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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

'Não se pode aceitar nenhum pacto de impunidade', diz Marina sobre crise política

Ewerthon TobaceDe Tóquio para a BBC Brasil
Marina durante visita ao Japão (Foto: Ewerthon Tobace/BBC Brasil)

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Image captionMarina Silva passou sete dias no Japão participando de reuniões e ministrando palestras
Para Marina Silva, ex-candidata a presidente e líder da recém-oficializada Rede Sustentabilidade, a crise política chegou a um limite "inadmissível" e exige das lideranças "todo o rigor e senso de responsabilidade" para lidar com as denúncias feitas até agora.
"Não se pode aceitar em hipótese alguma um pacto de impunidade", disse em entrevista exclusiva à BBC Brasil, em Tóquio, ao comentar o possível acordo entre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o governo para evitar sua cassação em troca de barrar um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Cunha, acusado por delatores de receber dinheiro do esquema de corrupção na Petrobras, ficou em situação frágil após a informação de que ele e seus familiares tiveram contas bancárias bloqueadas na Suíça – o deputado vem evitando comentar o assunto e anteriormente negou manter contas no país europeu. Ele também nega negociações com o governo e a oposição.
Marina, terceira colocada na eleição do ano passado, passou sete dias no Japão a convite dos jornais Mainichi e São Paulo Shimbun, onde se reuniu com lideranças e ministrou palestras sobre sustentabilidade.
Em conversa com jornalistas, falou sobre a economia brasileira. "Temos uma crise econômica mundial que nos afeta também, mas boa parte desses problemas são na verdade causados por decisões políticas equivocadas", disse.
"Para retomarmos os investimentos e o desenvolvimento teremos antes de resolver a crise política. Ela está sendo responsável por perdermos conquistas importantes na economia e na inclusão social, que até bem pouco tempo atrás achávamos que eram processos duradouros."
Depois, na entrevista à BBC Brasil, Marina criticou o estilo de fazer política do atual governo. Confira os principais trechos da entrevista.
(Foto: José Cruz/Ag.Brasil)
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Image captionRecentemente, ex-senadora apresentou novos filiados da Rede, como o ex-PT Alessandro Molon
BBC Brasil - A senhora acredita que a rejeição das contas de 2014 do governo pelo Tribunal das Contas da União é razão suficiente para um impeachment?
Marina Silva - O fato de termos a rejeição das contas por unanimidade, levantando uma série de problemas, além das pedaladas fiscais, cometidos pelo atual governo é muito grave e isso requer uma análise bem profunda destas contas, que será feita pelo Congresso.
Temos indícios muito fortes de que houve o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal e mais outras irregularidades que foram cometidas e que estão fartamente colocadas neste relatório (do TCU).
Elas (as irregularidades) vão requerer do Congresso e das lideranças políticas, que vão fazer essa análise, uma atitude que não seja de simplesmente relevar as coisas, mas de tomar a atitude certa.
Neste momento nós sabemos que (a situação) é grave, mas não temos ainda um julgamento em relação à questão do impeachment, como alguns estão dizendo e propondo. O que nós da Rede vamos fazer é, após avaliar a gravidade desses fatos, nos manifestar no momento oportuno.
BBC Brasil - Qual a sua opinião sobre um possível acordo entre Cunha e o governo para evitar tanto a cassação dele como um processo de impeachment de Dilma?
Marina - Tenho acompanhado um movimento tanto do governo quanto de setores da oposição em relação a negociar esta questão que enviamos ao Conselho de Ética (a Rede e o PSOL entraram com representação contra Cunha).
Agora o que não se pode, no Brasil, é fazer o pacto da impunidade. As denúncias que pesam sobre o governo são graves e requerem de cada uma das lideranças políticas todo o rigor e senso de responsabilidade.
São também são graves e inaceitáveis as denúncias contra o presidente da Câmara dos Deputados e o presidente do Senado, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Marina no Japão (Foto: Ewerthon Tobace/BBC Brasil)Image copyrightBBC Brasil
Image captionMarina afirma que seu partido ainda não definiu uma posição sobre o impeachment
É uma situação muito difícil a que temos no Brasil hoje, com o governo com suas contas desaprovadas pelo TCU por unanimidade, um pedido de investigação por irregularidades nas eleições por parte do TSE, o presidente do Senado e o presidente da Câmara dos Deputados denunciados em função de escândalos de corrupção e os dois tesoureiros do partido do governo presos.
Não se pode, em hipótese, nenhuma ter dois pesos e duas medidas em relação a nenhum destes processos e muito menos utilizar os interesses imediatos de proteção dos projetos de poder de cada um destes grupos em prejuízo dos encaminhamentos corretos de acordo com a legislação brasileira e a Constituição Federal, que são cabíveis para a comprovação destas irregularidades.
Não se pode aceitar, em hipótese alguma, um pacto de impunidade, seja do governo com o presidente da Câmara, seja com os setores da oposição, que estão tentando fazer o mesmo.
A sociedade não merece este tipo de atitude por parte daqueles que deveriam estar zelando pelo cumprimento correto da nossa Constituição, honrando o trabalho que vem sendo feito pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelo juiz Sergio Moro.
BBC Brasil - A senhora acredita que seria melhor que Cunha se afastasse até o término das investigações?
Marina - A Rede e o PSOL entraram com um pedido de afastamento do deputado Eduardo Cunha no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, e obviamente o conselho vai se debruçar sobre todas as graves denúncias e investigações que estão sendo feitas quanto às acusações que pesam sobre o deputado para que ele tenha lá a oportunidade de apresentar a sua defesa.
São acusações em cima de fatos muito graves, e que obviamente não haveria outro caminho a não ser encaminhar o pedido ao Conselho de Ética.
Marina em sessão de homenagem a indígenas no Senado, em abril(Foto: Geraldo Magela/Ag. Senado)Image copyrightAg. Senado
Image captionEx-presidenciável classifica denúncias contra o deputado Eduardo Cunha como "muito graves"
BBC Brasil - Para a senhora, nunca tivemos tantos casos de corrupção ou finalmente estamos acabando com a impunidade e divulgando mais os casos?
Marina - A gente está no começo deste processo e espero que seja um caminho sem volta, de que a certeza de que não haverá impunidade possa frear a irresponsabilidade praticada à frente da gestão pública e do uso dos recursos públicos.
BBC Brasil - Na campanha eleitoral, a senhora disse que "pode-se perder ganhando e ganhar perdendo". Qual a sua visão sobre o segundo mandato da presidente, que ganhou nas urnas, mas enfrenta agora altíssimos índices de rejeição?
Marina - Ela (Dilma) ganhou perdendo. Mas quem perdeu mais foi a sociedade brasileira, porque viu as conquistas econômicas sendo dissolvidas, vê agora as políticas sociais sendo completamente desidratadas em função dos cortes que estão sendo feitos e mais de 9 milhões de pessoas sofrendo com os problemas do desemprego.
(A sociedade) perde ainda porque a inflação está aumentando, porque os juros são altos, porque as pessoas estão endividadas e não conseguem saldá-las. Quem mais perdeu com a ânsia do poder pelo poder que se estabeleceu na disputa eleitoral infelizmente foi a sociedade brasileira.
BBC Brasil - Alguns dizem que o PT apenas deu continuidade a um sistema político viciado em forjar alianças mediante pagamento de propinas. Caso a senhora fosse eleita, até que ponto estaria pronta a violar seus princípios para poder levar a cabo sua proposta de governo?
Marina - Quem foi que disse que para levar adianta as propostas é necessário violar os princípios? Aliás, boas propostas são sempre acompanhadas de bons princípios. Essa lógica de que só é possível governar abrindo mão dos princípios levou o nosso país para esse poço sem fundo.


Fonte http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151016_entrevista_marina_et_ab

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