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terça-feira, 15 de julho de 2014

Banco dos Brics pode ser veículo para ampliar influência da China no mundo

Atualizado em  15 de julho, 2014 - 05:25 (Brasília) 08:25 GMT
yuan, moeda chinesa | Reuters
Detentora da maior reserva cambial do mundo, China deve ser principal financiadora do fundo de socorro dos Brics
Analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que a criação de um banco de desenvolvimento pelos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e de um fundo de socorro para países com problemas de liquidez financeira podem ser um veículo para expansão da influência chinesa no mundo.
Essas duas iniciativas serão anunciadas durante a reunião de cúpula dos Brics que começa nesta terça-feira em Fortaleza. O banco deve contar com um capital inicial de U$ 50 bilhões, US$ 10 bilhões vindos de cada país membro. Por outro lado, a China, detentora da maior reserva cambial do mundo, seria o principal financiador do fundo de socorro, contribuindo com U$ 41 bilhões do total de U$ 100 bilhões previstos.
"A influência vai ser muito forte. A China vai contribuir com mais dinheiro que os outros países. Ainda há a questão do yuan, que pode ser adotado como moeda oficial (das instituições)", afirma Michael Wong, professor de finanças da City University of Hong Kong.
Para Lok-sang Hon, membro do conselho executivo da Associação Econômica de Hong Kong e pesquisador da Lingnan University, a China "quer contribuir significativamente para esse projeto, cuja importância não é apenas econômica. Financeiramente está em uma posição melhor".

Anti-dólar

Na última semana, o vice-ministro chinês das Relações Exteriores, Li Baodong, afirmou que o "momento é propício" para a criação do novo banco, que será um "marco no atual sistema monetário internacional, dominado pelos Estados Unidos e pela Europa".
Trata-se de uma referência ao fato de que o banco poderia ser uma alternativa ao Banco Mundial, uma organização tradicionalmente dirigida por um representante americano, enquanto que o Fundo Monetário Internacional (FMI) tradicionalmente é controlado por um representante europeu.
O presidente do Banco Mundial, o sul-coreano-americano Jim Yong Kim, também se mostrou favorável a iniciativa de criação do banco dos Brics, que não considera como uma "ameaça", mas como um aliado na "batalha contra a pobreza" e no "estímulo ao crescimento".
"O tamanho do investimento não é tão grande comparado com investimentos feitos na China. Mas esse é apenas o capital inicial. O banco vai atrair outros depósitos e crescer dez vezes ou vinte vezes, se tornando forte e constituindo uma saída para a China e para outras economias", prevê Wong. No futuro, outras nações como México, Turquia, Nigéria e Indonésia também poderão se tornar parceiras do projeto.
A China é o maior credor dos Estados Unidos e o governo chinês já demonstrou interesse em diversificar as aplicações de suas reservas, diluindo a concentração atual em títulos americanos, considerada por Pequim excessiva, o que torna o país mais vulnerável a oscilações na economia americana.
"Na perspectiva chinesa, esse será um importante passo para transformar o yuan em moeda institucional. A China tem forte interesse em diversificar riscos, investimentos estrangeiros e a moeda em que são realizados. Ela é o maior credor dos Estados Unidos, mas quando há tensão entre os dois países, isso afeta Pequim".
Para Wong, uma das maneiras de diversificar os investimentos seria contribuir com o FMI, o Banco de Desenvolvimento da Ásia (ADB) ou o Banco Mundial, mas essas organizações sofrem grande influência americana. Enquanto outro rival, o Japão, exerce grande pressão sobre o banco asiático.

Acordo rublo-yuan

O novo banco deverá apoiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento nos países membros e em outras economias emergentes. "Isso quer dizer que eles não precisam mais do apoio dos Estados Unidos e da Europa".
Diante do bloqueio das reformas do FMI, a nova organização aparece como uma resposta à demanda dos Brics, que somam um quinto do PIB global e 40% da população mundial, de representatividade dentro do cenário financeiro.
A nova instituição deve estar operacional até 2016. As transações vão ocorrer através da permuta de divisas entre os bancos centrais dos Brics. O mecanismo pode reagir rapidamente a saída de capitais e pretende facilitar o comércio, ignorando o dólar.
De acordo com Lok-sang Hon, os interesses comuns entre Rússia e China e o peso dessas duas economias vão impulsionar o projeto. Um acordo paralelo rublo-yuan vem sendo discutido nas últimas semanas pelo Banco Popular da China e o Kremlin.


Banco dos Brics busca alternativa a hegemonia de países ricos

Atualizado em  15 de julho, 2014 - 16:34 (Brasília) 19:34 GMT
Líderes dos Brics (AFP)
Criação de banco dos Brics pode ser marco importante para países emergentes


Os chefes de Estado dos países membros dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) assinaram nesta terça-feira um tratado para a criação de um banco de desenvolvimento que financiará obras de infraestrutura em países pobres e emergentes.
Batizada de Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), a instituição terá sede em Xangai, na China. A presidência do banco será rotativa entre os membros, e a Índia será o primeiro país a chefiá-lo.
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Acredita-se que o novo banco possa representar uma equivalente "emergente" ao Banco Mundial, um órgão internacional tradicionamente dirigido por um representante dos Estados Unidos, com aporte americano significativo.
O acordo que formalizou a criação do banco foi assinado durante o 6º Fórum dos Brics, em Fortaleza.
Participaram do encontro, além da presidente Dilma Rousseff, o novo premiê indiano, Narendra Modi, e os presidentes Vladimir Putin, da Rússia, Xi Jinping, da China, e Jacob Zuma, da África do Sul.
Alternativa
Pelo arranjo, o Brasil poderá indicar o presidente do conselho de administração do banco. O país pleiteava a presidência do banco, mas acabou cedendo para a Índia.
A Rússia poderá nomear o presidente do conselho de governadores, e a África do Sul sediará um Centro Regional Africano da instituição.
O capital inicial do banco será de US$ 50 bilhões, dividido igualmente entre os membros do Brics.
Em discurso na cúpula, a presidente Dilma Rousseff disse que o banco "representa uma alternativa para as necessidades de financiamento de infraestrutura nos países em desenvolvimento, compreendendo e compensando a insuficiência de crédito das principais instituições financeiras internacionais".
Na reunião, além da abertura do banco, os líderes acertaram a criação de um fundo para socorrer membros dos Brics que passem por riscos de calote.
O fundo, batizado de Arranjo de Contingente de Reservas (ACR), será composto por US$ 100 bilhões: US$ 41 bilhões virão da China; Brasil, Rússia e Índia, entrarão com U$ 18 bilhões cada; e África do Sul, com US$ 5 bilhões.
O NBD e o ACR foram construídos à semelhança do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), como admitiu recentemente o subsecretário-geral político do Ministério das Relações Exteriores, embaixador José Alfredo Graça Lima.
Mais voz
Os membros do Brics reivindicam mais voz nas duas grandes instituições financeiras globais.
Na declaração da cúpula em Fortaleza, eles se disseram “desapontados e seriamente preocupados com a presente não implementação das reformas do Fundo Monetário Internacional (FMI) de 2010, o que impacta negativamente na legitimidade, na credibilidade e na eficácia do Fundo”.
Para serem concretizadas, as reformas acordadas ainda precisam ser aprovadas pelo Congresso dos Estados Unidos.
Na declaração, os membros do Brics também cobraram o Banco Mundial a democratizar sua estrutura de governança, fortalecer sua capacidade financeira e ampliar o financiamento para o desenvolvimento e difusão do conhecimento.
Os Brics expressaram a expectativa de que o Banco Mundial inicie "assim que possível" trabalhos de revisão acionária que também ampliem o poder de países emergentes na instituição.
'Barganha política'
Segundo Paulo Visentini, professor de Relações Internacionais da UFRGS, e Alcides Vaz, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), a criação do banco faz parte de uma barganha política.
Uma das poucas demandas comuns dos Brics diz respeito à necessidade de reformas em instituições de governança política e econômica globais. Em especial, os cinco reivindicam mais voz no Banco Mundial e também no FMI (Fundo Monetário Internacional) – este, um órgão tradicionalmente comandado por um representante europeu.
"A criação desse banco pode ser um marco histórico importante: se ele de fato sair do papel será a primeira vez que países emergentes criam uma instituição desse porte, com mandato para atuar em diversos continentes", acredita Visentini.
"Com a criação do banco, os Brics estão dizendo que se os Estados Unidos e a Europa não modificarem o perfil dessas instituições, eles vão criar suas próprias instituições", diz ele.
"Há uma tentativa de relativizar mecanismos tradicionais (de atuação econômica e política) e explorar alternativas a esses mecanismos nos quais emergentes não têm muito espaço", acrescenta Vaz.
Mas o novo banco já nasce com uma série de questionamentos – entre eles o temor de que ele se transforme em um veículo para ampliação da influência chinesa e não venha a fomentar o desenvolvimento a que se propõe.
Dúvidas
Para Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas, e Marcos Troyjo, especialista em Brics da Universidade Columbia, nos EUA, existe de fato a possibilidade de que a China tenha uma influência excessiva sobre o banco.
O PIB da China é maior que o de todas as outras economias do Brics juntas e também é o que mais cresce – expandindo-se a uma taxa de mais de 7% ao ano,
"Esse novo banco pode permitir a China investir em alguns países em que hoje há receio da ‘invasão chinesa’", diz Stuenkel, explicando que, com envolvimento do banco, os investimentos chineses teriam uma "cara" mais multilateral.
Stuenkel diz que em uma tentativa de evitar um peso excessivo da China no banco dos Brics, o Brasil teria insistido desde o início do projeto que o seu capital inicial fosse aportado igualmente pelos cinco países do clube emergente – embora os chineses tivessem condições de colocar muito mais dinheiro.
ONGs e movimentos da sociedade civil que fazem um encontro paralelo à cúpula de chefes de Estado em Fortaleza ressaltam a necessidade de garantir que os projetos financiados pelos recursos do banco realmente promovam "desenvolvimento".
"O problema é que, ao que tudo indica, esse banco vai continuar a financiar megaprojetos de infraestrutura que só beneficiam os líderes políticos e as empresas neles envolvidas", diz Carlos Tautz, do Instituto Mais Democracia.
"Ninguém está falando em financiar hospitais, escolas ou saneamento básico para beneficiar diretamente as populações desses países."
Histórico
Banco dos Brics terá capital de US$50 bilhões
O projeto do banco dos Brics vem sendo discutido desde 2012.
No ano passado, em Durban, na África do Sul, os cinco países deram sinal verde tanto para essa iniciativa quanto para o ACR.
"Desde Durban, já avançamos muito", disse uma fonte ligada ao Itamaraty. "Há um ano tínhamos pouco mais que uma página em branco."
As duas instituições foram construídas à semelhança do Banco Mundial e do FMI, como admitiu recentemente o subsecretário-geral político do Ministério das Relações Exteriores, embaixador José Alfredo Graça Lima.
"O objetivo não é substituir essas instituições, mas suplementar, apoiando projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países do Brics ou em países emergentes, importantes para o Brics", explicou.
O Brasil teria sido o único país que não apresentou uma proposta de sede.
Para Troyjo, da Universidade Columbia, foi uma decisão míope.
"Não pleitear uma sede brasileira só pode ser resultado de uma falta de visão de longo prazo, uma hipertrofia da agenda imediata do país, porque essa pode ser uma instituição multilateral de peso em alguns anos", opina.
Razões
Mas, afinal, para que países como Brasil, Índia e China – que já tem seus bancos de desenvolvimento - precisam de um novo banco para financiar projetos de infraestrutura?
Além da razão política de criar uma alternativa à hegemonia americana e europeia no sistema financeiro internacional, do ponto de vista financeiro, o banco dos Brics poderia receber uma classificação de risco melhor que os países do grupo para captar dinheiro no mercado a custo menor.
Para Troyjo, a escolha dos Brics por uma estratégia de construção institucional também ajudaria a tirar a atenção da questão do crescimento econômico – que motivou a criação do acrônimo Brics - em um momento em que os cinco países estão desacelerando (embora isso para a China signifique uma expansão de mais de 7% ).
Stuenkel, da FGV, concorda que a institucionalização é uma saída para dar relevância ao grupo e garantir a cooperação entre países de interesses econômicos e políticos tão díspares.
"O banco ajuda a assegurar que o grupo continuará existindo. Os cinco países estarão assumindo um compromisso firme, de longo prazo, que exigirá o encontro frequente de suas autoridades."
Vaz enfatiza que os cinco países do Brics nunca tiveram como ambição falar em uma única voz no que diz respeito a temas políticos da agenda internacional.
"Não há programa de integração política: são países politicamente diferentes, com interesses diferentes e culturas diferentes", reforça José Botafogo Gonçalves, ex-ministro de Indústria e Comércio Exterior e ex-embaixador do Brasil na Argentina.
Ainda assim, Gonçalves acredita que essas diferenças não impedem que os integrantes do bloco construam uma agenda conjunta em torno de temas como desenvolvimento sustentável, investimentos em infraestrutura, transporte e energia.
"O banco dos Brics seria um resultado concreto da cooperação. O G7 (grupo das nações mais industrializadas e desenvolvidas economicamente), por exemplo, nunca conseguiram nada nessa linha", opina Troyo.
ONGs fazem Brics 'paralelo' e reclamam de falta de diálogo
Atualizado em  15 de julho, 2014 - 16:31 (Brasília) 19:31 GMT

Líderes dos países dos Brics | Foto: BBC
Líderes do grupo de emergentes e projeto de banco público são criticados por ativistas
Além das autoridades e empresários do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, Fortaleza também está recebendo em função do 6º Fórum dos Brics um outro grupo de visitantes vindos de diversos países emergentes.
Mas esse terceiro grupo não foi convidado para a reunião principal, no gigantesco Centro de Eventos do Ceará, nem sairá na foto oficial.
Pelo segundo ano consecutivo, ONGs, acadêmicos e movimentos sociais resolveram fazer, em paralelo ao fórum oficial dos Brics, um encontro para, primeiro, reivindicar mecanismos que permitam ao clube dos emergentes "ouvir a sociedade civil"; segundo, debater como monitorar e influenciar o projeto do banco dos Brics, que foi assinado em Fortaleza.
"Os Brics até agora se recusaram a abrir um espaço formal para a participação de entidades da sociedade civil, e mesmo o fórum de acadêmicos que eles estão organizando inclui apenas figuras pouco críticas ao grupo e institutos de estudo alinhados com os seus governos", diz Carlos Tautz, do Instituto Mais Democracia, um dos organizadores do seminário paralelo.
"Até por isso, temos poucas esperanças sobre o banco. Ao que tudo indica, essa instituição financeira deve continuar a financiar megaprojetos de infraestrutura que só beneficiam os líderes políticos e as empresas neles envolvidas. Ninguém está falando em financiar hospitais, escolas ou saneamento básico."

Banco público

Dawid Bartelt, do braço brasileiro da Heinrich Böll Foundation, que também ajudou a organizar o encontro, diz em princípio achar positiva a ideia de um banco público multilateral para financiar projetos de desenvolvimento, mas faz ressalvas.
"Queremos que esse banco seja transparente e aberto e que tenha normas obrigatórias de respeito aos direitos humanos e meio ambiente", diz.
Na reunião oficial, o clube dos emergentes é pintado como um arauto da democratização do sistema político e econômico global, o defensor de um sistema internacional mais "justo" e "inclusivo".
O tema do encontro oficial em Fortaleza, por exemplo, é "desenvolvimento sustentável e inclusão social". Na mesma linha, o novo banco dos Brics é celebrado como uma oportunidade para se financiar "projetos de desenvolvimento" em países pobres e emergentes.

Ceticismo

"
Não adianta eles acabarem com as condicionantes do FMI e do Banco Mundial para os empréstimos, mas não colocarem nada no lugar. É preciso que haja regras sobre o impacto social e ambiental das obras financiadas."
Camila Asano, da ONG Conectas
Os ativistas, porém, são céticos sobre os resultados da cooperação e sobre o banco, por achar que ele pode acabar financiando projetos lucrativos do ponto de vista econômico, mas com um impacto social negativo, como explica Camila Asano, da ONG Conectas.
"Não adianta eles acabarem com as condicionantes do FMI e do Banco Mundial para os empréstimos, mas não colocarem nada no lugar. É preciso que haja regras sobre o impacto social e ambiental das obras financiadas", diz Asano.
"Na África vemos muitos desses grandes projetos, que ajudam elites locais mas acabam deslocando ou prejudicando populações vulneráveis", diz Patrick Bond da Universidade KwaZulu-Natal, na Africa do Sul.
Uma das dificuldades apontadas pelos ativistas para dialogar com os Brics seria a falta de "cultura democrática" em países como a Rússia e a China.
"Temos preocupação que as discussões do banco sejam permeadas pela visão restritiva do (presidente russo Vladimir) Putin, que privilegia o sufocamento da liberdade de expressão e da crítica independente", disse a BBC Maria Laura Canineu, diretora da organização Human Rights Watch, que aproveitou os holofotes dos Brics para realizar, em São Paulo, uma conferência sobre as violações dos direitos humanos na Rússia.
"Um ou outro representante do governo brasileiro até tem comparecido a nossas reuniões, aparentemente com boa vontade, embora mais para dar informes que para dialogar", diz Tautz.
"Mas o argumento deles é que (não conseguem incluir mecanismos para interlocução com movimentos sociais nos Brics porque) países como a China e a Rússia não estão acostumados a isso."

Fonte
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/07/140713_brics_china_ld.shtml
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/07/140711_banco_brics_ru.shtml
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/07/140714_ongs_brics_dialogo_rc.shtml

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