Brasil poderia crescer de 5% a 6%, diz Armínio.
Para o ex-presidente do Banco Central, é preciso mudar o
foco do consumo para a produtividade para acelerar a economia
26 de maio de 2012 | 20h 36
Fernando Dantas, de O Estado de S. Paulo
RIO - O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco
Central (BC), acha que não há barreiras insuperáveis para o Brasil crescer de
5% a 6% ao ano. Para chegar lá, porém, o foco da política econômica tem de sair
do estímulo à demanda para o aprimoramento da oferta, com medidas – como
investimentos em infraestrutura e educação, e redução de custos tributários e
de energia – que revertam o fraco desempenho da produtividade brasileira. A
seguir, a entrevista com Fraga, que é sócio-fundador da gestora de recursos
Gávea Investimentos.
Como o sr. vê a dificuldade de a economia brasileira retomar
o crescimento?
Tem fatores externos, fatores cíclicos e fatores de natureza
mais estrutural. Os externos estão aí, um clima mais de medo, um clima de crise
centrado na Europa mas também com uma componente chinesa, dado que a China
neste início de ano está crescendo abaixo do que era projetado. Há também um
elemento estatístico. O fato de o ano passado ter sido também de crescimento
moderado ou baixo carrega isso um pouco para este ano.
Cresceremos pouco de novo, como em 2011?
Mesmo que a economia cresça a uma taxa de 1% ao trimestre no
segundo semestre, a taxa anualizada vai ser baixa. A minha expectativa, sujeita
a chuvas e trovoadas da Europa, principalmente, é que no segundo semestre a
economia responda aos estímulos que já foram feitos: o juro mais baixo, o
governo pressionando também na área do crédito, além do próprio câmbio, que se
depreciou.
Quais são os componentes cíclicos que atrapalham o
crescimento?
Há um natural arrefecimento no crescimento do crédito. Ele
vinha crescendo numa taxa que não era sustentável, e desacelerou. Nada
dramático, mas desacelerou. Não adianta querer forçar a demanda além de um
certo ponto. E o governo vai ficar de olho nisso. Vejo a inflação caindo este
ano em relação ao ano passado, mas existe uma questão a respeito do que vai
acontecer em 2013. Mas acho que aí o sistema tende a funcionar, não é minha
preocupação. Estou preocupado com o lado da oferta. Neste lado estrutural, há
diversas barreiras.
Quais?
A infraestrutura, a baixa taxa de investimento e até sinais
preliminares de que a produtividade talvez não esteja evoluindo muito
favoravelmente. São desafios para o Brasil. Já há muito tempo tem sido difícil
para o País investir mais que 20% do PIB. Há dez, 15 anos, também não estávamos
investindo muito, mas a infraestrutura quebrava o galho. Agora, depois de
alguns anos crescendo a uma taxa de quase 4%, a infraestrutura simplesmente não
aguenta mais.
Por que estamos tendo problemas com a produtividade e os
investimentos?
São temas mais de natureza mais microeconômica. Entendo as
posições a favor do aumento do protecionismo no Brasil, mas acho que isso tem
um custo, que não é tão visível. Há escassez de mão de obra qualificada. E
existem várias questões ligadas ao governo que também chamam a atenção: o custo
de se operar no Brasil, a estrutura tributária, o custo da energia.
Como o sr. vê a atuação do governo para acelerar a economia?
O governo, quando fala de crescimento, parece estar mais
focado no lado da demanda do que no lado da oferta. É claro que nenhuma
economia cresce sem demanda, não é esse o problema. Mas no momento em que a
economia internacional não nos ajuda, a demanda interna não consegue ir tão
longe, as questões de oferta começam a aparecer com mais força. Aliás, acho que
esses problemas da oferta são temas que o governo está começando a debater
também, há a sensação de maior consciência sobre a urgência de aumentar os
investimentos e de prestar mais atenção nas questões ligadas à produtividade.
Não tenho uma visão negativa das nossas possibilidades, tudo isso pode ser
contornado, pode ser corrigido com o tempo. Mas o momento global hoje é muito
ruim, atrapalha.
Qual o crescimento potencial do Brasil?
O uso dessa expressão no contexto do Copom (Comitê de Política
Monetária) diz respeito ao quão rápido a economia pode andar sem pressionar a
inflação. Então é uma definição de muito curto prazo. É um número que não se
consegue medir com precisão, e que depende de várias circunstâncias e
elementos. Hoje imagina-se, ou imaginava-se, que ficava em torno de 4%, para
alguns um pouco menos. Já o crescimento potencial que a gente discute numa roda
de amigos, não especialistas, é bem mais alto.
Como assim?
Acho que se o Brasil investir mais, investir na educação,
acertar algumas das coisas que comentamos, poderia crescer de forma sustentada
um pouco mais, por um bom tempo – quem sabe 5%, 6%. Não vejo nenhuma barreira
insuperável para isso, mas não vai acontecer sem o País investir mais, e
melhor, e educar melhor.
Qual a sua visão sobre a crise do euro?
A Grécia é um país absolutamente diferenciado até dos outros
que estão tendo problemas. É um caso extremo. É difícil dizer se ela vai ou não
sair do euro, mas é pouco provável que consiga honrar sua dívida. A Grécia tem
dificuldade de se ajustar mesmo depois de a dívida já ter sido reduzida. Não
descarto a possibilidade de a Grécia sair eventualmente.
Poderia ser uma crise tão grande quanto a do colapso do
Lehman Brothers em 2008?
Poder, pode. Teria de ser uma coisa bem orquestrada para
evitar isso, e ainda assim é difícil ter certeza. Porque as pessoas nos outros
países vão olhar o que está acontecendo na Grécia e podem entrar em pânico,
achar que isso vai acontecer nos seus países também, o que pode deslanchar um
pânico mais generalizado. É um momento muito difícil, não há como negar.
Fonte: Estado de São Paulo
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