possibilidade de um país dar calote) do Brasil em 2014.

A agência Standard & Poor’s reduziu o rating do Brasil para BBB- em março do ano passado, enquanto que em setembro outra agência, a Moody’s, alterou para negativa a perspectiva de classificação de crédito do país.

Programas Sociais

No relatório, o FMI elogia os programas sociais do governo, como o Bolsa Família, mas diz que progressos adicionais dependerão "crucialmente do crescimento econômico sustentável e forte".

"Nos últimos 12 a 15 anos, milhões de famílias foram retiradas da pobreza devido a políticas sociais e aumentos reais do salário mínimo. A desigualdade de renda também foi reduzida, e acesso à educação e à saúde se ampliou".

"Contudo, mais melhorias nos padrões de vida dependem de um crescimento durável, equilibrado e forte, para assegurar o crescimento contínuo do emprego e do financiamento sustentado dos programas sociais essenciais", afirma o Fundo.


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150511_relatorio_brasil_fmi_lgb

terça-feira, 12 de maio de 2015

Por que a desaceleração da China importa para o mundo

Andrew Walker
Analista de economia do Serviço Mundial da BBC
(Reuters)
Após décadas de forte crescimento, gigante asiático apresenta sinais de menor atividade econômica

Depois de um período de forte crescimento, a economia da China está agora desacelerando.


Até 2010, o PIB (Produto Interno Bruto, a soma de bens e serviços produzidos por um país) cresceu em média 10% ao ano durante três décadas.

Mas desde então a atividade econômica perdeu força. No ano passado, a economia chinesa cresceu 7,4%. Segundo a previsão mais recente do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB do país deve registrar alta de 6,8% neste ano e 6,3% em 2016.

Mas por que isso é importante?

Por que a economia da China está desacelerando?
Crédito: Reuters
Política do filho único na China pode levar à escassez de trabalhadores?


O governo queria uma retração, e, de certa forma, a incentivou porque há forças de longo prazo que, inevitavelmente, produziram tal resultado.

O melhor dos mundos é que o gigante asiático obtenha uma desaceleração moderada ─ chamada de "aterrisagem suave" ─ do que uma abrupta.

Além disso, o rápido crescimento econômico do país era baseado em alguns fatores que não durariam para sempre.

Níveis de investimento muito altos têm papel fundamental nessa história.

No ano passado, eles respondiam por 48% do PIB, segundo estimativas do FMI.

Para efeitos de comparação, no mesmo período, no Brasil, essa proporção era de 19,7%, abaixo do que os especialistas recomendam para um crescimento sustentável da economia (em torno de 25%).

Há poucas economias no mundo onde essa taxa se mantém tão alta.

Na maioria dos países, como o Brasil, o número varia entre 15% e 30%.

O investimento é certamente essencial para ampliar a capacidade da economia no futuro.

Na prática, altas taxas de investimento são um fator importante por trás das histórias de sucesso de muitos países asiáticos.

Mas é quase impossível mantê-las a um nível tão alto por tanto tempo.

Há sempre um risco com os investimentos em larga escala: alguns projetos podem ser antieconômicos.

Forte investimento em construção, por exemplo, pode criar instabilidade nos preços dos imóveis, e, atualmente, há preocupações persistentes sobre se haverá uma crise imobiliária na China.

Sendo assim, o objetivo do governo é fazer com que o consumo das famílias chinesas desempenhe um papel mais preponderante na economia, o que conta com o apoio do FMI.

Um relatório da instituição concluiu em 2012 que o nível de investimento chinês estava muito alto.

Há também o limite de oferta de novos trabalhadores que saem do campo em direção às cidades.

O FMI alertou que a China poderia enfrentar uma escassez de trabalhadores, parcialmente por causa da política de filho único vigente no país.

O que aconteceu com as exportações da China?
Exportações de produtos baratos foram fundamentais para explicar crescimento formidável da China


Exportações de produtos muito baratos foram fundamentais para explicar o crescimento formidável da China.

Da virada do século até 2011, em apenas dois anos as vendas externas do país não cresceram mais do que 10% anualmente.

Desse período, em seis anos, as exportações chegaram a registrar alta superior a 20%.

As exceções foram 2008 e 2009, quando os principais destinos das vendas chinesas no Ocidente foram atingidos em cheio pela crise financeira.

Desde 2011, no entanto, as exportações chinesas vêm sendo mais modestas, caindo para 6,4% no ano passado.

O bom desempenho das vendas do país para o exterior, no entanto, é alvo de críticas, especialmente dos Estados Unidos.

Estudam afirmam que emprego e salários foram afetados na indústria americana exposta à competição com produtos feitos na China.

O saldo comercial ─ a diferença entre exportações e importações ─ também é visto por alguns especialistas como um sinal do desafio que o país representa para a indústria manufatureira em nações desenvolvidas.

Mas observando um único dado ─ o superávit em conta corrente ─ essa situação se moderou.

Essa é uma medida das transações da China com o resto do mundo, e não com um país específico.

Como proporção do PIB chinês, esse superávit atingiu 10% em 2007. No ano passado, contudo, foi de 2%.

Em termos financeiros, o saldo ainda é alto, em torno de US$ 200 bilhões (R$ 600 bilhões).

Qual será o impacto da desaceleração da China para todos nós?
Menor atividade econômica da China teve impacto no preço global das commodities


A China não só exporta, mas importa muito. Essa é uma das razões por que uma atividade econômica mais enfraquecida importa para o resto do mundo.

O gigante asiático é, atualmente, o segundo maior importador de produtos e serviços comerciais, atrás dos Estados Unidos.

É também o principal destino das exportações da Tailândia e ocupa o segundo lugar para países como Indonésia, África do Sul, Brasil e Japão – nos dois últimos, não está longe da primeira posição.

A China é, ainda, o terceiro maior mercado para a União Europeia (formada por 28 países) e o quarto principal destino das vendas do Reino Unido e dos Estados Unidos.

O país é um ávido consumidor de petróleo e de outras commodities, e a desaceleração do país está por trás da queda do preço internacional desses produtos nos últimos meses.

Assim, apesar de o crescimento mais moderado da China ser benéfico a longo prazo, o menor apetite do gigante asiático tem um impacto negativo para muitos países, especialmente os chamados "exportadores de commodities", como o Brasil, por exemplo.

Há também a possibilidade de que a instabilidade financeira da China se espalhe pelo mundo.

Desde a crise financeira, a dívida do país tem crescido rapidamente.

Um relatório recente do FMI mostrou preocupação sobre o mercado imobiliário e como isso poderia afetar empresas que fizeram empréstimos vultosos a esse setor.

"Na China, exposições aos imóveis (excluindo hipotecas) estão a quase 20% do PIB, e uma instabilidade financeira entre empresas do setor pode causar efeitos nocivos diretos fora de suas fronteiras", informou o estudo.

Qual é o tamanho da economia chinesa?
Crédito: Reuters
Em 2014, China ultrapassou EUA em paridade do poder de compra


Dependendo de como se analisam os números, a China é hoje a maior ou segunda maior economia do planeta.

A variação se deve ao fato de que, para comparar o tamanho de economias, é preciso converter os números em uma mesma moeda.

Normalmente, a divisa usada é o dólar americano, e há duas maneiras que os economistas fazem isso.

Uma é converter valores usando a taxa de câmbio; a outra consiste em um método chamado paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês), que tende a ser mais preciso, pois corrige as distorções de preço.

No ano passado, a China ultrapassou os Estados Unidos em paridade do poder de compra.

Se a primeira medida for usada, contudo, o gigante asiático ainda permanece em segundo lugar. Por essa ótica, a economia chinesa vale cerca de US$ 10 trilhões (R$ 30 trilhões).

Para efeitos de comparação, os valores são de US$ 17,4 trilhões para os EUA, US$ 4,6 trilhões para o Japão, US$ 4 trilhões para a Alemanha e US$ 3 trilhões para o Reino Unido. Na lista, o Brasil aparece com US$ 2,3 trilhões.

Em termos per capita ─ o que dá uma indicação mais clara do que aconteceu com os padrões de vida ─ a China avançou 1.300% de 1980 a 2010.

É preciso salientar, no entanto, que nesses termos, a China ainda permanece muito distante dos países ricos.

O PIB do país pode ser muito alto, mas sua população é imensa.

Em PPP, o PIB da China por pessoa equivale a um quarto do dos Estados Unidos e a um terço do Reino Unido. Também é menor do que o do Brasil.

Essa lacuna, no entanto, está se estreitando.

A luta contra a corrupção impulsionada pelo presidente Xi Jinping teve um impacto na economia chinesa?
Crédito: AFP
Governo chinês vem fazendo 'limpeza' contra corrupção endêmica


Alguns dizem que sim.

Um relatório do Bank of America Merrill Lynch sugeriu que autoridades chinesas estariam mais relutantes em aprovar projetos pelo risco de serem acusadas de corrupção.

Rumores também indicam que essa mudança de postura do governo chinês também teve um impacto em hotéis e restaurantes.

Mas mesmo se tiver havido um impacto a curto prazo, há uma visão generalizada entre os economistas que a corrupção tem efeitos negativos a longo prazo.

O título de um estudo do Banco Mundial em 1999 traz consigo o próprio questionamento: "Corruption in Economic Development: Beneficial Grease, Minor Annoyance, or Major Obstacle?" (Corrupção no Desenvolvimento Econômico: Gordura Benéfica, Pequeno Contratempo ou Grande Obstáculo?", em tradução livre)

A conclusão era de que a corrupção se tratava de um grande obstáculo.

A prática encoraja o excesso de gasto público, e distorce a maneira pelo qual ele deve ser usado. As verbas deixam de ser aplicadas em saúde e educação, por exemplo, para serem direcionadas a projetos públicos menos eficientes.

Também inibe o investimento privado ─ embora o investimento insuficiente não seja atualmente um problema na China.

O que devemos esperar para os próximos meses?

As autoridades chinesas divulgam dados econômicos a cada três meses.

No primeiro trimestre deste ano, a economia da China cresceu 7% em relação ao mesmo período do ano anterior e 1,3% sobre os três últimos meses de 2014.

Mas há muito ceticismo sobre a confiabilidade das estimativas oficiais.

Diana Choyleva, da consultoria Lombard Street Research, acredita que o PIB chinês tenha registrado queda de janeiro a março deste ano.

A desaceleração da economia chinesa será um dos principais assuntos dos grandes eventos internacionais de política econômica do ano: a cúpula do G20 na Turquia em novembro e o encontro anual do FMI em outubro, que será realizado no Peru.

Certamente, a menor atividade econômica da China será um fator-chave no cenário global por muitos anos e afetará todos nós.

A expectativa do resto do mundo, entretanto, é de que a China possa alcançar a tão sonhada "aterrisagem suave".


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150508_china_desaceleracao_lgb

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Na véspera de eleição britânica, candidata brasileira faz campanha porta a porta

Credito: Twitter/Paula Dolphin

Paula Dolphin, de 44 anos, nasceu em São Paulo e se mudou para Inglaterra aos 25
A um dia da eleição britânica, a brasileira Paula Dolphin, de 44 anos, atende à ligação da BBC Brasil após duas tentativas. "Me desculpa, mas o telefone não para de tocar. Estou falando com eleitores a manhã inteira".

Nascida em São Paulo e filha de pai inglês, Paula concorre a uma vaga no Parlamento britânico pelo partido Liberal Democrata.

O último dia de campanha dela não lembra em nada os grandes comícios e carreatas feitas no Brasil. Além de atender a telefonemas - o número de seu celular fica no site da campanha -, o plano era entregar, de porta em porta, entre 2 mil e 3 mil panfletos explicando as propostas de sua campanha e conversando com os moradores sobre elas.

Paula não está à frente nas pesquisas, mas tem chances de ganhar. A cadeira da região de Torridge e West Devon, no sudoeste da Inglaterra, foi de seu partido de 1997 a 2005. Em 2010, os liberais democratas perderam por uma margem pequena de votos (2.957). A região tem 77 mil eleitores.

Ironicamente, a chance de Paula é que o UKIP - partido que defende a bandeira anti-imigração - tire votos do candidato do Partido Conservador, que está na frente, e a favoreça.

"Mas essa história de falar que imigrante rouba nossos empregos não têm sentido, eles trabalham duro. Existem certos imigrantes que abusam de benefícios, mas são uma minoria", diz ela.
Credito: Twitter/Paula Dolphin
Paula concorre pelo partido Liberal Democrata e gastou cerca de R$ 115 mil.


Paula afirma que costuma dizer aos eleitores que nasceu no Brasil quando faz campanha porta a porta. Segundo ela, desde que iniciou sua carreira política, há 12 anos, "só três ou quatro" disseram para ela voltar a seu país.

Mas o tema imigração não é o mais citado pelos eleitores que aborda, segundo ela. Os ingleses perguntam se ela vai trabalhar em tempo integral no Parlamento, querem saber como irá melhorar o acesso às ruas e fazer a internet chegar em todas as regiões.

Financiamento

A campanha de Paula foi feita sem doações de terceiros. Das 25 mil libras usadas (aproximadamente R$ 116 mil), metade saiu de seu bolso e metade foi bancada pelo partido. O dinheiro serviu, de acordo com ela, para pagar os panfletos, duas pessoas que trabalham na campanha e o envio de correspondências.

No Reino Unido, há um limite de gastos em campanha - podem ser gastas 50 mil libras entre dezembro e março e 30 mil de abril a maio, explica.


"Usei menos porque não tenho todo esse dinheiro. Não quero ter... como se fala no Brasil? Ter rabo preso com ninguém", diz, com português perfeito mas um leve sotaque britânico.

Paula nasceu em São Paulo e cresceu em Campinas, onde fez faculdade de Administração. Com cidadania britânica, decidiu emigrar aos 25 anos para trabalhar.

Ao se mudar para uma região de praia, se envolveu com assuntos da comunidade e acabou entrando para a política. Foi eleita vereadora em Bude em 2004 e, em 2012, virou prefeita da região.

Diz, porém, que já se interessava por política no Brasil. Chegou a frequentar reuniões do PSDB - que guarda pontos de semelhança ideológica com seu partido no Reino Unido - mas não se filiou.

"O que ajuda aqui é que temos o sistema do Parlamento (parlamentarismo), as decisões são mais transparentes, o poder é mais diluído", diz.

Para ela, o limite de gastos nas campanha também ajuda a democratizar a política. "Não é elitista, uma pessoa de classe média pode concorrer".

Nesta quinta-feira, Paula não poderá fazer campanha. Mas vai circular pelos locais de votação - sem santinhos ou camisetas, mas usando uma espécie de broche com uma fita das cores do partido.

"Quem sabe não consigo mais uns eleitores indecididos para votar em mim?"

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150506_candidata_brasileira_uk_lab

terça-feira, 5 de maio de 2015

Novo pragmatismo de Dilma enfrenta teste difícil com recessão e escândalo, diz 'FT'

AFP/Getty

Segundo mandato de Dilma será "difícil", disse jornal Financial Times
O "novo pragmatismo econômico" da presidente Dilma Rousseff enfrenta um "teste duro" com a "pior recessão em 25 anos" e o escândalo de corrupção na Petrobras, diz o jornal britânico Financial Times em editorial nesta terça-feira.

O jornal destaca a situação econômica do país, citando perspectiva de recuo de 1% neste ano, desemprego em alta e inflação ao redor de 8%, quase o dobro da meta oficial.

O FT cita três razões para a "melancolia" do país, "após anos de crescimento rápido e crédito fácil". Diz que dois são externos: a desaceleração chinesa, que afetou os preços de commodities, e a previsão de aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, que pode retirar liquidez internacional do país.

O terceiro fator resultaria de políticas de Dilma em seu primeiro governo, que o jornal chama de equivocadas.

"Acima de tudo, (o Brasil) está pagando o preço da aposta errada de Dilma, durante seu primeiro mandato, no chamado 'desenvolvimentismo'", diz o jornal.

Segundo o diário financeiro, o intervencionismo estatal baseado em taxas de juros artificialmente baixas, expansionismo fiscal, retorno limitado para investimento privado e preços baixos forçados de gasolina e energia se provaram "tóxicos".

"A boa notícia é que Dilma, pelo menos em parte, viu o erro de seus caminhos", diz o jornal, ao apontar medidas de austeridade anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para o país retomar o crescimento.

Além das questões econômicas, o FT cita o escândalo na Petrobras, que acredita ser "o maior da história nacional", com perdas estimadas em R$ 6,2 bilhões devido a corrupção.

Os dois temas, diz o jornal, corroeram a popularidade da presidente, que está "isolada".

"O mais impressionante é como Dilma permitiu que o poder escoasse por suas mãos. Cada reviravolta no escândalo da Petrobras tem visto aliados do governo na coalizão corroerem o poder do Executivo".

"Por ora, o pragmatismo econômico prevalece. Mas é uma questão aberta se ela (Dilma) será capaz de manter a nova ortodoxia, especialmente se a recessão se agravar. O escândalo da Petrobras... pode chegar mais perto da Presidência".

"Os protestos sociais estão aumentando. Uma coisa é clara: o restante do mandato de Dilma será certamente difícil".


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150505_ft_dilma_hb

domingo, 3 de maio de 2015

Cuba pode se tornar uma potência em minério e petróleo?

AP


Cuba vem buscando reservas de petróleo no fundo do mar

Desde que foi anunciada a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos no final do ano passado, começaram as especulações sobre o que ocorrerá quando a ilha restabelecer seus vínculos comerciais com seu vizinho do norte.

Alguns fazem previsões sobre a abertura de lojas da Apple na capital Havana ou novos automóveis Ford circulando pelas ruas do país no lugar dos antigos modelos dos anos 1950 que se tornaram um símbolo cubano, por consequência do embargo.

Mas outra ideia também ronda as mentes de alguns economistas: a possibilidade de um aumento das atividades de mineração e prospecção de petróleo, quando as empresas americanas puderem finalmente entrar no território cubano - algo vedado a elas desde o início da Revolução.

Hoje, as regras do embargo americano a Cuba fazem com que seja ilegal para estas companhias investir em projetos nessas áreas. Isso pode mudar nos próximos anos se, como muitos esperam, o embargo vá sendo anulado gradualmente.

Novos recursos



Cuba é atualmente um dos dez maiores produtores mundiais de níquel e cobalto, e o governo busca novos recursos nos setores de minério e petróleo para aumentar a capacidade de exportação do país.

As observações sobre o potencial de Cuba nessas atividades cresceram quando, no início do mês, veio à público um relatório do Serviço Geológico do governo dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) com uma descrição das condições e recursos de minério e petróleo da ilha.


Mas, como ocorre com várias outras iniciativas mencionadas desde que Washington e Havana retomaram relações, há pouco de concreto e muitas dificuldades a serem superadas antes de Cuba se tornar uma potência de mineração e energia como resultado de investimentos americanos.

Segundo o documento da USGS, em novembro passado, o Ministério de Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro do governo cubano anunciou que estava buscando US$8 bilhões em investimentos vindos do exterior para o desenvolvimento de 246 projetos.

"O setor de petróleo ofereceu o maior número de oportunidades em potencial de investimentos, seguido pela manufatura e a mineração", diz o relatório.

E, em dezembro, veio à tona a decisão do presidente americano, Barack Obama, e do chefe de governo cubano, Raúl Castro, para retomar as relações econômicas depois de mais de cinco décadas de embargo.

EPA
Reaproximação política entre Washington e Havana abre caminho para fim do embargo à ilha

Mais investimentos



Alguns indicaram a possibilidade - ou, ao menos, a esperança - de que as novas relações políticas levarão a um maior investimento nas áreas de minério e petróleo em Cuba.

Entre eles, está David Pathe, presidente da mineradora canadense Sherritt, a maior investidora estrangeira na ilha.

Pathe, cuja empresa opera há décadas um complexo de exploração de níquel no país, disse em uma entrevista à agência Bloomberg em janeiro que este ano "pode haver mais interesses de companhias internacionais" em Cuba.


Arch Ritter, especialista na economia cubana e professor na Universidad de Carleton, no Canadá, é mais cético.

"Não estou certo que sejam tão boas assim as oportunidades de mineração em território cubano", afirma Ritter.

Ele recorda que, em 1994, quando Cuba expandiu sua abertura aos investimentos canadenses, muitas das empresas deste país realizaram significativas explorações de minério, sem terem encontrado grandes volumes.

"Duvido que façam novas descobertas de ouro ou cobre", diz Ritter.

O especialista também não espera muito das explorações submarinas em buscas de petróleo, nas quais Cuba passou a apostar mais depois que a empresa espanhola Repsol começou a realizar buscas nas águas do estreito da Flórida.


"Muitos desses projetos eram comercialmente inviáveis, inclusive quando o petróleo estava caro", acrescenta ele.

Por isso, em uma época de preços baixos, Ritter duvida que ocorrerão grandes mudanças no setor petrolífero em breve.

Ele diz também não ver como a indústria americana possa levar grandes inovações tecnológicas à ilha.

"As empresas canadenses, que dominam as exploração de minério, já estão lá."

Benefícios


Reuters
Cuba busca investimento estrangeiro para projetos no país, mas quer reter controle


O que pode mudar, no entanto, é a situação das mineradoras canadenses, que atualmente sofrem com as consequências da lei Helms-Burton, que regula o embargo americano ao país.

Por seus investimentos na ilha, a Sherritt enfrenta, por exemplo, algumas restrições em sua capacidade de fazer negócios com companhias dos Estados Unidos.

Inclusive, Pathe, seu presidente, está proibido de entrar em território americano, segundo destaca a Bloomberg.


Assim, as mineradoras canadenses podem ser as maiores beneficiadas pelo reestabelecimento das relações entre Cuba e Estados Unidos se o Congresso americano acabar com as restrições do embargo.

De qualquer forma, o anúncio feito pelo governo cubano em novembro passado esclarece que, mesmo se o interesse estrangeiro se concretizar, tudo será feito sob os termos de Cuba, com substancial controle estatal.

"O governo cubano disse especificamente que o país continuará a ter uma economia impulsionada pelo Estado, por meio de holdings governamentais, e que a maioria das iniciativas estrangeiras serão de propriedade majoritariamente cubana", adverte o documento da USGS.

Muitas coisas podem estar a ponto de mudar radicalmente com essa aproximação entre Cuba e Estados Unidos. Mas a indústria de mineração e de petróleo da ilha não parecem estar entre elas no curto prazo.



Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150425_cuba_potencia_minerio_petroleo_rb