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terça-feira, 3 de junho de 2014

Indicadores polarizam debate sobre desemprego no Brasil


Atualizado em  3 de junho, 2014 - 13:09 (Brasília) 16:09 GMT
Carteira de trabalho (BBC)
Diferença de metodologia explica resultados contraditórios de pesquisas sobre emprego.
Em meio a uma desaceleração do PIB e às incertezas sobre a inflação, o mercado de trabalho tornou-se hoje uma das poucas áreas da economia em que os brasileiros ainda recebem boas notícias. Ou não?
Diferenças na metodologia das pesquisas que procuram identificar as tendências desse mercado e na interpretação dos indicadores faz com que eles venham sendo usados para justificar previsões econômicas quase contraditórias entre si.
De um lado, alguns analistas defendem que, apesar de o desemprego realmente estar baixo, não apenas há indícios de desaquecimento no mercado de trabalho, como eles seriam uma espécie de bomba-relógio, pronta para estourar em 2015.
A divulgação, nesta terça-feira, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) do IBGE, feita trimestralmente em 3,5 mil municípios brasileiros, reforçaria esses argumentos.
Ela registrou que o desemprego atingiu 7,1% no último trimestre, 0,9 pontos percentuais a mais do que no último trimestre do ano passado.
"Há muita incerteza entre os empresários sobre os rumos da economia, e depois das eleições, se predominar a percepção de que não serão implementadas políticas para acelerar o crescimento, é provável que eles comecem a demitir", diz o economista da FGV Samy Dana, para quem no médio prazo não se pode descartar um retorno do desemprego na casa dos 10%.
Entre os indícios apontados pelos que veem um desaquecimento também estão dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), segundo o qual o país abriu só 105.384 vagas formais em abril - pior resultado para o mês desde 1999.
Recentes demissões da indústria automobilística - mais de 1,5 mil pessoas foram dispensadas no ABC Paulista - seriam outra evidência dessa perda de fôlego, bem como alguns indicadores de queda dos salários.

Otimismo

Do outro lado do debate, o governo diz que o desemprego não preocupa e o mercado de trabalho nunca esteve tão bem, como explicou à BBC Brasil na sexta-feira Márcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Uma evidência seria, por exemplo, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE, que em abril registrou 4,9% de desemprego nas seis regiões metropolitanas pesquisadas - o menor resultado desde 2002.
Em abril de 2013, o índice era de 5,8%. "E na época, cansei de ouvir previsões de que a taxa começaria a aumentar", diz Holland.
A própria PNAD Contínua, divulgada na segunda-feira, também mostrou que, se o desemprego subiu no último trimestre, ainda está menor que no mesmo período do ano passado, quando era de 8% - uma comparação que evita efeitos de sazonalidade.
"E no caso dos dados do Caged, é preciso destacar que o saldo (de contratações) ainda é positivo", ressalta Holland.
É verdade que mesmo os economistas que veem indícios de desaceleração no mercado de trabalho não esperam uma enxurrada de demissões no médio prazo.
As previsões são de uma reversão na tendência geral de queda do desemprego e uma estabilização em patamares pouco acima dos atuais – o que significa que ficaria mais difícil mudar de emprego e negociar salários.
"Há muita incerteza entre os empresários sobre os rumos da economia, e depois das eleições, se predominar a percepção de que não serão implementadas políticas para acelerar o crescimento, é provável que eles comecem a demitir"
Samy Dana, economista da FGV
Mas chama a atenção o fato de os indicadores realmente darem margem a diferentes cenários. Como pode o desemprego medido pela PME e pela PNAD Contínua ter caído em relação a 2013 se as empresas estão contratando menos, como aponta o Caged?

Metodologia

Parte da explicação estaria ligada a questões metodológicas.
Os dados do Caged usam os registros de carteiras assinadas do Ministério de Trabalho. Portanto, dizem respeito apenas ao mercado formal e ao regime CLT.
Já os índices do IBGE são calculados com pesquisas domiciliares. Eles consideram desocupados os entrevistados que procuraram emprego no último mês e ocupados aqueles que trabalharam mais de uma hora na semana anterior a pesquisa – o que inclui também trabalhadores informais ou eventuais, por exemplo.
Além disso, o fato de o desemprego manter-se em patamares baixos em meio a uma perda de dinamismo das contratações também poderia ser explicado por uma diminuição na quantidade de pessoas que estão entrando no mercado de trabalho, explica o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
"Isso tem ocorrido primeiro por uma questão demográfica, ligada a redução do ritmo de crescimento da população", diz Belluzzo. "Depois, em função de um fenômeno ligado ao aumento dos níveis de escolaridade dos brasileiros."
Muitos jovens de baixa renda estariam retardando sua entrada no mercado para estudar, segundo o economista.
Dana, da FGV, acrescenta um terceiro fator para explicar a queda da chamada população economicamente ativa: o aumento da renda.
"As pessoas podem estar desistindo de entrar no mercado porque têm fontes alternativas de renda – que pode ser o salário mais alto de um integrante da família ou um benefício social recebido do governo", diz.

Tema eleitoral

Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, a polarização do discurso sobre o mercado de trabalho deve-se em parte à proximidade das eleições – nas quais esse será um tema-chave.
Belluzzo concorda com a avaliação e explica por que acredita que manter o bom desempenho nessa área é crucial para o governo, em meio à onda de más notícias econômicas: "Todo mundo fala da preocupação do eleitor com a inflação porque a alta de preços corrói a renda dos trabalhadores. Mas se o desemprego aumenta, muitas famílias perdem totalmente essa renda – a frustração é muito maior", diz ele.
Há uma década a taxa de desemprego medida pela PME do IBGE era de 12%.
"Já há sinais claros de esgotamento do modelo de crescimento baseado em consumo, o que certamente terá um impacto também no nível de emprego"
Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista
O fato de nos últimos dois anos o índice ter resistido no patamar dos 5% ou 6% em meio à freada do PIB costuma ser atribuído a questões como a falta de flexibilidade do mercado de trabalho brasileiro e a carência de trabalhadores qualificados no país.
Como os custos de contratação e demissão são altos, os empresários teriam mais cautela ao mudar seu quadro de funcionários.
Além disso, muitas empresas hesitariam em demitir pensando que teriam dificuldade para contratar ou treinar determinados profissionais se tivessem de ampliar a produção em um futuro próximo.
"Por enquanto, o que preocupa realmente é que a taxa de desemprego esteja muito baixa - porque a falta de trabalhadores tornou-se um gargalo de nossa economia", opina Mendonça de Barros.
"Mas já há sinais claros de esgotamento do modelo de crescimento baseado em consumo, o que certamente terá um impacto também no nível de emprego."
"Não acho que haja razões para ser catastrofista, mas também não dá para pensar que o mercado de trabalho não sofrerá em algum momento com a desaceleração, queda dos investimentos e redução da confiança dos empresários", concorda o economista da Unesp Elton Casagrande.



Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/06/140530_desemprego_ru.shtml

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