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segunda-feira, 31 de julho de 2017

O que faz o mel ser 'eterno' e não estragar?

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Pintura rupestre
Image captionDesenho antigo mostra um homem pendurado em um cipó e alcançando uma colmeia para coletar mel de abelhas selvagens.

A imagem acima é de uma pintura rupestre, talvez a mais famosa, que ficava nas paredes de cavernas de Araña em Valência, na Espanha. Ela mostra uma pessoa pendurado em uma espécie de cipó, se esticando para alcançar uma colmeia e coletar mel de abelhas silvestres.
Estima-se que foi pintada há cerca de 8 mil anos, prova de que, ao menos desde então, nós nos arriscamos para conseguir essa delícia que as abelhas produzem com a ajuda das flores.
O sabor do mel, a segunda coisa mais doce que se encontra na natureza depois das tâmaras, encanta o ser humano desde que ele passou a ficar na posição ereta.
E o mais assustador é que, se o autor dessa pintura oito milênios atrás tivesse deixado um pote de mel no mesmo lugar, é muito provável que ele ainda estivesse bom para comer - no caso, o professor Jaime Garí Poch, que descobriu as cavernas onde estava a pintura no início do século 20, teria sido o agraciado com o pote.
Mas o que tem no mel para que se mantenha fresco por tanto tempo?

Em toda parte

Ao longo da história, a humanidade já se alimentou, se banhou e até se tratou com mel.
Em uma tábua de argila de Nippur, o centro religioso dos sumérios no Vale do rio Eufrates, que data aproximadamente do ano 2000 a.C., há uma receita escrita para cuidar de machucados desta forma: "Moer até que a areia do rio vire pó (faltam algumas palavras) e amassar com água e mel, azeite puro e óleo de cedro e colocar quente sobre a ferida".
No Antigo Testamento, a terra de Israel é chamada "terra que corre leite e mel". Depois, no Novo Testamento, conta-se que João Batista comia gafanhotos com mel silvestre.
O grande guerreiro cartaginês Aníbal deu ao seu exército mel e vinagre quando cruzaram os Alpes em elefantes para lutar contra Roma.

MelDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAo longo da história, a humanidade já se alimentou, se banhou e até se tratou com mel

Para a medicina chinesa, o mel tem uma característica equilibrada (não é yin nem yang) e atua de acordo com os princípios do elemento Terra, entrando no pulmão, no baço e nos canais intestinais, segundo textos antigos.
Durante a dinastia Zhou Oriental (770-256 a.C.), um dos manjares reservados para a realeza era uma mistura de mel com larvas de abelha. Nas Poesias de Chu, uma antologia antiga (século 11 a.C-223 a.C.), se fala de vinho e mel.
E, no antigo Egito, os faraós partiam para outro mundo carregados de mel. Arqueólogos modernos encontraram uma vez ou outra nas antigas tumbas egípcias vasilhas de mel de milhares de anos que estavam perfeitamente conservadas.
São poucos os alimentos que sobrevivem com o passar do tempo. As batatas dessecadas dos incas são um exemplo, mas, diferentemente do mel, elas foram processadas. Se você encontra sal ou arroz seco em uma tumba antiga, no meio do nada, é provavel que você consiga utilizá-los para preparar um prato sem problemas.
Mas a diferença está aí: você precisará preparar algo. O mel guardado de maneira apropriada dura por um tempo indefinido, e, se você encontra um pote em uma tumba no meio do nada, supostamente pode se lambuzar com ele.

Como é possível?

A "magia" acontece por uma série de fatores que operam na mais perfeita harmonia.
O mel é um açúcar, e os açúcares são higroscópicos. Isso significa que eles têm pouca água, mas podem absorver a umidade se expostos a ela.

AbelhaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara obter o néctar na célula da colméia, as abelhas desencadeiam o processo que fará com que o seja mel é anti-séptico

São raros os microorganismos que podem sobreviver em um ambiente assim. Para que algo estrague, é preciso haver algo que gere esse processo - mas o mel é um "hospedeiro" ruim para eles, então, costumam se manter longe dele. Ao mesmo tempo, o mel é extremamente ácido. Seu pH fica entre 3 e 4,5 (7 seria neutro), e essa acidez mata microorganismos.
Quando as abelhas fazem o mel, elas coletam com o néctar das flores e, depois, o regurgitam no favo. Ao fazer isso, há uma mistura com uma enzima que elas têm no estômago, a glicose oxidase.
O néctar se decompõe em ácido glucônico e peróxido de hidrogênio, a famosa água oxigenada, muitas vezes usada para limpar feridas por matar bactérias e que protege o mel de coisas que queiram "crescer" nele.
Assim, esse "tesouro dourado" é eterno por ser extremamente doce e ácido, o que impede que qualquer bicho sobreviva - além disso, tem um antiséptico natural.
Fonte http://www.bbc.com/portuguese/geral-40763802

Como a reforma trabalhista pode afetar os sindicatos e seus 150 mil funcionários

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Departamento de homologação do Sindicato da Construção Civil de São PauloDireito de imagemCAMILLA VERAS MOTA/BBC BRASIL
Image captionDepartamento jurídico do Sintracon-SP. Com reforma trabalhista, homologação nos sindicatos deixa de ser obrigatória
"Ai, moça, em novembro ninguém sabe. Talvez a gente nem esteja mais aqui", diz a recepcionista do departamento de homologação do Sindicato da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP), quando questionada sobre sua expectativa em relação à nova legislação trabalhista, que entra em vigor no fim deste ano.
Em dois meses, caso o texto aprovado em 11 de julho no Senado não seja alterado por Medida Provisória, a contribuição sindical obrigatória deixa de existir - e, com ela, a principal fonte de financiamento para muitas das entidades que representam tanto empresas quanto trabalhadores.
Essas organizações empregam atualmente 153,5 mil pessoas com carteira assinada no país, mostram os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Os sindicatos de trabalhadores, destino dos R$ 2,6 bilhões arrecadados em 2016 com o desconto de um dia de trabalho de todos os funcionários com carteira assinada do país, respondem por 76,5% do total de vagas, 117,6 mil.
As entidades patronais, que receberam R$ 1,3 bilhão da contribuição recolhida diretamente das empresas, somam 35,9 mil funcionários.
Passada a reforma, dizem especialistas em mercado de trabalho e sindicalismo, o número de trabalhadores em sindicatos no Brasil tende a encolher, de um lado, porque muitas entidades terão de se reestruturar para sobreviver com um orçamento menor e, de outro, porque centenas de sindicatos deixarão de existir.
A extinção do imposto terá maior impacto sobre cerca de 7 mil dos quase 12 mil sindicatos de trabalhadores do país, diz o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto, já que cerca de 5 mil entidades representam funcionários públicos e da zona rural e têm grande parte das receitas garantidas por mensalidade paga pelos afiliados.
Daqueles 7 mil, ele afirma, 4 mil são sindicatos "de carimbo", que não negociam melhores salários ou melhores condições de trabalho para suas bases e existem exclusivamente por causa do imposto. "Esses tendem a desaparecer", ele diz.
Da forma como foi instituído, em 1937, o imposto sindical tende a provocar a dependência do sindicalismo em relação ao Estado e o distanciamento em relação aos trabalhadores que representam, afirma Andréia Galvão, professora do departamento de ciência política da Unicamp.
Assim, a mudança trazida pela reforma poderia estimular um sindicalismo mais independente e mais representativo, ela diz. Sem a garantia de recursos financeiros, os sindicatos precisariam se preocupar mais com o trabalho de base, já que passariam a depender de suas próprias forças, isto é, de seus filiados e suas contribuições voluntárias.
A reestruturação do movimento sindical, acrescenta Vargas Netto, vai levar a um reagrupamento das entidades, com demissões e corte de áreas que não sejam fundamentais.
Carteira de trabalhoDireito de imagemRAFAEL NEDDERMEYER/FOTOS PÚBLICAS
Image captionSindicatos contabilizam 153,5 mil funcionários com carteira assinada no país
"É claro que os sindicatos mais ativos, que têm uma tradição de luta, não terão vida fácil", diz a cientista política. "O sindicalismo é um movimento vital para organizar e representar os interesses dos trabalhadores. O Brasil possui sindicatos importantes em categorias como bancários, petroleiros, metalúrgicos, químicos, professores e diversas carreiras na função pública."
Além da extinção do imposto, essas entidades enfrentarão desafios colocados por outros artigos da reforma que, afirma Galvão, enfraquecem o sindicalismo. Entre eles, estão a possibilidade de negociação individual de aspectos importantes da relação de trabalho sem assistência sindical, a representação dos trabalhadores no local de trabalho independentemente dos sindicatos, com a formação de comissões de empregados com atribuições que hoje são das entidades - e que, em sua avaliação, podem sofrer interferência das empresas -, e a não obrigatoriedade de que as rescisões contratuais sejam homologadas nos sindicatos.

O fim da homologação

Os departamentos de homologação serão afetados não apenas pelo fim da contribuição sindical. O artigo 477 da nova lei acaba com a autenticação hoje obrigatória nos sindicatos dos desligamentos de funcionários com mais de um ano trabalho. No Sintracon-SP, essa área emprega dez pessoas: duas recepcionistas - entre elas a que conversou com a reportagem -, uma coordenadora e sete atendentes, que registram 3,5 mil documentos por mês.
Uma delas é Mônica Vieira Dourado Lourenço, que, depois de quase dois anos e meio na entidade, voltou a cadastrar o currículo em sites de recrutamento. "A gente aproveita quando os funcionários de RH das empresas vêm fazer homologação para perguntar se lá tem vaga, mas a construção também está passando por um momento ruim", acrescenta.
Ela decidiu procurar outro emprego ainda antes da iminência da aprovação da reforma trabalhista, porque deseja trabalhar com algo mais próximo de sua área de formação, em recursos humanos. Mas admite que é crescente o número de colegas que, com medo de perder o emprego no fim deste ano, também buscam recolocação.
"No mínimo o número de funcionários vai cair", diz a coordenadora do departamento, a advogada Natália Cardoso de Oliveira Santos. O sindicato foi seu primeiro emprego, que assumiu em 2013, logo após ser aprovada no exame da ordem. A reunião com a direção de entidade sobre o que deve acontecer após novembro ainda não aconteceu. No pior cenário, a área deixaria de existir.
Ala de tratamento odontológico do Sindicato da Construção Civil de São PauloDireito de imagemCAMILLA VERAS MOTA/BBC BRASIL
Image captionAla de tratamento odontológico do Sindicato da Construção de São Paulo, desativada neste mês
Para ela, o fim da homologação obrigatória deve causar prejuízo também aos trabalhadores. Entre os funcionários da construção civil, ressalta, que em geral têm menos anos de estudo, é comum o desconhecimento sobre os direitos que o empregado tem quando é desligado da empresa. "Nós esbarramos com irregularidades todos os dias".
Não raro, conta Mônica, que trabalha diretamente com as homologações, são descontados como falta os dias que os funcionários permanecem em casa a pedido da própria empresa, nos intervalos entre uma obra e outra. Também há casos em que a companhia, sob a alegação de que fará o pagamento em dinheiro da rescisão, faz depósito bancário de um envelope vazio na conta do empregado. "Tem gente que não sabe que tem direito a férias, aos 40% de multa sobre o saldo do FGTS, e só descobre quando chega aqui."
Quando a nova legislação trabalhista entrar em vigor, em novembro, a homologação passará a ser feita diretamente pelos empregadores. "Não há previsão quanto à necessidade de presença de um advogado para dar assistência ao empregado", afirma Carlos Eduardo Vianna Cardoso, sócio do setor trabalhista do Siqueira Castro Advogados.
Como o documento servirá como um comprovante de quitação pelos valores nele indicados, o especialista recomenda que, caso o empregado entenda que há algo errado, não assine e procure um advogado para eventualmente cobrar a diferença.

Crise

Departamento de saúde do Sindicato da Construção Civil de São PauloDireito de imagemCAMILLA VERAS MOTA/BBC BRASIL
Image captionCom a desativação do departamento de saúde, entidade demitiu 20 médicos e 12 dentistas
Há mais de dois anos, as entidades sindicais enfrentam restrições orçamentárias. Com a queda no número de trabalhadores formais por causa da recessão - são 3 milhões de vagas com carteira assinada a menos só no biênio 2015-2016 -, os recursos vindos da contribuição despencaram para uma série de entidades.
No Sintracon-SP, a receita total recuou de R$ 60 milhões em 2014 para R$ 40 milhões neste ano, conta o presidente da entidade, Antônio de Sousa Ramalho, deputado estadual pelo PSDB. Cerca de 10% do orçamento vem do imposto sindical. O restante, da mensalidade paga pelos associados, de R$ 35. "A construção perdeu quase um milhão de empregos durante a crise", ele afirma.
Para se adaptar à nova realidade financeira, o sindicato cortou um terço dos funcionários, de pouco mais de 300 em 2014 para 200. Entre os demitidos estavam os 20 médicos e 12 dentistas do centro de saúde, que ocupa parte dos quatro andares do prédio e está sendo completamente desativado neste mês. Os filiados ao sindicato passarão a ser atendidos pela rede da Secretaria Social da Construção (Seconci).
Para Ramalho, que está à frente da entidade desde 1999, há 18 anos, "o imposto sindical morreu e tinha que morrer mesmo". Ele acredita que os sindicatos deveriam ser mantidos por uma contribuição discutida em assembleia com os trabalhadores, que julgariam o resultado da campanha salarial e, a partir daí, definiriam o percentual a ser descontado dos salários.

Reação dos sindicatos

Essa é uma das modificações que as centrais sindicais têm tentado negociar com o governo, diz o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, e que poderiam ser implementadas através de Medida Provisória. "É preciso garantir um financiamento associado ao bem público que o sindicato cria", ressalta, referindo-se aos ganhos resultantes das campanhas salariais, que atingem todos os trabalhadores de cada categoria - mesmo aqueles que, depois da lei, decidirem não contribuir.
Além disso, as entidades consideram fundamental que se retire o poder de negociação que foi concedido às comissões de funcionários que passarão a ser eleitas dentro das empresas. A avaliação é que uma série de atribuições que hoje são prerrogativa dos sindicatos passam a ser desempenhadas por trabalhadores que, muitas vezes, estão suscetíveis a pressão dos empregadores. "Isso quando falamos apenas dos sindicatos, mas há outros pontos que precisam de limite imediato, como o trabalho intermitente", acrescenta Ganz Lúcio.

Entidades patronais

As entidades patronais também serão afetadas pelo fim do imposto sindical. Na Confederação Nacional do Comércio (CNC), a contribuição representa 12% da receita, que deve chegar a R$ 450 milhões neste ano, conforme a proposta orçamentária divulgada no fim do ano passado. Através de sua assessoria de imprensa, a entidade afirma que o recurso "é importante para o fortalecimento da atuação efetiva das entidades sindicais na representação das categorias econômicas a elas filiadas", mas destaca que tem trabalhado em busca da "autossustentabilidade, ampliando a arrecadação com a oferta de produtos e serviços aos empresários e a administração eficiente dos recursos".
A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) também buscará aumentar a fatia das receitas com serviços. Atualmente, a contribuição responde por 16% do orçamento. A entidade, que defende o fim da obrigatoriedade do imposto sindical, afirma que "a modernização da legislação trabalhista passa também pelas entidades sindicais, tanto as de trabalhadores quanto as patronais".
Fonte http://www.bbc.com/portuguese/brasil-40676314

domingo, 30 de julho de 2017

Como seria uma guerra com a Coreia do Norte?

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Tanques do exército - Coreia do NorteDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO exército da Coreia do Norte é o quarto maior do mundo
Na península da Coreia, já houve uma guerra. Foi em 1950, quando o então líder norte-coreano, Kim Il-sung (o avô do atual mandatário Kim Jong-un) decidiu invadir seu vizinho do Sul.
Os Estados Unidos intervieram para conter a invasão e o conflito, que durou três anos e causou muitas mortes e muito prejuízo material.
Hoje, mais de seis décadas depois, as tensões na península estão mais fortes do que nunca. King Jong-um continua desafiando a comunidade internacional com seus testes nucleares.
Na última sexta-feira, o país fez mais um deles com um míssil balístico intercontinental, que "viajou" por cerca de 45 minutos e caiu em águas da zona econômica exclusiva do Japão, a menos de 200 milhas náuticas da costa.
No início deste mês, o governo norte-coreano declarou que havia lançado com sucesso um míssil balístico intercontinental capaz de chegar ao Alasca.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, advertiu que existe a possibilidade de um "grande, enorme conflito" com a Coreia do Norte.
Como seria hoje em dia um confronto na península quando as maiores potências nucleares do planeta têm interesse na região.

A primeira invasão

A guerra coreana começou em 1950, quando as então superpotências, Estados Unidos e União Soivética, passaram a "dividir" o mundo após a Segunda Guerra Mundial.
Os soviéticos haviam ficado com o controle da parte norte da península, e os americanos com a parte sul.
No dia 25 de junho, a Coreia do Norte, apoiada pela União Soviética e pela China, invadiu a Coreia do Sul. E imediatamente os Estados Unidos enviaram suas forças militares para ajudar o país a combater a "invasão dos comunistas".
Com a ajuda de Washington, Seul, capital sul-coeana, foi recuperada em dois meses.
A China, por sua vez, preocupada com a decisão dos Estados Unidos de mobilizar suas forças até o Norte para tentar a reunificação da península, interveio no conflito.
Míssil sendo lançado de navioDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEm 27 de julho, completou-se 64 anos desde a assinatura do armistício entre as Coreias após a guerra de 1953
Foi aí que todas as partes envolvidas começaram a falar sobre usar armas atômicas e bombas nucleares. E o que começou como uma batalha para reunificar a Coreia ameaçou se tornar uma terceira guerra mundial nuclear.
Três anos depois, o conflito chegou a um impasse e permaneceu sem acordo - enquanto o que restava na região era apenas uma enorme destruição.
"Houve cerca de 3 milhões de coreanos mortos, 100 mil órfãos, uns 10 milhões de desabrigados e uma completa devastação", disse à BBC Sue Terry, ex-analista de assuntos da Coreia na Agência Central de Inteligência americana (a CIA), e professora da Universidade Nacional de Seul.
"Pyongyang ficou destruído. Não havia um prédio em pé", descreveu.
No dia 27 de julho de 1953, as duas partes decidiram firmar um armistício que foi criado como uma medida temporária para asssegurar o fim das hostilidades.
Hoje, 64 anos depois, os dois países seguem tecnicamente em guerr.a
Com a crescente hostilidade na região, e as tensões entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente americano, Donald Trump, alguns especialistas acreditam que bastaria um erro de cálculo para dar início a esta guerra.
"A zona desmilitarizada (que divide as duas Coreias) é uma das áreas mais fortemente armadas do mundo", disse á BBC David Maxwell, coronel aposentado do exército dos Estados Unidos e analista do Centro de Estudos para Segurança da Universidade de Georgetown.
"O Norte tem um exército cm 1,1 milhões de membros em serviço ativo e 70% das forças estão concentradas entre Pyongyang e a zona desmilitarizada", explica Maxwell, que ajudou a planejar uma resposta americana para uma potencial segunda invasão da Coreia do Norte ao Sul.
"O exército norte-coerano é enorme, disse o especialista. Eles têm uns 6 milhões de membros em suas forças de reserva. Acredito que seja o quarto maior exército do mundo."

Erro de cálculo

Maxwell considera que os recentes testes nucleares da Coreia do Norte e seus lançamentos de mísseis aumentam cada vez mais a probabilidade de um ataque preventivo dos Estados Unidos.
"Se Kim Jong-um pensar que estão preparando um ataque contra ele, pode ordenar seus comandantes para que iniciem uma guerra."
"Os comandantes norte-coreanos teriam ordens para abrir fogo de toda sua artilharia e provocariam a maior destruição possível na Coreia do Sul."
oficiais da Coreia do NorteDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDesde o fim da guerra, as tensões na península nunca foram tão grandes
"Nas primeiras horas, haveria centenas de milhares de disparos de projéteis e lançamentos de mísseis contra o Sul, principalmente dirigidos a Seul", disse o especialista.
E só seriam necessários alguns minutos para que esses projéteis chegassem do norte até Seul.
Com 25 milhões de pessoas na capital e na área metropolitana, não seria uma tarefa fácil mobilizar os habitantes até as áreas protegidas.
"As projeções de vítimas no início do combate indicam que poderia haver 64 mil mortos somente no primeiro dia de uma guerra assim", disse David Maxwell.
"O nível de sofrimento que isso provocaria é algo que não podemos imaginar", completa.
O objetivo do governo norte-coreano, assim como fizeram nos anos 1950, seria mobilizar as forças até o sul e obrigar o governo em Seul a firmar a paz e permitir a unificação da península sob o controle da Coreia do Norte.
Esse foi o objetivo do confronto em 1950, quando eles não esperavam que os Estados Unidos fossem acudir a Coreia do Sul.
Desta vez, no entanto, não há dúvidas de que Washington está totalmente disposto a intervir de imediato no conflito para apoiar Seul.

Reforços

"Os Estados Unidos não permitiriam de maneira alguma que os norte-coreanos assumissem o controle de Seul", disse à BBC o professor Bruce Bechtol, do Departamento de Estudos para a Segurança e a Justiça Criminal da Universidade de Angelo State, no Texas, Estados Unidos.
"Na primeira semana de conflito, nossos pilotos não poderiam dormir muito", afirma Bechtol, que foi um dos principais analistas de assuntos do noroeste da Ásia do Pentágono.
"Nossa tarefa inicial seria usar toda a nossa potência aérea para impedir que os norte-coreanos avancem, enquanto esperamos que chegue o armamento mais pesado na região."
Os avisões de combate, explica, se encarregariam de bombaerdear as forças norte-coreanas enquanto se redobram os reforços da máquina militar americana na região.
Segundo Bechtol, nos primeiros minutos do ataque norte-coreano, seria enviado à região um vasto arsenal americano que está espalhado pelo mundo.
Do Japão, do Texas e de várias outras partes do globo, seriam enviados barcos de guerra carregados com tanques, caminhões, veículos blindados, artilharia pesada e todo o material de guerra que seria necessário para uma missão como essa.
Zona desmilitarizadaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA zona desmilitarizada que divide as Coreias é uma das áreas mais fortemente armadas do mundo
Reunir todo esse equipamento militar na península coreana poderia demorar três semanas, e esse seria o momento decisivo do conflito.
"Os norte-coreanos só têm entre duas ou três semanas de suprimentos, como munições, alimento, combustível, etc, para fazer a guerra", assegura Bechtol.
Assim, explica o especialista, o plano de guerra norte-coreano deve ser cumprir todos os seus objetivos nesse curto período de tempo, porque depois disso, eles ficariam sem sustento - inclusive faltaria alimento para mais de um milhão de soldados norte-coreanos."
Uma vez que o arsenal americano chegasse à região, sua missão seria fazer as forças norte-coreanas recuarem.
Essa também não seira uma tarefa fácil, disse Bruce Bechtol. O exército da Coreia do Norte hoje é 11 vezes maior do que era na guerra de 1950.
Mas ainda assim, não existem dúvidas de quem sairia vitorioso.
No entanto, uma vez que as forças norte-coreanas começarem a sucumbir diante dos ataques dos americanos, as coisas podem ficar ainda piores. A guerra poderia se tornar um conflito nuclear.
"Quando Kim Jong-un e seus cerca de 5 mil aliados da elite norte-coreana que o apoiam se derem conta de que têm pouco tempo para sair do país, não teriam nenhuma razão para não usar mísseis nucleares e eliminar centenas de milhares de americanos."
"E esse é o cenário mais provável no qual a Coreia do Norte usaria esse tipo de míssil que testou há algumas semanas", garante o especialista da Universidade de Angelo State.
Ainda assim, mesmo que armas nucleares não fossem usadas nessa possível guerra, o conflito na região seria sem precedentes.
E veríamos uma enorme perda de vidas.
"Vou te falar os números prováveis: entre 300 mil e 400 mil mortos na primeira semana, tanto civis, quanto militares", disse Bruce Bechtol.
"E quem sabe uns 2 milhões de mortos depois de três semanas."
Mas este não seria o fim. Porque em um cenário semelhante, não seria permitido ao regime norte-coreano continuar e, diferente da primeira guerra realizada na década de 1950, neste confronto eles realmente tentariam a reunificação da península.
guerra entre as CoreiasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA primeira guerra da Coreia deixou 3 milhões de mortos

A transição

O período mais complexo e caótico neste conflito seria a etapa de transição, segundo Balbina Hwang, professora de política e economia asiática da Universidade de Georgetown.
"E não podemos saber se a Coreia do Sul, por si própria, poderia ser capaz de administrar isso", diz ela, que trabalhou no Departamento de Estado Americano e está analisando as consequências imediatas de uma guerra.
"Estamos falando de algo etre 60 milhões, 70 milhões de pessoas que tentariam se mudar. Vamos lembrar que a metade dos 50 milhões de sul-coreanos que vivem atualmente em Seul e na área metropolitana."
"O instinto humano é fugir dos bombardeios e mísseis. Some-se a isso outros 20 milhões de norte-coreanos que supostamente seriam 'liberados' e que também estariam se deslocando para o Sul."
"Entre eles haverá gente desesperada, faminta, e aqueles que foram treinados para combater estarão dispostos a qualquer coisa para sobreviver."
Claro que, como visto depois da guerra de 1950, ambas as Coreias foram reconstruídas. E Coreia do Norte, mesmo sob o regime mais isolado do mundo, conseguiu sobreviver.
Balbina Hwang acredita que, a longo prazo, seria possível que os países conseguissem a reunificação. O que é mais preocupante, diz ela, são os efeitos de curto prazo.
Kim Jong-unDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionKim Jong-un tem feito diversas ameaças e deu ordem para testes de mísseis intercontinentais recentemente
"A criança média sul-coreana de 5 anos de idade é 9 cm mais alta que a criança média norte-coreana da mesma idade", explica a especialista.
"Não há dúvidas de que haveria enormes diferenças: os norte-coreanos são mais baixos, mais magros, mas o mais importante é que a falta de nutrição afeta o desenvolvimento tanto físico quanto mental e emocional."
"Assim, não estamos só falando de altura, estamos falando de 20 milhões de pessoas que, durante 70 anos, não conseguiram se desenvolver da mesma maneira que seus vizinhos do sul."
E a especialista conclui: "Isso teria enormes consequências no momento de fazer a reunificação dos povos, que há muito tempo foram uma só cultura e uma só sociedade."
Esse cenário, no entanto, não inclui a possibiliade de a China ou a Rússia intervirem nesta guerra do lado norte-coreano.
Sendo asism, a resposta para a pergunta 'como seria uma nova guerra na península coreana?' só pode ser uma: assustadora.

Fonte http://www.bbc.com/portuguese/internacional-40763798