Retrato falado: apenas dois investigadores ainda desenham
criminosos à mão em SP
RENATA MIRANDA
DE SÃO PAULO
A policial civil Tamara Andrade, 34, deixou o revólver de
lado para combater a criminalidade com lápis, papel e borracha em uma pequena
sala do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), no
Carandiru, zona norte de São Paulo.
Retrato falado feito à mão desaparece aos poucos nas
delegacias da capital
Entre os sete policiais que se dedicam à produção de
retratos falados na cidade de São Paulo, somente ela e Yoshi Kawasaki, 47, seu
mestre, mantêm a técnica manual para desenhar criminosos. Os outros cinco
migraram para o computador. "Embora seja mais demorado, prefiro fazer à
mão. Tem mais poesia", diz Tamara, graduada em artes visuais pela USP.
"Somos investigadores de rostos."
Além do Deic, outros dois departamentos mantêm retratistas
na capital: o Decap (polícia judiciária) e o DHPP (homicídios).
Enquanto Tamara conta apenas com as descrições das vítimas e
com sua própria habilidade, seus colegas têm à disposição um banco de imagens
digital com milhares de olhos, narizes, bocas e sobrancelhas prontos para
montagem. No ano passado, dos 130 retratos falados feitos no Deic, 88 foram
digitais e 42, manuais.
Avesso a tecnologia, o veterano Yoshi Kawasaki é o outro
investigador paulistano que não larga o lápis. "Sou teimoso. O tempo que
demoraria para aprender a mexer no programa digital, aproveito para fazer mais
desenhos."
Com 20 anos de experiência, Kawasaki acredita que o desenho
feito à mão é mais preciso. "Os detalhes que consigo colocar aumentam em
20% as chances de pegar o autor", estima ele, que fez o primeiro retrato
falado do motoboy Francisco de Assis Pereira, o "maníaco do parque",
no final da década de 1990.
Já o retratista do Deic Lino Barros, 47, abandonou a técnica
manual por preferir a agilidade do digital. "É uma pena, mas o retrato
feito à mão é uma arte que está morrendo."
O desenho não chega a ser crucial para uma investigação, mas
contribui na hora de excluir suspeitos, afirmam os policiais. "Também é um
desabafo da vítima que serve, muitas vezes, para ajudar a curar o trauma
causado pela agressão", conta o investigador Gabriel Ferreira, 35.
Ex-retratista, ele voltou às ruas há quatro anos. "Quem desenha o retrato
falado é a própria vítima. A gente só empresta a mão."
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/1150090-retrato-falado-apenas-dois-investigadores-ainda-desenham-criminosos-a-mao-em-sp.shtml
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