Paul Krugman27/12/2014 00h02
- Carolyn Kaster/ APHá o triunfo escondido à plena vista da reforma da saúde de Obama, que está completando um ano de implantação
Mas se você olhar para trás para o que de fato ocorreu no ano passado, você verá algo completamente diferente. Em meio a todo escárnio, várias políticas importantes do governo funcionaram –e os maiores sucessos envolveram as políticas mais desprezadas. Você nunca ouvirá isso na "Fox News", mas 2014 foi o ano em que o governo federal, em particular, mostrou ser capaz de fazer algumas coisas muito bem quando quer.
Vamos começar pelo ebola, um assunto que desapareceu das manchetes tão rapidamente que é difícil lembrar quão disseminado estava o pânico há apenas poucas semanas. A julgar pela cobertura da imprensa, especialmente, mas não apenas, na TV por assinatura, os Estados Unidos estavam à beira de se transformar em uma versão real de "The Walking Dead". E muitos políticos criticaram os esforços das autoridades de saúde pública de lidar com a doença usando métodos convencionais. Em vez disso, eles insistiam, nós precisávamos proibir as viagens ao Oeste da África ou vindas de lá, prender qualquer pessoa que chegasse do lugar errado e fechássemos a fronteira com o México. Não, eu não tenho ideia por que alguém achava que esse último item fazia algum sentido.
Mas como foi provado, os Centros para Controle e Prevenção de Doenças, apesar de alguns erros iniciais, sabiam o que estavam fazendo, o que não deveria causar surpresa: os CDC têm muita experiência no controle de doenças, epidemias em particular. E apesar do vírus ebola continuar matando muitas pessoas em partes da África, não houve uma epidemia aqui.
Agora considere o estado da economia. Não há dúvida de que a recuperação da crise de 2008 foi dolorosamente lenta e que deveria ter sido muito mais rápida. Em particular, a economia foi contida pelos cortes sem precedentes em gastos e empregos públicos.
Mas a história que você ouve o tempo todo retrata a política pública como um desastre absoluto, com a suposta hostilidade do presidente Barack Obama em relação às empresas impedindo o investimento e a criação de empregos. Logo, chega quase a ser um choque quando você olha para os números de fato e descobre que o crescimento e a criação de empregos foram maiores durante a recuperação promovida por Obama do que durante a recuperação promovida por Bush ao longo da última década (mesmo ignorando a crise no final). E que, apesar do mercado imobiliário ainda estar deprimido, o investimento das empresas tem sido bem forte.
Além disso, dados recentes sugerem que a economia está ganhando força –um crescimento de 5% no último trimestre! Ah, e não que isso importe muito, mas há algumas pessoas que gostam de alegar que o sucesso econômico deve ser julgado pelo desempenho do mercado de ações. E os preços das ações, que atingiram um ponto baixo em março de 2009, acompanhados das declarações de economistas republicanos proeminentes de que Obama estava matando a economia de mercado, triplicaram desde então. Talvez a gestão econômica não tenha sido tão ruim, afinal.
Finalmente, há o triunfo escondido à plena vista da reforma da saúde de Obama, que está completando um ano de implantação. É um tributo à eficácia da campanha de propaganda contra a reforma da saúde –que explorou cada falha, sem mencionar que o problema foi resolvido, e inventando problemas que nunca ocorreram– o fato de eu encontrar com frequência pessoas, algumas delas liberais, que me perguntam se o governo algum dia conseguirá fazer o programa funcionar. Aparentemente ninguém lhes disse que está funcionando e muito bem.
Na verdade, o primeiro ano superou as expectativas em todas as frentes. Lembra as alegações de que mais pessoas perderiam cobertura de saúde do que ganhariam? Bem, o número de americanos sem plano de saúde caiu em cerca de 10 milhões; os membros da elite que nunca estiveram sem cobertura não têm ideia o tamanho da diferença positiva que isso faz na vida das pessoas.
Lembra as alegações de que a reforma quebraria o orçamento? Na verdade, os preços acabaram muito abaixo do previsto, os gastos em saúde em geral estão estabilizando e as medidas específicas de controle de custos estão funcionando muito bem. E todas as indicações sugerem que o segundo ano será marcado por sucesso ainda maior.
E há mais. Por exemplo, no final de 2014, a política externa do governo Obama que tenta conter ameaças como a Rússia de Vladimir Putin ou o Estado Islâmico, em vez de correr para o confronto militar, está se saindo muito bem.
O tema comum aqui é que, ao longo do último ano, um governo americano sujeito à difamação constante, acusado de ser ineficaz ou pior, na verdade realizou muito. Em múltiplas frentes, o governo não foi o problema, mas sim a solução. Ninguém sabe, mas 2014 foi o ano do "Sim, nós podemos".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Fonte http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/paul-krugman/2014/12/27/mensagens-de-conforto.htm
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