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terça-feira, 29 de maio de 2012

AMYR KLINK: ENCURTANDO O TEMPO


Amyr Klink:
"Detesto aventura"
O homem de 56 anos e mais de 250 mil milhas náuticas percorridas fala com a empolgação de um garoto. "Quero encurtar o tempo" e "fazer viagens mais intensas", diz.

  





Muitos conhecem o mundo através de relatos, imagens e histórias. Amyr Klink quis conhecê-lo de perto. Nesta entrevista, ele compartilha um pouco do que viveu e diz que seu desejo é encurtar o tempo

Rosto sisudo, olhar fixo, estatura avantajada, traje social e pressa para pegar o voo em uma manhã de quinta-feira. Quem vê Amyr Klink pode ter, em um primeiro momento, a impressão de estar diante de um típico executivo ou burocrata. Educado e gentil, diz cortesias antes da entrevista e escuta atentamente cada palavra do que lhe é indagado.

Mas é só tocar no assunto que é sua grande paixão, os barcos, para o homem deixar de lado os protocolos e desembestar a falar, sorrir, brincar. E não são poucas as histórias, opiniões e lições de vida de um dos maiores navegadores do mundo, que já realizou mais de 40 expedições para os mais remotos pontos do planeta.

O homem de 56 anos e mais de 250 mil milhas náuticas percorridas fala com a empolgação de um garoto. “Quero encurtar o tempo” e “fazer viagens mais intensas”, diz. Os anos não tiraram dele a capacidade de se admirar com o mundo. Muitos o consideraram louco quando cruzou o oceano Atlântico, sozinho, em um barco a remo. Ou quando passou mais de 600 dias em alto-mar e foi da Antárctica ao Polo Norte. Mas a História mostra que o tempo sabe reconhecer o legado dos que um dia foram taxados de loucos.

Klink diz que quer um mundo sem bandeiras nacionais e que o que mais o impressiona nas expedições que faz não é a natureza e sim as pessoas que encontra. Com uma cultura geral invejável, não se restringe ao universo da navegação. Fala sem titubear sobre qualquer assunto.

O homem que desbravou oceanos afirma ser um grande medroso. O homem que viu maravilhas naturais diz não acreditar em Deus (embora tenha dito um “graças a Deus”, durante a entrevista). O homem que percorreu o mundo de barco diz detestar aventuras. Este é Amyr Klink.

O POVO - Onde foi sua infância e como foi a vivência que o levou a querer navegar?
Amyr Klink - Uma parte importante dela foi na beira do mar, em Paraty (no Rio de Janeiro). Primeiro nas canoas. Me incomodava voltar das festas longe da cidade, com vento a favor e eu tinha que remar. Falei: “Mas por que esqueceram o uso da vela?”. Aí fui descobrir como é que se faziam as velas. Fui entendendo que as pessoas da cidade são ignorantes. Ignoram a cultura autêntica do Brasil. Ninguém da cidade de Paraty se interessava pela variedade, pelos tipos de barcos, pelo desenho do remo, pela cestaria da cidade, que é única. Não havia esse interesse. E hoje eu faço as viagens que eu gosto de fazer em barcos que a gente desenha e constrói. De dez anos pra cá, eu passei a ter o privilégio de poder interferir nesses desenhos. A gente ganhou muitos prêmios fora do B rasil fazendo barcos malucos. Passamos a ter a ousadia de pegar a ideia de um mestre jangadeiro e de um mestre bastardeiro lá de Camocim (município do Litoral Oeste do Ceará) e botar isso num veleiro de ultratecnologia.

OP - Misturando as técnicas de construção...
Amyr Klink - Claro, porque lá (em Camocim) os barcos encalham todos os dias e veleiro não é feito pra encalhar. Meu barco na Antárctica está encalhado nesse momento. E fica todo mundo perguntando o que aconteceu. Ele é feito pra isso, pra encalhar. E essa ideia não foi de nenhum engenheiro do Centro Naval de Toulouse (cidade do sul da França). Foi de um mestre jangadeiro, saveirista, bastardeiro, canoeiro, boteiro (que constrói esses tipos de barcos). Fora do Brasil, esse tipo de influência é valorizado culturalmente, na escola. Se você olha o currículo escolar aqui, se forem falar de barco na escola, vão falar do barco do (navegador Pedro Álvares) Cabral. O Brasil tem milhões de engenheiros navais que não têm diploma, que são muito melhores do que os caras dos centros de referência lá fora.

OP - O que o levou a querer fazer a primeira expedição?
Amyr Klink - A curiosidade. A mesma vontade que tem um moleque que mora na praia de Camocim. A vontade de ir pro mar. Ficava vendo os barcos entrarem e saírem, aí senti essa vontade. Nunca gostei de jogar bola quando era pequeno. Eu adorava ver as canoas entrando e saindo. E foi no tempo que elas foram morrendo, foram perdendo as velas e ganhando motores. E aos poucos eu fui percebendo que em cada pedaço na baía onde eu morava tinha um estilo diferente, uma técnica diferente de fazer barco, de ir pro mar, de navegar. E de repente vieram barcos “alienígenas”, que eu não conhecia. Pequenos veleiros, feitos do outro lado do mundo, viajando em volta da Terra. Enquanto aqueles barcos enormes e de luxo, que tinha lá, não iam pra lugar nenhum, não prestavam pra nada, não tinham estilo, não tinham graça nenhuma, só davam dor de cabeça. E foi isso que me fez enveredar por esse caminho.

OP - Tem alguma expedição que o senhor considera a mais marcante?
Amyr Klink - Têm muitas, mas acho que pra mim a mais marcante foi a primeira viagem com as minhas filhas, há seis anos. Foi uma viagem absolutamente sem nenhuma aventura nem dificuldade, mas eu estava nervoso porque levei minhas filhas e levei também filhos de terceiros. E aí você está atravessando com ondas de oito, dez metros, olhando as crianças dos teus amigos lá. Então é muita responsabilidade. E isso foi uma experiência em que eu aprendi muito. Achei que ia ensinar para as minhas filhas e descobri que quando você tenta passar o conhecimento que você juntou é que você vê que tem que aprender. O processo de aprendizado nunca se encerra. Eu tomei uma saraivada das meninas (filhas). Elas conhecem a Antárctica muito melhor do que eu. Ano passado elas fizeram 72 palestras no Brasil, para escolas e empresas falando sobre aquecimento global. Pra mim uma surpresa incrível. Elas escreveram um livro que está sendo adotado na rede educacional, que se chama Férias na Antárctica. Elas têm uma visão totalmente ambientalista, que eu não tenho. Imagina: eu levava cachorro pra Antárctica, fazia churrasco... Hoje se você for na Antárctica com um animal, é jaula (cadeia), inafiançável. Hoje o jovem tem uma capacidade de incorporar conhecimentos muito maior do que a gente tem de passar. Então é um baita desafio. Acabei levando elas seis vezes pra lá. E aí eu percebi que esse processo de transferir conhecimento vai se acelerando, se multiplicando e de repente a sua fonte vai secando, então você tem que passar a captar conhecimento pra empurrar. É um processo que eu acho fascinante.

OP – Durante as expedições, qual sua relação com o medo?
Amyr Klink - Eu tenho um p... medo (risos). Tenho muito medo. Muito mesmo. Se eu não tivesse medo eu não seria competente. Eu não quero morrer afogado. Eu sei que eu vou morrer e isso não me assusta nenhum pouco. Graças a Deus todos iremos morrer. Mas eu não quero morrer no mar. O medo é um dos processos que você tem que administrar. Você não pode ser tomado pelo medo, mas às vezes isso acontece. Mas também se não houvesse medo os parques de diversão iriam à falência. Todos vão aos parques pra sentir medo. Qual a graça disso? (risos).

OP – O senhor quer dizer que as pessoas pagam para sentir medo?
Amyr Klink – É, as pessoas pagam. Eu por exemplo pago caro pra caramba, me endivido todos os anos pra poder ir pra Antárctica sentir medo. Mas é gratificante. Eu faço isso há 25 anos. Deve ter mais uns 20 caras no mundo que fazem o que eu faço muito melhor. Só tem uma diferença: eles não desenham nem constroem os barcos deles. E também não o fazem no Brasil, o que é uma coisa interessante. Construímos barcos ultrassofisticados com pessoas muito simples. O resultado disso é que em 25 anos, desses 20 caras no mundo, acho que eu sou o único que nunca teve um acidente. Eu nunca perdi um tripulante nem pedaço de tripulante. Disso eu me orgulho pra caramba. Recorde de volta ao mundo, de subir, de cuspir caroço de azeitona, de soltar pum não me interessa (risos). Mas de nunca ter tido um acidente eu me orgulho pra caramba. Fomos a lugares ultrarradicais e nunca tivemos uma ocorrência. Então isso me dá um grande prazer.

OP – O senhor já pensou em desistir alguma vez?
Amyr Klink - Várias vezes você tem que desistir de projetos. Essas coisas têm uma parcela de sacrifício que faz parte. O mais legal do que eu faço é que não dá pra desistir quando você está lá (em alto-mar), você tem que continuar. Então essa possibilidade nem é cogitada. Mas tem coisas que você tem que desistir quando está aqui, resolvendo problemas financeiros escabrosos, problemas burocráticos, diplomáticos...

OP – A imagem que se tem do senhor é de ser um homem do mar, mas como é seu dia a dia fora dele?
Amyr Klink - A gente vive num país engraçado. Qualquer coisinha que você faz fora da caixa vira um “ah, só faz isso”. E não é só isso. Tem uns caras aí que são grandes especialistas nas suas áreas que não fazem só isso. Eu me dedico exclusivamente a estar no mar. O problema é que essa dedicação me come oito, nove meses por ano de preparação, de trabalho. Eu gosto de desenhar, de me envolver com a parte técnica. Então eu passo muito tempo no meu escritório, onde a gente só fica bolando inutilidades (risos). Mas as nossas inutilidades hoje são interessantes. Desenvolvemos um sistema de plataformas flutuantes, por exemplo. A gente fica inventando o tempo inteiro esse tipo de soluções.

OP - Nas suas expedições, quanto tem de aventura e quanto tem de planejamento?
Amyr Klink - Se depender de mim não tem nada de aventura. Detesto aventura. Num barco eu não quero aventura, e sim ter certeza que eu vou sair, fazer uma volta ao mundo e voltar num dia bom, num lugar que eu escolhi. Então eu quero chegar na Antárctica esse ano de novo e ter certeza de que eu vou abrir uma garrafinha de vinho no dia 1º de novembro na baía Dorian. Aventura são os imponderáveis do dia a dia. As dificuldades técnicas, burocráticas. Mas pra falar a verdade eu gosto. É difícil, é chato, desanima, mas é o que dá valor no final.

OP – O senhor percorre o Brasil e o mundo também dando palestras, inclusive em universidades. O que o senhor acha da educação no Brasil?
Amyr Klink - Acho que o Brasil tinha que promover uma guerra para aperfeiçoar o processo de ensino e mudar a educação. Tem várias experiências hoje no mundo com metodologias novas, onde você valoriza os alunos e professores diferenciados. A gente está sendo omisso. Tínhamos que primeiro cuidar dos investimentos necessários para isso, criar uma política. Por exemplo, os alunos que saem das escolas superiores hoje saem totalmente despreparados. Se ele é competente ou não, é porque o mercado forma ele. Os gênios brasileiros que hoje estão no mercado financeiro, comprando e vendendo empresas, movimentando bilhões com 20 e poucos anos de idade, não aprenderam na faculdade. Eles aprenderam em algumas instituições que estão complementando esse ensino que deveria ter sido dado. A nossa produção de pesquisa é muito pequena. A gente tem grandes talentos, mas não adianta ficar com essa história de que “o brasileiro é talentoso”. Temos que descobrir o talento que cada um tem. Há casos de desperdício público de dinheiro em que o fato não é o roubo em si. É o fato de que esse dinheiro poderia estar produzindo resultados na educação.

OP - Uma vez o senhor disse que fica chateado se alguém pergunta quem escreve seus livros. Qual sua relação com a leitura e a escrita?
Amyr Klink - Acho que a única vaidade pessoal que eu tenho está ligada à escrita. Eu gosto de escrever e escrever bem. Sou exigente com texto e acho que está acontecendo um fenômeno que é reflexo dessa omissão na educação da qual eu falei. Hoje você pega os grandes jornais brasileiros, como Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado, e eles são escritos com péssimo português. A quantidade de erros que a gente está tolerando hoje por causa da Internet e da velocidade é revoltante. É um negócio absurdo. Vejo textos que são tecnicamente errados, gramaticalmente errados, o conceito é ruim, o texto é de baixa qualidade e a gente está incorporando isso, não reclamamos mais. Nós temos uma língua bonita, rica, difícil. Acho importante também a gente conhecer outras línguas, não para se universalizar, mas para valorizar a língua que a gente tem.

OP - E o que o senhor gosta de ler?
Amyr Klink - Gosto de ler qualquer coisa. Quando eu estou no avião e não tem mais livro ou revista, começo a ler o manual de etiqueta. Acho a leitura uma forma de comunicação muito bacana. Dos autores brasileiros, o cara que eu mais gosto, como texto, é o Campos de Carvalho e especificamente uma obra dele que é A Lua Vem da Ásia. Foi um dos grandes escritores brasileiros e era um cara muito retirado, que nunca entrou nas rodas sociais e pouca gente reconhece.

OP – O senhor tem alguma religião ou relação com algo divino?
Amyr Klink - Não. Zero. Não é que eu acredito ou desacredito. Simplesmente não acho relevante. Mas gosto de estudar religião. Convivo com pessoas de religiões diferentes, que se matam por suas opções religiosas. Acho engraçado como cada um acha obrigatório você encontrar Deus. Eu não acredito em Deus, não me preocupo com Deus. Acho religião um assunto secundário. Mas é um assunto muito interessante para se conhecer o ser humano. Então gosto de estudar e discutir, mas não tenho nenhuma crença.

OP – O senhor tem orgulho de ser brasileiro? O que é o Brasil para o senhor?
Amyr Klink - Acho que ter orgulho de ser brasileiro é quase uma obrigação. Acho que no meu caso é um privilégio. O Brasil é um país extremamente interessante, que nós, brasileiros, ainda compreendemos mal. A gente tem algumas obsessões ufanistas que eu não gosto. Por exemplo, esse negócio do amor à bandeira. Eu tenho o maior respeito do mundo pela bandeira brasileira, mas não tenho nenhum amor. Bandeira não é para se amar e sim para se respeitar profundamente. Aliás, eu quero um mundo sem bandeiras. Eu gosto da Antárctica porque não tem bandeira lá. É o meu planeta, o outro cara é um ser humano. Se for um argentino, um judeu ou um xiita eu não vou lá socorrer ele?

OP - O que o senhor tenta passar de ensinamentos quando ministra uma palestra ou escreve um livro, por exemplo?
Amyr Klink - Não fico tentando passar muita coisa não, se não seria o trabalho de um puxa-saco (risos). Eu gosto de descrever as experiências que a gente tem quando acho que elas podem contribuir, fazer refletir ou principalmente instigar. Acho que a escrita não tem que ser boa nem ruim, mas tem que ser inspiradora. Às vezes você pode falar de assuntos desagradáveis, mas eles têm que ser inspiradores.

OP - O que o senhor pensa sobre assuntos como o aquecimento global e como acha que o mundo estará daqui a algumas décadas, em relação à natureza?
Amyr Klink - Se a gente olhar historicamente nos últimos milhões de anos a taxa de natalidade e população do mundo, você vai ver que estamos numa curva que leva para uma interrogação. Uma hora os recursos vão se exaurir. Nesse assunto de aquecimento global hoje há muita discórdia, mas acho saudável a discórdia. Temos que considerar os dois lados. Tem países hoje que têm problemas sociais, de sobrevivência, muito mais urgentes do que o clima. Me preocupa o fato de você ter consciência do que está acontecendo e não tomar providência. Nem todos os cidadãos têm como fazer, mas todos os governos têm e não estão fazendo. A começar pelo governo que deveria ser o líder nessa atitude, que é o governo americano. Os governos têm responsabilidade sobre o que vai acontecer e me preocupa o fato de a gente não ter mecanismos de obrigar eles a serem mais eficientes. Mas é um exercício de criar soluções. De repente a gente cria um mecanismo que obrigue todos a pensarem, a parar uma guerra para pensar: “Não tem sentido destruir um rio que passa entre nossos dois países”.

OP - O Brasil sabe explorar a vasta costa oceânica que tem, principalmente em termos de turismo?
Amyr Klink - Não, isso não aconteceu. O turismo náutico no Brasil ainda não existe, eu posso dizer isso. Cruzeiro de transatlântico no Brasil não é turismo náutico. A gente tem um potencial para variar. Temos um potencial que não está sendo usado por ignorância do poder público e dos próprios brasileiros. Não temos estrutura nem valorização da cultura náutica. A gente viu lá em Pernambuco jangadas de dois mastros, canoas que só tem naquele lugar. Isso em qualquer lugar seria uma fonte de atração turística inesgotável.

OP – O senhor disse que o ensino no Brasil é fraco. Então que tipo de educação o senhor, enquanto pai, tenta dar às suas filhas?
Amyr Klink - Acho que não adianta ficar esperando da escola a solução para a boa educação dos nossos filhos, porque a gente sabe que isso vai demorar. Então eu procuro passar os valores que a gente tem, passar o desprendimento material. Não sou contra essas mídias sociais e essas coisas todas, mas estamos ainda na fase do deslumbramento. Daqui a pouco vai encher o saco você fazer um falso currículo mostrando como você é bonito, bem sucedido e que vai a lugares legais. Hoje não tem espaço para empreendedores inaptos se fazerem economicamente do dia para a noite. Você só vai ter êxito se você de fato se meter em uma atividade que você goste e domine profundamente. Não tem mais espaço para esses saltos de riqueza e sucesso como tinha no passado. Acho que uma das formas de você ter coragem de apostar no seu negócio é você tendo certo desapego material. Somos muito apegados à marca do carro, da roupa, ao status sociais. A gente ainda vive essa mendicância, essa miséria intelectual. Então o que eu procuro complementar na educação delas são esses valores. O importante é o que você sabe, não o que você tem.

OP – Como é a relação com sua família?
Amyr Klink - Sempre tive uma relação estreita com a família. Era mais fácil a Marina (esposa) me localizar quando eu estava na Antárctica, porque eu tenho um rastreador no barco, do que quando eu estava num fim de semana no Rio de Janeiro. Eu não gosto de ficar arrastando as pessoas para o que eu faço. Mas acho que qualquer coisa que você faça e que uma outra pessoa veja, você acaba contaminando ou inspirando ela de alguma maneira. E lá em casa, sem querer, isso aconteceu. Nos últimos sete anos a gente tem feito pelo menos metade das viagens com as crianças. A Marina largou o trabalho que ela tinha e hoje se dedica a fazer fotografias da natureza. Esse ano a gente viajou pra Antárctica, pra Patagônia e foi a primeira vez que eu não paguei nada, fui como ajudante da minha mulher (risos). As meninas (filhas) hoje têm uma visão muito profunda sobre problemas ambientais, sobre o que elas querem fazer no futuro. Sem querer eu contaminei a família.

OP - O que o senhor diria para quem quer conhecer o mundo, mas não tem condições de realizar uma grande expedição?
Amyr Klink - Quem não tem condição não tem porque não quer. Você pode começar uma volta ao mundo, de graça, amanhã, é só você querer. Se você tem dinheiro faz no seu barco, se não tem dinheiro faz no de outra pessoa. Acho que a gente vive em um mundo um pouco comodista. Tem gente que acha “ah, eu não sei fazer”, mas querendo você faz. Mas você pode conhecer o mundo também no lugar onde você trabalha. Eu por exemplo tenho vários amigos que sabem tudo do mundo inteiro porque têm um boteco. Um boteco onde vai gente do mundo inteiro. Às vezes você pode viver com a experiência dos outros, acumular elas. Então tem várias formas de conhecer o mundo sem necessariamente estar voando, navegando ou se locomovendo.

OP - Quais são os projetos para as próximas expedições?
Amyr Klink - A idade é uma coisa engraçada. Quero viajar mais, trabalhar menos e me endividar menos (risos). Quero encurtar o tempo. Então eu quero voltar a diminuir o tamanho dos barcos e aumentar a velocidade. Quero fazer viagens mais intensas. Então a gente tem trabalhado para ter cada vez menos rabo preso. Não quero saber de financiamento de nenhuma espécie de órgão, não quero saber de patrocínio de nenhum raio de empresa, prefiro andar pelado na Antárctica do que andar com logomarca na camisa. Prefiro ter o direito de dizer pra onde eu vou, se é melhor voltar. E a gente acabou entrando em áreas interessantes. Essa experiência de misturar o conhecimento histórico, cultural, naval, essa convivência que eu tive nos lugares brasileiros com o privilégio que eu tenho de poder fazer os projetos está fazendo a gente criar coisas legais. Por exemplo, estamos fazendo um barco de resgate que é obrigatório por lei na Antárctica para atender os barcos que navegam por lá, mas ninguém fez. Ninguém fez um barco que tem duas mil milhas de autonomia. Nenhum fabricante de lancha do Brasil consegue fabricar. Eu fiz o primeiro no ano passado. Achei que não ficou bom, agora estamos fazendo um melhor. E aí, em vez de passar quatro semanas para chegar à Antarctica, eu quero ir em 20 horas (risos).

OP - Já tem data pra a próxima expedição?
Amyr Klink - Já, agora na próxima temporada. Em outubro e depois em janeiro a gente quer estar lá. Temos que ter um jeito de financiar isso sem depender de banco nem de empresa, que é por cotas. A gente divide por grupos de 16 pessoas e cada cotista paga uma parte.

OP - O que o senhor diria para alguém que deseja iniciar um grande projeto, seja lá qual for?
Amyr Klink - Na minha área tem várias pessoas que se inspiraram e hoje estão fazendo projetos. Alguns saem fazendo sem saber por onde começar. Sou contratado em vários países para falar sobre planejamento, mas é engraçado: não adianta fazer planejamento se você não tem atitude. Então eu acho importante começar a fazer. Tem muita gente com projetos maravilhosos, superelaborados, que estão se aperfeiçoando sempre, mas não vão bater perna, botar em prática, botar a mão na graxa, no cimento e fazer acontecer. O brasileiro tem essa característica de nem pensar muito e já sair fazendo. Acho que a gente tinha que misturar essas duas características da iniciativa, da capacidade criativa, com a preparação educacional. Quando isso acontecer é que a gente vai dar um grande salto.

OP - De tudo o que o senhor viu, dos lugares por onde passou e de tudo o que já viveu, qual a grande lição?
Amyr Klink - Eu fiz a 41ª viagem, fui para a Antárctica. Eu adoro estar lá, mas não vou pra lá por causa da natureza, essas coisas. O que eu mais gosto nessas viagens é a experiência de conhecer pessoas de vários lugares e de vários modos de pensar. É engraçado falar isso, eu já fiquei mais de um ano sozinho lá, mas a experiência mais legal desse inverno que eu passei lá foi o contato com as pessoas. Só aconteceu em algumas poucas semanas. Viajar sozinho pra não ver ninguém, pra não falar com ninguém ou pra não contar pra ninguém acho que não tem graça. O lugar mais maluco que eu já visitei até hoje foram as ilhas Faroe (na Dinamarca). Não foi a navegação que foi dificílima nem a paisagem que foi maluca. Mas foi uma comunidade de pescadores nórdicos que está no mesmo lugar há 1.100 anos. É umas das comunidades mais ricas do mundo, que mais trabalha, mas que ao mesmo tempo é uma das mais simples e não arrogante. Eles são gente do mar, que rala pra caramba. Mulher não fica lá se maquiando para parecer mais bonita. Ela se acha mais bonita quando constrói um navio maior pra pescar. O segredo deles é o respeito ao passado e à educação. Eles ensinam a construir uma casa viking ou um barco e na construção da casa e do barco eles ensinam matemática, história, filosofia...

Fonte: Jornal O Povo http://www.opovo.com.br/app/opovo/paginasazuis/2012/05/28/noticiasjornalpaginasazuis,2846232/amyr-klink-detesto-aventura.shtml

segunda-feira, 28 de maio de 2012

NEUROCIÊNCIA PESQUISA CONSUMIDORES




Ele sabe o que você está pensando
Empresas como PepsiCo, Visa e Citi estão contratando o neurocientista A.K. Pradeep para analisar o que se passa no cérebro dos consumidores
27 de maio de 2012 | 21h 00
Lílian Cunha, de O Estado de S. Paulo


SÃO PAULO - O que faz o Cheetos, da PepsiCo, vender mais de US$ 4 bilhões ao ano? Não é seu sabor ou seu aroma artificial de queijo. Também não é sua textura, nem seu formato. Tão pouco sua praticidade ou o fato de ser crocante. O que transforma um simples Cheetos em um "snack" bilionário, segundo o neurocientista Anantha Krishnan Pradeep, é o que acontece com o salgadinho depois de mastigado: ele gruda na boca do consumidor.

Com uma espécie de capacete high-tech que lê as correntes elétricas geradas no cérebro, Pradeep consegue medir a intensidade das ondas de prazer geradas no cérebro de quem come um Cheetos. O ápice das ondas que refletem prazer acontece, segundo ele, quando o salgadinho fica grudento. "Cada produto ou serviço precisa ter o que chamamos de assinatura neurológica icônica: uma peculiar e extraordinária característica que é evocativa para o cérebro. No caso do Cheetos, é a sensação de grude na boca."

Para descobrir, ou criar uma assinatura neurológica icônica – a característica que cativa o consumidor – grandes empresas como Microsoft, Citi, Google, HP e a própria PepsiCo se tornaram clientes de Pradeep, um indiano tagarela radicado em Berkeley, na Califórnia. Praticante contumaz de ioga – "Faz muito bem para o cérebro", diz ele – o cientista é fundador da NeuroFocus, empresa de neurociência aplicada ao consumo criada em 2005.

Em maio do ano passado, a NeuroFocus foi comprada pela Nielsen, uma das maiores empresas globais de pesquisas de mercado, que manteve Pradeep como chefe da unidade. Descobrir como o cérebro dos consumidores reage a marcas, produtos, embalagens, publicidade, ao modo de exposição no ponto de venda e até ao preço de produtos e serviços é o negócio da NeuroFocus.

Prazer e frustração. Por meio de equipamentos usados na medicina (como o eletroencefalograma portátil, em forma de capacete, usado no caso do Cheetos), Pradeep consegue ler e distinguir as ondas cerebrais que expressam prazer e as que mostram frustração – em situações como a de um consumidor experimentando um produto ou fazendo compras em uma loja. "Assim, conseguimos saber exatamente o que agrada e o que frustra o consumidor", diz o neurocientista.

Não é, por exemplo, o ato de comprar, segundo Pradeep, que dá mais prazer a uma pessoa que passeia em um shopping center. "É a experiência de encontrar novidades ou os produtos que suprem melhor nossas necessidades subconscientes. É isso que libera dopamina, o neurotransmissor que dá sensação de prazer", diz o especialista. "Nosso cérebro é biologicamente programado para buscar essa experiência de encontrar soluções surpreendentes", afirma.

Os estudos e pesquisas da NeuroFocus são feitos com consumidores voluntários. É difícil conseguir gente disposta a usar o capacete de eletroencefalograma? Pradeep diz que não.

"Existe muita curiosidade sobre o cérebro. As pessoas colocam a mão no peito e ouvem o coração, mas não sabem como o cérebro funciona. Ser voluntário em nossas pesquisas ajuda nesse entendimento", diz. A NeuroFocus, segundo ele, já fez pesquisas no Brasil para clientes muito interessados em saber o que o consumidor brasileiro quer. "Várias empresas multinacionais têm nos contratado para pesquisar o mercado do País", diz ele, que não pode revelar o nome dessas companhias.

Aqui, a neurociência voltada ao consumo tem conquistado seu espaço. A Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) criou em 2010 um curso de extensão sobre a matéria. No ano passado, a disciplina foi incluída no curso de pós-graduação em Ciências do Consumo Aplicadas.

"Os primeiros estudos a respeito surgiram há dez ou 12 anos", diz o professor de neurociência aplicada ao consumo da ESPM, Pedro Calabrez Furtado, para quem Pradeep é um dos maiores nomes nesse campo. "É infantil achar que as empresas vão ler a mente de alguém", diz. "Mas essa é uma ciência que tem ajudado as empresas a saber com mais precisão o que o cliente quer."

Fonte: http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,ele-sabe-o-que-voce-esta-pensando,113969,0.htm

domingo, 27 de maio de 2012

PARA ARMÍNIO FRAGA BRASIL PODE CRESCER MAIS


Brasil poderia crescer de 5% a 6%, diz Armínio.
Para o ex-presidente do Banco Central, é preciso mudar o foco do consumo para a produtividade para acelerar a economia
26 de maio de 2012 | 20h 36


Fernando Dantas, de O Estado de S. Paulo
RIO - O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC), acha que não há barreiras insuperáveis para o Brasil crescer de 5% a 6% ao ano. Para chegar lá, porém, o foco da política econômica tem de sair do estímulo à demanda para o aprimoramento da oferta, com medidas – como investimentos em infraestrutura e educação, e redução de custos tributários e de energia – que revertam o fraco desempenho da produtividade brasileira. A seguir, a entrevista com Fraga, que é sócio-fundador da gestora de recursos Gávea Investimentos.

Como o sr. vê a dificuldade de a economia brasileira retomar o crescimento?

Tem fatores externos, fatores cíclicos e fatores de natureza mais estrutural. Os externos estão aí, um clima mais de medo, um clima de crise centrado na Europa mas também com uma componente chinesa, dado que a China neste início de ano está crescendo abaixo do que era projetado. Há também um elemento estatístico. O fato de o ano passado ter sido também de crescimento moderado ou baixo carrega isso um pouco para este ano.

Cresceremos pouco de novo, como em 2011?

Mesmo que a economia cresça a uma taxa de 1% ao trimestre no segundo semestre, a taxa anualizada vai ser baixa. A minha expectativa, sujeita a chuvas e trovoadas da Europa, principalmente, é que no segundo semestre a economia responda aos estímulos que já foram feitos: o juro mais baixo, o governo pressionando também na área do crédito, além do próprio câmbio, que se depreciou.

Quais são os componentes cíclicos que atrapalham o crescimento?

Há um natural arrefecimento no crescimento do crédito. Ele vinha crescendo numa taxa que não era sustentável, e desacelerou. Nada dramático, mas desacelerou. Não adianta querer forçar a demanda além de um certo ponto. E o governo vai ficar de olho nisso. Vejo a inflação caindo este ano em relação ao ano passado, mas existe uma questão a respeito do que vai acontecer em 2013. Mas acho que aí o sistema tende a funcionar, não é minha preocupação. Estou preocupado com o lado da oferta. Neste lado estrutural, há diversas barreiras.

Quais?

A infraestrutura, a baixa taxa de investimento e até sinais preliminares de que a produtividade talvez não esteja evoluindo muito favoravelmente. São desafios para o Brasil. Já há muito tempo tem sido difícil para o País investir mais que 20% do PIB. Há dez, 15 anos, também não estávamos investindo muito, mas a infraestrutura quebrava o galho. Agora, depois de alguns anos crescendo a uma taxa de quase 4%, a infraestrutura simplesmente não aguenta mais.

Por que estamos tendo problemas com a produtividade e os investimentos?

São temas mais de natureza mais microeconômica. Entendo as posições a favor do aumento do protecionismo no Brasil, mas acho que isso tem um custo, que não é tão visível. Há escassez de mão de obra qualificada. E existem várias questões ligadas ao governo que também chamam a atenção: o custo de se operar no Brasil, a estrutura tributária, o custo da energia.

Como o sr. vê a atuação do governo para acelerar a economia?

O governo, quando fala de crescimento, parece estar mais focado no lado da demanda do que no lado da oferta. É claro que nenhuma economia cresce sem demanda, não é esse o problema. Mas no momento em que a economia internacional não nos ajuda, a demanda interna não consegue ir tão longe, as questões de oferta começam a aparecer com mais força. Aliás, acho que esses problemas da oferta são temas que o governo está começando a debater também, há a sensação de maior consciência sobre a urgência de aumentar os investimentos e de prestar mais atenção nas questões ligadas à produtividade. Não tenho uma visão negativa das nossas possibilidades, tudo isso pode ser contornado, pode ser corrigido com o tempo. Mas o momento global hoje é muito ruim, atrapalha.

Qual o crescimento potencial do Brasil?

O uso dessa expressão no contexto do Copom (Comitê de Política Monetária) diz respeito ao quão rápido a economia pode andar sem pressionar a inflação. Então é uma definição de muito curto prazo. É um número que não se consegue medir com precisão, e que depende de várias circunstâncias e elementos. Hoje imagina-se, ou imaginava-se, que ficava em torno de 4%, para alguns um pouco menos. Já o crescimento potencial que a gente discute numa roda de amigos, não especialistas, é bem mais alto.

Como assim?

Acho que se o Brasil investir mais, investir na educação, acertar algumas das coisas que comentamos, poderia crescer de forma sustentada um pouco mais, por um bom tempo – quem sabe 5%, 6%. Não vejo nenhuma barreira insuperável para isso, mas não vai acontecer sem o País investir mais, e melhor, e educar melhor.

Qual a sua visão sobre a crise do euro?

A Grécia é um país absolutamente diferenciado até dos outros que estão tendo problemas. É um caso extremo. É difícil dizer se ela vai ou não sair do euro, mas é pouco provável que consiga honrar sua dívida. A Grécia tem dificuldade de se ajustar mesmo depois de a dívida já ter sido reduzida. Não descarto a possibilidade de a Grécia sair eventualmente.

Poderia ser uma crise tão grande quanto a do colapso do Lehman Brothers em 2008?

Poder, pode. Teria de ser uma coisa bem orquestrada para evitar isso, e ainda assim é difícil ter certeza. Porque as pessoas nos outros países vão olhar o que está acontecendo na Grécia e podem entrar em pânico, achar que isso vai acontecer nos seus países também, o que pode deslanchar um pânico mais generalizado. É um momento muito difícil, não há como negar.

Fonte: Estado de São Paulo

quarta-feira, 9 de maio de 2012

ARTE EM PAPEL

 Obra "M.R.H.", da série "Desmemórias" do brasileiro Lucas Simões
 Obra "Oceanic Drift #3" de Val Britton, dos EUA

Obra do francês Grégoire Alexandre


A criatividade na obra de arte é dinâmica e seus valores são comparados às coisas do alto. Quando Deus se dispôs a criar o homem, à sua imagem e semelhança, Ele colocou no fundo de sua alma uma semente, que todas as vezes em que o homem faz uma prece, com fé, ela explode em criatividade e cresce em esplendor. Dai surgem as obras de arte, manifestações incontidas, da presença de Deus no meio divino do qual nos fazemos parte. Esta graça, que purifica, é sempre manifesta aos humildes e puros de coração.

Alvaro de Oliveira