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domingo, 15 de junho de 2014

Hino - Neymar - Vaias - Em queda nas pesquisas, Dilma garante o apoio do PMDB e abraça o PDT, cujo presidente ela demitiu por irregularidades.

Em queda nas pesquisas, Dilma garante o apoio do PMDB e abraça o PDT, cujo presidente ela demitiu por irregularidades.
Daniel Pereira
O governo sabia que a presidente Dilma Rousseff deveria manter uma distância regulamentar da Copa do Mundo. Em junho do ano passado, no auge das manifestações que derrubaram o apoio popular aos governantes, ela foi recebida com uma sonora vaia ao discursar na abertura da Copa das Confederações. Na ocasião, até fez aquela cara de poucos amigos que aterroriza os ministros, mas não conseguiu intimidar os torcedores. Pensado como peça de propaganda eleitoral, o discurso acabou se tornando um estrondoso tiro no pé. Recentemente, pesquisas encomendadas pela Presidência da República também detectaram que os brasileiros não querem os políticos pegando carona na Copa e na paixão dos eleitores pelo futebol. Esses precedentes provocaram um debate entre coordenadores da campanha à reeleição e assessores presidenciais. Dilma deveria discursar na abertura da Copa? Deveria ir aos estádios? Deveria fazer um pronunciamento sobre o tema? A ideia inicial era que não — para evitar desgastes desnecessários. Com a queda nas pesquisas, houve uma ligeira mudança nos planos, e a presidente colheu o que tanto temia.
Na estreia do Brasil na Copa, contra a Croácia, Dilma foi vaiada e xingada. Temendo constrangimento diante dos torcedores, ela até abriu mão de discursar antes da partida, mas bastou aparecer no telão para ouvir um coro grosseiro, recheado de palavras de baixo calão. A repercussão foi imediata, principalmente nas redes sociais, que replicaram a cena. O Planalto sabia dos riscos que corria. Tanto que tentou minimizá-los na terça-feira, quando Dilma usou por dez minutos a rede nacional de rádio e televisão para exaltar a Copa, defender seu legado e atacar os "pessimistas". Em resposta a denúncias de superfaturamento em obras e a queixas com os gastos públicos, ela disse, por exemplo, que o poder público investiu 212 vezes mais em saúde e educação do que na construção de estádios. Pelas manifestações ouvidas no Itaquerão, a ofensiva televisiva não deu certo. Há o temor de que o coro se repita em outros jogos da Copa, com ou sem a presença da presidente. Por enquanto, está prevista apenas a ida dela à final, no Maracanã. Pior: com base nesse episódio, há o temor de que Dilma não consiga, mesmo com a propaganda eleitoral na TV, reduzir seu alto nível de rejeição e conquistar os votos que lhe garantam um novo mandato.
A propaganda eleitoral é a principal arma dos coordenadores da campanha presidencial do PT. A meta deles é formar uma coligação com pelo menos dez partidos e, assim, assegurar à presidente o dobro do tempo reservado aos dois principais rivais: o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Com esse ativo, os governistas dizem que Dilma tem chance de vencer no primeiro turno. Uma chance que, segundo as pesquisas, é cada vez menor. Levantamento do Ibope divulgado na semana passada mostrou Dilma com 38% das intenções de voto, quatro a menos que seus oponentes somados. Se confirmados em outubro, esses números levarão à realização do segundo turno. A vantagem dela sobre Aécio ou Campos, em eventual embate direto com cada um deles, também diminuiu. Hoje, é de 9 e 11 pontos, respectivamente. No início do mês, Dilma, o ex-presidente Lula, o marqueteiro João Santana e o ex-ministro Franklin Martins se reuniram no Palácio da Alvorada para analisar a conjuntura eleitoral. Eles elencaram os problemas que têm tirado votos da presidente, como a inflação e o pessimismo crescente com os rumos da economia, e concluíram que a melhor maneira de superá-los, aos olhos dos eleitores, é com a propaganda eleitoral.
"Os adversários não conseguem subir com a velocidade esperada e são pouco conhecidos. Já a presidente ainda conta com um nível de apoio popular bastante competitivo", diz um dos coordenadores da campanha. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não divulgou de quantos minutos cada candidato disporá na propaganda eleitoral, mas Dilma pode ter até o dobro do tempo somado de Aécio e Campos. Haverá vantagem também na quantidade de comerciais de trinta segundos. A presidente espera ter três vezes mais inserções diárias do que Aécio. A propaganda e as inserções serão usadas pelo PT para suprir o que auxiliares de Dilma chamam de "déficit de informação" Eles alegam, como de costume, que o governo fez muito mais do que é divulgado — e que essas realizações, por falhas na comunicação oficial, ainda não são reconhecidas pela
"0 que vale é acumular cargos e vantagens"
0 ex-ministro Brizola Neto é considerado um dos poucos amigos da presidente Dilma Rousseff. Pedetista como o avô, o ex-gpvernador Leonel Brizoia, ele foi escolhido para comandar o Ministério do Trabalho em 2012. No entanto, permaneceu por apenas dez meses no cargo, minado, segundo contou ao editor Rodrigo Rangel, por contrariar interesses nada republicanos da direção do partido.
Por que o senhor critica tão fortemente Carlos Lupi, que afinal preside o seu partido e integra um governo do qual o senhor também fez parte?
Hoje existe uma quadrilha que tomou de assalto a direção do PDT. Lupi e Manoel Dias (atual ministro do Trabalho) são verdadeiros corruptos que têm a cara de pau de permanecer no ministério mesmo diante de um pedido da polícia ao STF para investigá-los. Lupi foi o responsável por jogar no lixo um legado construído durante toda uma vida por meu avô, Leonel Brizola. A tragédia é ver que o patrimônio ético do PDT foi jogado no lixo. Hoje o partido é uma federação de interesses. 0 que vale para esses dirigentes é acumular cargos e vantagens. Ou seja: um balcão de negócios.
A que o senhor se refere?
 A gestão de Lupi no ministério foi de seguidos escândalos, favorecimentos e propinas milionárias. 0 cálculo que se faz é que tenha havido desvio de mais de 400 milhões de reais. Esses atuais dirigentes do partido, Lupi e Manoel Dias, são figuras repugnantes. 0 Lupi mudou de padrão de vida em relação ao jornaleiro que eu conheci. Quanto a Manoel Dias, ele é apenas um empregado do Lupi.
0 que o senhor fez de diferente em relação a Lupi?
Quando estive no governo, conseguimos fechar a fábrica de sindicatos que havia dentro do ministério. 0 que acontecia que fazia com que os processos ficassem sujeitos ao tráfico de influência? Chegou a haver 8 000 pedidos acumulados. Para quê? Negavam, e os interessados ficavam sujeitos a toda sorte de influência da direção do ministério. Ficavam à mercê das vontades do ministério. É o ambiente ideal para o tráfico de influência, tanto que se criou ali uma expressão: fábrica de sindicatos.
Quem era o gerente dessa fábrica? Era o Lupi. Eu fechei a fábrica.
Ao admitir o grupo de Lupi de volta no governo, a presidente Dilma cedeu ao fisiologismo?
A minha ida para o ministério foi à revelia dessa direção, num movimento que a presidente Dilma fez para enfrentar as cúpulas partidárias, das quais ela acabou se tornando refém. Eu lamento muito que a política nacional, e o sistema político, crie governos dependentes de bases fisiológicas. Hoje a presidente Dilma é refém de um exército de mercenários que formam sua base aliada. No Brasil, os partidos, com raríssimas exceções, não são programáticos nem democráticos. Só têm compromisso com sua manutenção no poder, com a ocupação de cargos e com a obtenção de vantagens junto ao poder público. Essa é a grande tragédia da política brasileira.
O senhor se decepcionou com a presidente?
Eu tenho uma grande admiração pela presidente Dilma. É importante lembrar que em 1989 e 1994 ela votou no Brizola e não no Lula. E ela tem um pouco daquilo que durante uma vida inteira eu vi no meu avô, e compromissos sinceros com a trajetória do trabalhismo brasileiro. Talvez ela não tenha conseguido avançar mais por se tornar refém de uma base parlamentar que põe em primeiro lugar seus interesses pessoais, regionais, eleitorais. 0 que eu posso afirmar é que ela tentou à exaustão combatê-los. Mas os interesses eleitorais e a necessidade de ter votos no Congresso falaram mais alto.
Por que o senhor deixou o ministério?
0 Lupi queria continuar mandando e desmandando no ministério, como ele manda hoje no ministério do Manoel Dias, com todas as máculas que carrega, seja na concessão de registro sindical, seja na relação com ONGs que recebem verbas do ministério. Era a maneira que ele tinha de continuar influenciando e dando continuidade às suas práticas não republicanas.
Em algum momento a presidente admitiu que estava demitindo o senhor porque precisava ceder ao fisiologismo?
Interlocutores aconselharam mal a presidente, dizendo que era necessária, para recompor com o PDT, a volta do grupo do Lupi ao Ministério do Trabalho. A presidente conversou comigo e disse que estava entristecida, que estava fazendo um ato que não era da sua vontade. Mas que se viu obrigada pelas circunstâncias a me substituir e devolver o ministério à direção nacional do PDT.
O hino as vaias e Neymar
Um consolo para Dilma: não veio do povo a retumbante e espontânea vaia que ela levou no jogo de abertura da Copa, na Arena Corinthians, em São Paulo, na semana passada. As 62 000 pessoas que assistiram à vitória de 3 a 1 do Brasil sobre a Croácia eram, majoritariamente, pessoas de classe média, pagadoras de ingresso, e convidados vips. Uma amostra viciada que invalidaria qualquer pesquisa eleitoral. Mas...mesmo que a amostra fosse representativa do povo, o mais provável é ali que teria havido vaia do mesmo jeito. Lula foi vaiado no Engenhão durante os Jogos Pan-Americanos de 2007. A própria Dilma foi vaiada no Mané Garrincha, cm Brasília, no jogo de abertura da Copa das Confederações, no ano passado. "O Maracanã vaia até minuto de silêncio" dizia Nelson Rodrigues, dramaturgo conhecedor do contato epidérmico entre intenções e gestos em uma torcida apaixonada pelo futebol. Bons tempos em que as vaias eram apenas longos "uuuusss!" Agora, com palavrões, no modo imperativo, a vaia contém o nome do vaiado seguido das ações indecorosas a que a multidão o condena. Virou grosseria, ofensa. Se melhoramos muito desde a última vez que sediarmos uma Copa, em 1950, no quesito "vaia em estádio" regredimos ao estágio incivilizado de turba. Sinal dos tempos.
Feito o registro — e antes que sejamos nós os vaiados —, vamos ao que interessava realmente aos 62 000 espectadores da partida de quinta-feira passada, 12, e a quem compra uma revista sobre a Copa: o futebol. O recado límpido da torcida brasileira na vitória sobre a Croácia foi que pátria não é governo e a paixão pelo futebol abomina interferências estranhas ao que se passa no gramado. Cantar o Hino Nacional a plenos pulmões depois de cessada a execução oficial da música foi um gesto patriótico, mas não de apoio ao mundo oficial, inédito em Copas do Mundo. Ao mesmo tempo foi uma bonita transgressão às liturgias milimetradas da Fifa nesses megaespetáculos, Mas, principalmente, foi um grito de guerra da torcida, entrando em sintonia com seus guerreiros de chuteiras e camisas amarelas (que acompanharam as arquibancadas no canto a capela) e isolando esse amor condicional (ele depende de vitórias) de outras manifestações do mundo exterior — sejam de Dilma, sejam da Fifa e até do papa. Em uma pelada, em um jogo de várzea ou na Copa do Mundo, o torcedor aficionado quer jogo. Quem só vê futebol na Copa ou vai ao estádio atraído pela monumentalidade do espetáculo globalizado, pela inegável segurança e conforto proporcionados pelo padrão Fifa também quer ver gols e jogadas de craques. Não quer ser interrompido nem em pensamento. Bastaram dois segundos da imagem de Dilma no telão do estádio comemorando o chute de Neymar que venceu Pletikosa, excelente goleiro croata, para que a torcida interrompesse no meio o grito de gol e engatasse mais uma vaia na presidente. Quando um ídolo e craque faz um gol, especialmente um gol que tira a vantagem do adversário, igualando o placar, quando a partida é a estreia da sua seleção, no seu próprio país, a única coisa que interessa é viver o mais intensamente possível aquele momento mágico. Cada torcedor quer apenas ver como o craque comemora o gol, se faz o mesmo gesto de sempre, se mudou a maneira de extravasar, se se deixa abraçar pelos companheiros formando um bolo de gente ou se aponta alguém no banco (pode ser o técnico ou o médico que curou sua lesão em tempo recorde) ou se corre para a arquibancada sozinho. Aqui o que vale é tentar ver alguma coisa que ninguém mais viu no estádio, estabelecendo assim com o craque uma comunhão individual particular e única. "Você viu ? O Neymar fugiu do abraço do Fred. Eu senti que eles estavam se estranhando."
Neymar! Neymar! Neymar! Ele é o craque da seleção. Esse posto já foi de Pelé, de Romário e de Ronaldo Nazário, o "Fenômeno". Mas Pelé, Romário e Ronaldo não podem mais fazer nada por nós nos gramados. Neymar é o cara. É preciso encontrar um feito dele que seja superior ao dos ídolos do passado. Em número de gols marcados e partidas jogadas não tem comparação. Maturidade precoce, talvez? Pode até ser, mas isso é abstrato, difícil de explicar. Neymar tem apenas 22 anos e é titular absoluto da seleção. Pelé tinha 17 anos quando embarcou com a seleção para a Suécia, em 1958 — mas era reserva de Mazzola. Pelé, porém, voltou titular, consagrado como o responsável pela conquista do nosso primeiro campeonato mundial e o único candidato ao nunca antes ocupado posto de ""Rei do Futebol". Bem... nem Pelé, nem Romário, nem Ronaldo fizeram dois gols em sua partida de estreia em Copas do Mundo. Só Neymar. Sim, só Neymar, o cara. É ele que vai levar a seleção à final da Copa, no Maracanã. no dia 13 de julho. É sobre os ombros de Neymar que pesa a responsabilidade. Diz o defensor Thiago Silva, capitão da seleção: "0 Neymar só tem 22 anos e olhe a maturidade dele. É um líder".
0 hino cantado a capela, as vaias em Dilma e mesmo o batismo de craque de Neymar foram os grandes momentos do jogo de abertura da Copa de 2014 no Brasil. Mas quem conhece a invencível propensão do futebol para os lances duvidosos aposta que daqui a cinco Copas o fato que vai ser lembrado mesmo daquela tarde-noite fria de 12 de junho no "Itaquerão" será a marcação do pênalti inexistente do zagueiro croata sobre o atacante brasileiro Fred. O árbitro japonês Yuichi Nishimura deu o pênalti — e, assim, entrou para a história.
Fonte https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6147686896321516403#editor/target=post;postID=1548979694909378252
Revista Veja 15/06/2014

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