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sexta-feira, 24 de março de 2017

Os segredos do país mais feliz do mundo

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A Noruega desbancou a Dinamarca como o “país mais feliz do mundo”.

O país ficou em primeiro lugar no ranking de 2017 do Relatório Mundial da Felicidade, divulgado pela ONU - o Brasil aparece em 22º lugar.
O levantamento é baseado em uma única pergunta simples e subjetiva feita a mais de 1 mil pessoas todos os anos em mais de 150 países.
"Imagine uma escada, com degraus numerados de zero na base e dez no topo. O topo da escada representa a melhor vida possível para você e a base da escada representa a pior vida possível para você. Em qual degrau você acredita que está?"
O resultado médio é a nota do país – e a Noruega obteve a maior de todas: 7.54.
Mas o que faz os 5,1 milhões de habitantes do país rirem à toa? Bem, alguns motivos são bem óbvios.
A natureza e a vida selvagem por lá são estonteantes e caracterizadas por alguns acidentes geográficos belíssimos, como os fiordes, e fenômenos naturais que atraem turistas de todo o mundo, como a aurora boreal.
Mas não é apenas isso. O país é líder há mais de uma década no Índice de Desenvolvimento Humano, elaborado com base na riqueza per capita gerada pelo país, o nível educacional dos seus cidadãos e a expectativa de vida, que chega a 81,6 anos.
Além disso, costuma-se ter uma jornada de trabalho mais curta, de apenas 33 horas por semana.
A licença-maternidade é uma das mais longas do mundo: são 315 dias. E mais da metade dos habitantes faz algum tipo de trabalho voluntário.
Por fim, o país busca preservar o meio ambiente ao obter 46,5% da energia que consome a partir de fontes renováveis.
Nada mal, não?
Imagens: Cortesia de Visitnorway.com

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/internacional-39385223

quinta-feira, 23 de março de 2017

Azar tem papel mais importante que genética em surgimento de câncer

Reuters
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Fonte da reportagem: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/01/azar-tem-papel-mais-importante-que-genetica-em-surgimento-de-cancer.html

Dois terços dos casos têm como responsáveis mutações aleatórias.
Mutações danosas podem ocorrer sem uma razão em específica.


Da Reuters
Paciene se submete a sessão de radioterapia: azar desempenha papel mais importante que genética no surgimento de câncer (Foto: Reprodução/TV Globo)Paciene se submete a sessão de radioterapia: azar desempenha papel mais importante que genética no surgimento de câncer (Foto: Reprodução/TV Globo)


O simples e velho azar tem papel importante em determinar quem contrai e quem não contrai o câncer, de acordo com pesquisadores que descobriram que dois terços da incidência de câncer de vários tipos têm como responsáveis mutações aleatórias, e não fatores hereditários ou hábitos de risco.Os pesquisadores afirmaram nesta quinta-feira (1º) que mutações aleatórias de DNA acumuladas em várias partes do corpo durante divisões de rotina nas células são as principais culpadas por muitos tipos de câncer.

Eles examinaram 31 tipos de câncer e descobriram que 22 deles, incluindo leucemia, câncer no pâncreas, nos ossos, nos testículos, no ovário e no cérebro, podem ser explicados em grande parte por essas mutações aleatórias, essencialmente azar biológico.

Os outros nove tipos, entre eles o câncer de pele e dos pulmões, são mais influenciados por fatores genéticos e ambientais, como hábitos de risco.

Em geral, eles atribuíram 65% da incidência de câncer a mutações aleatórias em genes.

"Quando alguém contrai o câncer, as pessoas imediatamente querem saber o motivo”, disse o médico Bert Vogelstein, da Escola de Medicina da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos. Ele participou do estudo publicado no periódico "Science" junto com biomatemático Christian Tomasetti.

“Elas gostam de acreditar que há uma razão. E a razão em muitos casos não é o fato de alguém ter se comportado mal ou ter sido exposto a uma influência ambiental nociva. É somente porque a pessoa teve azar. É perder na loteria.”

Tomasetti afirmou que mutações danosas não ocorrem devido a uma razão em particular. Ele disse que o estudo indica que mudar o estilo de vida pode prevenir certos tipos de câncer, mas pode não ser eficaz para outros.

“Logo, devemos focar mais pesquisas e recursos para descobrir maneiras para detectar esses tipos de câncer em estágios iniciais, curáveis”, disse.
Infográfico câncer (Foto: G1)

Dois terços das mutações causadoras de câncer ocorrem devido a erros aleatórios de reprodução do DNA, diz estudo

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Com base em modelo matemático, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins mostraram porcentagem para cada causa das mutações da doença.

Por G1

Espiral de DNA - código é reproduzido dentro das células (Foto: AFP)



Cientistas da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, publicaram um estudo com evidências de que quase dois terços das mutações que causam câncer são erros aleatórios que aparecem quando o DNA é replicado na divisão celular e, portanto, não são ligados a fatores ambientais ou de herança genética.

O artigo publicado na revista "Science" desta semana mostra que essa fração de mutações devido a erros aleatórios ocorre em 32 tipos de câncer. A análise dos pesquisadores está fundamentada em um modelo matemático que relaciona o sequenciamento de DNA com dados epidemiológicos de todo o mundo.

O estudo ressalta que, geralmente, duas ou mais mutações genéticas críticas precisam ocorrer para o desenvolvimento de um câncer. Essas mutações que causam o câncer podem ocorrer devido a esses erros aleatórios de cópias do DNA, ao ambiente ou a herança genética.

"É conhecido que devemos evitar fatores ambientais, como fumar, para diminuir nosso risco de ter câncer. Não é tão conhecido, no entanto, que cada vez que uma célula normal se divide e copia seu DNA, pode gerar múltiplos erros", disse Cristian Tomasetti, professor da Johns Hopkins.

"Esses erros de cópia são uma fonte potente de mutações de câncer que, historicamente, foram subestimadas pela ciência. Esse novo trabalho fornece a primeira estimativa da fração de mutações causadas por esses erros", completou.

Prevenção

Berth Vogelstein, colega de Tomasetti na Johns Hopkins, disse que é necessário que as pessoas continuem a ser encorajadas a evitar as causas ambientais e os estilos de vida que aumentam o risco de câncer, como fumar. "No entanto, muitas pessoas ainda irão desenvolver cânceres devido a esses erros aleatórios copiados pelo DNA. Melhores métodos para detectar todos os cânceres mais cedo, ainda que curáveis, são urgentemente necessários", explicou.

Os dois pesquisadores dizem que a pesquisa não discorda dos estudos epidemiológicos que mostram que cerca de 40% dos casos de câncer poderiam ser evitados com ambientes e estilos de vida mais saudáveis. O artigo apenas chama a atenção para o fato de que, frequentemente, a doença atinge pessoas com bons hábitos - não fumantes, dieta e peso saudáveis, nenhum histórico familiar de câncer.

"Esses cânceres ocorrerão e não importa quão perfeito seja o ambiente", disse Vogelstein.

Modelo matemático
Tomasetti e Vogelstein usaram um novo modelo matemático para mostrar que mutações críticas no pâncreas ocorrem 77% das vezes devido a erros aleatórios, 18% a fatores ambientais e 5% por fatores hereditários.

Já os cânceres de próstata, cérebro ou osso são causados mais de 95% das vezes por mutações relacionadas a erros aleatórios de cópia de DNA. O de pulmão é mais ligado a fatores ambientais: 65% das mutações, principalmente relacionados ao cigarro. Os outros 35% vem de erros genéticos.

Em um média de todos os tipos analisados, a dupla chegou a essa fração de 2/3: 66% das mutações ocorrem devido a erros de cópia, 19% ao estilo de vida ou ambiente e 5% são hereditários.

Estudo de 2015

Em janeiro de 2015, os pesquisadores haviam publicado outra pesquisa que comparou o número total de divisões celulares nos órgãos com tumores à incidência de câncer nos Estados Unidos. Eles dizem que isso permitiu explicar porque certos tipos de tumor, como o de colo de útero, ocorrem mais frequentemente do que outros.

Ainda de acordo com os autores, esse primeiro estudo já sugeriu que os erros copiados pelo DNA poderiam desempenhar um papel importante no câncer. A relação entre as mutações e tais reproduções nas células só foi analisada neste novo estudo, publicado nesta quinta.

Neste artigo mais recente, os pesquisadores também ampliaram a linha da pesquisa feita em 2015. Compararam as taxas de divisão das células com dados de incidência em 68 países, além dos Estados Unidos. Eles também incluíram dados sobre os cânceres de mama e próstata, não incluídos no artigo escrito há dois anos.

De acordo com os pesquisadores, a atualização manteve a mesma relação entre divisão celular e a incidência do câncer em vários órgãos, independente do país e ambiente.

Fonte http://g1.globo.com/bemestar/noticia/dois-tercos-das-mutacoes-causadoras-de-cancer-ocorrem-devido-a-erros-aleatorios-de-reproducao-do-dna-diz-estudo.ghtml

O que é a projeção Gall-Peters, mapa que promete acabar com '4 séculos de visão colonialista' do mundo

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Projeção de Gall-PetersDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionA projeção de Gall-Peters mostra proporção mais real dos continentes
Por mais de 400 anos, escolas de todo o mundo usaram mapas com distorções ​​nos tamanhos dos continentes.
As representações do mundo usadas ​​atualmente são baseadas na projeção feita em 1569 pelo cartógrafo Gerardo Mercator, destinada aos navegadores da época. Seus gráficos respeitam a forma dos continentes, mas não os tamanhos - neles, a Europa e a América do Norte são vistas maiores do que realmente são e o Alasca ocupa mais espaço que o México, embora seja menor.
Um dos erros mais significativos é que a África parece menor do que realmente é, quando na verdade tem o triplo da extensão da América do Norte e é 14 vezes maior que a Groenlândia.
Mas agora algumas salas de aula de escolas públicas de Boston, no nordeste dos Estados Unidos, começaram a usar o mapa de Gall-Peters, projeção batizada em homenagem a James Gall, escocês aficionado por astronomia que a desenhou pela primeira vez em 1855, e ao historiador alemão Arno Peters, que a difundiu na década de 1970.
Esse mapa mostra o tamanho e a proporção de países, continentes e oceanos com mais precisão. Na semana passada, cerca de 600 escolas públicas da cidade americana receberam cópias dele, noticiou o jornal The Boston Globe.
Uma das principais mudanças é que a Europa aparece muito menor do que se via antes em comparação com a África, que é muito maior.

Continentes distorcidos

Uma das razões para as distorções cartográficas é a dificuldade de se projetar uma esfera como a Terra - de três dimensões - em uma superfície plana, de duas dimensões, como a de um mapa.
Mas, para os geógrafos, atrás dos erros de Mercator há também outra razão.
"A maioria dos primeiros mapas do mundo foi criada por europeus do norte", disse Vernon Domingo, professor de geografia da Universidade Estadual de Bridgewater e membro da Aliança Geográfica de Massachusetts, em declaração ao The Boston Globe.
"Eles tiveram a perspectiva do hemisfério norte - e também uma perspectiva colonialista."
Projeção de MercatorDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionNo mapa de Mercator, a Groenlândia é quase do tamanho da África

Descolonizar o currículo

A troca de mapas responde ao desejo de Boston de "descolonizar o currículo", disse ao mesmo jornal Colin Rose, superintendente-assistente do Escritório de Oportunidades das Escolas Públicas de Boston.
"Trata-se de mapas, mas, ao mesmo tempo, não se trata de mapas", disse Rose. "Esta é uma mudança de paradigma. Nós tivemos uma visão que era muito eurocêntrica. E como podemos falar de outros pontos de vista? Esse é um excelente ponto de partida."
Para Hayden Frederick-Clarke, diretor de competências culturais das escolas públicas de Boston, o erro mais grave das projeções de Mercator é o tamanho da África.
"Dos nossos alunos, 86% não são brancos e têm pais e avós que são de locais que são mostrados menores nos mapas", disse Frederick-Clarke ao programa The World, da PRI (Public Radio International) e da BBC.
"Queremos que os alunos se vejam de forma adequada e contestem a narrativa de que muitos desses lugares são pequenos e insignificantes no mundo", disse.
"A Groenlândia parece ter o mesmo tamanho da África e dos EUA. Parece de um tamanho comparável, embora sabemos que isso não é uma verdade absoluta. A África é 14 vezes maior do que a Groenlândia. Além disso, no mapa de Mercator, o México é menor que o Alasca, quando na verdade é muito maior", disse o professor.
"Também há problemas com o Brasil. A Europa, mais especificamente a Alemanha, aparecem perto do centro do mapa. E sabemos que isso não é verdade."
"Da minha experiência como instrutor, sei que as pessoas gostam da verdade e que os professores querem apresentar um produto melhor e mais autêntico", disse Frederick-Clarke.
O jornalista da PRI David Leveille diz que os críticos da iniciativa a veem como "mais uma batalha na guerra de culturas" e insistem que "um mapa é apenas um mapa".
Segundo Leveille, eles perguntam: "nenhum mapa é perfeito, então porque se preocupar?".

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/internacional-39349115

O segredo da capacidade física do homem que correu 50 maratonas em 50 dias

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Dean KarnazesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionQuando completou 30 anos, Dean Karnazes descobriu que podia correr o quanto quisesse sem se cansar
Quando o americano Dean Karnazes decidiu testar qual era seu próprio limite e o quanto poderia correr sem parar, não foram suas pernas que fraquejaram.
O que parou o ultramaratonista depois de três dias e três noites correndo sem parar não foi o cansaço, mas o sono.
"Depois de correr mais de 500 quilômetros em 81 horas sem parar, acho que encontrei meu limite. Passei duas noites sem dormir e estava bem, mas, na terceira, comecei a alucinar", conta Karnazes. "Dormia correndo e entendi que esse era o limite funcional que um humano podia atingir. Pelo menos, era pra mim", completa.
O corredor já completou 50 maratonas - cada trajeto tem 42, 195 km - em 50 dias.
Ele percorreu 217 km correndo no Vale da Morte na Califórnia, com temperaturas que se aproximam dos 49ºC, e também já passou pelo Polo Sul, onde o termômetro marca 25ºC negativos.
O que diferencia Karnazes da maioria dos seres humanos é que, para ele, não há limiar anaeróbio que o restrinja, como ocorre mesmo com os mais dotados dos atletas olímpicos. O limiar anaeróbio é o limite da capacidade do corpo em remover ácido láctico e evitar o seu acúmulo no sangue e nos músculos- acúmulo que causa a exaustão do atleta.
Em toda sua vida, o ultramaratonista nunca experimentou fadiga muscular ou sofreu câimbras. Para ele, o limite não é físico, mas mental.
Dean KarnazesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO supermaratonista largou o emprego que o deixava infeliz para sair correndo mundo afora

Epifania

Karnazes não fazia ideia do que se passava com o próprio corpo até a noite em que completou 30 anos.
"Estava num bar, fazendo o que fazemos no aniversário: bebendo com amigos", recorda. Ele diz que tinha um ótimo emprego como executivo de uma empresa em San Francisco, que direito a parte das ações da companhia e seguro de saúde. "Mas me sentia miserável. E tive uma epifania de mesa de bar", contou ao programa da BBC Incredible Medicine: Dr Weston's Casebook (Medicina Incrível: o livro de casos do Dr. Weston em tradução livre).
"Bêbado, corri 48 quilômetros no meio da noite", disse. Enquanto corria, diz Karnazes, foi a primeira vez em que se sentiu realmente vivo.
Karnazes era um corredor assíduo quando criança. Mas parou ainda na adolescência. Isso o surpreendeu porque, mesmo depois de 15 anos de inatividade, não sentiu nenhum tipo de fadiga muscular.
Dean KarnazesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionKarnazes considera que seu estilo de vida saudável o ajudou a potencializar a genética diferenciada

Biologicamente diferente

Tão logo voltou a correr nas ruas, foi superando suas metas. Mas foi em 2006 que percebeu que poderia ser biologicamente diferente das outras pessoas.
"Me mandaram para um centro no Colorado onde, primeiro, testaram minha capacidade aeróbica", contou Karnazes ao jornal britânico The Guardian. Os resultados, contudo, foram consistentes com os de atletas de alto rendimento, mas nada extraordinário.
"Depois, me submeteram a uma prova de limiar láctico. Disseram que o exame duraria 15 minutos. Pararam depois de uma hora e disseram que nunca haviam visto nada igual", diz o ultramaratonista.
Pernas de Dean Karnazes
Image captionDean Karnazes nunca sentiu câimbras nem fadiga muscular
Para a maioria das pessoas, há um limite quando fazemos exercícios. Quando há esforço físico, o organismo "queima" glicose, usando, principalmente, o oxigênio proveniente da respiração. Se as atividades físicas forem além do condicionamento da pessoa, há queima sem oxigênio e essa reação solitária produz o ácido láctico, um dos causadores das dores musculares.
Quando os níveis de oxigênio dos músculos baixam e o organismo tem problema para limpar o ácido lático acumulado, vem a exaustão física.
Isso nunca ocorre no corpo de Karnazes, que é capaz de controlar a produção do ácido láctico por ter mais glóbulos vermelhos que a média das pessoas.
São os glóbulos vermelhos que transportam oxigênio por meio de reações químicas impulsionadas por mitocôndrias nas células dos músculos. Essas reações melhoram com um tipo de enzima que permite transformar o ácido láctico novamente em glicose, a principal fonte de energia dos músculos.
Com treinamento, todo esse processo pode ser impulsionado até um certo limite - o limiar anaeróbio.
Dean Karnazes
Image captionKarnazes diz ter reecontrado o prazer de viver na corrida
No caso de Karnazes, acredita-se que sua habilidade é fruto de uma privilegiada herança genética que permite a presença, além de mais glóbulos vermelhos, de enzimas e mitocôndrias com maior capacidade. Isso significa que os músculos dele sempre têm oxigênio necessário.
O ultramaratonista também está convencido de que levar uma vida saudável, com boa alimentação e baixa exposição a toxinas, contribuiu para aperfeiçoar seu dom genético.
Essa é combinação ideal para uma pessoa como Karzanes, que, ao correr, se sente "mais vivo".

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-39354351

terça-feira, 21 de março de 2017

Dos engenhos de açúcar à Carne Fraca: como a pecuária ajuda a contar a história do Brasil

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Bois em fazenda na cidade mineira de UberabaDireito de imagemMUSEU DO ZEBU
Image captionPrimeiros bois a chegar ao país também eram empregados nas fazendas de açúcar como bestas de carga e força motriz
Muito antes da Operação Carne Fraca, que denunciou um esquema de corrupção envolvendo frigoríficos e fiscais agropecuários, a pecuária no Brasil era só para os fortes - bois e seus donos.
Encomendados por senhores de engenho, os primeiros bovinos a chegar ao país eram empregados nas fazendas de açúcar do Brasil Colônia como bestas de carga e força motriz, além de fonte de comida e couro.
Segundo o Centro de Referência da Pecuária Brasileira - Zebu, os primeiros muares desembarcam no país por volta de 1534, vindos da então colônia portuguesa de Cabo Verde, na África.
Desde então, a pecuária se tornou um dos setores mais rentáveis da economia brasileira, movimentando R$ 400 bilhões em 2016 - mas a expansão da atividade jamais se dissociou de polêmicas e escândalos.

Ocupação de territórios

Conforme os rebanhos cresciam, o gado deixou de ser usado unicamente na lavoura de cana e se tornou crucial para a ocupação de territórios da jovem colônia.
Em artigo publicado em 1995 na revista Le Portugal et l'Europe Atlantique, le Brésil et l'Amérique Latine, a historiadora Maria Yedda Leite Linhares (1921-2011) remonta o crescimento da pecuária no Brasil às sesmarias, terras distribuídas pela Coroa e destinadas à produção agrícola.
Linhares conta que, para conseguir ocupar os territórios, os sesmeiros costumavam arrendar áreas menores a sitiantes que possuíam rebanhos. Era importante preencher as áreas porque terras livres podiam ser retomadas pela Coroa para serem redistribuídas.
Começa então a grande marcha bovina para o interior: o gado avança de São Vicente (SP) até os campos de Curitiba; de Pernambuco, para o Agreste e o Piauí; da Bahia, para o Ceará, o Tocantins e o Araguaia. Nos séculos seguintes, os rebanhos ocupariam ainda o Semiárido, Minas Gerais, o Rio Grande do Sul, o Cerrado e franjas da Amazônia.
Linhares diz que está superada a noção de que as fazendas de gado pioneiras se caracterizavam pela natureza livre do trabalho de peões e vaqueiros, em contraste com a escravidão nos engenhos de cana.
"Tal avanço sobre a terra nada teve de pacífico, sendo numerosos os registros de reação violenta das populações indígenas à incorporação de sua força de trabalho nas fazendas de gado", ela afirma.
Em Os índios e a civilização, o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) descreve o avanço da pecuária em terras dos povos Timbira, no sul do Maranhão.
Bois em UberabaDireito de imagemMUSEU DO ZEBU
Image captionAlguns mascates fizeram fortuna conduzindo e vendendo pequenos rebanhos de fazenda em fazenda
"À custa de tramoias, de ameaças e de chacinas, os criadores de gado espoliaram a maioria deles, e os remanescentes de vários grupos se viram obrigados a juntar-se nas terras que lhes restavam, insuficientes para o provimento da subsistência à base da caça, da coleta e da agricultura supletiva desses índios."
No século 19, a atividade se transforma com a chegada de raças zebuínas da Ásia, mais adaptadas ao clima tropical. Até então, boa parte do rebanho brasileiro era composto por raças taurinas, de origem europeia.
Alguns fazendeiros do Triângulo Mineiro viajam eles próprios à Índia para buscar os animais, identificados pela presença de corcova (cupim) e pelas orelhas longas.
Outros pecuaristas compram os muares de mascates, vendedores ambulantes que conduzem pequenos rebanhos de fazenda em fazenda. Alguns mascates fazem fortuna e mandam construir palacetes nas principais cidades da região.

Perón e o primeiro impulso à exportação

Nos anos 1940, com a ascensão de Juan Domingo Perón à Presidência da Argentina, novos mercados se abrem para o Brasil.
Pesquisador de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da escola de agricultura da USP (Esalq), Sérgio de Zen diz que naquela época a Argentina era a grande fornecedora de carne bovina do mundo.
Ele conta, porém, que o intervencionismo de Perón fez com que multinacionais do setor buscassem o Brasil como alternativa.
É nessa época que empresas como a inglesa Anglo e a americana Swift se instalam no país, trazendo técnicas industriais para o abate e o processamento da carne.
Com o fim da Segunda Guerra (1939-1945), diz Zen, a pecuária se reorganiza na Europa e avança nos EUA e na Austrália. O Brasil sofre com a competição, e as multinacionais deixam o país, pressionadas também pela concorrência com abatedouros clandestinos.
Homem trabalha em frigoríficoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNa década de 1970, a agricultura avançou e até hoje a pecuária é tida como a principal responsável pelo desmatamento da Amazônia
Na década de 1970, o avanço da agricultura pelo Cerrado dá novo fôlego ao setor. Com a correção da acidez dos solos e a introdução de capins mais adaptados ao bioma, a raça zebuína Nelore se consolida como a principal variedade do país.
Hoje o Centro-Oeste é a principal região produtora do Brasil, mas a expansão de capins exóticos - especialmente do gênero braquiária - ameaça a vegetação original remanescente.
A ditadura militar também estimulou a atividade ao promover a colonização da Amazônia. A construção da rodovia Transamazônica (1968-1974) empurrou a fronteira pecuária até o sul do Pará, enquanto a oeste fazendeiros - muitos deles paulistas e gaúchos - substituíam florestas por pastagens em Mato Grosso, em Rondônia e no Acre, às margens da BR-364.
Até hoje, a pecuária é tida como a principal responsável pelo desmatamento da Amazônia. Áreas destruídas pelo fogo podem se tornar pastagens sem grandes custos, e a mobilidade dos bois permite que sejam criados longe de estradas e centros de consumo.
Além disso, o gado criado em áreas desmatadas ilegalmente pode ser abatido e comercializado por frigoríficos regulares, o que dificulta seu rastreamento.
Na Amazônia, assim como em boa parte do Centro-Oeste, os rebanhos têm espaço, água e clima favorável o ano todo, uma grande vantagem competitiva em relação à Europa ou aos EUA, onde os invernos são rigorosos e os animais passam ao menos parte do ano confinados.

Especulação bovina

Mesmo com a expansão territorial, o setor ainda enfrentava turbulências. Entre as décadas 1980 e 1990, nos anos de hiperinflação, o gado se tornou uma alternativa à moeda que desvalorizava rapidamente. Os animais eram comprados e logo revendidos para que se lucrasse com a especulação.
Só após a estabilização da economia com o Plano Real, em 1994, o setor é forçado a se tornar mais eficiente.
Avanços tecnológicos possibilitam que mais bois sejam criados em menos espaço. No fim dos anos 1990, a epidemia de vaca louca na Europa e a de febre aftosa na Argentina abrem espaço para o gado brasileiro.
A pressão de compradores estrangeiros e de ambientalistas quanto ao desmatamento da Amazônia e à qualidade da carne leva a indústria nacional a endurecer o controle sobre o abate.
As autoridades sanitárias também se tornam mais rigorosas. Sérgio de Zen, da Cepea-Esalq, diz que um estudo de 2012 apontou que naquele ano só 6% dos abates ocorriam sem fiscalização.
Homem carrega carne para frigoríficoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionBrasil passou disputar com a Índia o posto de maior exportador mundial de carne bovina e se tornou o segundo maior produtor, atrás dos EUA
Nos anos Lula e Dilma, o governo estimula a concentração do setor com sua política de "campeões nacionais". Sob a gestão de Luciano Coutinho, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) injeta recursos em alguns grupos, que incorporam outros e se tornam gigantes globais.
A Sadia se funde com a Perdigão, dando origem à Brasil Foods (hoje BRF); o Grupo JBS compra as redes de frigorífico Bertin e Independência e passa a controlar algumas das principais marcas do mercado, como Swift, Friboi e Seara.
A financeirização da pecuária atinge níveis inéditos. O Brasil passa a disputar com a Índia o posto de maior exportador mundial de carne bovina e se torna o segundo maior produtor, atrás dos EUA.

Novas técnicas

Pesquisador-chefe da subdivisão de gado de corte da Embrapa, agência de pesquisa subordinada ao Ministério da Agricultura, Cléber Soares diz que hoje a expansão da atividade não necessita de novas áreas.
Ele afirma que nas fazendas bovinas do Brasil se produzem hoje, em média, 90 quilos de carne por hectare ao ano, mas que é possível produzir até 600 quilos com a adoção de tecnologias já disponíveis.
Soares aposta em sistemas que integram, numa mesma fazenda, pecuária, plantações de soja ou milho e florestas comerciais. Hoje boa parte do gado brasileiro se alimenta só de capim. Quando é possível complementar a dieta com cereais, Soares diz que os rebanhos requerem menos espaço.
O pesquisador também aposta no contínuo aperfeiçoamento dos animais e conta que, séculos após importar seus primeiros bois e vacas, o Brasil se tornou o maior exportador de genética bovina do mundo.
Ele diz que, numa inversão de papéis, o país passou a vender inclusive para as regiões a que deve a formação de seu rebanho: hoje raças zebuínas brasileiras são exportadas para a Índia, e raças taurinas nacionais são despachadas para a Europa.

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39299786