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terça-feira, 30 de maio de 2017

Corrida por mão de obra faz Apple e outras gigantes oferecerem curso universitário

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Lambreta na ItáliaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionApple concentra centro para preparar jovens na Itália
Em meio a preocupações crescentes com a falta de mão de obra preparada para os trabalhos do futuro, gigantes da tecnologia como a Apple tentam formar suas próprias gerações de jovens com habilidades digitais.
No ano passado, a empresa abriu uma escola em Nápoles, na Itália, onde estudantes passam um ano aprendendo a ser desenvolvedores, codificadores, criadores de apps e empreendedores de startups.
As vagas para o próximo ano letivo da Developer Academy - abertas até esta quarta-feira, pelo site https://www.developeracademy.unina.it/en/call-for-applications/ - são ofertadas a alunos do mundo inteiro, por meio de concurso e provas que serão aplicadas no mês que vem em Munique, Paris, Londres, Madri, Roma e Nápoles. O curso é gratuito e ensinado em inglês.
A próxima turma terá 400 alunos (o dobro da turma do ano passado), provavelmente de 18 a 30 anos de idade, e começará as aulas em outubro, no campus da universidade italiana Federico II.
"O programa vai focar em desenvolvimento de software, criação de startups e projetos de apps para (sistema) iOS, com ênfase em criatividade e colaboração para empoderar e preparar estudantes no desenvolvimento de habilidades que eles precisam para ser bem-sucedidos", diz o programa do curso.
iPhone, o celular da AppleDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAo mesmo tempo que se beneficia, Apple também faz ação social ao oferecer curso universitário de graça
Para uma empresa como a Apple, um investimento tão direto em educação tem tanto a ver com ação social quanto com interesse próprio - de preparar mão de obra própria e habilidosa.
Em menos de uma década, aplicativos digitais se tornaram uma das mais importantes fontes de receita da Apple.
A empresa calcula haver hoje 2 milhões de apps em sua loja online - e isso, apenas na Europa, sustenta em torno de 1,2 milhão de empregos.
A Developer Academy é também a resposta de empresas tecnológicas a um problema global: o temor de que não haja gente suficientemente capacitada para ocupar futuros empregos ligados à criatividade e à tecnologia.

Abismo

Teme-se um grande abismo entre oferta e demanda: empregadores não conseguiriam preencher suas vagas hiperqualificadas ao mesmo tempo em que milhões de funcionários ficariam à deriva, sem emprego, por não terem as habilidades necessárias para o mercado.
Só no Reino Unido, as câmaras britânicas de comércio queixaram-se recentemente de que três em cada quatro empresas do país sofrem de uma "escassez de habilidades digitais".
Um exemplo recente disso foi o ataque cibernético - um "ransomware" - que afetou sistemas de informática em centenas de países, evidenciando uma escassez de profissionais especializados em segurança digital.
Outra gigante da informática, a IBM, também levanta preocupações a respeito.
NápolesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionApple oferece curso universitário por mão-de-obra qualificada
A empresa mantém sua própria uma rede internacional de cooperação com universidades em projetos de cibersegurança. Em 2014, anunciou parceria com 28 escolas de negócios e universidades para "ajudar a preparar estudantes para 4,4 milhões de empregos que serão criados ao redor do mundo para apoiar (o uso de) 'big data'".
Em artigo na Harvard Business Review, o gerente-geral de segurança da IBM, Marc van Zadelhoff, disse que será necessário também expandir o treinamento para os empregados que não trabalham diretamente nas áreas de tecnologia.
"Por que estamos limitando os empregos nas áreas de segurança às pessoas com quatro títulos (acadêmicos) em ciência da computação, quando o que precisamos urgentemente é de várias habilidades em diferentes indústrias?", questionou.
"As empresas deveriam se abrir para candidatos cujas origens não tradicionais resultem em novas ideias ao cargo e ao desafio de melhorar a segurança cibernética."

Esquecidos pela globalização

Há, ainda, uma dimensão política relacionada às habilidades necessárias para uma economia moderna, diz a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em relatório publicado neste mês.
A organização, que reúne majoritariamente países desenvolvidos, cita o efeito polarizador da globalização ante os crescentes protestos e o descontentamento popular tanto na esquerda quanto na direita.
Homens usam computadorDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAtaque cibernético que ocorreu em maio demonstrou fragilidade da segurança online
Para a OCDE, as habilidades da população de cada país determinarão o nível de desenvolvimento dessas nações: um país com gente altamente qualificada se beneficiará da globalização, ganhando para si os melhores empregos, produtividade elevada, mercados consumidores mais amplos e indústrias digitais.
Entre os países na dianteira desse processo a OCDE inclui a Coreia do Sul e a Polônia, além de Estônia, Japão e Nova Zelândia - esses últimos citados como países que têm tirado vantagem da expansão de seus setores tecnológicos.

Empregos escassos

Entre as grandes economias, a Alemanha se destaca em relação aos EUA no desenvolvimento de habilidades.
Mas a grande preocupação é com as centenas de milhões de pessoas pelo mundo - Brasil incluído - com baixa qualificação em leitura e matemática, altamente vulneráveis às forças da globalização e à extinção de empregos.
Planta em pote de moedasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEspecialista aponta que há urgência social e política em equiparar as qualificações profissionais ao redor do mundo para evitar as duras rupturas da globalização
Adultos com habilidades literárias semelhantes às de crianças de 10 anos estão sendo rapidamente substituídos por trabalhadores terceirizados ou por máquinas.
Andreas Schleicher, diretor educacional da OCDE, afirma que há uma urgência social e política em equiparar as qualificações profissionais ao redor do mundo para evitar as duras rupturas derivadas da globalização.
"Não espere que os trabalhadores vão aceitar perder seu trabalho para a terceirização ou a automação se eles não estão preparados para conseguir ou criar empregos novos", diz Schleicher.
Fonte http://www.bbc.com/portuguese/geral-40067431

Instagram é considerada a pior rede social para saúde mental dos jovens, segundo pesquisa

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Jovem usando celularDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCerca de 90% dos jovens usam redes sociais, o que os torna especialmente vulneráveis aos seus efeitos
O Instagram foi considerada a pior rede social no que concerne seu impacto sobre a saúde mental dos jovens, segundo uma pesquisa do Reino Unido.
Na enquete, 1.479 pessoas com idades entre 14 e 24 anos avaliaram aplicativos populares em quesitos como ansiedade, depressão, solidão, bullying e imagem corporal.
Organizações de saúde mental pediram às empresas que mantém os aplicativos a aumentar a segurança dos usuários.
Em resposta, o Instagram disse que uma de suas maiores prioridades é manter a plataforma como um lugar "seguro e solidário" para os jovens.
O estudo, da Sociedade Real para Saúde Pública (RSPH, na sigla em inglês) na Grã-Bretanha, sugere que as plataformas avisem, através de um pop-up, toda vez que houver uso excessivamente intenso das redes sociais, e que identifiquem usuários com problemas de saúde mental.
O Instagram diz que oferece ferramentas e informações sobre como lidar com bullying e avisa os usuários sobre conteúdos específicos de algumas páginas.
A pesquisa afirmou que "as redes sociais podem estar alimentando uma crise de saúde mental" entre jovens.
No entanto, ela também pode ser usada para o bem, segundo o estudo. O Instagram, por exemplo, teve um efeito positivo em termos de autoexpressão e autoidentidade, segundo a pesquisa.
Cerca de 90% dos jovens usam redes sociais - mais do que qualquer outra faixa etária -, o que os torna especialmente vulneráveis a seus efeitos, apesar de não estar exatamente claro quais seriam estes no momento.

'Depressão profunda'

Isla é uma jovem de 20 e poucos anos. Ela ficou "viciada" em redes sociais durante a adolescência quando estava passando por um momento difícil de sua vida.
"As comunidades online me fizeram sentir incluída, como se a minha existência valesse a pena", diz. "Mas eu comecei a negligenciar minhas amizades na 'vida real' e passava todo o meu tempo online conversando com meus amigos lá".
"Eu passei por uma depressão profunda quando tinha 16 anos, ela durou meses e foi terrível. Durante esse período, as redes sociais me fizeram sentir pior, eu constantemente me comparava com outras pessoas e isso fazia eu me sentir mal", conta a jovem.
"Quando eu tinha 19 anos, tive outro episódio de depressão profunda. Eu entrava nas redes sociais, via meus amigos fazendo várias coisas e me odiava por não conseguir fazê-las ou me sentia mal por não ser uma pessoa tão boa quanto eles".
Isla Whateley, uma usuária de redes sociaisDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionIsla Whateley, uma usuária de redes sociais que sofreu com problemas de saúde mental
As redes sociais também tiveram um efeito positivo na vida de Isla. "Eu bloguei muito sobre saúde mental, sou bem aberta em relação a isso e tive boas conversas com as pessoas sobre o assunto."
"Eu acho que me dá uma plataforma pra falar sobre isso. Conversar com as pessoas é algo imperativo para a minha saúde. Eu ainda sou amiga de pessoas que conheci na internet há cinco, seis anos e até encontrei algumas delas pessoalmente", diz.
A pesquisa online fez uma série de perguntas sobre o impacto das redes YouTube, Instagram, Snapchat, Facebook e Twitter em termos de saúde e bem-estar. Os participantes da pesquisa deveriam avaliar cada plataforma em 14 tópicos relacionados aos temas.
Com base nessas avaliações, o YouTube foi a rede com o impacto mais positivo em termos de saúde mental, seguido por Twitter e Facebook. Snapchat e Instagram tiveram as piores pontuações.

'Faroeste'

"É interessante ver Instagram e Snapchat nas piores posições para saúde mental e bem-estar - ambas as plataformas são bastante focadas em imagem e parecem causar sentimentos de inadequação e ansiedade nos jovens", diz Shirley Cramer, executiva-chefe da RSPH.
Com base nessas descobertas, especialistas em saúde pública estão pedindo para que as plataformas de redes sociais introduzam uma série de checagens e medidas para melhorar a saúde mental, incluindo:
  • Avisos de que as pessoas estão fazendo uso excessivo das redes sociais (apoiada por 70% dos jovens que participaram da pesquisa);
  • A identificação, por parte das plataformas, de usuários com problemas de saúde mental (pelo conteúdo de postagens) seguida de "indicações discretas sobre como eles podem conseguir apoio";
  • Sinalização de quando as fotos foram digitalmente manipuladas - por exemplo, marcas de roupa, celebridades e outras organizações publicitárias poderiam utilizar um pequeno ícone nas fotos alteradas digitalmente.
Jovens usando celularDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEm votação, 1.479 pessoas com idades entre 14 e 24 anos avaliaram aplicativos populares em relação a saúde mental
Tom Madders, da organização de saúde mental YoungMinds, disse que as recomendações podem ajudar muitos jovens. "Aumentar a segurança nas redes sociais é um passo importante que pedimos para Instagram e outras redes tomarem", disse.
"Mas também é importante reconhecer que simplesmente 'proteger' jovens de alguns conteúdos jamais será a solução total".
Ele disse que os jovens precisam entender os riscos de como eles se comportam na internet e devem aprender como reagir a "conteúdos nocivos que escapam dos filtros".
Michelle Napchan, chefe das políticas do Instagram, disse que "manter a solidariedade e segurança do Instagram como um local onde as pessoas se sintam à vontade para se expressar é a nossa maior prioridade - especialmente em relação aos jovens".
"Todos os dias, pessoas em todas as partes do mundo usam o Instagram para compartilhar sua própria jornada de saúde mental e conseguir apoio no Instagram quando e onde eles precisarem".
"É por isso que trabalhamos em parceria com especialistas para dar às pessoas as informações e ferramentas que elas precisam para usar o aplicativo, inclusive sobre como denunciar conteúdo, conseguir apoio para um amigo que lhes preocupa ou contatar diretamente um especialista para pedir conselhos sobre como lidar com um problema".
Fonte http://www.bbc.com/portuguese/geral-40092022

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Gelo combustível, a promissora fonte de energia que a China extraiu do fundo do mar

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Hidratos de metanoDireito de imagemUSGS
Image captionEmbora pareça com gelo, o hidrato de metano é inflamável
A China anunciou ter extraído do fundo do Mar da China Meridional uma quantidade considerável de hidrato de metano, também conhecido como gelo combustível, que é tido por muitos como o futuro do abastecimento de energia.
Num comunicado emitido na semana passada, autoridades do país asiático comemoraram o feito. Isso porque a tarefa é considerada altamente complexa, e já tinha sido alvo de tentativas pelo Japão e pelos Estados Unidos, sem muito sucesso.
Mas o que é exatamente esse composto e por que ele é considerado como uma promissora fonte de energia no mundo?

Reservas imensas

O gelo combustível ou gelo inflamável é uma mistura gelada de água e gás.
"Parecem cristais de gelo, mas quando se olha mais de perto, a nível molecular, veem-se as moléculas de metano dentro das moléculas de água", explica à BBC Praven Linga, professor do Departamento de Engenharia Química e Biomolecular da Universidade Nacional de Cingapura.
.Direito de imagem.
Conhecidos como hidratos de metano, formam-se a temperaturas muito baixas, em condições de pressão elevada. São encontrados em sedimentos do fundo do mar e ou abaixo do permafrost, a camada de solo congelada dos polos.
O gás encapsulado dentro do gelo torna os hidratos inflamáveis, mesmo a baixíssimas temperaturas. Essa combinação rendeu-lhe o apelido de "gelo de fogo".
Mar da China Meridional
Image captionO Mar da China Meridional tem sido alvo de vários países que disputam sua soberania
Quando se reduz a pressão ou se eleva a temperatura, os hidratos se decompõem em água e metano. Um metro cúbico dessa substância libera cerca de 160 metros cúbicos de gás - ou seja, trata-se de um combustível de grande potencial energético.
O problema, no entanto, é que extrair esse gás é um processo que, por si só, consome muita energia.

Países pioneiros

Os hidratos de metano foram descobertos no norte da Rússia nos anos 1960, mas foi há apenas dez ou 15 anos que começou a pesquisa sobre como extrai-lo dos sedimentos marinhos.
Hidratos de metanoDireito de imagemUSGS
Image captionEstes hidratos de metano foram recuperados no Golfo do México pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos
O Japão foi pioneiro na exploração devido à sua carência de fontes de energia natural. Outros países líderes na prospecção de gelo combustível são Índia e Coreia do Sul, que tampouco têm reservas próprias de petróleo.
Americanos e canadenses também são bastante atuantes neste sentido - o foco de suas explorações tem sido nos hidratos de metano abaixo do permafrost do norte do Alasca e Canadá.

Por que importa?

Pesquisadores acreditam que os hidratos de metano têm o potencial de se tornar uma fonte de energia revolucionária que poderia ser fundamental para suprir necessidades energéticas no futuro.
Existem grandes depósitos abaixo dos oceanos do globo, sobretudo nas extremidades dos continentes. Atualmente, vários países estão buscando maneiras de extraí-lo de forma segura e rentável.
PermafrostDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionHidratos também podem ser encontrados abaixo do permafrost
A China descreveu a extração feita na semana passada como "um feito importante".
Praven Linga compartilha dessa visão: "Em comparação com os resultados que temos visto na pesquisa japonesa, os cientistas chineses conseguiram extrair uma quantidade muito maior de gás".
"É certamente um passo importante em tornar viável a extração de gás dos hidratos de metano", acrescentou.
Estima-se que sejam encontradas dez vezes mais gás nos hidratos de metano do que no xisto, do qual pode ser extraído gás natural e óleo e também tem servido como alternativa energética.
"E essa é uma estimativa conservadora", ressalva Linga.
GeloDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionExtrair os hidratos é uma tarefa dispensiosa, e deve ser realizada com cuidado extremo para se evitar impactos ambientais
A China descobriu o gelo combustível no Mar da China Meridional em 2007 - uma área cuja soberania tem sido disputada entre o país, o Vietnã e as Filipinas.
Pequim reclama domínio sobre a área, alegando ter o direito de exploração de todas as potenciais reservas naturais escondidas abaixo da superfície.

Futuro

Embora o êxito da China seja um avanço importante, esse é apenas um passo de um longo caminho.
"É a primeira vez que os índices de produção são realmente promissores", disse Linga. "Mas acreditamos que só em 2025, na melhor das hipóteses, poderemos considerar realistas as opções comerciais", acrescenta.
Segundo a imprensa chinesa, eles conseguiram extrair, da região de Shenhu, uma média de 16 mil metros cúbicos de gás de elevada pureza por dia.
Linga ainda ressalta que as empresas que potencialmente operem na exploração do material devem seguir condutas bastante rígidas de controle para se evitar danos ambientais.
O perigo é que o metano escape, e isso teria consequências graves para o aquecimento global, já que se trata de um gás com um potencial de impacto sobre as mudanças climáticas muito maior do que o dióxido de carbono.

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/geral-40029080

ENTREVISTA-Economia brasileira seguirá em "banho-maria" até 2019, diz Nelson Marconi

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segunda-feira, 29 de maio de 2017 15:44 BRT
 

Por Luiz Guilherme Gerbelli

SÃO PAULO (Reuters) - A economia brasileira vai ficar estagnada até 2019, quando um novo presidente da República deve assumir o cargo e terá condições e força política para implementar mudanças capazes de fazer o Brasil crescer de forma mais robusta novamente.
A opinião é do professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e presidente da Associação Keynesiana Brasileira, Nelson Marconi, para quem o presidente Michel Temer não conseguirá se manter em seu cargo até o final do mandato, em 2018. E mesmo quem o substituir, acrescentou, não conseguirá andar com as reformas e colocar o país em rota de crescimento.
"A economia vai ficar em banho-maria", afirmou Marconi à Reuters. "A economia brasileira deve se comportar mais ou menos como o último ano do governo (José) Sarney (presidente entre 1985 e 1990), só que sem a hiperinflação, quando todo mundo esperava o resultado da eleição de 1989", acrescentou.
Marconi, que também é coordenador do Fórum de Economia da FGV, que reúne anualmente importantes economistas e integrantes da equipe econômica, acredita que, se a troca de Temer se confirmar, a equipe econômica deve ser mantida, mas não terá força política para aprovar a agenda de reformas diante da proximidade do pleito no próximo ano.
A principal delas, a da Previdência, é considerada fundamental para colocar as contas públicas em ordem e tem grande apoio do mercado financeiro.
O governo sempre vendeu a reforma da Previdência como peça-chave para a retomada do crescimento, mas diante do impasse político, avalia o Marconi, vai ser obrigado a alterar o discurso de que, mesmo sem ela, o Brasil pode crescer.
"Nesses dias, Meirelles já disse que atrasar a reforma da Previdência não seria nada de outro mundo. Vai ser difícil, mas vão ter de mudar o discurso", disse ele, referindo-se ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. [nL1N1IO0R1]
Temer corre o risco de perder seu mandato depois de delações de executivos do grupo J&F, levando o Supremo Tribubal Federal (STF) a abrir inquérito contra o presidente por crimes, entre outros, de corrupção passiva.
A crise política, afirmou Marconi, só piorou o cenário econômico brasileiro, que já vinha mostrando sinais de fraqueza.
O crescimento esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, diz o economista, será puxado somente pelo desempenho do agronegócio e pela mudança metodológica na pesquisas de serviços e comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A projeção de estagnação econômica feita por Marconi é mais pessimista do que a do mercado. No relatório Focus, do Banco Central, que colhe a previsão de uma centena de analistas todas as semanas, a expectativa é que a economia cresça cerca de 0,5 por cento este ano e 2,5 por cento em 2018.
SEM VÁLVULAS
Para Marconi, o Brasil tem poucas válvulas que possam permitir a volta do crescimento robusto. Na avaliação dele, a recuperação teria de vir por meio da retomada das exportações de produtos manufaturados, o que ajudaria na recuperação do setor industrial e dos investimentos, criando efeito positivo em toda a economia. Hoje, ele diz, o canal das exportações só tem funcionado para o agronegócio.
As exportações de manufaturados, avalia o economista, foram prejudicadas por causa da desvalorização do dólar desde que Temer assumiu a Presidência. No período, o dólar deixou o patamar de 4 reais para a faixa de 3,25 reais.
"O que ajudaria a puxar o crescimento é a exportação de produtos industrializados, mas que foi prejudicada pela valorização do real", diz.
Para Marconi, o governo optou por permitir a desvalorização do dólar para ajudar no combate a inflação. O ideal seria a equipe econômica levar a taxa de câmbio para um patamar entre 3,80 reais e 3,90 reais.
(Edição de Patrícia Duarte)

Fonte http://br.reuters.com/article/domesticNews/idBRKBN18P1YD-OBRDN?sp=true

domingo, 28 de maio de 2017

Raízes da violência extrema no Brasil: o que leva jovens a matar sem motivo aparente?

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Grupo de 20 adolescentes recapturados após fuga de unidade de internação no DF em dezembro de 2015Direito de imagemMARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Image captionAdolescentes recapturados após fuga de unidade de internação no Distrito Federal em 2015; estudo analisou formação de jovens violentos
Dois grupos de jovens de idade semelhante, todos homens, pobres e criados na mesma região. Um grupo vira matador e o outro, trabalhador. Por quê?
O sociólogo Marcos Rolim procurou essa resposta ao investigar a violência extrema, aquela que mata ou fere mesmo quando não há provocação nem reação da vítima. Modalidade que, acredita ele, está em alta no Brasil.
Em experimento inédito no país, ele entrevistou um grupo de jovens violentos de 16 a 20 anos que cumpriam pena na Fase (Fundação de Atendimento Socioeducativo) do Rio Grande do Sul. Ao final, pediu que indicassem um colega de infância sem ligação com o crime e foi atrás dessas histórias.
Rolim esperava que prevalecessem, no grupo dos matadores, relatos de violência familiar e uso de drogas, mas outro fator se destacou: a evasão escolar (quando o aluno deixa de frequentar a escola). E, aliado a isso, a aproximação com grupos armados que "treinam" esses jovens a serem violentos.
Entre os que cumpriam pena, todos, sem exceção, tinham largado a escola entre 11 e 12 anos. E citavam motivos banais: são "burros" e não conseguem aprender, a escola é "chata", o sapato furado era motivo de chacota. Os colegas de infância continuavam estudando.
Ao comparar esses e outros casos (111 ao todo), incluindo dois grupos de presos jovens do Presídio Central de Porto Alegre, uns condenados por homicídio e outros por receptação, e alunos de uma escola de periferia sem histórico criminal, concluiu que o chamado "treinamento violento" respondeu por 54% da disposição para a violência extrema.
Em outras palavras, isso significa que sem a experiência do "treinamento violento" - aquela que ensina a manusear armas, bater antes de apanhar e exalta atos de violência - a disposição para esses crimes extremos cairia para menos da metade nos casos analisados.
As conclusões de Rolim, que foi vereador em Santa Maria (1983-1988), deputado estadual (1991-1999) e deputado federal pelo PT gaúcho (1999-2003) e hoje não tem filiação partidária, estão no livro recém-lançado A Formação de Jovens Violentos - Estudo sobre a Etiologia da Violência Extrema (editora Appris).
Marcos RolimDireito de imagemRAMON MOSER/REPRODUÇÃO
Image captionTese de doutorado em Sociologia de Marcos Rolim, publicada em livro, investigou a formação de jovens violentos no Brasil
"Muitos meninos que se afastam da escola são, de fato, recrutados pelo tráfico de drogas e são socializados de forma perversa. E isso provavelmente deverá se repetir se a pesquisa for reproduzida em outros locais, pois a diferença estatística foi muito forte", diz Rolim à BBC Brasil.
A conclusão prática, segundo o sociólogo, é que a prevenção da criminalidade deve levar em conta a redução da evasão escolar, aspecto que costuma ser negligenciado no Brasil quando o assunto é segurança pública.
Considerados os índices de evasão escolar, o cenário no Brasil seria, de fato, favorável à violência extrema.
Em 2013, por exemplo, uma pesquisa do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) mostrou que um a cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no país abandona a escola antes de completar a última série.
O Brasil figurava no estudo com a terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100 países de maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), atrás apenas da Bósnia e Herzegovina e do arquipélago de São Cristóvão e Névis.

Razões da evasão

E por que as escolas não conseguem manter esses jovens na escola?
Embora o assunto não tenha sido foco da pesquisa, Rolim arrisca algumas possíveis explicações, a partir do contato com colegas que desenvolvem pesquisas em instituições de ensino.
A primeira, diz, é o despreparo de professores para lidar com alunos mais vulneráveis e problemáticos.
"O jovem de área de exclusão, que nunca abriu um livro e tem pai analfabeto, tem toda uma diferença de preparação, e grande parte dos professores não está preparada para lidar com ele", afirma.
Unidade da Fase (Fundação de Atendimento Socioeducativo) do Rio Grande do SulDireito de imagemKARINE VIANA/PALACIO PIRATINI
Image captionFase (Fundação de Atendimento Socioeducativo) do Rio Grande do Sul; internos abandonam escola cedo, aponta pesquisa
Rolim cita como exemplo um caso recente registrado em Porto Alegre.
"A pesquisadora presenciou uma cena de indisciplina de um aluno de 10 anos em uma turma pequena; a professora conhecia todos. Ela disse ao menino: 'Tu vai ser bandido como seu pai'. Esse tipo de reação é inaceitável", conta.
Outra possível causa, segundo Rolim, está na falta de conexão das escolas com as comunidades em regiões violentas.
"Pelo medo do crime, a escola deixou de se relacionar com as comunidades nas periferias. Transformaram-se em bunkers com grades, cadeados, polícia na frente. Não prestam serviços, não abrem aos finais de semana, pais e parentes não a frequentam."
O terceiro problema seria a própria educação oferecida na escolas públicas.
"Basicamente, a mesma de 50 anos atrás", afirma o sociólogo.
"Hoje é impossível lidar com crianças conectadas, mesmo as mais pobres, do mesmo jeito. A escola se tornou espaço de pouco interesse e atração para o jovem das periferias", acrescenta.

Violência futura

Em 2015, último dado disponível, o Brasil registrou 170 assassinatos por dia - foram 58 mil homicídios naquele ano, número mais alto do que os de países em guerra. A taxa daquele ano, de 29 casos por 100 mil habitantes, insiste em não baixar.
Na visão de Rolim, o Brasil está "contratando violência futura" em escolas, prisões e nas próprias instituições policiais.
Nas prisões, isso se dá, segundo ele, pela reclusão por crimes patrimoniais.
Dados do governo mostravam que, ao final de 2014, 66% da população carcerária brasileira estava atrás das grades por crimes de drogas, roubos ou furtos - casos de homicídios eram apenas 10%. Jovens negros e de baixa escolaridade são maioria.
"Temos um perfil de encarceramento que não pega autores de crimes mais graves, e pegamos um monte de jovens pobres na periferia, pequenos traficantes e usuários, e vamos recrutando essas pessoas para as facções que atuam nos presídios", diz Rolim, para quem o Estado brasileiro é o "principal recrutador de mão de obra para as facções criminosas".
Rebelião em presídio de Alcaçuz, RNDireito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image captionRebelião em presídio no Rio Grande do Norte; para pesquisador, prisões de jovens pobres da periferia flagrados com drogas e armas não surtem efeito positivo na segurança pública
E os homicídios continuam em alta - estudo recente do Fórum Brasileiro de Segurança Publica mostrou, por exemplo, que um em cada três brasileiros diz ter parente ou amigo vítima de assassinato - porque falta investigação e foco dos governos nesse problema, opina o pesquisador.
"A redução dos homicídios não é a prioridade número 1 em nenhum lugar do Brasil. Como grande parte das vítimas é pobre, não há pressão social para investigação. E você lança uma mensagem de que o crime compensa", afirma Rolim. Estudos costumam apontar que menos de 10% dos homicídios no Brasil resultam em condenação.
O investimento, avalia o especialista, deveria ser reforçado na repressão a homicídios e a crimes sexuais.
"E se for para continuar a política de repressão ao tráfico, temos que ir atrás de financiadores, rotas e usar muito mais inteligência do que em prisões em flagrante", argumenta.

Iniciativas de resultado

No meio do que classifica como "desgraça geral" das políticas de segurança no Brasil, Rolim destaca iniciativas voltadas a jovens que mostraram bons resultados na prevenção da violência.
O POD (Programa de Oportunidades e Direitos) RS Socioeducativo, criado em 2009 no Rio Grande do Sul, atende jovens infratores de 12 a 21 anos que deixam o sistema de internação.
Cada jovem passa a receber, por um ano, uma bolsa de meio salário mínimo (R$ 468,50), vale-transporte e alimentação, desde que frequente cursos de formação em áreas como informática, mecânica e manutenção predial.
Segundo o governo gaúcho, a cada dez jovens atendidos pelo programa, apenas três reincidem no crime.
No entanto, Rolim acredita que iniciativas semelhantes ainda sejam pouco divulgadas.
"A população gaúcha, por exemplo, pouco sabe da existência desse programa, porque gestores ficam provavelmente com medo de divulgar e serem criticados por 'estarem dando dinheiro a bandidos'", diz.
"Essa ideologização do tema da segurança pública é outro lado tenebroso dessa história; você acaba perdendo a capacidade de execução de políticas no setor", acrescenta.
A cidade de Canoas, na Grande Porto Alegre, criou o programa Cada Jovem Conta, que procura identificar jovens de escolas públicas com comportamento de risco para ações de prevenção à violência.
O jovem passa ser acompanhado por uma equipe de diferentes secretarias, como saúde, educação e assistência social, para que frequente atividades esportivas e culturais, entre outras.
A prefeitura de Canoas afirma que mais de 60% dos jovens atendidos melhoraram o desempenho escolar ou voltaram à escola, e suas famílias passaram a frequentar mais os serviços públicos locais.
Neste mês, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou um projeto do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente para elevar de três para oito anos o tempo máximo de internação para jovens infratores.
A medida, que ainda deverá ter mais uma votação na comissão antes de ir à Câmara, valeria para atos infracionais análogos a crimes hediondos - como estupro e homicídio - cometidos com uso de violência ou grave ameaça.
Rolim diz concordar com o aumento do tempo de internação para um "perfil restrito de jovens" reincidentes, mas criticou a associação com crimes hediondos, que no Brasil incluem o tráfico de drogas.
"Isso colocaria a maioria dos jovens sob a possibilidade de (cumprir) oito anos de pena. Hoje se um jovem der um cigarro de maconha a outro, for flagrado e o ato for equiparado a tráfico, é crime hediondo. Elevar o tempo de internação não é problema, mas estabelecer isso para crimes hediondos é uma impropriedade absoluta", conclui.

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/brasil-40006165