Rei dos camelôs, empresário tenta construir império dos
shoppings 'povão'
Após emergir da informalidade, o ex-camelô e agora
empresário Elias Tergilene, 41, quer investir R$ 1,2 bilhão em cinco anos na
expansão da rede de shoppings Uai, que segue, como ele mesmo diz, o modelo
"povão".
A vida no mundo dos negócios começou cedo, aos 15 anos, e
longe de centros urbanos onde estão seus cinco shoppings (três em Belo
Horizonte, dois em Manaus).
Natural de Carlos Chagas (MG), no Vale do Jequitinhonha, uma
das regiões mais pobres do país, Tergilene foi cedo com a família para Betim
(26 km de BH).
"Lá, comecei vendendo esterco. Daí em diante, não parei
mais de vender coisas." Porco, vaca, cabrito, porta-retrato, mexerica.
"Tudo que diziam que dava dinheiro honesto, eu estava dentro."
Trocou os animais pela carroça. Fazendo carreto, comprou um
bar em uma quadra esportiva. "Só trabalhei lá quatro meses. Muito papo,
todo mundo amigo. Ninguém pagava. Quase quebrei."
Passou o ponto para não falir e voltou ao carreto. Para ter
maior alcance, vendeu carroça, boi, vaca e comprou uma velha caminhonete modelo
Chevrolet Brasil 61.
Levava lenha a restaurantes de BH, de onde saía com lavagem,
alimento para porcos de uma favela da cidade.
Lá, iniciou outro negócio: uma serralheria para fabricar
móveis. Com o sucesso, vendeu 51% da empresa ao grupo italiano Doimo,
fabricante de móveis de luxo, em 1997.
Só após dez anos reencontrou o comércio popular. Como o
grupo investia em imóveis, comprou um prédio, em frente à rodoviária de BH.
Usou o local para entrar em um ramo criado três anos antes,
quando a prefeitura levou os camelôs das ruas para os camelódromos.
Tergilene foi a um deles. Gostou da "muvuca" e,
assim, nasceu o shopping Uai.
"Eu falava a mesma língua deles." E a equipe vai
nessa linha: "Não tenho executivo rico. Todos são do 'povão', filho de
pedreiro, doméstica".
Até 2018, a turma do "povão" quer abrir 25
shoppings -três em SP. Em 2013, contarão com um fundo imobiliário. Na região
central de SP, já participa da Feira da Madrugada, onde planeja erguer um
shopping, em sociedade com os camelôs.
Os italianos da Doimo e os camelôs se sentam à mesma mesa.
Enquanto os gringos não entendem o comércio popular, eles não compreendem a
sanha da Europa pelo Brasil. No fim, falam a mesma língua. Prova disso é que em
2013 os camelôs venderão roupas de estilistas italianos.
A pirataria não é tabu. Para contê-la, Tergilene pediu à
Fiesp (federação das indústrias) que as empresas fornecessem bens aos camelôs.
O segredo de seus centros é agradar o "povão": com
torre de cerveja, carne na chapa e música ao vivo. Não há receio, porém, em
inovar. Neste ano, o Uai de BH sediou o "Miss Prostituta". "A
socialite julga e o povão vai ver."
Da época das "vacas magras", guarda a lábia de
camelô e a Brasil 61, que vendeu, recomprou e reformou. "Fico olhando a
caminhonete na garagem. A gente tem essas bobagens. Era um tempo difícil. Tenho
saudades."
Fonte: HELTON SIMÕES GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nenhum comentário:
Postar um comentário