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quarta-feira, 28 de junho de 2017

O que é o ether, nova moeda virtual que cresceu 4.000% em seis meses e ameaça o bitcoin

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Moedas com símbolo do EthereumDireito de imagemBACKYARDPRODUCTION
Image captionValor do ether aumentou 4.250% desde janeiro deste ano
Se na véspera do Ano Novo você tivesse comprado um ether por US$ 8 (cerca de R$ 26), hoje você poderia vendê-lo por US$ 340 (cerca de R$ 1.135).
Até dois meses atrás, o ether era apenas uma das mais de 762 criptomoedas que circulam na web - divisas virtuais que permitem realizar operações difíceis de serem rastreadas e que podem ser trocadas por dinheiro no mundo real.
O bitcoin surgiu nos últimos anos como principal referência no mercado de moedas digitais e segue como o mais valorizado, cotado a US$ 2.693,91 (cerca de R$ 9.000) por moeda.
No entanto, não é o único que está se beneficiando da procura por criptomoedas. Basta ver o exemplo do ether.
Símbolo de bitcoinDireito de imagemTSOKUR
Image captionFatia do bitcoin no mercado passou de 91% para 39%
Desde o início do ano, a cotação do ether aumentou 4.250%, tornando-se a segunda moeda virtual mais valorizada no mercado, de acordo com o portal de comparação de dinheiro digital CryptoCurrency Market Capitalizations.
Mas, entre tantas opções, por que escolher o ether?

Restrições de uso

Diferentemente de outras criptomoedas, o ether está ligado a uma plataforma chamada Ethereum e só pode ser usado dentro dela.
O Ethereum, lançado em agosto de 2014, é um software que deve ser baixado e permite fazer aplicações descentralizadas ou do tipo dapps - ou seja, via aplicativos que operam "exatamente como os programas, sem possibilidade de interrupção, censura, fraude ou interferência de terceiros", nas palavras da associação suíça que regula a Fundação Ethereum.
Logo do Ethereum sobre uma cidadeDireito de imagemBYOUNGJOO
Image captionOperar no Ethereum não é de graça e o preço deve ser pago em ether
A plataforma usa a tecnologia blockchain, conhecida pela segurança e discrição.
Ambos os atributos são considerados ideais para a criação de mercados digitais.
É possível, por exemplo, dar instruções de como você deseja movimentar certos montantes, no caso do euro superar a libra, e a plataforma se encarrega de que isso aconteça sem necessidade de intervenção humana.

Ether x bitcoin

Mas operar no Ethereum não ocorre de graça e o custo deve ser pago em ether.
Cada ação que a máquina executa pelo usuário tem um preço. De acordo com a fundação, a cobrança garante que os dapps criados na plataforma sejam de qualidade.
Durante a maior parte de 2015, o valor de ether não ultrapassou US$ 1.
De volta à véspera do Ano Novo, se você tivesse analisado as cotações passadas para decidir se valia a pena comprar ether, provavelmente teria desistido.
LitecoinDireito de imagemG0D4ATHER
Image captionNeste ano, o ether superou outras moedas virtuais, como o litecoin
Na ocasião, 91,3% do mercado de criptomoedas era dominado pelo bitcoin, seguido pelo ripple (2,8%) e litecoin (2,15%). O ether representava apenas 1%.
Mas o quadro mudou: a fatia do bitcoin no mercado foi reduzida para 39,8%, enquanto a do ether subiu para 28,5%.
Segundo Garrick Hileman, historiador econômico da Universidade de Cambridge e da London School of Economics (LSE), há três razões para essa mudança.
"A primeira é que o bitcoin parou de inovar. A moeda está atingindo sua capacidade plena e está gerando debate sobre como aumentar essa capacidade", explicou Hileman à BBC.
Dois empreendedoresDireito de imagemPEOPLEIMAGES
Image captionEmpreendedores descobriram o potencial do Ethereum para conseguir financiamento
O segundo motivo se refere às características "sofisticadas" do Ethereum, que permitem projetar esses dapps.
O mais importante, no entanto, é que os empreendedores descobriram as vantagens oferecidas pelo Ethereum para conseguir financiamento: a Oferta Inicial de Moedas (ICO, na sigla em inglês).

Novas criptomoedas

A ICO nada mais é do que uma forma de crowdfunding (financiamento coletivo): um empreendedor divulga sua ideia, cria uma criptomoeda e a vende para conseguir o dinheiro que tornará seu negócio realidade.
A vantagem para as startups é que, diferentemente de outras formas de financiamento, quem compra as moedas não recebe ações da futura empresa em troca.
O que eles ganham então? No futuro, quando a empresa estiver operando, o investidor poderá trocar sua moeda virtual por dinheiro real.
Mas por que você precisa do ether? Para comprar a criptomoeda criada pela startup.
"É por isso que a imprensa não escreve sobre isso, é muito complicado!", afirma Hileman.
Porquinho de moedaDireito de imagemBRIANAJACKSON
Image captionNas ICOs, os investidores não adquirem ações mas compram criptomoedas
De acordo com o professor, a ICO pode ser feita com qualquer moeda virtual, inclusive bitcoin. Mas a vantagem de usar o ether é que ele já vem com uma plataforma ideal para esse tipo de transação.
No caso das outras moedas, você precisa procurar onde fazer a ICO.
O ápice foi na semana passada, quando a startup Bancomar arrecadou US$ 144 milhões em poucas horas.
"As pessoas estavam especulando que a Bancomar criaria uma plataforma tão grande que o preço da moeda aumentaria fortemente", conta Hileman.
"As ICOs não são ilegais, mas não estão regulamentadas", lembra o professor sobre algo que pode representar um risco.
"Há ceticismo e dúvidas se as empresas que já fizeram vão devolver o dinheiro ou se essas ICOs estão arrecadando cifras demasiadamente altas", explica.
No momento, a expectativa é de que o espírito empreendedor faça o valor do ether continuar a subir.
Fonte http://www.bbc.com/portuguese/geral-40380808

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Como a Alemanha acabou com a sua 'Cracolândia'

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Nos anos 1980 e 1990, 1,5 mil pessoas viviam perto da estação ferroviária de Frankfurt, no maior ponto de uso de drogas a céu aberto do país. Mas uma guinada nas políticas para lidar com dependentes mudou a situação.

Deutsche Welle
Por Deutsche Welle

No final da década de 1980, o maior ponto de uso de drogas a céu aberto da Alemanha ficava em Frankfurt: na região do parque de Taunusanlage, próximo à estação ferroviária central, viviam cerca de 1,5 mil dependentes de heroína, numa espécie de "Cracolândia" alemã.
Além de ser um problema social, Taunusanlage era uma questão de saúde pública: cerca de 150 dependentes morriam de overdose a cada ano. Atualmente, mais de 25 anos depois, a "Cracolândia" alemã faz parte do passado da cidade.
A extinção do ponto de uso de drogas foi alcançada graças a uma iniciativa que ficou conhecida como o "Caminho de Frankfurt" e serviu de exemplo para diversas cidades do país que enfrentavam problema semelhante.
"A mudança na política de drogas não ocorreu pela convicção nas opções que se tornavam populares, como terapias de substituição, mas pela necessidade de que algo novo precisava ser feito, já que o tradicional não estava funcionando", avalia Dirk Schäffer, assessor para drogas e sistema penal da organização de combate à aids Deutsche Aids-Hilfe (DAH).
No início da década de 1990, conta Schäffer, a situação era dramática em várias cidades da Alemanha, com alta taxa de mortalidade decorrente do uso de drogas e grandes concentrações de usuários em locais públicos. A isso, somava-se o advento da aids e o medo de que o vírus se espalhasse para além dos grupos de risco.
Diante da situação em Taunusanlage, Frankfurt iniciou em 1988 uma série de encontros mensais em busca de uma solução para o problema da heroína na cidade. Deles participavam não somente políticos e policiais, mas também representantes de organizações de ajuda a dependentes químicos e comerciantes locais.
A principal revolução da política adotada foi a percepção do vício como uma doença, possibilitando a descriminalização do dependente. Essa mudança gerou impactos em ações policiais, direcionadas a combater o tráfico e não mais o usuário, e em medidas de saúde pública, concentradas em oferecer alternativas – não somente de moradia, mas também locais de consumo e possibilidades de tratamento – para tirar das ruas dependentes químicos.

Alternativas para dependentes
Entre as estratégias adotadas em Frankfurt estavam o oferecimento amplo de terapias de substituição e a criação de salas supervisionadas para o consumo de drogas.
As terapias de substituição para usuários de heroína começaram a ser aplicadas na Alemanha no final dos anos 1980. Nela, a heroína é substituída por opioides, como a metadona, com quantidade estipulada e o uso monitorado por um médico. A abstinência não é necessariamente uma das metas visadas nesse tipo de tratamento, mas sim o controle do vício.
"Ao substituir heroína por opioides, o objetivo das terapias de substituição é melhorar as condições de saúde física e mental de dependentes e possibilitar sua reintegração social. Nesse sentido, essas terapias são as mais bem-sucedidas nos tratamentos de dependentes químicos", afirma Uwe Verthein, do Centro Interdisciplinar para Pesquisa sobre Dependência da Universidade de Hamburgo.
Apesar do sucesso, esse tratamento só é possível para dependentes de opiáceos, como a heroína. Ainda não há terapias semelhantes para outras drogas, como o crack. Primeiros experimentos para a substituição da cocaína estão sendo feitos na Holanda, mas Verthein destaca que essa pesquisa ainda está bem no início.
Atualmente, a terapia de substituição faz parte da política federal de drogas na Alemanha. O país oferece esse tratamento para cerca de 77 mil dependentes químicos.
Além desta terapia, o Caminho de Frankfurt abriu também as portas para as salas supervisionadas para o uso de drogas na Alemanha. Em 1994, a cidade, quase ao mesmo tempo que Hamburgo, abriu o primeiro estabelecimento deste tipo. No local, dependentes têm acesso a seringas e todo material esterilizado para o uso da substância e recebem acompanhamento médico em casos de overdose.
O espaço possibilita ainda que assistentes sociais façam contato com dependentes e possam apresentar a eles opções de tratamento para o vício. Além disso, as salas contribuíram para tirar das ruas a grande massa de usuários que se concentravam em parques e próximos a estações de trem e reduzir infecções causadas pela reutilização de seringas infectadas.
A iniciativa foi seguida por outras cidades, como Berlim. Mesmo sem uma base legal, essas salas eram toleradas pelas autoridades. Somente em 2000, o governo federal legalizou estes espaços. Atualmente, há 24 salas supervisionadas para o consumo de droga, distribuídas em 15 cidades da Alemanha. Em Frankfurt, há quatro, por onde passam anualmente cerca de 4,5 mil dependentes por ano. Em Berlim, são duas salas e uma estação móvel, que recebem anualmente aproximadamente 1,2 mil usuários.
Ações policiais em paralelo também foram importantes para a desocupação de Taunusanlage. Porém, elas ocorreram apenas depois da disponibilização de locais para o uso de droga e abrigos, e eram voltadas a informar os dependentes sobre essas alternativas. Assistentes sociais também foram engajados para o trabalho de informação.
"Os dependentes não foram simplesmente expulsos, o que os espalharia pela cidade, criando outros pontos de uso de drogas", destaca o sociólogo Martin Schmid, da Universidade de Ciências Aplicadas de Koblenz.
Exemplo para outros países?
Apesar de o problema da concentração de usuários em espaços públicos na Alemanha na década de 1980 estar relacionado à heroína, cuja possibilidade de terapia é diferente de outras drogas, inclusive do crack, especialistas afirmam que a percepção do vício com uma doença é um aspecto da política alemã que pode servir de exemplo para outros países.
"Ver o dependente como doente ajuda bastante a solucionar o problema das drogas, pois possibilita o desenvolvimento de políticas públicas adequadas para o apoio ao usuário. Simplesmente prendê-los ou interná-los à força não contribui para resolver essa situação", afirma Peter Raiser, do Escritório Central Alemão para Questões sobre Vício (DHS).
Schmid acrescenta que a abordagem da inclusão e da descriminalização do dependente pode ser a base, assim como foi na Alemanha, para países desenvolverem suas políticas de drogas de acordo com suas especificidades.

Fonte http://g1.globo.com/mundo/noticia/como-a-alemanha-acabou-com-a-sua-cracolandia.ghtml

Qual é o segredo da Austrália para crescer por mais de 25 anos sem recessão

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Porto de SydneyDireito de imagemAFP
Image captionSydney, a maior cidade australiana, reflete a prosperidade do país.
É preciso voltar muito no tempo para encontrar uma fase de crise na economia australiana.
Em 1990, a seleção argentina de futebol, liderada por Diego Maradona, jogava em Roma a final da Copa do Mundo contra a Alemanha. Havia poucos telefones celulares em operação e a maioria era do tamanho de um tijolo de construção. E a União Soviética estava em seu processo final de desintegração.
Desde 1991, e por quase 26 anos consecutivos, a economia australiana vem crescendo consistentemente.
Números divulgados pelo governo australiano nesta quarta-feira mostraram que a economia seguiu crescendo no último trimestre.
Com isso, o país conseguiu manter crescimento por 25 anos e nove meses, alcançando o recorde que pertenceu à Holanda no período do final do século 20 e início do século 21.
No ano passado, o crescimento do Produto Interno Bruto australiano foi de 2,4%. A expectativa do Banco Central australiano é manter o ritmo de crescimento em 2017.
No entanto, o crescimento do último trimestre foi de 0,3% - uma retração em relação ao trimestre anterior, que registrou crescimento de 1,1%.

Economia diversificada

Malcolm TurnbullDireito de imagemREUTERS
Image captionO primeiro ministro Malcom Turnbull encabeça uma economia que vem crescendo desde 1991
O bom desempenho experimentado pela economia australiana tem ainda mais mérito devido ao colapso dos preços internacionais das matérias-primas - uma tendência ameaçadora para uma nação voltada para a mineração.
A explicação pode ser encontrada, parcialmente, na boa sorte, segundo a correspondente de economia asiática da BBC, Karishma Vaswani.
"Houve perda de postos de trabalho no setor de mineração com o fechamento de algumas minas. Mas não esqueçamos que a Austrália é uma economia altamente diversificada", afirmou.
"Turismo, finanças, tecnologia e educação são os componentes principais da economia da Austrália que se beneficiou de uma moeda mais fraca", segundo a correspondente.
Também ocorreram lucros no setor agrícola e a mesma indústria de mineração obteve um alívio com a recente desvalorização do dólar australiano, o que fez os produtos do país ficarem mais baratos no exterior.
E os avanços tecnológicos a fizeram mais competitiva.

Alto padrão de vida

Mas, independentemente do desenvolvimento recente, o fato é que a Austrália está há mais de uma geração sem conhecer uma verdadeira crise econômica.
Mineradora australianaDireito de imagemAFP
Image captionApesar da queda nos preços das matérias primas, a economia se sustenta.
O país conta com abundantes recursos naturais e seu território tem dimensões continentais.
Conta com recursos minerais, mas também se beneficiou com correntes migratórias que levaram profissionais e empresários de todo o mundo a viver no país.
A Austrália atrai novos habitantes, em parte com a promessa de uma boa qualidade de vida em meio a praias, natureza e um clima agradável - além de cidades cosmopolitas como Sydney e Melbourne.
O desemprego se mantém num nível baixo, em torno de 5%.
E há muitos australianos que nunca experimentaram uma crise econômica.
Mas analistas advertem que com uma demanda externa muitas vezes inconstante, um elevado nível de endividamento de seus habitantes e outros fatores que diminuem o consumo, não se pode descartar uma desaceleração do crescimento.
* Este texto foi originalmente publicado em 11 de setembro de 2016 e atualizado em 7 de junho de 2017.
Fonte http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37280598

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Como está a Máfia 25 anos após o atentado que matou juiz da 'Lava Jato' italiana

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Giovanni Falcone e outrosDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO juiz Giovanni Falcone (centro) morreu em 23 de maio de 1992 num atentado da máfia Cosa Nostra
Quinhentos quilos de explosivos ocultos sob o asfalto explodem três carros blindados no quilômetro 4,7 da rodovia que liga o aeroporto à cidade siciliana de Palermo, na Itália.
São 17 horas, 56 minutos e 48 segundos do dia 23 de maio de 1992. O resultado: cinco mortos, incluindo o juiz Giovanni Falcone, alvo do ataque.
Dois meses depois, no dia 19 de julho, às 16h58, um carro-bomba põe fim à vida de seu colega Paolo Borsellino e de mais cinco pessoas na Via D'Amelio, na mesma Palermo.
Desde então, os nomes de Falcone e Borsellino tornam-se um símbolo trágico da luta contra a máfia na Sicília.
Lugar do atentadoDireito de imagemEPA
Image captionCenário de destruição após atentado que matou o juiz Falcone
Seus funerais levaram milhares de sicilianos às ruas de Palermo numa mobilização de repúdio ao crime organizado na ilha italiana.
"Não os mataram, suas ideias caminham sob nossas pernas". A frase se que lia nos cartazes de sacadas da capital siciliana naqueles dias se tornou um lema.

Mudança radical

Ativistas em PalermoDireito de imagemGETTY/MARCELLO PATERNOSTRO
Image caption"E agora matem todos nós", diz bandeira que levam ativistas antimáfia em protesto de 2007, em Palermo
As mortes de Falcone e Borsellino marcaram o momento auge na estratégia de ataques empreendida pela Cosa Nostra, a máfia siciliana do final dos anos 1980 e a princípios dos 1990 que deixou dezenas de mortos.
Também representaram uma ruptura na percepção social da máfia. O professor Rocco Sciarrone, sociólogo especialista no fenômeno mafioso, se refere a aqueles ataques como um "trauma cultural".
"Foi uma mudança radical. Pela primeira vez na história da Itália, a Máfia se converteu num mal público em nível geral, em um inimigo que tem que ser combatido", disse à BBC Mundo o professor de Sociologia da Universidade de Turim.
"Antes disso, a Máfia ou não era combatida ou era combatida apenas por alguns setores da sociedade", acrescenta.
No entanto, esta transformação já tinha começado alguns anos antes graças ao trabalho de combate à Máfia de Facolne e Borsellino, entre outros.
O episódio mais notável foi chamado de "Maxiprocesso de Palermo", que ocorreu entre 1986 e 1987 e teve um saldo de 360 condenações e mais de 2.200 anos de prisão acumulados em penas aos criminosos.
Foi um dos golpes mais duros contra a Cosa Nostra até aquela data.

O enfraquecimento

MonumentoDireito de imagemAFP
Image captionEm 2012, aos 20 anos do atentado, um monumento foi erguido em memódia do juiz Giovanni Falcone em Palermo
As mortes de Falcone e Borsellino, quatro anos depois, foram vistas como uma vingança e uma demonstração de força com a qual a Cosa Nostra pretendia amedrontar os poderes do Estado italiano.
Passados 25 anos, surgem perguntas inevitáveis: a Cosa Nostra alcançou seu objetivo final? Qual influência e poder ela tem hoje na Sicília?
Especialistas consultados pela BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, concordam ao descrever a Máfia siciliana como uma organização enfraquecida que perdeu grande parte de seu controle social na ilha.
Para Salvatore Lupo, um dos estudiosos do tema, os atentados contra Falcone e Borsellino tiveram um efeito paradoxal a longo prazo que, com os anos, acabou por implodir a própria organização criminosa.
"O auge terrorista da Máfia entre 1991 e 1993 levou, posteriormente, ao desastre (para a organização). Muitos líderes mafiosos terminaram na prisão. O grande capoSalvatore Riina foi preso; anos depois, seu sócio Provenzano também foi detido, e contatos com os Estados Unidos praticamente foram interrompidos", disse à BBC Mundo.
"O enfraquecimento da Máfia ocorreu pelos erros dos líderes mafiosos, sua arrogância e o fato de ter enfrentado diretamente a repressão estatal", afirma o professor de História da Universidade de Palermo.
A pressão policial, a criação de novas leis antimáfia (como a proteção de delatores e o confisco de bens mafiosos) foram ferramentas cruciais na mudança.
No Brasil, o juiz federal Sérgio Moro já comentou se inspirar em Giovanni Falcone, que também se baseou nas confissões dos chamados "arrependidos", como ocorre nas delações premiadas.
E, assim como na Lava Jato, a operação italiana Mãos Limpas revelou nos anos 1990 casos de corrupção envolvendo políticos, empresários e mafiosos.

Em números

Busca por Bernardo ProvenzanoDireito de imagemGETTY/FABRIZIO VILLA
Image captionBernardo Provenzano, um dos chefes da Cosa Nostra, doi detido em 2006, após passar 42 anos como fugitivo
Os números são reveladores. Em 1991 e 1992, a taxa de homicídios na Sicília era de 9,7 e 8,3 a cada 100 mil habitantes, muito acima da média italiana. Desde então, a queda foi constante e, em 2016, ficou em 0,7, num nível parecido ao resto das regiões italianas.
Palermo, eleita no início do ano como capital cultural italiana de 2018, é hoje uma cidade que tenta se afastar da imagem ruim associada à Máfia.
Em paralelo, no mesmo período foram detidas mais de 2 mil pessoas pela sua relação com a Cosa Nostra e foram confiscados bens no valor de mais de US$ 4 bilhões (R$ 12 bilhões) desde 1992.
A pressão policial aumentou de forma considerável após a campanha de atentados dos anos 1990 e provocou a queda de líderes da organização, que perdeu alguns de seus negócios mais rentáveis.

A atualidade

carroDireito de imagemGETTY/ MARCELLO PATERNOSTRO
Image captionRestos do carro onde morreu o juiz Falcone
"A Máfia siciliana deixou de ser um ator significativo no mercado da droga. Quando Falcone investigava-a, a Cosa Nostra tinha um papel importantíssimo no tráfico. Mantinha conexões com provedores turcos, teve presença em Nova York quando se discutia o fornecimento de heroína no mercado americano na costa leste. Tudo isso não existe mais", explica Federico Varese, professor de criminologia da Universidade de Oxford e especialista em máfias internacionais.
"Agora, a Máfia siciliana compra drogas para revendê-las a nível local, mas não é um ator internacional. Esse papel foi assumido pela Ndrangheta, a máfia da Calábria", afirma à BBC Mundo o autor do livro Mafia Life: Love, Death and Money at the Heart of Organised Crime ("Vida da Máfia: Amor, Morte e Dinheiro no Coração do Crime Organizado", em tradução livre).
Diferentemente da Cosa Nostra, a Ndrangheta calabresa nunca realizou uma ofensiva de atentados contra o Estado italiano. Manteve a discrição própria das organizações que se dedicam aos negócios ilícitos. Hoje, afirmam especialistas, é a máfia italiana mais rica, seguida da Camorra napolitana.
Na Sicília, a contínua pressão policial tornou difícil a reorganização da Cosa Nostra. "Ainda controlam parte do território da Sicília, mas com certa dificuldade. Eles têm dificuldades na hora de arrecadar dinheiro. E muitos de seus membros não ganham tanto dinheiro como costumavam. Estão com dificuldades financeiras", afirma Varese.
"O dinheiro que conseguem vêm através de atividades tradicionais de extorsão em troca de 'proteção'. Mas não tanto como no passado", acrescenta.

Extorsões

Protesto contra a máfiaDireito de imagemGETTY/MARCELLO PATERNOSTRO
Image captionO "pizzo", ou extorsão mafiosa, continua sendo cobrado na Sicília
O trabalho da sociedade civil foi determinante. Associações como Addio pizzo (literalmente, "Adeus à extorsão mafiosa"), nascida em 2004 e que agrupa mais de mil comerciantes e empresários que se recusam a pagar à Cosa Nostra, tornaram visível o repúdio ao grupo mafioso. No entanto, o pagamento do "pizzo" segue amplamente praticado na Sicília.
"Como confirma a maior parte das pesquisas sobre o fenômeno extorsivo, os empresários que aceitam (o pagamento) são ainda a grande maioria. Mas é difícil saber quantos pagam (propina)", explica um relatório sobre a máfia publicado pela Federação de Associações contra a Fraude da Itália.
Para Salvatore Lupo, a atividade mafiosa "por excelência é a da extorsão", por permitir controlar atividades econômicas sobre um território limitado. "A (indústria de) construção e distribuição, os supermercados, o comércio... são os setores nos quais a máfia opera de forma mais simples".
À manutenção das atividades mafiosas tradicionais soma-se mais discrição na forma de atuar hoje. Os grandes atentados e assassinatos em plena luz do dia são menos frequentes.
"A Máfia foi abatida e enfraquecida, e isso é muito importante destacar. Mas ela tenta se reorganizar, na minha opinião, e uma das estratégias mais importantes é a crescente presença da Máfia na economia legal. É o que na Itália chamamos de zona cinza. Aqui o problema é a introdução de mafiosos com relações de cumplicidade e de interesses cruzados com expoentes da economia legal, com empresários", afirma Sciarrone.
ArmasDireito de imagemGETTY/MARCELLO PATERNOSTRO
Image captionEm 2010, a polícia italiana confiscou armas usadas pela Cosa Nostra
No entanto, os limites entre a corrupção política e econômica e as atividades da Máfia propriamente dita nem sempre são claros.
"São grupos de negócios que têm recursos acumulados, inclusive do passado, e que continuam ativos em negócios que poderíamos chamar de limpos. Mas com métodos corruptos", sugere Lupo.
O especialista define a Máfia como uma "patologia da democracia" e insiste que os problemas e as carências democráticas que propiciaram o surgimento do crime organizado perduram na Sicília e no resto da Itália.
Por isso, apesar do otimismo diante do enfraquecimento da Cosa Nostra, os especialistas concordam que sua ruína não foi completa. "Foi derrotada numa batalha importantíssima. A guerra, no entanto, continua", conclui Lupo.
Fonte http://www.bbc.com/portuguese/internacional-40162317