ONU lança índice de riqueza inclusiva: recursos naturais
diminuíram mais no Brasil do que nos EUA
Crescimento mascara esgotamento de recursos naturais em 19
dos 20 países avaliados.
Índice avaliou a riqueza de 20 países, que juntos
representam quase três quartos do PIB mundial, de 1990 a 2008, considerando
PIB, IDH e destruição dos recursos naturais.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma)
lançou hoje um novo indicador voltado para incentivar a sustentabilidade – o
Índice de Riqueza Inclusiva (IRI). Apesar de registrar crescimento do PIB,
China, Estados Unidos, África do Sul e Brasil aparecem com tendo esgotado
significativamente seu capital natural, a soma de um conjunto de recursos
renováveis e não renováveis, como combustíveis fósseis, florestas e pesca.
Foram observadas mudanças na riqueza em 20 países, que juntos representam quase
três quartos do PIB mundial, de 1990 a 2008.
Se medido pelo PIB, que é o indicador mais comum para a
produção econômica, as economias da China, Estados Unidos, Brasil e África do
Sul cresceram respectivamente 422%, 37%, 31% e 24% entre 1990 e 2008.
Entretanto, durante o período avaliado, os recursos naturais
per capita diminuíram em 33% na África do Sul, 25% no Brasil, 20% nos Estados
Unidos e 17% na China. Das 20 nações pesquisadas, somente o Japão não sofreu
diminuição do capital natural, devido a um aumento da cobertura florestal.
No entanto, quando seu desempenho é avaliado pelo IRI, as
economias chinesas e brasileiras aumentaram apenas 45% e 18%. Os Estados Unidos
cresceram apenas 13%, enquanto a África do Sul teve um decréscimo real de
1%.Segundo a ONU, o foco no crescimento econômico ignora o esgotamento dos
recursos naturais que irá prejudicar seriamente as gerações futuras.
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Documento final é
enxugado
Rio+20 discute
economia verde e desenvolvimento sustentável
Incentivo financeiro
e prevenção ajudam a preservar nascentes em Extrema
Entrevista com Luiz
Paulo de Souza Pinto, diretor sênior de Biomas da Conservação Internacional
Brasil
Índice
O IRI, que vai além dos parâmetros econômicos e de
desenvolvimento tradicionais do Produto Interno Bruto (PIB) e do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) e inclui uma gama de ativos como o capital
manufaturado, humano e natural, quer mostrar aos governos a verdadeira situação
da riqueza das suas nações e a sustentabilidade de seu crescimento. O índice
apresenta a riqueza inclusiva de 20 nações: Austrália, Brasil, Canadá, Chile,
China, Colômbia, Equador, França, Alemanha, Índia, Japão, Quênia, Nigéria, Noruega,
Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, EUA, Reino Unido e Venezuela.
O indicador foi divulgado neste domingo no Relatório de
Riqueza Inclusiva 2012 (IWR na sigla em inglês), uma iniciativa conjunta
lançada na Rio+20 pelo Programa Internacional de Dimensões Humanas sobre
Mudança Ambiental Global (UNU-IHDP, na sigla em inglês) organizado pela
Universidade das Nações Unidas e pelo Pnuma.
“A Rio+20 é uma oportunidade para abandonar o Produto
Interno Bruto como medida de prosperidade no século 21 e como barômetro de uma
transição para uma Economia Verde inclusiva, não serve para medir o bem-estar
humano, ou seja, as muitas questões sociais e a situação dos recursos naturais
de uma nação”, disse o subsecretário geral e diretor executivo do PNUMA, Achim
Steiner.
“O IWR representa o primeiro passo fundamental na mudança do
paradigma econômico global forçando-nos a reavaliar nossas necessidades e
objetivos como sociedade” disse o Professor Anantha Duraiappah, diretor do
relatório IWR e diretor executivo do UNU-IHDP. “Oferece uma estrutura rigorosa
de diálogo com várias bases eleitorais que representam os campos ambientais,
sociais e econômicos”.
Crescimento populacional
Segundo o relatório, a importância em cuidar de todo o leque
de bens de capital de um país torna-se particularmente evidente quando o
crescimento populacional é levado em conta.
Quando a mudança da população é incluída para examinar o IRI
numa base per capita, quase todos os países analisados mostraram um crescimento
significativamente menor. Esta tendência negativa deve provavelmente continuar
em países que apresentam atualmente um elevado crescimento da população, como
Índia, Nigéria e Arábia Saudita, se não forem tomadas medidas para aumentar o
capital base ou diminuir o crescimento da população.
Os países selecionados representam 56% da população mundial
e 72% do PIB mundial, incluindo economias de alta, média e baixa renda em todos
os continentes. Alguns países foram escolhidos com base na hipótese de que o
capital natural é particularmente importante para a sua base produtiva - como
no caso do petróleo no Equador, Nigéria, Noruega, Arábia Saudita e Venezuela;
ou minérios em países como o Chile e florestas no Brasil.
Principais conclusões
- Enquanto 19 dos 20 países sofreram declínio no capital
natural, seis também observaram declínio na sua riqueza inclusiva, colocando-os
em uma faixa insustentável: Rússia, Venezuela, Arábia Saudita, Colômbia, África
do Sul e Nigéria foram os países que não conseguiram crescer. Os outros 70% dos
países mostram crescimento do IRI per capita, indicando um certo nível de
sustentabilidade.
- O alto crescimento populacional em relação ao crescimento
do IRI criou condições insustentáveis em cinco dos seis países mencionados
acima. A falta de crescimento da Rússia é devida em grande parte a uma queda no
capital manufaturado.
- 25% dos países que mostraram uma tendência positiva quando
medido pelo PIB per capita e pelo IDH, computaram IRI per capita negativo. O
principal impulsionador da diferença de desempenho foi o declínio no capital
natural
-Com exceção da França, Alemanha, Japão, Noruega, Reino
Unido e Estados Unidos, todos os países pesquisados têm uma maior participação
do capital natural em relação ao capital manufaturado, o que destaca sua
importância
-O capital humano tem aumentado em todos os países e é a
forma de capital eleita para compensar a diminuição do capital natural na
maioria das economias
-Há sinais claros de permuta entre as diferentes formas de
capital
- Inovação tecnológica e/ou ganhos de capital com petróleo
(devido ao aumento dos preços) superam o declínio do capital natural e os danos
das mudanças climáticas, fazendo com que uma série de países - Rússia, Nigéria,
Arábia Saudita e Venezuela - passem de uma trajetória insustentável para uma
sustentável
-As estimativas de riqueza inclusiva podem melhorar
significativamente com melhores dados sobre as reservas de capital natural,
humano e social e seus valores para o bem-estar humano.
Fonte:Pnuma
Recomendações
O relatório, que será produzido a cada dois anos, faz as
seguintes recomendações específicas:
- Países que observam retornos decrescentes no capital
natural devem investir em capital natural renovável para melhorar o seu IRI e o
bem-estar dos seus cidadãos. Exemplos de investimentos incluem reflorestamento
e biodiversidade agrícola
- As nações devem incorporar o IRI nos ministérios de
planejamento e desenvolvimento para incentivar a criação de políticas
sustentáveis
- Os países devem acelerar o processo de transição de uma
estrutura contábil baseada em renda para uma estrutura contábil de riqueza
-As políticas macroeconômicas devem ser avaliadas com base
no IRI, em vez do PIB per capita
-Governos e organizações internacionais devem estabelecer
programas de pesquisa para calcular os principais componentes do capital
natural, particularmente ecossistemas.
O subsecretário-geral e reitor da Universidade das Nações
Unidas, professor Konrad Osterwalder, concluiu que o uso do IRI salvaguardaria
os interesses de muitos países em desenvolvimento. “Os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM) têm funcionado como uma importante ferramenta
para centralizar a atenção internacional e as ações em torno das principais e
mais prementes questões globais”, disse ele. “Com a rápida aproximação de 2015,
prazo para o cumprimento dos ODMs, fica claro que as oportunidades para muitos
países em desenvolvimento alcançarem seus objetivos podem estar comprometidas
se forem mantidas as taxas de declínio atuais de vários serviços fundamentais
do ecossistema”.
“Um aumento na riqueza total não indica necessariamente que
as gerações futuras poderão consumir tanto quanto atualmente; na medida em que
população cresce, cada forma de capital fica mais diluída na sociedade”, disse
Sir Partha Dasgupta, professor emérito de economia em Cambridge e conselheiro
científico do IWR.
Letícia Orlandi
Publicação: 17/06/2012 12:27 Atualização: 17/06/2012 12:58
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