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sábado, 27 de dezembro de 2014

Mensagens de conforto



Paul Krugman27/12/2014 00h02

  • Carolyn Kaster/ AP
    Há o triunfo escondido à plena vista da reforma da saúde de Obama, que está completando um ano de implantação
    Há o triunfo escondido à plena vista da reforma da saúde de Obama, que está completando um ano de implantação
Talvez eu esteja apenas projetando, mas o Natal pareceu incomumente contido neste ano. Os shoppings pareciam menos lotados do que de costume, as pessoas mais taciturnas. Havia até mesmo menos Muzak no ar. E, de certa forma, não foi surpreendente: ao longo de todo ano, os americanos foram bombardeados com notícias sombrias retratando o mundo como fora de controle e um governo como não tendo ideia do que fazer.

Mas se você olhar para trás para o que de fato ocorreu no ano passado, você verá algo completamente diferente. Em meio a todo escárnio, várias políticas importantes do governo funcionaram –e os maiores sucessos envolveram as políticas mais desprezadas. Você nunca ouvirá isso na "Fox News", mas 2014 foi o ano em que o governo federal, em particular, mostrou ser capaz de fazer algumas coisas muito bem quando quer.

Vamos começar pelo ebola, um assunto que desapareceu das manchetes tão rapidamente que é difícil lembrar quão disseminado estava o pânico há apenas poucas semanas. A julgar pela cobertura da imprensa, especialmente, mas não apenas, na TV por assinatura, os Estados Unidos estavam à beira de se transformar em uma versão real de "The Walking Dead". E muitos políticos criticaram os esforços das autoridades de saúde pública de lidar com a doença usando métodos convencionais. Em vez disso, eles insistiam, nós precisávamos proibir as viagens ao Oeste da África ou vindas de lá, prender qualquer pessoa que chegasse do lugar errado e fechássemos a fronteira com o México. Não, eu não tenho ideia por que alguém achava que esse último item fazia algum sentido.

Mas como foi provado, os Centros para Controle e Prevenção de Doenças, apesar de alguns erros iniciais, sabiam o que estavam fazendo, o que não deveria causar surpresa: os CDC têm muita experiência no controle de doenças, epidemias em particular. E apesar do vírus ebola continuar matando muitas pessoas em partes da África, não houve uma epidemia aqui.

Agora considere o estado da economia. Não há dúvida de que a recuperação da crise de 2008 foi dolorosamente lenta e que deveria ter sido muito mais rápida. Em particular, a economia foi contida pelos cortes sem precedentes em gastos e empregos públicos.

Mas a história que você ouve o tempo todo retrata a política pública como um desastre absoluto, com a suposta hostilidade do presidente Barack Obama em relação às empresas impedindo o investimento e a criação de empregos. Logo, chega quase a ser um choque quando você olha para os números de fato e descobre que o crescimento e a criação de empregos foram maiores durante a recuperação promovida por Obama do que durante a recuperação promovida por Bush ao longo da última década (mesmo ignorando a crise no final). E que, apesar do mercado imobiliário ainda estar deprimido, o investimento das empresas tem sido bem forte.

Além disso, dados recentes sugerem que a economia está ganhando força –um crescimento de 5% no último trimestre! Ah, e não que isso importe muito, mas há algumas pessoas que gostam de alegar que o sucesso econômico deve ser julgado pelo desempenho do mercado de ações. E os preços das ações, que atingiram um ponto baixo em março de 2009, acompanhados das declarações de economistas republicanos proeminentes de que Obama estava matando a economia de mercado, triplicaram desde então. Talvez a gestão econômica não tenha sido tão ruim, afinal.

Finalmente, há o triunfo escondido à plena vista da reforma da saúde de Obama, que está completando um ano de implantação. É um tributo à eficácia da campanha de propaganda contra a reforma da saúde –que explorou cada falha, sem mencionar que o problema foi resolvido, e inventando problemas que nunca ocorreram– o fato de eu encontrar com frequência pessoas, algumas delas liberais, que me perguntam se o governo algum dia conseguirá fazer o programa funcionar. Aparentemente ninguém lhes disse que está funcionando e muito bem.

Na verdade, o primeiro ano superou as expectativas em todas as frentes. Lembra as alegações de que mais pessoas perderiam cobertura de saúde do que ganhariam? Bem, o número de americanos sem plano de saúde caiu em cerca de 10 milhões; os membros da elite que nunca estiveram sem cobertura não têm ideia o tamanho da diferença positiva que isso faz na vida das pessoas.

Lembra as alegações de que a reforma quebraria o orçamento? Na verdade, os preços acabaram muito abaixo do previsto, os gastos em saúde em geral estão estabilizando e as medidas específicas de controle de custos estão funcionando muito bem. E todas as indicações sugerem que o segundo ano será marcado por sucesso ainda maior.

E há mais. Por exemplo, no final de 2014, a política externa do governo Obama que tenta conter ameaças como a Rússia de Vladimir Putin ou o Estado Islâmico, em vez de correr para o confronto militar, está se saindo muito bem.

O tema comum aqui é que, ao longo do último ano, um governo americano sujeito à difamação constante, acusado de ser ineficaz ou pior, na verdade realizou muito. Em múltiplas frentes, o governo não foi o problema, mas sim a solução. Ninguém sabe, mas 2014 foi o ano do "Sim, nós podemos".




Tradutor: George El Khouri Andolfato
Fonte http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/paul-krugman/2014/12/27/mensagens-de-conforto.htm

PAUL KRUGMAN

Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, Krugman venceu o prêmio Nobel de economia em 2008.

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