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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Copom decide manter novamente os juros estáveis em 14,25% ao ano

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Partido dos Trabalhadores e setor produtivo pressionaram pela manutenção.
Antes, BC indicava alta nos juros mas mudou sinalização e manteve taxa.


Alexandro MartelloDo G1, em Brasília



Após pressão do setor produtivo, do Partido dos Trabalhadores e em meio a sinais de que a economia terá uma retração mais forte, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter, pela quarta vez seguida, a taxa básica de juros inalterada em 14,25% ao ano nesta quarta-feira (20). Mesmo assim, a Selic segue no maior patamar em quase dez anos.

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Na curva de juros do mercado futuro, um tipo de aposta do mercado financeiro, a percepção da maior parte dos economistas era de que os juros seriam elevados na reunião do Copom, em 0,25 ponto percentual, para 14,5% ao ano. Pesquisas com economistas das instituições financeiras, porém, mostravam um cenário incerto, com alguns apostando em manutenção, e outros em aumento da taxa Selic.


A decisão do Comitê de Política Monetária de manter os juros, porém, não foi unânime. Seis integrantes do Copom votaram pela manutenção da taxa, mas outros dois queriam um aumento de 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano, que acabou não sendo implementado. Os diretores de Assuntos Internacionais, Tony Volpon, e de Organização do Sistema Financeiro, Sidnei Corrêa Marques, votaram pelo aumento dos juros.

Ao fim do encontro, o BC emitiu o seguinte comunicado: "Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, e considerando a elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 ponto percentual".

Comunicação do BC

Até o início desta semana, os economistas dos bancos acreditavam que o BC teria uma postura bem mais mais agressiva, elevando a taxa Selic para 14,75% ao ano. Para embasar suas apostas, levavam em conta o duro recado do BC, do começo deste mês, de que adotaria "as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas [de inflação]" e que isso seria feito "independentemente do contorno das demais políticas" (como aquela relacionada com os gastos públicos, por exemplo).

Essa percepção do mercado de uma alta de 0,5 ponto percentual nos juros se alterou nesta terça-feira (19), quando o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, rompeu o tradicional silêncio que antecede os encontros do Copom para dizer, por meio de nota à imprensa, que considerou "significativas" as revisões das projeções de crescimento em 2016 e 2017 do FMIpara o Brasil [para baixo] e acrescentou que estas informações seriam "consideradas nas decisões do colegiado".

O mercado entendeu a declaração como uma forma de sinalizar uma alta menor dos juros, ou até mesmo a manutenção no atual patamar de 14,25% ao ano, e não poupou críticas ao BC. "Jabuti não sobe em árvore. Porque o BC ia comentar uma atualização das projeções do FMI? Tudo bem. Piorou, até mais do que o consenso do mercado, mas não tão mais. É muito ruim, mas que a gente já conhecia. Imagino que o Tombini também", disse o economista Alexandre Schwartsman, que passou a apostar em Selic estável ou uma alta menor, de 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira.

Recessão

Em um cenário de forte queda da atividade econômica em 2015, com a previsão do mercado de retração do PIB da ordem de 3,75% no ano passado, a maior em 25 anos, seguida por uma contração também significativa neste ano (por volta de 3%, segundo previsão do mercado), e com o aumento do desemprego, podendo superar 10% neste ano, a decisão do Copom sobre a taxa de juros está cercada de fortes pressões políticas.

Tanto o presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, quanto os representantes das centrais sindicais e do setor produtivo têm se manifestado sistematicamente contra uma nova alta de juros por parte do Banco Central. No fim do ano passado, Falcão pediu propostas para retomar o crescimento econômico, garantir o emprego e preservar a renda e os salários. "Chega de altas de juros e de cortes em investimentos", declarou ele, em artigo.

As centrais sindicais fizeram ato nesta terça-feira na frente do Banco Central de São Paulo contra um novo aumento de juros. A Força Sindical avaliou que um novo aumento de juros contribuiria para o "aumento da recessão e do desemprego, atingindo a indústria nacional, reduzindo a produção e provocando, até, a insolvência das empresas (desindustrialização)".

Em artigo publicado no fim do ano passado, institulado "Para vencer a Crise", o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) pede redução da Selic e avalia que juros "extraordinariamente elevados na atualidade, constituem barreiras intransponíveis ao crescimento". Nesta semana, divulgou um documento na qual avalia que a crise é "generalizada" no setor produtivo.

Pressão inflacionária

Apesar dos impactos de uma nova alta dos juros sobre a produção e o emprego, economistas observam que a inflação segue pressionada no começo deste ano, quando 20 estados e o Distrito Federal promoveram aumentos de tributos, como o ICMS, além de alta de impostos sobre computadores e bebidas implementada pelo governo federal.

Também foram registradas elevações nos preços de tarifas de transportes públicos em vários estados. O dólar, por sua vez, vem apresentando novo aumento no começo de 2016. Além disso, o mercado financeiro não acredita na capacidade de o setor público atingir a meta de superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública) de R$ 30,5 bilhões em 2015, ou 0,5% do PIB. A previsão do mercado é de um déficit de 1% do PIB, de cerca de R$ 60 bilhões, neste ano.

Todos estes fatores, segundo analistas, continuam pressionando a inflação neste ano. Após somar 10,67% em 2015, a previsão dos economistas é que, para 2016, o IPCA some 7%, ou seja, acima novamente do teto do sistema de metas de inflação - algo que o Banco Central busca evitar a qualquer custo.

Para o economista Alexandre Schwartsman, a teoria de de que a recessão vai "tomar conta" da inflação só funciona se as previsões de inflação estiverem "ancoradas" com as metas do governo, o que não acontece atualmente. "O BC vai ter que subir os juros. Se não subir agora, lá na frente o problema vai ficar pior. Em 2011, [o BC] poderia ter trazido a inflação para a meta com menos esforço. Agora vai ter que subir mais os juros", avaliou o ex-diretor do Banco Central.

A alta de juros para conter pressões inflacionárias, porém, não é unanimidade no mercado financeiro. Para Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora, inexistindo "demanda aquecida no consumo e por crédito", o aumento dos juros só serviria para atender aos "reclamos do mercado financeiro, que é rentista do governo, em detrimento da política fiscal [controle dos gastos], já caótica, do governo".





Fonte http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/copom-decide-manter-novamente-os-juros-estaveis-em-1425-ao-ano.html

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