Terapeuta aiurvédica, Laura Pires ensina segredos da
comida que cura
KARLA MONTEIRO
DO RIO
"Tudo o que entra em contato com os cinco sentidos é
alimento", afirma Laura Pires, 31, ex-arquiteta que virou chef de
culinária aiurvédica.
"Até o que você ouve pode equilibrar ou desequilibrar
seu organismo. Você não se intoxica só com o que bota na boca", diz,
enquanto pilota uma panela de bobó de pupunha fresca. Todo sábado, Laura ensina
receitas e truques para uma plateia seleta na Barra da Tijuca. A atriz Grazi
Massafera entusiasmou-se tanto que mudou a alimentação do seu Cauã Reymond.
"Aprendi a comer, consumindo quase as mesmas coisas. Salada depois do
prato principal, por exemplo, ajuda na digestão", diz Grazi.
A culinária aiurvédica nasceu na Índia, há mais de 5.000
anos. É irmã gêmea da ioga. E faz parte de um conjunto de práticas medicinais
em que o fundamento, a base, é a desintoxicação.
No curso, Laura ensina desde pratos para o dia a dia até a
utilização de especiarias que colaboram para o equilíbrio do organismo.
Laura percebeu que comida podia ser remédio depois de
receber um diagnóstico de esclerose múltipla, em 2006
Entre uma receita e outra, solta dicas. Entre elas, não
beber nada gelado, pois o corpo esfria e despende muita energia para reaquecer.
Usar o "ghee", uma manteiga clarificada, carro-chefe do aiurveda, em
vez de óleo. Cachacinha de gengibre com limão e mel facilita a digestão. Tudo
segue a mesma lógica: harmonizar o funcionamento do corpo.
Febre entre os naturebas dos Estados Unidos e da Inglaterra,
o aiurveda não é unanimidade. O endocrinologista Alberto Serfaty, do Rio de
Janeiro, diz: "Não há verdade absoluta. Mas já se sabe que os alimentos
previnem e alteram quadros clínicos. Mas é preciso agregar suplementos, como
faz a medicina ortomolecular".
A turma que frequenta a cozinha de Laura, porém, aposta na
comida. "Tinha pouca energia, minha digestão não era boa. E cansei de
tomar remedinhos e voltar para os mesmos problemas", diz a corretora de
investimentos Alice Maia.
Laura aprendeu que comida podia ser remédio depois de receber
um diagnóstico dramático, em 2006: esclerose múltipla. Na época, morava no Rio
e trabalhava em um escritório de arquitetura em São Paulo. Vivia na ponte
aérea. "Eu era uma doida", resume.
RUMO À ÍNDIA
Um dia, acordou com a visão do olho esquerdo borrada. E logo
vieram outros sintomas: paralisação parcial de um lado do corpo, perda da
coordenação, fadiga. "Ia a médicos a cada dois, três dias", lembra.
"Uma noite, olhei para o meu marido e falei: 'Vamos
para a Índia'. Ele pesquisava tratamentos alternativos e havia recebido um
e-mail de um médico indiano."
Na Índia, Laura foi parar em um hospital de neurologia que
trata os pacientes com o aiurveda. Por um mês, submeteu-se a um
"panchakarma", sistema de "detox" radical. Desde então,
voltou quatro vezes ao subcontinente asiático para tratamentos, fez cursos de
formação em terapia aiurvédica e seguiu à risca as orientações.
Há quatro anos, ela diz, está livre dos sintomas: "Após
dois anos, entrei em equilíbrio. O corpo tem uma tendência a se desequilibrar.
Estou bem porque não entro mais na máquina. Se eu bobear, a doença volta".
Os limites são claros. Laura só trabalha três dias por
semana. Às quartas e às sextas, atende no consultório. Aos sábados, dá aulas.
Nunca ultrapassa seis horas diárias de labuta.
"Foi muito bom ter ficado doente porque enxerguei outra
realidade. Isso é o que quero ensinar: a importância do estilo de vida",
afirma.
Diante das panelas, a moça é alquimista. Com rapadura, faz
um doce incrível. Com aveia, panquecas. Com manga, uma entrada apimentada. Com
farinha integral e nozes, um bolo de lamber os beiços.
Numa manhã de sábado, ela ensinou 15 alunas a preparar um
banquete para o organismo: "O segredo para o equilíbrio é mesmo aprender a
relaxar. Comida ajuda, mas não resolve".
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/serafina/1108552-terapeuta-aiurvedica-laura-pires-ensina-segredos-da-comida-que-cura.shtml
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