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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Levy é confirmado para Fazenda, mas analistas questionam se terá autonomia

Paula Adamo Idoeta e Luis Guilherme Barrucho


Joaquim Levy em foto de 2004, quando era secretário do Tesouro (Ag Brasil)
Levy foi secretário do Tesouro no governo Lula (acima)
Após semanas de expectativa, especulações e polêmicas, o governo confirmou nesta quinta-feira sua nova equipe econômica.
Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro Nacional, será o novo ministro da Fazenda no lugar de Guido Mantega no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Nelson Barbosa, que foi secretário-executivo da Fazenda, será o novo ministro do Planejamento. E o atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, permanece no cargo.
Levy até agora administrava um dos braços do banco Bradesco, o Bradesco Asset Management, e teria sido escolhido depois de o presidente do mesmo banco, Luiz Carlos Trabuco, ter declinado o convite, segundo os jornais Folha de S. Paulo e Valor Econômico.
A escolha de seu nome provocou críticas nos setores do PT alinhados mais à esquerda.
Ex-aluno de Armínio Fraga - principal assessor econômico do PSDB durante a campanha presidencial - ele é visto como um adepto do liberalismo econômico, que prega uma menor intervenção do Estado na economia, linha criticada por Mantega.
Levy comandou o Tesouro na gestão do ex-ministro Antonio Palocci, durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, quando o governo buscava conquistar a confiança dos mercados financeiros.
Engenheiro naval de formação, com mestrado e doutorado em economia pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, ele já deu aulas na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e integrou os quadros do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Em entrevista coletiva nesta quinta, Levy afirmou que não vai detalhar ainda o "receituário" econômico a ser seguido em seu mandato, mas sinalizou que haverá cortes de gastos para reequilibrar as contas do governo e cumprir as metas de superávit fiscal (economia para pagamento dos juros da dívida), porém "sem grandes surpresas ou pacotes" e articulando-se com os demais órgãos do governo e unidades da federação.
Segundo o novo ministro, o setor público se comprometerá com uma meta de superávit fiscal de 1,2% em 2015 e pelo menos 2% do PIB em 2016 e 2017, para assegurar a continuidade da redução da dívida do setor público em relação ao PIB.
"As escolhas serão feitas para que os agentes (socioeconômicos) possam tomar decisões sabendo que o governo opera dentro de seus recursos", declarou.
Nelson Barbosa afirmou que o equilíbrio econômico (ou seja, eventuais cortes de gastos) não é contraditório, mas sim compatível com o avanço social dos últimos anos, porque esses avanços são justamente dependentes "da capacidade do governo em produzir resultados primários" - em outras palavras, na capacidade do governo de poupar.

Autonomia

Na avaliação de Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, a escolha de Levy é "um passo na direção certa", mas sua maior dificuldade será a "interlocução com a presidente".
"Levy conjuga a experiência no setor público à da iniciativa privada. É extremamente qualificado. Mas não é o salvador da pátria. Qual será o espaço político que ele terá para fazer as tão esperadas reformas? O governo estará disposto a lhe dar carta branca para tomar medidas duras, mas necessárias, para cobrir o rombo fiscal?", questiona.
Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, concorda.
"Levy é um economista excepcional. Mas há dúvidas sobre se terá autonomia em relação a presidente para fazer as reformas necessárias", afirma.
Já André Pereira Perfeito, economista-chefe do Gradual Investimentos, acredita que ainda é cedo para fazer essa avaliação, já que a equipe completa e as medidas a serem tomadas por Levy ainda não foram anunciadas.
"O anúncio do ministro é a cereja do bolo, mas ainda não sabemos do bolo inteiro", diz.
Questionado na entrevista coletiva sobre sua autonomia, Levy declarou que "não faz muito sentido" falar sobre o tema no momento. "A questão será respondida no dia a dia. Mas se a equipe foi escolhida (para a condução da economia) é porque há confiança nela", declarou.

Cenário difícil

O novo ministro assumirá o cargo em meio a um cenário difícil: a inflação ronda o teto de 6,5% estabelecido pelo Banco Central, a economia está quase estagnada e o governo já admitiu que não deve atingir as metas fiscais deste ano.
Na tarde de sexta-feira, quando colunistas de sites e jornais já aventavam a possibilidade de Levy ser escolhido, o mercado reagiu positivamente: a bolsa fechou com forte alta, de 5,02%, e o dólar caiu 0,9% para R$ 2,52.
Para Perfeito, o motivo é que a escolha de um nome para a Fazenda reduz as incertezas do mercado quando à condução da economia.
"Com isso, o mercado para de especular e a volatilidade diminui", diz.
"Além disso, Levy parece ser capaz de traduzir programa de governo de Dilma para os agentes financeiros. Mas tem um desafio muito grande: cuidar da área fiscal sem deixar a economia retrair."
O anúncio oficial da equipe econômica era esperado para a última sexta-feira, mas foi adiado pelo Planalto.
Analistas acreditam que o governo queria primeiro aprovar o projeto de alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso.
A alteração é necessária pois, frente à queda da arrecadação e o aumento das despesas, o governo não conseguirá atingir a meta de superávit primário neste ano, a economia para pagar os juros da dívida.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/11/141119_novo_ministro_fazenda_pai_lgb

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