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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Brasil cai 18 posições em ranking mundial de competitividade

Reuters29/09/201519h19

SÃO PAULO, 29 Set (Reuters) - O Brasil caiu 18 posições no ranking anual que mede a competitividade de 140 países, ficando atrás de Panamá e Vietnã, divulgou nesta terça-feira (29) o Fórum Econômico Mundial.

No levantamento, Relatório Global de Competitividade 2015-2016, feito em parceria com a Fundação Dom Cabral, o Brasil ficou na colocação número 75, a pior da série histórica iniciada em 2006, devido à deterioração da confiança nas instituições, piora nas contas públicas e na capacidade de inovação e educação.

Com isso, o Brasil ficou atrás de alguns dos principais concorrentes, como México, Índia, África do Sul e Rússia, e de nações com menor expressão econômica, como Panamá e Vietnã.

Desde o estudo de 2012, quando atingiu a posição 48, a melhor do país, o Brasil tem estado em queda livre no levantamento.
Isso, mesmo com o relatório apontando estagnação global, o que enxergou como um 'novo normal', composto por crescimento econômico menor, desaceleração da produtividade e aumento do desemprego.

A Suíça manteve a liderança no ranking pelo sétimo ano seguido, seguida por Cingapura e Estados Unidos. A maioria dos países menos competitivos pertence à África Subsaariana, com exceção do Haiti, Venezuela e Mianmar.

Chile é o melhor da América Latina no ranking
Na América Latina, o Chile foi apontado como o mais competitivo, em 35º lugar no ranking, seguido por Panamá (50º).

Segundo a pesquisa, a economia chilena se destaca por economia estável em tempos de crise e sólidas instituições, além de eficientes mercados financeiros e alta "prontidão tecnológica".

A Colômbia vem apresentando melhoras nos últimos anos e ganhou cinco posições no novo levantamento.

Crise econômica e política derrubam Brasil
No caso brasileiro, houve piora em nove dos 12 indicadores que compõem o estudo, com as quedas mais acentuadas em itens como ambiente econômico, saúde e educação primária. Infraestrutura, prontidão tecnológica e tamanho do mercado tiveram leves avanços.

"A crise econômica e política que se deteriora desde 2014, associada a fatores estruturais como sistema regulatório e tributário inadequados, infraestrutura deficiente, educação de baixa qualidade e baixa produtividade, resultam em uma economia frágil e incapaz de promover avanços na competitividade", disse Carlos Arruda, coordenador de Inovação da Fundação Dom Cabral.

No item confiança pública em políticos, o país ocupou a antepenúltima posição no ranking. No item comportamento ético das firmas, o país foi ranqueado na posição 133 de 140.

Em ambiente econômico, o país perdeu 32 posições ante a pesquisa passada, devido basicamente ao desequilíbrio fiscal. A capacidade do Brasil de atrair e reter talentos perdeu 33 colocações. Nas variáveis que medem a inovação, o Brasil teve queda de 22 posições.

A pesquisa no Brasil incluiu entrevistas com 197 executivos de empresas entre março e maio. Segundo Arruda, a escalada recente do dólar deve ter impactos indiretos sobre a competitividade do país, uma vez que o câmbio não é uma questão específica do estudo.

"As exportações tendem a crescer, o que é positivo, mas também pode haver mais pressão inflacionária", disse Arruda. "Além disso, o PIB dos países é medido em dólares, o Brasil perde poder relativo."

Para os autores do estudo, o desafio para o Brasil é investir mais em setores exportadores de produtos com maior valor agregado e em acordos bilaterais.


Fonte http://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2015/09/29/brasil-cai-18-posicoes-em-ranking-mundial-de-competitividade.htm

Contas do governo têm pior desempenho até agosto em 19 anos

29/09/2015 14h30 - Atualizado em 29/09/2015 15h25

De janeiro a agosto, contas tiveram resultado negativo inédito de R$ 14 bi.

No mês passado, com atraso do 13º de aposentados, déficit teve queda.

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília


As contas do governo registraram, nos oito primeiros meses deste ano, um déficit primário inédito – quando as despesas são maiores do que as receitas, sem contar os juros da dívida pública – de R$ 14,01 bilhões, informou a Secretaria do Tesouro Nacional nesta terça-feira (29).

No mesmo período do ano passado, foi registrado um superávit de R$ 4,69 bilhões, de acordo com números do Tesouro Nacional. Até então, o pior resultado para o período havia ocorrido em 1997 – quando teve início a série histórica do Tesouro, com um superávit de R$ 4,59 bilhões.
CONTAS PÚBLICAS
Acumulado de janeiro a agosto, em R$ bi
4,598,7817,3119,0621,852334,5840,9146,7647,6551,2874,8523,4329,6869,8853,5838,414,69-14,0120002010-20020406080
Fonte: Tesouro Nacional
O resultado ruim das contas públicas acontece em um momento no qual a economia brasileira está em recessão, o que influencia, para baixo, a arreadação do governo. De janeiro a agosto, a arrecadação teve o pior desempenho para este período desde 2010.
"A performance da receita está claramente atrelada à atividade econômica e, dado o grau de incerteza, está performando um pouco abaixo do esperado", declarou o secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Saintive. Ele acrescentou que também houve uma queda de R$ 11 bilhões, na parcial deste ano, no recebimento de "royalties" do petróleo - por conta da queda do preço do produto no mercado internacional.
Mês de agosto
Somente no mês de agosto, o Tesouro Nacional informou que as contas do governo tiveram um resultado negativo de R$ 5,08 bilhões. Esse foi o quarto mês seguido de déficit. Entretanto, houve melhora frente ao mesmo mês de 2014, quando houve déficit de R$ 10,45 bilhões.
A queda do resultado negativo de agosto do ano passado para o mesmo mês deste ano está relacionado, também, com a antecipação da primeira parcela do décimo terceiro salário dos aposentados. Em 2014, parte dessa antecipação foi paga na folha de agosto. Neste ano, aprimeira parcela começou a ser paga somente na folha de setembro. Segundo o Tesouro Nacional, somente este fator resultou em R$ 3,8 bilhões a menos em gastos em agosto de 2015.
Receitas, despesas e investimentos
As receitas totais (a arrecadação) subiram 3,2% nos oito primeiros meses ano (em termos nominais, sem descontar a inflação), contra o mesmo período do ano passado, para R$ 828 bilhões. O aumento das receitas foi de R$ 26 bilhões sobre o mesmo período do ano passado.
Ao mesmo tempo, as despesas totais subiram quase o dobro nos oito primeiros meses deste ano (ainda em termos nominais): 6,1%, para R$ 697 bilhões. Neste caso, o aumento foi de R$ 40,17 bilhões. Os gastos somente de custeio, por sua vez, avançaram 11,3% na parcial deste ano, para R$ 158 bilhões – um aumento de R$ 16,14 bilhões.
CONTAS DO GOVERNO
Meses de agosto, em R$ bilhões
1,585,752,643,272,391,322,493,463,786,273,666,273,384,012,541,610,1-10,45-5,0820002010-10-505-1510
Fonte: Tesouro Nacional
Já no caso dos investimentos, porém, houve forte redução de gastos. As despesas com investimentos caíram 32,1% nos oito primeiros meses deste ano, para R$ 36,45 bilhões. A queda frente ao mesmo período de 2014 foi de R$ 17,2 bilhões, de acordo com o Tesouro.
Pagamento de subsídios
Saintive, do Tesouro Nacional, afirmou que o governo está "cortando na carne", mas acrescentou que, por outro lado, também está retomando o pagamento de subsídios - cuja despesa estava atrasada no ano passado nos episódios que estão relacionados com as chamadas "pedaladas fiscais", em análise no Tribunal de Contas da União (TCU).
"O governo tem de fato cortado na carne. Tem buscado fazer os contingenciamentos necessários, incentivado os ministérios a fazer o reescalonamento dos contratos. Esse corte vem havendo a despeito do pagamento de subsídios que estamos fazendo neste ano. Esta é a diferença. Por um lado estamos cortando e por outro estamos pagando subsídios", declarou o secretário do Tesouro Nacional.
O governo tem de fato cortado na carne (...)  Esse corte vem havendo a despeito do pagamento de subsídios que estamos fazendo neste ano"
Marcelo Saintive, secretário do Tesouro Nacional
No caso dos subsídios, a Secretaria do Tesouro Nacional informou que os pagamentos somaram R$ 19,79 bilhões de janeiro a agosto deste ano, contra R$ 6,1 bilhões no mesmo período do ano passado. Somente no caso dos subsídios do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), implementado por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os pagamentos somaram R$ 7,4 bilhões neste ano, contra R$ 117 milhões no mesmo período do ano passado.
O secretário do Tesouro, Marcelo Saintive, explicou que o PSI, por exemplo, tinha um prazo de carência de 24 meses para pagamento, o que não mudou. "Estamos esperando o pronunciamento do Tribunal de Contas, mas como o programa começou em 2013, estamos pagando. De outros programas, alteramos a sistemática e estamos fazendo o pagamento em seis meses", declarou ele.
Dividendos e concessões
Além do fraco comportamento da arrecadação, fruto do baixo ritmo da atividade econômica, o governo também informou que recebeu, nos oito primeiros meses deste ano, menos recursos de dividendos de empresas estatais.
De janeiro a julho de 2015, o governo recebeu R$ 5,4 bilhões em dividendos (parcelas de lucros), contra R$ 15,89 bilhões no mesmo período de 2014.
Em concessões, porém, o governo recebeu mais recursos de janeiro a agosto deste ano (R$ 5,47 bilhões) contra o mesmo período do ano passado (R$ 2,73 bilhões).
O governo informou ainda que foi realizado um pagamento de R$ 1,25 bilhão para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) nos oito primeiros meses deste ano, em comparação com R$ 6,45 bilhões no mesmo período do ano passado.
Apesar de ter prometido não fazer pagamentos para a CDE neste ano, foi paga uma última parcela em janeiro. A CDE é um fundo por meio do qual realiza ações no setor elétrico, entre elas o financiamento de programas como o Luz para Todos, subsídio à conta de luz de famílias de baixa renda, compra de combustível para termelétricas e pagamento de indenizações para empresas.
Meta do governo
Em julho, o governo formalizou a redução da meta de superávit primário de suas contas para todo este ano – procedimento que já era esperado pelos analistas do mercado financeiro devido, principalmente, à redução da arrecadação.
Em novembro, a equipe econômica havia fixado uma meta de R$ 55,3 bilhões para as contas do governo em 2015. Em julho, porém, esse objetivo foi reduzido para somente R$ 5,8 bilhões neste ano, o equivalente a 0,10% do PIB – que é a soma de todos e bens e serviços produzidos no país.
Para todo o setor público, o que inclui ainda os estados, municípios e estatais, a meta fiscal para este ano caiu de R$ 66,3 bilhões (1,2% do PIB) para R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB).
Medidas de ajuste
Para tentar atingir as metas fiscais, além de aumentar tributos sobre combustíveis, automóveis, empréstimos, importados, receitas financeiras de empresas, exportações de produtos manufaturados, cerveja, refrigerantes e cosméticos, o governo também atuou na limitação de benefícios sociais, como o seguro-desemprego, o auxílio-doença, o abono salarial e a pensão por morte, medidas já aprovadas pelo Congresso Nacional.
Além disso, efetuou um bloqueio inicial de R$ 69,9 bilhões no orçamento deste ano, valor que foi acrescido de outros R$ 8,6 bilhões no mês passado. Os principais itens afetados pelo contingenciamento do orçamento de 2015 são os investimentos e as emendas parlamentares.


Fonte http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/09/contas-do-governo-tem-pior-desempenho-ate-agosto-em-19-anos.html

domingo, 27 de setembro de 2015

Quatro lições que você não aprenderá na sala de aula

Richard Branson
É comum que jovens empresários me perguntem se devem fazer um curso de administração de empresas, uma vez que abandonei a escola cedo para lançar uma startup. Aprendi muito nos muitos anos que passei longe da sala de aula, inclusive que, na nossa área, nada supera experiência prática, então sempre os incentivei a evitar o caminho longo e caro do sistema de ensino superior. O bem mais valioso que alguém tem é o tempo, e ele não deve ser desperdiçado em estudos que não vão produzir um bom retorno sobre o investimento.

Para as pessoas que esperam entrar em profissões como a matemática ou as ciências, a universidade pode ser o melhor lugar para construir uma base de conhecimento. Mas isso não é uma regra geral.

Então, para o resto de nós, eis um atalho: quatro lições importantes que aprendi trabalhando, e que eu não teria aprendido na universidade.

1. Nada supera um teste de pressão da vida real

Ninguém pode negar que fazer provas incontáveis na escola é estressante, que ir bem exige dedicação. Mas para os jovens empresários, todo esse tempo e esforço podem ser mais bem aplicados.

Eu era muito tímido quando estava começando, e a ideia de lançar uma startup – marcar reuniões, vender ideias e liderar uma equipe – era assustadora. Frequentar aulas sobre como fazer uma boa apresentação ou administrar uma empresa não teria me feito mal nenhum, mas a única maneira de aprender era fazendo.

Quer tenham treinamento formal em administração de empresas ou não, todos os empresários aprendem por tentativa e erro quando estão começando. À medida que você separa o que funciona e o que não funciona, você refina seu estilo e ganha mais confiança. Atrasar esse processo frequentando salas de aula durante anos parece uma ideia estranha para mim.

2. Aventurar-se é essencial

Trabalhar como um empreendedor exige que você abrace a aventura. Você precisa ensinar a si mesmo tudo o que puder sobre o seu setor, e reunir um amplo grupo de amigos e conhecidos que estejam trabalhando em problemas similares – mas essas pessoas podem ser de muitas áreas e regiões diferentes. Os seus conselheiros não devem ser apenas os seus vizinhos.

Meus pais tiveram o cuidado de me incentivar a explorar o mundo desde cedo, e percebi que muitos empresários parecem ser curiosos e corajosos. Isso sempre fica evidente na equipe da Virgin quando lançamos um novo negócio ou entramos num novo mercado – ou mesmo nas nossas festas. Incentivamos nossos funcionários a sair do escritório, conhecer pessoas e pesquisar por conta própria.

Embora muitos estudantes se esforcem para fazer conexões sociais na universidade, é um grupo muito pequeno. Também pode haver oportunidades limitadas para viajar e conhecer pessoas fora do campus.

3. A especialização nem sempre é uma boa ideia

Depois de lançar uma empresa, você pode se surpreender com a frequência com que o conhecimento de um determinado setor pode ajudá-lo em outra área, às vezes muito diferente.

Na década de 80, a Virgin era conhecida principalmente como uma marca de música, então quando anunciamos que estávamos inaugurando uma companhia aérea, o senso comum dizia que não tínhamos a mínima ideia e que o empreendimento estava fadado ao fracasso.

No entanto, nós sabíamos como entreter as pessoas, e colocamos esse conhecimento em prática quando criamos os sistemas de entretenimento e programação a bordo. A empresa que criamos, a Virgin Atlantic, era divertida e descolada, e conseguimos cavar um nicho importante num setor já estabelecido. A nova perspectiva pode ter sido a diferença entre o sucesso e o fracasso.

4. Aprender é para a vida

Todos os setores estão mudando rapidamente à medida que os avanços tecnológicos aumentam a velocidade de inovação em um ritmo exponencial. Qualquer um que queira ter sucesso nos negócios tem que estar preparado para aprender a cada dia, a fim de se adaptar e ficar à frente das últimas novidades.

Nos últimos anos, tenho investido em uma série de startups de tecnologia que estão criando com base na economia compartilhada ou em serviços tecnológicos financeiros inovadores – duas áreas que eram novas poucos anos atrás. Ouvir ideias, conhecer as pessoas por trás das startups e aprender como elas funcionam ajudaram a educar-me nesses novos setores empolgantes. Continue buscando suas paixões e você aprenderá muito.

Para entender de verdade alguma coisa, muitas vezes você precisa vivê-la, em vez de apenas ler sobre ela. Isso se aplica especialmente ao empreendedorismo. Não importa o caminho que você escolha para se preparar para lançar um negócio, em algum momento você terá que dar o salto.

RICHARD BRANSON
O megaempresário inglês é criador do grupo Virgin, que tem 200 companhias em mais de 30 países, incluindo a empresa aérea de baixo custo de mesmo nome.

sábado, 26 de setembro de 2015

DONO DA MORMAII DÁ PARTES DA EMPRESA A FUNCIONÁRIOS

26/09/2015 08h09 - ATUALIZADA EM: 26/09/2015 16h47 - POR PEDRO CARVALHO

MARCO AURÉLIO RAYMUNDO, O MORONGO, TRANSFORMOU A MORMAII NA MAIOR MARCA DE SURFE DO PAÍS, COM VENDAS DE MEIO BILHÃO DE REAIS POR ANO. AGORA, ESTÁ DANDO PARTES DO NEGÓCIO A FUNCIONÁRIOS – E ESSA ESTRATÉGIA SÓ O TORNA MAIS RICO

O empresário, em Garopaba (SC):  uma fórmula para ganhar mais e trabalhar menos   (Foto: Caio Cezar)
Um helicóptero da marca italiana AgustaWestland pousa no gramado da fábrica da Mormaii, em Garopaba (SC), a maior marca de surfe do Brasil, cujos produtos devem vender R$ 600 milhões neste ano. Da nave, desembarcam quatro executivos do banco BTG Pactual.
Eles formam um conjunto de ternos bem cortados que avança até o escritório de Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, o fundador da empresa. Após os cumprimentos de praxe, revelam o motivo da visita: querem propor a venda da companhia, avaliada em quase R$ 1 bilhão, para um grupo internacional. Morongo bate a mão na mesa e sobe o tom: “Vocês sabem que estão me fazendo perder um tempo que eu poderia ter dedicado aos meus netos? Acham que eu quero esse dinheiro para quê? Olha, vocês vão me dar licença”. O empresário se levanta, mira a porta e grita para o filho: “Flavius, você pode atender estes caras?”. Budista, com jeitão de quem vive na praia, Flavius nem sequer trabalha na Mormaii. Naquele dia, estava por ali, meio por acaso – e de chinelos. Ainda assim, ele se senta à mesa, encara o grupo e abre um sorriso: “Do que a gente ia falar, mesmo?”.
Existem jeitos e jeitos de lidar com negócios. E existe também o jeito do Morongo. (O apelido, aliás, vem da infância. Marco Aurélio trazia umas pintinhas no rosto, semelhantes às existentes no morango. Daí, a alcunha pegou.) O BTG, observe-se, não foi o único banco de investimento a ouvir uma resposta rude para uma oferta de venda. A lista de negativas inclui, entre outras, uma dada em Nova York para a turma do J.P.Morgan. Para todos os efeitos, Morongo não está interessado em vender a Mormaii. Ocorre que, paradoxalmente, ele não vê problema em doar partes da companhia para funcionários e para pessoas de sua confiança – e, em um futuro não muito distante, quem sabe abrir mão dela toda.
Parece maluco, mas essa “generosidade” tem feito dele um homem mais rico. E não se trata de riqueza espiritual. É dinheiro, mesmo. Três anos atrás, por exemplo, ele doou a fábrica de roupas de neoprene, aquelas que os surfistas usam no inverno, coladas ao corpo. A confecção vendia R$ 10,5 milhões e dava prejuízo. Os processos estavam desorganizados. Uma primeira tentativa de doá-la a seis funcionários mixou. Morongo decidiu, então, ter uma conversa com Carlos Casagrande, de 38 anos, um galego de Criciúma, que detinha as licenças para fabricar protetores solares e aparelhos ortopédicos com a marca Mormaii.
Surfista apaixonado desde os 10 anos, Casagrande tinha bons resultados com esses produtos. Por isso, no início de 2012, Morongo disparou: “Tu queres a fábrica?”, disse, em um notório gauchês (ele nasceu em Barra do Ribeiro). Surpreso, Casagrande respondeu que não teria dinheiro para comprá-la. “Eu não quero que tu pagues”, replicou Morongo. “Quero que organize aquilo, porque não estou conseguindo. Quero que a produção dobre, triplique, só isso.” Foi o que aconteceu. No fim de 2014, dois anos e meio após a mudança, o negócio vendia R$ 24,5 milhões e dava lucro. Somente nos últimos 12 meses, período difícil para quem vende o que quer que seja no Brasil, o faturamento saltou 22%. “Qual foi o ganho do Morongo? A Mormaii está vendendo muito mais roupas de borracha. Assim, ele lucra mais com os royalties da marca”, diz Casagrande. “E não precisa se preocupar com a produção, tem mais tempo para os netos.”
Ao lado, uma prancha com superfície de cortiça, que dispensa parafina: Morongo cria boa parte das inovações da empresa  (Foto: Caio Cezar)
Morongo confecciona as primeiras roupas de neoprene da marca, nos anos 70  (Foto: Arquivo Pessoal)
Um negócio de royalties
Os royalties são o grande negócio atual da empresa. Em Garopaba, a única coisa que se fabrica são as roupas de borracha, sob a batuta de Casagrande – que combinou pagar somente o estoque de matéria-prima recebido na doação, e “conforme fosse possível”. Todos os outros 2,5 mil itens que levam o logotipo da Mormaii – de skates a guarda-sóis, de bolsas a capacetes – são produzidos por 46 fabricantes. Elas pagam, em média, 6,5% do valor das vendas para Morongo. Os artigos com os quais mais lucra são, pela ordem, chinelos (feitos por Grandene e Amazonas), relógios (Technos), óculos (JR-Adamver), bicicletas (Free Action) e roupas (Incobras). Seu maior ativo é a marca. E os contratos de licenciamento que ela atrai.
Nem sempre foi assim. Até o fim dos anos 80, a Mormaii fabricava tudo que vendia. Eram macacões e camisas de neoprene, acessórios de surfe, roupas e outros produtos. A transformação começou quando a Mesbla quebrou e um de seus principais fornecedores, desamparado, chamou Morongo para uma parceria. O empresário cederia a marca e eles fariam as roupas. Desde então, ele entendeu as vantagens da fórmula do licenciamento. Com o tempo, passou adiante a fabricação de todos os itens, um por um, até ficar só com aquilo que havia sido a pedra fundamental da Mormaii: as roupas de neoprene.
Na primeira vez em que viu o material (ou policloropreno, já que o nome neoprene é uma marca registrada da Dupont), Morongo era um adolescente hiponga e viajava de carona pela Patagônia argentina. Mergulhador, praticava o esporte na Península Valdés, famoso santuário de baleias, vestindo as grossas roupas impermeáveis da época, quando notou que a gola do traje era feita de um material mais fino e maleável.  
Anos mais tarde, ele se formou em medicina em Porto Alegre e decidiu se mudar para Garopaba, onde não havia médicos. O “doutor Morongo”, como era conhecido à época, diz que se estabeleceu ali como uma forma de ajudar um povoado carente. “Não havia água encanada, nem luz elétrica”, afirma. “Não existiam privadas, as pessoas defecavam na rua, muita gente morria de lombriga e verminoses.” Para se divertir, o médico tinha o mar. Mas havia um problemão: o frio tornava quase impossível os banhos durante o inverno. Foi aí que ele se lembrou daquela gola que conheceu na Argentina. Decidiu pegar uma Brasília (capenga, observe-se) e dirigir até Valdés, para comprar umas amostras do produto. O resto é história. Morongo começou a costurar roupas com o material, as pessoas fizeram pedidos, ele achou que ajudaria mais a cidade como empresário do que como médico e criou a marca, que já é vendida em 20 países.
“Tu queres a fábrica?”, ele perguntou ao amigo Carlos Casagrande. “Não precisa pagar. Só quero que a produção dobre, triplique.” Ele topou. Entre 2012 e 2014, as vendas quase triplicaram
Hoje, quem conhece Garopaba acha difícil acreditar nesse cenário de miséria descrito por ele. O município tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH, que combina dados sobre expectativa de vida, educação e saúde) considerado alto, de 0,753, acima da média do país, de 0,744. As casas lembram subúrbios americanos, com jardins abertos, sem cercas e com acabamento de boa qualidade. Com menos de 20 mil habitantes, tem um clube de tênis moderno. No dia dos namorados, uma noite fria e chuvosa, não havia reservas disponíveis em nenhum dos vários bistrôs e restaurantes à beira-mar, com pratos a R$ 80 por pessoa e vinhos importados. “A Mormaii colocou Garopaba no mapa”, diz Fernando Ambrosio, secretário de Turismo do município. “Muitos grandes empresários moram aqui por causa da qualidade de vida, mas vão para São Paulo trabalhar durante a semana.”
O empresário, no Havaí: aos 66 anos, ele segue surfando  e em boa forma  (Foto: Arquivo Pessoal)
Dividir para multiplicar
O turismo ligado ao surfe moldou o crescimento da cidade, sem grandes prédios e repleta de lojas e restaurantes identificados com esse estilo de vida. É seguro dizer que a Mormaii ajudou a forjar a face do município. Também não há risco em afirmar que Morongo é um desses empresários com faro aguçado para a inovação. Nos anos 70, época em que fazia as primeiras experiências com neoprene, essa indústria ainda engatinhava em outras partes do mundo. Na Califórnia, Jack O’Neill desenvolvia roupas parecidas para surfar nas águas geladas da região. Na França, Jacques Cousteau tentava adaptar o tecido para o mergulho. Na pequena e então miserável Garopaba, Morongo acompanhava ombro a ombro essa revolução. Ainda hoje, quase todas as inovações da marca são criadas internamente. Não raro, estão à frente da concorrência global.
Morongo sugere boa parte das novidades. A garagem de sua casa é cheia de criações do empresário, como uma prancha com superfície de cortiça (na foto da página 105), que dispensa parafina. Seu carro, um Suzuki Mormaii (outra licença), tem no porta-malas um opcional insólito: um esguicho para ajudar o surfista a limpar o pé na hora de se vestir. “Foi a minha exigência para a montadora”, diz. Mas talvez sua inovação mais radical esteja no campo da gestão, na forma como está tocando – ou deixando de tocar – o negócio.
Assim como abriu mão da fábrica, Morongo tem doado outras partes da empresa. O departamento de marketing, que produzia material publicitário para os produtos licenciados, foi desmembrado e resultou na criação da agência MXM, dada a dois funcionários antigos. A área que administra as franquias – a marca deve terminar o ano com 40 lojas – originou a A33, também entregue a um parceiro. O e-commerce foi cedido à funcionária que insistiu em sua criação. Até o setor de licenciamento, que gera os royalties sobre a marca, ele pensa em repartir no futuro. “Quem sabe dar uma parte para a prefeitura, ou alguma associação?”, afirma. “Acho uma boa ideia deixar algo para a comunidade.”
Tainah, filha do empresário, agora cria as estampas: os itens femininos subiram de 30% para 40% das vendas em dois anos (Foto: Caio Cezar)
Na onda dos números (Foto: Reprodução)
“Totalmente dispensável”
A lógica por trás dessas doações é simples – e segue à risca o que foi descrito com a fábrica de roupas de neopreme. Cada vez que cedeu um pedaço da empresa, sempre para pessoas em cuja capacidade de gestão Morongo confiava, a área melhorou. A estratégia fez com que mais produtos Mormaii fossem vendidos, gerando mais royalties para ele. A venda total de peças subiu de R$ 520 milhões em 2013 para R$ 575 milhões em 2014. Ela deve chegar a R$ 600 milhões neste ano. Morongo hoje é proprietário de três helicópteros, casas em praias paradisíacas, um barco de 45 pés (que, no momento, viaja pelo Taiti) e está construindo um novo, de 70 pés. Não que seja gastador. Quinze anos atrás, ele ainda morava em uma casinha de costaneira, aquela beirada dos troncos de árvore que normalmente vira descarte na areia da praia. A configuração do quarto mudava de acordo com a direção do vento que batia, e as goteiras o obrigavam a trocar a posição da cama com frequência. Gerentes da Mormaii andavam em carros bacanas, enquanto ele dirigia um Fiat Elba. Foram esses mesmos funcionários que, enfim, pediram para que ele saísse daquele quase barraco. “Eles passavam vergonha quando vinha um japonês visitar a empresa”, diz Morongo.
As extravagâncias materiais de hoje estão, basicamente, ligadas ao surfe, que, aos 66 anos, ele segue praticando em plena forma. Mas talvez a maior vantagem do “dividir para multiplicar” nem seja o dinheiro, e sim o tempo livre que o empresário passou a ter. “Agora, sou um bicão: dou palpites no marketing, no desenvolvimento de produtos”, afirma. “Mas sou totalmente dispensável. Fico dois meses fora surfando e ninguém sente falta.”
É claro que esse desprendimento é um assunto que também interessa aos herdeiros. Dos três filhos de Morongo, apenas uma trabalha na empresa. Formada em moda, Tainah Juanuk entrou para o grupo dois anos atrás, para reformular as peças femininas. Na época, 30% das vendas eram feitas para mulheres, o que era considerado pouco. Ela criou estampas mais descoladas para as roupas de borracha das surfistas, além de novos cortes para ressaltar as silhuetas. Hoje, o público responde por 40% do faturamento.
“Meu pai, com essa visão diferente, só tem feito a marca prosperar”, afirma Tainah. Ela diz que não se incomoda com as doações. Ao contrário: o desapego parece ser hereditário. “Esses dias, ele quis passar para mim e para o meu marido a participação que ainda tem na agência MXM”, diz a filha. “Não aceitamos. No fundo, é tudo nosso.” O marido, Sacha Juanuk, trabalha como gestor da MXM. Afirma ganhar menos do que os ex-funcionários que se tornaram donos. “Se a gente for entrar nessa de quem ganha mais, vamos inviabilizar a empresa”, diz Juanuk. O importante, ele afirma, é que a agência passou a dar lucro e viu o faturamento saltar em 40% após ser desmembrada da Mormaii. O mesmo se deu com a área de franquias, que tem planos agressivos de expansão nos próximos anos.
Ainda que faça sentido, a estratégia costuma deixar confuso quem tem uma visão tradicional sobre negócios. “Um dia eu perguntei ao Morongo ‘por que eu?’”, diz Casagrande. “Ele falou que eu era bom em lidar com as pessoas e que as empresas nada mais são do que pessoas.” Mas levou pelo menos dois anos para Casagrande entender a filosofia, o “dividir para multiplicar” (ou “doar para multiplicar”). “Agora, sou um grande defensor dessa ideia”, afirma.
Tudo isso pode sugerir que Morongo tem um jeito meio zen ou coisa do tipo, o que não é verdade. Ele é simpático, mas também tem a assertividade – quase uma agressividade – típica dos empresários, como verificou a turma do BTG (que não quis falar com a reportagem). Muitas vezes, responde a perguntas sobre números da empresa com um “sei lá, cara, eu não estou mais nessa, faz a conta e vê”. Apenas para, em seguida, sorrir e narrar uma história incrível sobre os primórdios do surfe no Havaí. “Se eu fosse só o ‘lado yin’, estaria até hoje vendendo tranqueira na praia. O ‘lado yang’ é importante”, diz. “A questão é achar o equilíbrio, o caminho do meio.”
Morongo também tem uma tese sobre a Mormaii. Para ele, o poder da marca – que hoje é o verdadeiro negócio da empresa – não está no logotipo ou no marketing. Sua força está na própria história da companhia, na relevância que tem para a comunidade, na forma como o dia a dia é tocado no escritório. Essa visão, baseada no impacto do negócio na vida das pessoas, tem funcionado – e feito a empresa prosperar. Sacha, o genro, concorda com a filosofia, mas prefere ser mais específico ao identificar o motor da Mormaii. “A marca, no nosso caso, é o próprio Morongo.” 
Na infância: a primeira turma de amigos surfistas (Foto: Arquivo Pessoal)
Fonte http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Resultados/noticia/2015/09/dono-da-mormaii-da-partes-da-empresa-funcionarios.html